A Verdade que Liberta

Continuação do artigo O Domínio pela Mentira e Violência

Jesus veio nos trazer a verdade que nos liberta! Ele mencionou o diabo na Bíblia, mas será que ele acreditava na existência literal do diabo? A palavra “Diabo” está escrita na Bíblia, mas seu significado vai além do literal.

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Na verdade, tudo se resume à interpretação. Deus e Diabo são representações do Bem e do Mal, respectivamente. No entanto, encarar o Diabo como puramente malévolo é uma concepção equivocada. O Diabo não é uma entidade; ele reside naqueles que abraçam essa falsa ideia. A Mal não tem forma, não é uma entidade real. Ninguém é inerentemente mal. Existe alguém verdadeiramente maligno neste mundo? Não, porque o mal é uma concepção falsa que sustenta um hábito. Quando alguém muda sua mentalidade, ela deixa de agir no mal, mas superar o hábito é um processo demorado. No entanto, nunca se supera se a mentalidade não mudar.

O que realmente transformará o mundo é a educação genuína – não aquela que apenas perpetua ideias falsas, que decora ensinamentos, mas sim aquela que compreendida, que liberta. As armas do bem são a compreensão e a explicação. Como posso fazer você entender que o futuro do mundo está na cooperação? Simplesmente explicando e cooperando incessantemente, sem se preocupar com os resultados.

Estamos introduzindo um novo hábito no mundo. Ao vencermos a falsa ideia do mal, veremos uma renovação global, oferecendo novas oportunidades para todos. Não há Espírito que não vá, mais cedo ou mais tarde, optar pelo caminho do bem. No entanto, o bem não é imposto; cada um deve alcançá-lo com seu próprio esforço.

O verdadeiro entendimento nos libertará dessa falsa dicotomia entre bem e mal, levando-nos a uma vida de cooperação e harmonia. A passagem a seguir de Jesus é reveladora:

42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso pai, amar-me-íeis. Eu vim de Deus e vou [para Deus]. Pois não vim por mim mesmo, mas foi Ele que me enviou. “


Bíblia – Volume I: Novo testamento – Os quatro evangelhos – Evangelho de João (pp. 470-471). Companhia das Letras. Edição do Kindle. Trad. Frederico Lourenço

Jesus disse que foi enviado por Deus e não por meios próprios. Ele veio para ensinar a Lei da Deus.

43 Por que razão não percebeis o meu discurso? Porque não conseguis ouvir a minha palavra.

Idem

A ciência avança principalmente pela mudança de paradigma, isto é, a mudança de ideias. ((Paradigma procede do grego “paradigma”, que significa “exemplo” ou “modelo”. Inicialmente, era aplicado na gramática (para definir o seu uso num determinado contexto) e na retórica (para se referir a uma parábola ou a uma fábula). A partir da década de 60, começou a ser empregue para definir um modelo ou um padrão em qualquer disciplina científica ou contexto epistemológico. fonte: clique aqui)) . Temos que compreender como é a nova ideia. Assim, depois que ela faz sentido, nós a testamos e quando verificamos sua coerência, nós a adotamos. A chave é compartilhar a nova ideia.
Mas isso não significa que todos se tornarão superiores, esse não é a ideia do mundo. As crianças não precisam estudar na escola apenas para obter as melhores notas, gerando competição entre elas. Cada uma deve buscar aprender mais do que sabia antes, pois somos todos espíritos em estágios diferentes de evolução. Há espíritos muito inteligentes no nosso mundo porque já passaram mais tempo experimentando os mundo. No entanto, os inteligentes não são superiores aos simples, pois em outras existências já foram simples como eles. Eles vieram para nosso mundo porque se sentiram mais preparados lá. Os espíritos inteligentes não são malévolos ou demoníacos; no entanto, devem cultivar a simplicidade para servir e contribuir, não para serem servidos. Este é o grande lema do mundo.

Para avançarmos em direção à felicidade neste mundo, precisamos ajudar a remover as vendas dos olhos daqueles que estão cegos pela falsa ideia. No entanto, eles não aceitarão facilmente agir por todos. Assim, alguns partem para outro mundo, onde podem progredir ajudar os outros muitos a progredirem tecnologicamente mais rapidamente e ter uma nova oportunidade de repensar suas escolhas. Não é um castigo ou punição ser enviado para outro mundo; é simplesmente uma consequência de uma escolha que não os permitiu evoluir. Se eles reconsiderarem suas atitudes no outro mundo, renovados, poderão retornar aqui.

Isso ocorreu em nosso mundo; os simples estavam na Terra quando chegaram os exilados. Eles receberam uma segunda chance ao virem para cá, mas agora precisam contribuir de forma útil para o avanço deste mundo. Infelizmente, muitos caíram na falsa ideia de que devem ser servidos, criando assim todas as ideias equivocadas que permeiam o mundo. Mas, sempre que tentamos explicar a verdade, por ser uma ideia falsa, eles resistem.

Esta é a última oportunidade tanto para mudar de mentalidade quanto para participar plenamente deste mundo. Aqueles que se recusam a cooperar não compreenderão a verdade através da força, da memorização de ordens ou da obediência cega. Somente através de esforço pessoal é que alguém poderá compreender.

44 Vós sois [filhos] do diabo, vosso pai; e quereis pôr em prática as vontades do vosso pai. Ele é homicida desde o princípio e não esteve nem está na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere a mentira, profere-a a partir dos seus; pois é mentiroso e é pai [da mentira]. 45 Eu porque digo a verdade não acreditais em mim. 46 Quem de vós me condena a respeito do erro? Se eu falo a verdade, por que razão não acreditais em mim? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. É por isto que vós não me ouvis: porque não sois de Deus”.

Idem

Esta parte do Evangelho de João está apontando que o “diabo” está na falsa ideia de superioridade e pureza. Ao nos considerarmos puros e superiores, tendemos a julgar e condenar os outros que consideramos simples e inferiores. No entanto, o ato de julgar é, em si mesmo, uma falsa ideia: quando apontamos o erro em outra pessoa, na verdade estamos cometendo um equívoco, pois estamos julgando a pessoa em vez de seu comportamento específico. Isso equivale a considerar a pessoa como “o mal” e condená-la injustamente. Ninguém tem o direito de agir assim. Nem mesmo os espíritos benevolentes condenam os outros dessa maneira.

O mal se revela na distorção da lei divina, quando buscamos satisfazer nossos interesses pessoais à custa da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, devemos rejeitar a noção de superioridade devido ao nosso conhecimento.

Nesse contexto, nossa responsabilidade se torna ainda mais crucial! Aqueles que possuem conhecimento têm o dever não apenas de ajudar os menos instruídos, mas também de servir.

Devemos dedicar nossos esforços a disseminar o conhecimento e garantir que muitos o compreendam. O futuro do mundo está na cooperação, não na competição. Qualquer novo valor deve ser compartilhado globalmente para que todos possam se beneficiar.

48 Os judeus responderam e disseram-lhe: “Não dizemos bem que és samaritano e tens um demônio?”. 49 Respondeu-lhes Jesus: “Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai e vós me desonrais. 50 Eu não procuro a minha glória. Existe aquele que procura e julga. 51 Amém amém vos digo: se alguém observar a minha palavra, não verá a morte até a eternidade”.

