Um ultrage: o materialismo e o dogma religioso no seio do Movimento Espírita

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Imagem de capa: foto de Asiama Junior no Pexels

Ontem mesmo, escrevia aqui, neste blog, o artigo “Espiritismo Raiz“, falando das subversões absurdas sendo realizados por pessoas que adotam o título de Espíritas, mas que, de Espiritismo, não falam nada. Falam, muito, de conceitos de certos Espíritos, o que, em definitivo, não constitui a Doutrina. Indivíduos, esses, que sob as falsas vestes do “evangelizador”, com dulcíferas palavras do Evangelho de Jesus (já vimos um caso desses na prática, apresentado por Kardec, no artigo Obsedados e Subjugados: os Perigos do Espiritismo), as tomam para, lenta e progressivamente, subvertê-lo às mais absurdas e escancaradas ideias, ainda anteriores ao próprio Cristo, dignas do tempo em que o ser humano tinha consciência escravizada pelas ideias religiosas da heteronomia, do pecado e do castigo.

Eis que, logo em seguida à conclusão desse artigo, indo aos grupos Espíritas para compartilhamento, me deparo, no maior deles, com centenas de milhares de seguidores, a seguinte postagem, de um dos administradores do grupo:

LIMPEZA DE DNA DE VÁRIAS GERAÇÕES

Eu, _____________ ( seu nome), quebro, destruo, desintegro e pulverizo toda a negatividade que trago instaurada da árvore genealógica de meu Pai e minha Mãe, desde a primeira geração que formou suas famílias até a herança que recebemos deles nesta vida((Essa ideia está diretamente subordinada ao dogma do pecado original, que, apesar de partir de uma figura de linguagem, em uma época muito afastada, foi instituído pela Igreja Católica Romana como tal, com a finalidade de aprisionar as consciências dos fiéis a seu bel-prazer)).

[…]

Estou tirando tudo isso do meu ADN((O ácido desoxirribonucleico é um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus, e que transmitem as características hereditárias de cada ser vivo (ref: Wikipédia). Essa frase resume tudo: em contrário à demonstração, pelo Espiritismo, da alma e de suas relações com os Espíritos como o princípio de tudo o que concerne o ser encarnado, ela é totalmente materialista!))!
DECRETO E INSTAURO AQUI E AGORA:
Um sistema de saúde, amor, abundância, prosperidade, serenidade, confiança e felicidade guiado sob as leis universais.

Fiquei e continuo perplexo e estupefato! Consideraria válido encontrar uma mensagem desse teor em um grupo de religiosos ligados às ideias do pecado original e do materialismo, contrários ao Espiritismo e sua doutrina libertadora… Mas dentro de um grupo “Espírita“, que institui, como a primeira de suas regras, que “nosso principal objetivo é o ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA“, e pelas mãos de um administrador?! Jamais! Ora, chega a ser um desrespeito à própria Doutrina Espírita e ao empenho de Kardec em combater, à luz da razão e com grande esforço, justamente esses dois sistemas contrários ao Espiritismo e à libertação do homem: o materialismo e o dogmatismo religioso.

A intenção, aqui, não é descer ao nível do ataque pessoal. Cada um com a sua consciência e com os resultados de suas ações. O que desejo, de modo firme, é destacar os seguintes dois pontos, importantíssimos:

  1. Cuidado, prezado leitor, com a onda de moralismo evangélico espalhado no meio espírita! O Evangelho é, sim, muito importante, mas é preciso que o Espiritismo seja estudado para bem compreendê-lo. Existem muitos “lobos em pele de cordeiro” que se escondem sob as palavras do Evangelho, mas que, na verdade, disseminam ideias contrárias a ele.
  2. Estivemos por muito tempo absorvidos na inação e na ausência dos estudos. É por conta disso que as falsas ideias se disseminam a galope. É nossa responsabilidade, frente à doutrina e a nós mesmos, estudá-la, aplicar suas consequências morais em nossas próprias vidas e disseminá-la em sua essência! Não podemos mais aceitar que tais ideias continuem sendo disseminadas no meio espírita, minando a Doutrina de dentro para fora!