Ibidem

Nesta parte, está expressado: “Você está contaminado pelo mal! E tem um diabo!” Se alguém já julga o outro um diabo, parece não haver solução. Quem é egoísta e arrogante rotula os outros como inferiores, sempre vendo o mal nos outros. Os fanáticos religiosos veem os diferentes como inferiores. Os materialistas julgam aqueles que pensam de forma diferente como inferiores. O cerne do problema é quando um indivíduo acredita ser superior e é teimoso em não mudar de ideia, mesmo quando confrontado com a verdade. A verdade o confronta, questionando sua autoimagem elevada.

Agora, se alguém se considera superior, só reconhecerá seu erro quando chegar a essa conclusão por conta própria. Muitas vezes, essa pessoa, no fundo, não acredita realmente em sua superioridade, por isso sente a necessidade de afirmá-la tão veementemente.

O único fator que nos torna iguais é nossa individualidade. Somos Espíritos únicos, cada um com diferentes experiências para desenvolver e compreender. No entanto, ter mais conhecimento não nos torna superiores aos outros. O que verdadeiramente define a evolução de um Espírito não é sua inteligência ou experiência, mas sua capacidade de compreender a lei de Deus. O objetivo do Espírito é dar o melhor de si mesmo.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em O Duplo Conceito do Bem e do Mal




O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.

No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:

“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”

Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:

Conselhos sobre A Gênese

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.

Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?

Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.

Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:

Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:

Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:

– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:

– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.

Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.

Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/03/alteracoes-ocorridas-no-cap-1-da-5-ed.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/05/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5_15.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/02/comentarios-sobre-as-alteracoes-do-cap.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5a.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/01/natureza-e-materia-nao-sao-sinonimos.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/09/comentarios-sobre-o-capitulo-xv-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/11/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/12/inconsistencias-doutrinarias-da-5.html

Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.

Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição

Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.

Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).

Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições




A Verdade sobre o Mal e o Castigo

O que é o mal e o castigo Verdadeiramente?

Continuação do artigo Obediência Passiva e Fé Cega — Os dois Princípios da Falsa Ideia

O mal não é errar, depois pedir perdão e ser obediente ao bem.

Deus castiga? Não! O que é o castigo?

Esse conceito não é totalmente diferente do que aprendemos? O castigo é algo que acontece no mundo? Não, o castigo é o sofrimento moral da pessoa e, se ela não mudar, não encontrará a felicidade.

Nenhuma pessoa egoísta é feliz, pois ela sabe, intimamente, que não está fazendo o bem. Mas por que alguém seria egoísta, sabendo que está errado, sofrendo por isso e ainda assim continuando na mesma conduta egoísta?

Por meio do Espiritismo, desvendamos as raízes do egoísmo e do orgulho. O Espiritismo não confronta pessoas ou ideias; ele enfrenta o egoísmo e o orgulho como conceitos que prejudicam o progresso espiritual.

O Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual em razão do grau de suas imperfeições, sendo-lhe então concedida a vida corporal como meio de reparação. É por isso que o Espírito nela reencontra, ou as pessoas que ofendeu, ou situações semelhantes àquelas em que praticou o mal, ou ainda situações opostas às que viveu, por exemplo, enfrentando a miséria se foi um rico mau, ou uma condição humilhante se foi orgulhoso. Não se trata de um duplo castigo, mas o mesmo a que se dá sequência na Terra, como complemento, com vistas a facilitar seu adiantamento para um trabalho efetivo. Do próprio Espírito depende fazê-lo proveitoso. Não lhe vale mais voltar à Terra, com a possibilidade de ganhar o Céu, do que ser condenado sem remissão ao deixá-la? Essa liberdade que lhe é concedida é uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça de Deus, que deseja que o homem deva tudo aos próprios esforços, sendo assim o artífice de seu futuro. Se é infeliz, se o é por um tempo maior ou menor, que não se queixe senão a si mesmo – o caminho do progresso lhe está sempre aberto.

Allan Kardec. O Céu e o Inferno: Ou a justiça divina segundo o Espiritismo, editora Feal (p. 78). Edição do Kindle.

No entanto, é crucial entender completamente o que o egoísmo implica para poder combatê-lo efetivamente. Reconhecer os próprios erros e sentir a consciência pesada é o primeiro passo para a mudança. Caso contrário, o indivíduo continuará a sofrer.

A falsa ideia de que Deus é o causador do nosso sofrimento está equivocada. Na verdade, somos juízes e prisioneiros de nós mesmos e nossos próprios pensamentos. O Espiritismo nos ensina isso. Sabendo disso, você optará por permanecer preso ou se libertar? Ser escravo ou livre? A escolha é sua.

Ninguém é obrigado a agir para o bem. A liberdade é fundamental para o agir no bem. Deus não coloca ninguém para vigiar ninguém. Quando você fizer o bem, você o fará com todo o seu esforço. No momento em que você age com o pensamento íntegro, os outros espíritos se aproximam para fazer o mesmo: a rede de bondade é criada.

Se você está agindo com segundas intenções, os outros espíritos percebem e você se isola por escolha própria. Esse é o mecanismo!

Alguém realmente está nos vigiando no mundo espiritual? Não! Há algum lugar circunscrito para ser castigado? Não! Isso é falso! Emmanuel menciona o umbral? Sim, ele menciona, mas são espíritos iludidos que lá se reúnem. Os espíritos bons veem os maus espíritos como doentes a serem curados e não como adversários a serem combatidos. A luta entre bem e mal é uma falsa ideia!

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em O Domínio pela Mentira e Violência




O canal Mesa Girante e as adulterações em O Céu e o Inferno

Recentemente o canal Mesa Girante, no Youtube, produziu um vídeo onde aborda outro vídeo, de Paulo Henrique de Figueiredo, falando sobre a obra “Nem Céu, Nem Inferno”, de cerca de 3 anos atrás. A obra trata do fato jurídico((É fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.)) da adulteração de O Céu e o Inferno e do contexto da trama de traição ao redor de Kardec.

Nesse vídeo, o autor do canal Mesa Girante trata de, debochadamente, tentar invalidar a importância da obra por supostas precipitações de Paulo Henrique ao tratar do tema, no vídeo. Pergunto-me por que é que ele, o dono do canal Mesa Girante, não se dedicou primeiramente a ler essa obra, o que teria enriquecido demais o debate? Por que é que ele se concentrou apenas naquilo que lhe pareceu incongruente, pelas falas de Paulo Henrique, sem dar atenção aos demais pontos de relevância da obra? Digo isso porque eu mesmo o procurei, através dos comentários, para demonstrar que a adulteração de O Céu e o Inferno é o produto inquestionável dos dogmas roustainguistas, além do fato jurídico.

No dia seguinte, eu produzi um vídeo, sob efeito de uma irritação pela maneira como o tema foi abordado, com tom de deboche e sem nenhuma intenção de cooperação, e sim de competição, já que não foi procurar Paulo Henrique para conversar sobre as divergências de entendimentos. Esse vídeo, que eu produzi, eu resolvi apagar, pois acabei tratando com afetação um tema onde não deve haver absolutamente nada disso. Em lugar desse vídeo, gravei um novo, onde falo sobre o foco central da adulteração, como você pode ver ao final deste artigo.

Acontece, porém, que, assim que gravei, chegou ao meu conhecimento uma live com Lucas Sampaio, co-autor do livro Nem Céu, Nem Inferno, onde ele explica em detalhes todas as questões envolvidas nesse tema da adulteração. O conteúdo é muito explicativo por si só, de maneira que reproduzo abaixo o mesmo vídeo e aproveito para tecer comentários sobre seu conteúdo.

Comentários sobre a live do Lucas Sampaio

  • É fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.
  • Kardec estava, sim, fazendo revisões nessas obras, preparando novas edições. Isso está registrado em cartas. Contudo, menos de um mês depois da carta onde cita o trabalho de tradução para o alemão, existe uma carta de Kardec para um amigo seu, dizendo que, por problemas de saúde, ele precisou suspender todas as atividades que não fossem estritamente necessárias.
  • Os Espíritos, evocados por Kardec, dizem que ele não deveria suprimir nada nas novas edições. Foi feito justamente o contrário nas edições publicadas após sua morte, com a supressão de pontos importantes nas obras.
  • A psicografia original, onde os Espíritos diziam a Kardec para não suprimir nada nas novas edições, foi adulterada por Leymarrie em Obras Póstumas, retirando justamente esse conselho, para dar credibilidade à 5a edição de A Gênese. Isso se deu após a denúncia de Henry Sausse.
  • Os negacionistas dos fatos jurídicos e das evidências de adulteração chegam a usar depoimentos de pessoas ligadas a Leymarie para sustentar suas teses.
  • É importantíssimo ler a obra O Legado de Allan Kardec, que traz diversas evidências sobre os fatos acerca da adulteração de A Gênese.
  • Fala-se em registros contábeis da Sociedade, assinados pela esposa de Kardec, três anos após sua morte, onde estariam registrados os custos de impressão de O Céu e o Inferno a fevereiro de 1869. Faz sentido fazer contabilidade de algo passado à criação da Sociedade Anônima (empresa)? Faz sentido confiar em documentos da Sociedade Anônima, a mesma que deu o golpe post-mortem em Kardec? Como veremos a seguir, os documentos oficiais mostram que a obra não foi impressa naquela data.
  • Foi encontrada, nos registros legais da Biblioteca Nacional, a declaração de impressor n. 8.584 com pedido de autorização do tipógrafo Rouge registrado em 9/7/1869 para imprimir 2.000 exemplares da mesma quarta edição de O Céu e o Inferno, conforme a página 294 do documento F/18(II)/128, mais de três meses após a desencarnação de Allan Kardec.
  • Na Revista Espírita de junho de 1869, foi publicado, pela Sociedade Anônima, o artigo de título “À venda em 1° de junho de 1869”, tratando da edição que ficou pronta somente em 19 do mês seguinte. E o aviso ainda explica:

Quarta edição de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo, contendo numerosos exemplos sobre a situação dos Espíritos no mundo espiritual e na Terra; 1 vol. in-12, preço: 3 fr. 50.

Observação – A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, passou por modificações significativas. Alguns capítulos em particular foram inteiramente reformulados e consideravelmente aumentados.

(SOCIEDADE ANÔNIMA, [RE] 1869, jul., p. 224)

  • Tudo indica que Amelie, com mais de 70 anos, em luto, foi enganada pela Sociedade Anônima, e confiou no que diziam ou apresentavam a ela. Berthe Froppo menciona que ela acreditava que a S.A. iria vender os livro de Kardec a preços populares (e fizeram o contrário). A doce Gabi, como a chamava Kardec, entregou tudo, crendo que o melhor seria feito, pois não tinha um espírito de liderança. Foi afastada de qualquer papel de decisão da S.A. Foi, em suma, ludibriada. Não se opôs às novas edições, pois sabia que seu marido trabalhava sobre elas. Escolheu entregar à S.A. toda a obra de Kardec, pois pensava, seguindo os propósitos de Kardec, que o Espiritismo deveria ser de todos, e não mais centralizado em ninguém. Era a promessa da Sociedade, finalmente não cumprida.
  • Existe uma falta de vontade (e aqui eu reitero: inclusive pelo CSI do Espiritismo e do dono do canal Mesa Girante) em fazer um estudo cuidadoso e aplicado, inclusive comparativo. Não: fica-se girando apenas na superfície das afirmações e das negações simplórias, numa sanha de negar o que vemos estar óbvio aos nossos olhos.
  • As teses de negação não respeitam o fato jurídico; não se importam com os planos de Kardec para o futuro do Espiritismo; não se importam com os vários golpes sofridos por Kardec e pelo Espiritismo; não se importam com o golpe à unidade de método e de organização, necessárias à continuidade doutrinária; não fazem análises doutrinárias sobre o conteúdo anterior e as alterações; não se importam com o fato de a Sociedade Anônima haver incendiado um grande número de manuscritos de Kardec, após sua morte; não falam do verdadeiro complô sendo formado ao redor de Kardec, por Roustaing e seus seguidores; não trazem à luz os incontáveis fatos e evidências dos interesses contrários ao bem, por pessoas ao redor de Kardec.

    Não, e nem podem, pois dar atenção ao fato dos descalabros sofridos por Kardec e pelo Espiritismo seria alimentar os argumentos da adulteração, o que não seria do interesse deles. Pelo contrário: esforçam-se por colocar dúvida injustificável sobre pessoas como Berthe Froppo, amiga íntima do casal Kardec, que fez algumas graves denúncias contra Leymarie e a sociedade anônima! Não, para eles o testemunho de Froppo não vale, mas valem as alegações do adulterador, Leymarie, e sua esposa, além dos demais envolvidos, por interesse, em seus negócios espíritas!

  • O prefácio de A Gênese e a introdução do capítulo 8º de O Céu e o Inferno (3a edição) tratam justamente do método do Espiritismo, que o protege de se transformar em um sistema pessoal, o que incomodava sobremaneira Roustaing e Pezzani, seu amigo pessoal, que tinham suas próprias concepções do que deveria ser o Espiritismo. Será acaso que tanto um como outro foram removidos nas novas edições?
  • Os trechos removidos na adulteração de A Gênese denunciam exatamente como pensam e agem os inimigos da verdadeira ideia.
  • Cada um dos 25 itens do capítulo VIII de O Céu e o Inferno tinham fundamentação no restante da obra. Na 4a edição, adulterada, muitos itens perderam essa correspondência, conforme se demonstra em O Céu e o Inferno, da editora FEAL (clique aqui para baixar gratuitamente).

Live com Lucas Sampaio sobre as Adulterações nas obras de Kardec

Vídeo do meu canal falando sobre o vídeo do canal Mesa Girante




Espiritismo no Brasil e a crítica aos espíritas

Muito temos falado sobre a grande distância entre o Espiritismo, ou a ciência espírita, e aquilo que aprende e divulga o Movimento Espírita no Brasil, cada dia mais contaminado por distorções e misticismo. Não creio necessário repetir os fatos a esse respeito. Limitamo-nos a recomendar o leitor aos artigos A distância entre o Espiritismo e o Movimento Espírita, Profecia do Espírito da Verdade, O Canal Espírita e o Espiritismo, O rapaz e o oásis: uma fábula de esperança, Um diálogo interessante, Um convite à autocrítica do Movimento Espírita, dentre outros.