O espírita não estuda sequer o Evangelho Segundo o Espiritismo, pois, se estudasse, poderia estar em guarda. Não é à toa que São Luís assim se expressa, sobre os falsos profetas:

Se vos disserem: “O Cristo está aqui”, não vades; ao contrário, tende-vos em guarda, porquanto numerosos serão os falsos profetas. Não vedes que as folhas da figueira começam a branquear; não vedes os seus múltiplos rebentos aguardando a época da floração; e não vos disse o Cristo: Conhece-se a árvore pelo fruto? Se, pois, são amargos os frutos, já sabeis que má é a árvore; se, porém, são doces e saudáveis, direis: “Nada que seja puro pode provir de fonte má.”

É assim, meus irmãos, que deveis julgar; são as obras que deveis examinar. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.

Desconfiai, porém, das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus que oram nas praças públicas, vestidos de longas túnicas. Desconfiai dos que pretendem ter o monopólio da verdade!

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Grifos meus.

O Espírito de Erasto, na mesma obra, diz o seguinte:

Os falsos profetas não se encontram unicamente entre os encarnados. Há-os também, e em muito maior número, entre os Espíritos orgulhosos que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da humanidade, lançando-lhe de través seus sistemas absurdos, depois de terem feito que seus médiuns os aceitem. E, para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias, se apropriam sem escrúpulo de nomes que só com muito respeito os homens pronunciam.

Ibidem. Idem.

Essa exortação, porém, não carrega o significado de que não devemos estar a postos contra os lobos travestidos de cordeiro, pois são eles mesmos que semeiam a desuniam ao lançar, no meio das ideias consoladoras, o fruto espinhoso das velhas religiões. Kardec, aliás, destaca a necessidade de afastar de se afastar desses indivíduos, inclusive quando médiuns:

Deve-se observar que, quando os bons Espíritos veem que um médium deixa de ser bem assistido e se torna, pelas suas imperfeições, presa dos Espíritos enganadores, quase sempre fazem surgir circunstâncias que lhes desvendam os defeitos e o afastam das pessoas sérias e bem-intencionadas, cuja boa-fé poderia ser laqueada. Neste caso, quaisquer que sejam as faculdades que possua, seu afastamento não é de causar saudades.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1862. Grifo meu.

Nada disso significa que devemos combater com rudeza ou ódio, muito pelo contrário, pois estaríamos em erro também. Mas devemos combater as falsas ideias pela disseminação do verdadeiro Espiritismo, aquele que é verdadeiramente consolador. E como fazer isso? Entendendo o Espiritismo e seu contexto! É preciso compreender o Espiritualismo Racional((recomendamos estudar o livro Pequenos Elementos de Moral, de Paul Janet, além de estudar a obra Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, por Paulo Henrique de Figueiredo, ou acompanhar os vários vídeos tratando desse assunto, com esse autor, no Youtube)), é preciso estudar a essência Doutrinária em suas obras não adulteradas((como sempre, recomendamos estudar as obras O Céu e o Inferno e A Gênese conforme as edições da editora FEAL, traduzidas e comentadas, dentre outros, por Paulo Henrique de Figueiredo, bem como acompanhar também o estudo dessas obras no canal Espiritismo para Todos)) e é preciso estudar a Revista Espírita, como temos feito, de modo a entender o que realmente é o Espiritismo e como foi a formação dessa doutrina.

Enfim: é tempo de se movimentar. Não é somente o meio espírita que carece da recuperação das ideias da teoria moral desenvolvida pelo Espiritismo e fundamentadas pelo Espiritualismo Racional: é toda a humanidade.

Faça a sua parte.

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