Podemos, porém, acrescentar o pensamento de Kardec, em O Livro dos Médiuns:

Há, por fim, os espíritas exaltados. A espécie humana seria perfeita, se preferisse sempre o lado bom das coisas. O exagero é prejudicial em tudo. No Espiritismo ele produz uma confiança cega e frequentemente pueril nas manifestações do mundo invisível, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos capazes de convencer, porque se desconfia com razão do seu julgamento. São enganados facilmente por Espíritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorar a sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as consequências o mal seria menor, mas o pior é que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer a fundo aquilo de que falam.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Lake, 23a Edição. Grifos nossos.

É evidente seu posicionamento: os descuidados que, com entusiasmo (e vaidade) acreditam em tudo cegamente, promovem mais mal do que bem à Doutrina.

Exageros, dizem alguns

É da opinião de alguns, que temos exagerado. Segundo eles, devemos “respeitar” a fé de cada um, limitando-nos a realizar o nosso trabalho. Em primeiro lugar, precisamos demonstrar que não existe desrespeito à fé de ninguém. Cada um tem o livre-arbítrio e o direito de acreditar no que quiser, racionalmente ou não. Mas, aqui, tratamos da ciência espírita, e aqui nasce o maior problema da ideia dessas pessoas: o não conhecimento dessa ciência. Basta ler a Revista Espírita e as demais obras de Kardec e verá não apenas ele, mas também os bons Espíritos, frequentemente destacando a necessidade de se expor os erros e, sobretudo, os charlatães e os inimigos da Doutrina Espírita que, vestindo suas ideias sob a roupagem do Espiritismo, voluntariamente ou não promovem o erro que alimenta o descrédito geral no Espiritismo, tal como se fosse mais uma religião nascida das ideias de alguém. Já demonstramos suficientemente o porquê o Espiritismo é uma ciência, e não uma religião.

O Espiritismo chegou distorcido ao Brasil

O fato é que o Espiritismo já se instalou no Brasil adulterado pelo Movimento Espírita iniciante ((fatos fartamente apresentados em Ponto Final, de Wilson Garcia)) e, na FEB (Federação Espírita Brasileira), autodenominada “casa mater” do Espiritismo brasileiro, longe de encontrar terreno para sua restauração, foi substituído pela doutrina de Roustaing, totalmente fundamentada nos velhos dogmas religiosos. Essa instituição, que acabou ditando os rumos do Espiritismo brasileiro por muito tempo, nunca se dedicou a recuperar a ciência espírita e o método necessário para a continuidade da Doutrina, sendo que as evocações particulares (e mesmo nos centros espíritas), ferramenta imprescindível para o estudo científico, foram abandonadas. Sem o método de Kardec, e pelo interesse na impressão e na venda de obras mediúnicas, qualquer ideia vinda de qualquer Espírito passou a ser veiculada e, assim, formou lentamente a crença geral do Movimento Espírita, hoje completamente perdido em ideias que, na verdade, são fundamentalmente antidoutrinárias.

Precisamos reconhecer, é claro, que parte dessas ideias fundamentou-se antes mesmo da vinda do Espiritismo ao Brasil, com a adulteração das obras O Céu e o Inferno (principalmente) e a A Gênese, após a morte de Kardec. Infelizmente, a FEB é a primeira a defender a ideia de que essas obras não tenham sido adulteradas, fato que, principalmente com relação à O Céu e o Inferno, é suficientemente evidenciado e irrefutável.

Falar em adulteração é criar descrença?

Aqui, enfim, chegamos a outra crítica de certas pessoas: “dizer que houve adulteração seria jogar lama em Kardec, suscitar descrença no Espiritismo”. “Aliás”, dizem elas, “que Doutrina é essa que os Espíritos permitem tal coisa, sem aviso?”. É um pensamento completamente ilógico.

Começamos lembrando que as palavras do próprio Cristo foram adulteradas e distorcidas em favor dos dogmas religiosos, e esse fato foi justamente o que levou à descrença de incontável número de pessoas no cristianismo. Voltaire foi um dos mais evidentes expoentes dessa descrença, que ainda hoje prevalece. Perguntamos: seria “lançar lama” em Jesus destacar as adulterações? Seria “suscitar descrença” no cristianismo, destacar as distorções, ao mesmo tempo em que se demonstra as ideias originais? Evidente que não. Se o problema aconteceu, precisamos encará-lo de frente (uma atitude científica e verdadeiramente kardeciana), e não varrê-lo para baixo do tapete, enquanto perduram seus efeitos avassaladores.

À ideia de que “os Espíritos não teriam permitido as adulterações”, opomos a forte recomendação de estudo da Doutrina, o que evidentemente não foi realizado por essas pessoas. Os Espíritos alertaram várias vezes sobre as tramas dos inimigos da Doutrina, como demonstramos em Profecia do Espírito da Verdade. Baseado nos alertas e nas evidências, Kardec também previa o futuro do Espiritismo, conforme destacou na Revista Espírita de dezembro de 1863, no artigo “Período de Lutas”:

A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e levará ao quarto período, que será o período religioso. Depois virá o quinto, o período intermediário, consequência natural do precedente e que, mais tarde, receberá sua denominação característica. O sexto e último período será o da renovação social, que abrirá a era do século vinte. Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas desejadas por Deus para a transformação da Terra terão desaparecido. A geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que deve inaugurar a vitória definitiva da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica.

KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1863.

Infelizmente, a previsão do sexto período está atrasada em mais de um século, por diversos fatos imprevisíveis àquela época, quais o abandono do Espiritualismo Racional e da Ciência Espírita, além da adulteração das obras citadas. Depois, as guerras, o esquecimento da Doutrina na França e na Europa e sua instalação no Brasil, completamente distorcido.

Os Espíritos não impedem o livre-arbítrio humano

Lembramos, para terminar, que o cerne da Doutrina Espírita, sempre demonstrado pelos Espíritos, é o livre-arbítrio, ao qual os Espíritos não podem se interpor. Podem aconselhar, mas não podem tolher a vontade humana. Assim fizeram: aconselharam largamente sobre a necessidade de cuidado que, infelizmente, faltou àqueles que deveriam cuidar do legado do mestre. Parece que o Movimento Espírita francês ficou muito confortável com o direcionamento de Kardec e, quando isso deveria mudar, a partir de meados de 1869 (conforme exposto na Revista Espírita de dezembro de 1868, “Constituição transitória do Espiritismo”) Kardec morreu, e todos ficaram sem rumo. Assumindo Leymarie a direção da Sociedade Espírita, desvirtuou o propósito da Revista Espírita, admitindo a doutrina roustainguista a troco de dinheiro, e o resto o leitor pode conhecer através da leitura das obras O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato, Nem Céu, Nem Inferno, de Paulo Henrique de Figueiredo e Ponto Final, de Wilson Garcia.

O bem em meio aos enganos

Muitos dizem: “o Movimento Espirita, em meio a muitos enganos, ainda assim produz um bem. Não é de todo errado”. Não poderíamos discordar disso. Não dizemos que há erro ou engano em tudo e que nenhum bem se produz. Um romance mediúnico, por mais que seja repleto de ideias erradas, pode ser a porta de entrada para o indivíduo questionador ir atrás de mais informações, terminando por conhecer as obras de Kardec, enfim. Mas, perguntamos: não seria melhor que o Espiritismo fosse apresentado como ele é, simples e racional, sem os absurdos que produzem tantos contratempos e que muito frequentemente conduzem à descrença? Não podemos deixar de destacar que, quando se abre espaço para um engano, dentro de uma ciência, e esse engano não é remediado pela teoria e pelos fatos doutrinários, ele dá margem a muitos outros. É o que tem acontecido.

Restauração

É chegada a hora de restaurar o Espiritismo, o que já começou no Brasil e se espalhará pelo mundo. O primeiro passo é aprender o Espiritismo como ele verdadeiramente é, afastando-se dos erros. Aqueles que, ditos “espíritas”, não desejarem fazer assim, integrarão uma nova religião, se o quiserem, tão dogmática quanto as demais. Deixemos que o tempo se encarregue deles, mas nem por isso deixemos de fazer a nossa parte, apresentando os erros, frente à Doutrina Espírita, sem personalismo. Depois, virá o tempo da restauração do método de Kardec. Esses dois passos darão a possibilidade do sexto período previsto por Kardec: o da renovação social.

Não podemos deixar de recomendar como leitura essencial a obra Autonomia – A História Jamais Contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo.

Faça parte dessa jornada, que é coletiva e somente se dará pela colaboração de muitos.




A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

São fatos jurídicos incontestes as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal – assim afirmam ao menos quatro operadores jurídicos especializados: Simoni Privato, Júlio Nogueira, Lucas Sampaio e Marcelo Henrique. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra. Infelizmente, a Federação Espírita Brasileira, tendo muito a recapitular ao tomar essa atitude (já que os textos original de O Céu e o Inferno e A Gênese contraditam uma infinidade de erros que povoam a generalidade das publicações por ela editadas e impressas) ainda reluta contra esses fatos, baseando-se em argumentações de leigos em matéria de direito autoral.

Além do fato jurídico e do necessário respeito à lei, pelo estudo, acabamos de identificar mais uma evidência, talvez a mais determinante de todas, da adulteração de O Céu e o Inferno, obra de Allan Kardec, justamente na parte que exprimia a filosofia doutrinária em sua mais clara e pura face.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec trata da questão dos Espíritos que escolheram sempre o caminho do bem (tratamos disso também no artigo “Reforma Íntima e Espiritismo“:

Existem Espíritos que sempre escolheram o caminho do bem

121. Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?

“Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria.”

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem?

“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”

a) — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

Chegam mais depressa ao fim. Ademais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”

O Livro dos Espíritos. Grifos nossos.

Confirmados pelos Espíritos, existem aqueles que sempre escolheram o caminho do bem, o que não os livra da necessidade de encarnar, para seu desenvolvimento. Assim, não têm o que expiar, dado que a expiação é a escolha consciente de provas e oportunidades que lhes ajudem a desapegar de imperfeições conscientemente adquiridas (lembrando que errar, meramente, não é adquirir imperfeições, desde que o erro seja superado pelo aprendizado. O que gera imperfeições é a repetição consciente do erro).

Além disso, é mais que lógico que aquele que tenha superado, através da expiação, uma imperfeição adquirida, não tem mais o que expiar, exceto caso desenvolva novas imperfeições. Ainda assim, ele pode necessitar nascer em um planeta como a Terra, simplesmente porque suas necessidades atuais demandam ou porque escolha encarnar em missão. O próprio Jesus Cristo é o exemplo máximo desse último caso e, mesmo sendo um Espírito puro, ainda assim enfrentou as vicissitudes da matéria, sem ter nada o que expiar. Vejam aonde leva a admissão dessas falsas ideias: ao dogma de Espíritos criados à parte e que nunca estiveram, em realidade, entre nós (um dogma sustentado por Roustaing)!

Forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno

E aqui chegamos à mais forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno, que, na edição lançada após a morte de Kardec, introduziu dois itens no capítulo VIII (que se tornou capítulo VII):

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, quarta edição. FEB. Grifos meus.

Esses dois itens, repito, não existiam na terceira edição da obra, lançada e impressa por Kardec em vida. Admitir que Kardec tenha incluído esses itens nessa edição, em especial o item 10, seria admitir que Kardec entrou em contradição com tudo o que havia desenvolvido até então.

Para dar suporte a essa falsa ideia, os seguintes parágrafos foram removidos na adulteração, no capítulo IX (antigo capítulo X):

Nos primeiros estágios de sua existência, os espíritos estão sujeitos à encarnação material, que é necessária ao seu desenvolvimento, até que tenham chegado a um certo grau. O número das encarnações é indeterminado, e subordina-se à rapidez do progresso, que ocorre na razão direta do trabalho e da boa vontade do espírito, que age sempre em função de seu livre-arbítrio. Aqueles que, por sua incúria, negligência, obstinação ou má vontade permanecem mais tempo nas classes inferiores, sofrem disso as consequências, e o hábito do mal dificulta-lhes a saída desse estado. Um dia, porém, cansam-se dessa existência penosa e dos sofrimentos daí decorrentes. É então que, ao comparar sua situação à dos bons espíritos, compreendem que seu interesse está no bem, procurando então melhorar-se, mas o fazem por vontade pró- pria, sem que a isso sejam forçados. Estão submetidos à lei do progresso por conta de sua aptidão a progredir, mas não o fazem contra a própria vontade. Fornece-lhes Deus incessantemente os meios de progredir, mas são livres para se aproveitarem destes ou não. Se o progresso fosse obrigatório, nenhum mérito os espíritos teriam, e Deus quer que tenham todos o mérito de suas obras, não privilegiando ninguém com o primeiro lugar, posto franqueado a todos, mas que o alcançam somente através dos próprios esforços. Os anjos mais elevados conquistaram sua posição percorrendo, como os demais, a rota comum. Todos, do topo à base, pertenceram ou pertencem ainda à humanidade.

Os homens são, assim, espíritos encarnados mais ou menos adiantados, e os espíritos são as almas dos homens que deixaram seu invólucro material. A vida espiritual é a vida normal do espírito. O corpo não é senão uma vestimenta temporária, apropriada às funções que devem exercer na Terra, tal como o guerreiro veste a armadura e a cota de malha para o momento do combate, delas despindo-se após a batalha, para eventualmente vesti-las de novo quando chegada a hora de uma nova luta. A vida corporal é o combate que os espíritos devem enfrentar para avançar, para o que se revestem dessa armadura que é para eles ao mesmo tempo um instrumento de ação, mas também um embaraço.

Ao encarnarem, os espíritos trazem suas qualidades inerentes. Os espíritos imperfeitos constituem, portanto, os homens imperfeitos; aqueles mais adiantados, bons, inteligentes, instruídos, são os homens instintivamente bons, inteligentes e aptos a adquirir com facilidade novos conhecimentos. Da mesma forma, os homens, ao morrer, fornecem ao mundo espiritual espíritos bons ou maus, adiantados ou atrasados. O mundo corporal e o mundo espiritual suprem-se assim constantemente um ao outro.

Entre os maus espíritos há os que têm toda a perversidade dos demônios, aos quais pode-se aplicar perfeitamente a imagem que se faz desses últimos. Quando encarnados, constituem os homens perversos e astuciosos que se comprazem no mal, parecendo criados para a desgraça de todos os que são atraídos para sua intimidade, e dos quais pode-se dizer – sem que isso constitua ofensa – que são demônios encarnados.

Tendo alcançado um certo grau de purificação, os espíritos recebem missões compatíveis com seu adiantamento, desempenhando dessa forma todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes ordens. Como Deus criou desde sempre, também desde sempre houve espíritos suficientes para atender a todas as necessidades do governo do Universo. Uma só espécie de seres inteligentes, submetidos à lei do progresso, é, portanto, suficiente para tudo. Essa unidade na criação, juntamente à ideia de que todos têm uma mesma origem comum, o mesmo caminho para percorrer, e que se elevam todos por seu mérito próprio, corresponde muito melhor à justiça de Deus do que à criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas por dons naturais, equivalentes a privilégios.

O Céu e o Inferno – Editora FEAL

Mais evidências da ideia original

Apresento, a seguir, mais alguns trechos da obra de Kardec que evidenciam o verdadeiro entendimento sobre o assunto (a encarnação não é resultado exclusivo da expiação):

“Segundo um sistema que tem algo de especioso à primeira vista, os Espíritos não teriam sido criados para se encarnarem e a encarnação não seria senão o resultado de sua falta. Tal sistema cai pela mera consideração de que se nenhum Espírito tivesse falido, não haveria homens na Terra, nem em outros mundos. Ora, como a presença do homem é necessária para o melhoramento material dos mundos; como ele concorre por sua inteligência e sua atividade para a obra geral, ele é uma das engrenagens essenciais da Criação. Deus não podia subordinar a realização desta parte de sua obra à queda eventual de suas criaturas, a menos que contasse para tanto com um número sempre suficiente de culpados para fornecer operários aos mundos criados e por criar. O bom-senso repele tal ideia.”

KARDEC. Revista espírita — 1863 > junho > Do príncipio da não-retrogradação do Espírito. Grifos nossos.

Nesse artigo, nesse trecho, Kardec está evidentemente refutando, de maneira firme, a mesma ideia transmitida nos Quatro Evangelhos de Roustaing (que somente seria lançado em 1865), de que a encarnação se daria apenas para expiação, isto é, quando o Espírito é “culpado”:

A ideia da encarnação como castigo, dissemos, é uma ideia totalmente ligada aos dogmas de Roustaing:

N. 59. Que é o que devemos pensar da opinião que se formula assim: “Do mesmo modo que, para o Espírito em estado de formação, a materialização nos reinos mineral e vegetal e nas espécies intermediárias e igualmente a encarnação no reino animal e nas espécies intermediárias é uma necessidade e não um castigo resultante de falta cometida, também, para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade de seus atos, livre arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo”?

Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa.

O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as conseqüências.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I

É fácil observar a semelhança dessa ideia com aquele introduzida na 4a edição de O Céu e o Inferno: a de que a encarnação somente se dá quando o Espírito é culpado de um erro anterior.

Continuemos com as evidências da ideia original de Kardec e da Doutrina:

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação […]

O Livro dos Espíritos

Para uns, é expiação; para outros, missão. “Para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação“, ou seja, a expiação, tratada no meio religoso como um processo de remissão de pecados pelos castigos divino, aqui, para o Espiritismo, é apenas o processo de aprendizado e de desenvolvimento do Espírito.

Contudo, a fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em conseqüência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes.

O Livro dos Espíritos

O Espírito sofre as vicissitudes da exisência escolhida pelo Espírito, como prova, expiação ou missão.

  1. É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la?

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação, caso em que ela se lhes torna um castigo. — S. Luís. (Paris, 1859.)

KARDEC. O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo IV — Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo > Instruções dos Espíritos. > Necessidades da encarnação. > 25. Grifos nossos.

Evidentemente, os Espíritos demonstram que a encarnação é necessária a todos, de maneira que, enquanto se desenvolvem, fazem sua parte na Criação.

Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se crê. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia aí, quase sempre, a conseqüência natural de alguma falta cometida. O homem recebe, a cada instante, terríveis lições das quais infelizmente bem pouco aproveita.

Revista Espírita, 1864

Quase sempre as fontes de todas as vicissitudes da vida remontam à consequencia natural de alguma falta cometida.

[O homem de bem] Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas a decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Todas as vicissitudes da vida são provas ou expiações. Prova: tudo aquilo que nos serve ao aprendizado, todas as dificuldades da vida. Expiação: certos gêneros de provas, escolhidas para o exercício de desapego de uma imperfeição adquirida.

“Esta pergunta dos discípulos “É o pecado deste homem a causa de nascer cego” indica a intuição de uma existência anterior. Caso contrário, não teria sentido, porque o pecado que seria a causa de uma enfermidade de nascença deveria ter sido cometido antes do nascimento e, por consequência, em uma existência anterior. Se Jesus tivesse visto aí uma ideia falsa ele teria dito: “Como esse homem teria podido pecar antes de estar entre nós?” Em lugar disso ele lhes disse que, se o homem é cego, não significa que tenha pecado, mas, a fim de que o poder de Deus brilhe nele; é como dizer que ele devia ser o instrumento de uma manifestação do poder de Deus. Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso, porque Deus, que é justo, não poderia lhe impor um sofrimento sem compensação.”

KARDEC, Allan. A Gênese. 4a edição. “Cego de Nascença”. Grifos nossos.

Nesse trecho, onde Kardec trata da cura da cegueira, feita por Jesus, ele faz a seguinte observação: “Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso“. Ora, isso quer dizer que, para ele, e de acordo com o Espiritismo, as vicissitudes não se dão apenas como expiação, mas também como ferramenta de aprendizado. Esse trecho consta inclusive da 5a edição de A Gênese (a edição adulterada), e Kardec não pode ter se contradito em suas ideias em cada uma das obras. Esse não é o Kardec que conhecemos.

Motivo da adulteração

Todo aquele que está investigando o assunto seriamente, e que investigou também a adulteração de A Gênese, perceberá algo em comum entre as duas adulterações: o princípio do dogma da encarnação como o resultado do castigo pelo pecado – dogma fortemente limitador e aprisionante, repercutido por Roustaing e ensinado pelos Espíritos mistificadores que com ele se comunicavam, através da médium Emilie Collignon. Contra a sua teoria, existe um simples detalhe: Jesus.

Jesus, o Espírito mais evoluído que já encarnou entre nós, não tinha nada a “pagar”, posto que era Espírito puro. Como resolver esse problema? Dizendo que Jesus não encarnou, mas que, em verdade, foi um agênere, isto é, um Espírito materializado, que simplesmente nos enganou ao longo de sua trajetória.

O ponto é que, em O Céu e o Inferno, foram removidas as ideias doutrinárias que demonstravam a encarnação como necessária a todos, bons e maus, e foi acrescentada a ideia de que tudo o que passamos é fruto de expiações de erros de vidas passadas (item 10, cap. 7, Código Penal da Vida Futura); já na adulteração de A Gênese, não por acaso, o item 67 do capítulo XV foi removido, e, como demonstra Henri Netto,

[…] a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Ou seja: em A Gênese, para dar suporte às adulterações de O Céu e o Inferno, atacou-se a ideia que demonstra, pelo exemplo inequívoco, que a encarnação não serve apenas para expiação (acrescentando-se aqui que expiação é o ato consciente da escolha de provas visando o retorno ao bem, para os Espíritos que, em minoria, escolheram o apego ao erro e, assim, desenvolveram imperfeições). Removeu-se uma ideia doutrinária, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado às ideias doutrinárias.

Conclusão

De duas, uma: ou Kardec fez essa alteração, ou ele não fez essa alteração. Se ele mesmo fez essa alteração, então contradisse todo seu entendimento anterior e, além disso, demonstra um estado de saúde mental alterado, já que contradisse essa ideia n’A Gênese, inclusive em sua quinta edição, como demonstramos acima.

Ora, sabendo que Kardec deixa muito claro seu entendimento de que a encarnação não pode ser resultado exclusivo da expiação e conhecendo seu estado de saúde mental sadio, até o dia de sua morte, podemos chegar a apenas uma conclusão: essa obra foi adulterada.

A alteração é muito clara: “Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas”. Isso é claramente a ideia de Roustaing, e a essência desse capítulo foi perdida com a alteração, para implantar os mesmos dogmas que esse senhor aceitava e defendia:

“Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa”.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I, item 59

Muitos dirão, ainda, que o item 16 do cap. VII de O Céu e o Inferno (a versão adulterada) encerra o mesmo princípio removido do item 8, original:

16.º — O arrependimento é o primeiro passo para o aperfeiçoamento; mas sozinho não basta; são precisas ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, dando esperança e preparando as vias da reabilitação; mas somente a reparação pode anular o efeito, destruindo a causa; o perdão seria uma graça e não uma anulação.

Contudo, perguntamos: em que se torna a arrependimento, a expiação e a reparação, quando submetidas às ideias inseridas pelas adulterações, senão no cumprimento de uma sentença ou de um castigo? Em que se torna o erro, parte do aprendizado, senão em uma condenação? E, vendo sob esse ângulo, perguntamos: o indivíduo que é levado a pensar dessa maneira, como age ante à vida? Age austeramente, buscando superar o erro, ou, crendo-se condenado, se submete à inação ou, pior, descamba por mais erros ainda? E ante ao próximo, que sofre as vicissitudes da vida? Vê nele um irmão que requer o nosso apoio, um ser capaz de superar suas dificuldades pelo aprendizado, ou vê nele mais um condenado, sobre o qual nada se pode fazer, já que cumpre sua sentença? Finalmente: tudo isso leva ao estado de cooperação, em busca do progresso, ou leva ao materialismo e ao egoísmo?

São perguntas que cada um se deve fazer, de posse do conhecimento que, para mim, demorou três anos para ser clarificado e estabelecido. Quem sabe, com tudo isso, eu possa ajudar a diminuir esse tempo para você.

Inimigos do bem se esforçam por retardá-lo

É muito evidente que o capítulo mais importante de O Céu e o Inferno, justamente aquele que continha a essência da filosofia doutrinária, foi propositadamente adulterado. As ideias originalmente estabelecidas foram completamente remodeladas segundo dogmas ligados à ideia da queda pelo pecado, atrasando, por mais de 150 anos, o desenvolvimento do Espiritismo na face da Terra. Chega. Agora é hora de recuperar e de estudar. Recomendamos a leitura das nossas Obras Recomendadas.

Os esforços daqueles que tentam obter o domínio da verdade estão ligados às concepções de velho mundo. São Espíritos ainda incapazes de compreender a essência do Espiritismo e que, conscientemente ou não, lutam contra suas ideias de autonomia e de liberdade. Como diria Kardec, deixemos que o tempo se encarregue deles.

Dizem eles terem provado sumariamente a não adulteração e, assim, refutado todas as evidências em contrário. Assim sendo, peço a esses indivíduos que expliquem essa alteração ilógica e contraditória a toda a doutrina.

Como agem os sacerdotes

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique.

Há poucos dias, comentei no vídeo ” O Livro A Gênese foi mesmo adulterado?”, publicado no canal Grupo Espírita Revelare, no Youtube:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois estou oculto no canal.




O Espiritismo: A Ideia de Jesus

Continuação do artigo Profecia do Espírito da Verdade. O Espiritismo desenvolve a Ideia de Jesus.

Espiritismo desenvolveu o ensinamento de Jesus
Ego Sum Via Veritas et Vita (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida) pixabay – didgeman

Por um tempo, desprezaram a mensagem de Kardec trazendo ideias falsas para dentro de sua doutrina. Suas obras conclusivas tiveram suas melhores ideias adulteradas. Uma divulgação persistente dos falsos princípios por refratários (( “22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome, não são menos refratários ao Espiritismo: são os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dos prazeres. Temem encontrar a condenação de sua ambição, de seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Lamentá-los é tudo o que se pode fazer. ” A. Kardec, O livros dos Mediuns, Noções Preliminares, cap. III Método )), implantou a mentira entre muitos espíritas, causando divisão.

No entanto, numa sequência crescente, os documentos, fatos e ideias originais de Allan Kardec retornaram à luz. Suas obras foram recuperadas, como as obras O Céu e o Inferno de 1865 e A Genese de 1868 em suas traduções de suas versões originais. Os conteúdos apresentados são de extrema importancia, pois são ideias muito mais aprofundadas por Kardec.

Os novos tempos já se anunciam, as ideias reformadoras se espalham pelo mundo. É interessante notar como pelo estudo iluminado pela dedicação sincera e desinteressada, a mensagem espírita, que é a de Jesus, vai chegar a todos. E o
Espiritismo será a alavanca da revolução moral, que vai regenerar a humanidade, abrindo caminho para o mundo feliz.

O mal no mundo representa a mentalidade falsa, que divide o mundo visando justificar o orgulho e egoísmo dos que se consideram superiores e privilegiados. Desta forma, eles conseguem dominar e, ainda pior, abusar das massas. Eles a consideram inferiores e impuras.
O bem, a boa nova ou mentalidade verdadeira visa despertar o dever pela razão e liberdade, elegendo a solidariedade pela cooperação e apoio mútuo, visando a felicidade de toda a humanidade, em todos os seus níveis. Pela orientação e direção dos bons espíritos, que são ministros de Deus. Todos percorrem o caminho do bem que leva a Deus.
O Espiritismo, enfim, explica e desenvolve a ideia de Jesus, mentalidade verdadeira ou boa nova. Como todas as revelações, enfrenta a oposição dos orgulhosos e egoístas que defendem a mentalidade falsa.

Qual é a ideia da mentalidade falsa? Difundir falsamente que temos 2 Deuses no mundo, Deus e o Diabo; espalhar a ideia que o mundo espiritual está divido em 2 partes, céu e inferno; que as pessoas são dividas em puras e impuras, superiores e inferiores, etc. Esta é a FALSA IDEIA.

Para que nós consigamos superar a falsa ideia, não podemos usar as “mesmas armas” da falsa ideia. Ela usa da imposição, da violência, da divisão, da mentira, dos escolhidos que entendem dos ensinamentos como superioridade intelectual inexistente: diz que se não entendeu é inferior, só superior compreende

A VERDADEIRA IDEIA depende do esforço de cada um! Cada um de nós precisa entender a ideia verdadeira!!

Basta voce ser indiferente que voce ajude a manter Falsa Ideia.!

Há um artigo muito interessante de 1859 que vamos destacar alguns pontos referente a essa ideia de Jesus descrita também pelo Espiritismo:

“Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são compatíveis com o Cristianismo, porque o Cristianismo é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreender o Espiritismo em sua verdadeira essência.

A. Kardec, Revista Espirita, 1859 – Refutação de um artigo de “L ‘Univers” (( https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/893/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1859/4547/maio/refutacao-de-um-artigo-de-l-univers ))

O Espiritismo não é, pois, uma religião. (…) o Espiritismo ocupa-se da observação dos fatos e não das particularidades desta ou daquela crença; da pesquisa das causas; da explicação que os fatos podem dar dos fenômenos conhecidos, tanto na ordem moral quanto na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, do mesmo modo que a Astronomia não impõe o culto aos astros, nem a Pirotecnia o culto ao fogo. (…)

Hoje, graças às luzes do Cristianismo, podemos julgá-lo com mais segurança. Ele nos põe em guarda contra os sistemas errados, frutos da ignorância. E a própria religião pode haurir nele a prova palpável de muitas verdades contestadas por certas opiniões. Eis porque, contrariando a maior parte das ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às ideias religiosas aqueles que se tresmalharam num cepticismo exagerado.

Idem

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes Continua em A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia




O Céu e o Inferno e a esdrúxula campanha do CSI do Espiritismo e do Portal Luz Espírita

O portal Luz Espírita, sustentado por pesquisas enviesadas de Carlos Seth e outros, continua fazendo uma “campanha esdrúxula” ((Tomo a liberdade de utilizar o mesmo termo usado por eles contra quem eles discordam)) contra aqueles que concluem diferentemente deles, baseados em pilhas de evidências que eles escolhem desconsiderar. Notório dizer que, “do lado de cá”, longe de descartarmos as evidências por eles encontradas, apenas verificamos que elas não provam a impossibilidade de que as adulterações tenham ocorrido. Tudo o que eles têm são evidências de que Kardec havia iniciado a produção de novas edições de O Céu e o Inferno e A Gênese, mas não que ele as tenha concluído nem que as obras impressas após sua morte não tenham sofrido alterações. Além disso, não fazem o principal: explicar as diferenças absurdas, não anunciadas e mesmo contraditórias entre uma edição e outra.

A questão é que não desejamos obter o monopólio do bom-senso e da verdade, coisa que eles insistem em fazer, sem que tentem fazer o que mais importa: explicar o motivo das diferenças grotescas entre as edições em questão. Colocamos, por exemplo, algumas diferenças entre a quarta edição de O Céu e o Inferno, registrada após a morte de Kardec, e a terceira edição (igual à primeira). Respectivamente:

Quarta edição de O Céu e o Inferno

Registrada após a morte de Kardec.

  • Capítulo VIII tornou-se capítulo VII;
  • Removeu-se a maior parte da retórica filosófica com a qual Kardec abria o capítulo
  • O título “As penas futuras segundo o Espiritismo” tornou-se “Código penal da vida futura“.

7.º — O Espírito sofre pelo próprio mal que fez, de maneira que sua atenção estando incessantemente concentrada nas consequências desse mal, ele compreenda melhor seus inconvenientes e seja motivado a corrigir-se.

8.º — Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, um único bom movimento da alma, o mais leve mérito, numa palavra, que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, 4.ª edição.

O item 10 é, talvez, a maior prova da adulteração (clique para ler o artigo).

Terceira edição de O Céu e o Inferno

Publicada e registrada por Allan Kardec.

Capítulo VIII — As penas futuras segundo o Espiritismo

7. Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, nem um único bom movimento da alma — em suma, o mais singelo mérito — que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

8. A duração do castigo está subordinada ao aperfeiçoamento do espírito culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr fim aos sofrimentos é o arrependimento, a expiação e a reparação — em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem.

O espírito é, assim, sempre o árbitro de seu próprio destino; ele pode prolongar seus sofrimentos por seu endurecimento no mal, aliviá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem. Uma condenação por um tempo determinado qualquer teria o duplo inconveniente de ou continuar a atingir o espírito que se houvesse aperfeiçoado, ou cessar quando ele ainda estivesse no mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto este existe; e encerra a punição quando o mal não existe mais. Assim se acha confirmada esta expressão: Eu não quero a morte do pecador, mas que ele viva, e eu o acusarei ATÉ QUE ELE SE ARREPENDA.

9. Estando a duração do castigo subordinada ao arrependimento, resulta daí que o espírito culpado que não se arrependesse e jamais se aperfeiçoasse sofreria sempre, e que, para ele, a pena seria eterna. A eternidade das penas deve então ser entendida no sentido relativo, e não no sentido absoluto.

O Céu e o Inferno, 1.ª a 3.ª edições.

Podemos notar uma diferença gritante entre as edições. Da mesma forma, a quinta edição de A Gênese contém alterações inexplicáveis entre a edição publicada por Allan Kardec e a edição registrada quase três anos após sua morte.

Não poupamos esforços

Já abordamos o tema várias vezes. Aqueles mencionados anteriormente não poupam palavras e termos depreciativos para tentar lançar descrédito por aqueles que concluem diferentemente deles. Nós, portanto, fazemos a nossa parte, baseados em fartas evidências, e com a certeza de que a outra parte nunca se dedicou a ler e refletir com calma sobre todas elas. Não dizemos: “esta é a verdade final”, mas dizemos: “não se deixem guiar por quem tente tomar o monopólio da verdade”.

É interessante notar como os textos da outra parte são sempre apaixonados, isto é, carregam uma grande nota de emoção e de raiva ou inveja aparentes. Isso já denota uma urgência por provocar a crença por outros meios, que não os da razão. Aliás, nesse afã de dominar a verdade, Carlos Seth já cometeu gafes tão banais como querer dizer que falar em Espiritualismo Racional seria trazer uma divisão para o meio espírita.

É ainda mais interessante notar que eles nunca mencionam o nome de Paulo Henrique de Figueiredo, nem trazem suas evidências e seus argumentos para a discussão. Apenas se limitam a dizer que eles já refutaram tudo — ao que discordamos profundamente. Fazem o mesmo com a Simoni Privato, embora ainda citem seu nome.

Bem, sem buscar prolongar esse assunto de maneira cansativa, agradecemos sempre a livre propaganda que eles mesmos fazem contra as ideias que não podem aceitar.




O rapaz e o oásis: uma fábula de esperança

Em um determinado local, havia um grande deserto. Para onde se olhasse, não se via mais do que paisagens desoladas pelas areias que fustigavam qualquer coisa viva que tentasse sobreviver. Aqui e ali, porém, denotavam-se pequenos agrupamentos de elementos: eram pequenos vilarejos, formados nos pontos mais baixos das montanhas de areia e de pedras, onde, de alguma forma, era possível subsistir.

Esses pequenos vilarejos se mantinham às custas dos locais onde alguma água subterrânea aflorava, ou onde a água das chuvas esparsas se acumulavam por algum tempo. Era pouca água, um pouco lamacenta, e onde se dessedentavam homens e animais. Ao redor dessa água, cresciam alguma vegetação e plantava-se alguma coisa que mal dava para alimentar a todos – homens e animais.

Era assim a situação geral de todos esses vilarejos. Com o pouco que sabiam, transmitido entre gerações, buscavam se manter e manter o lamacento corpo de água. A vida era dura e saúde não era boa. Eram todos ensinados que somente ali seria possível sobreviver, pois, ao redor, somente havia areia e pedras, além de outros agrupamentos de similar situação.

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De vez em quando, um ou outro, cansado dessa situação, decidiam sair dos vilarejos para buscar algo além. Não se conformavam com aquela vida, mas saiam sem rumo, sem conhecimento algum sobre o derredor. Nunca mais voltavam. Muitos morriam no deserto, sem possibilidade de sobreviver. Outros, terminavam em outros vilarejos.

Em um desses vilarejos, vivia um rapaz, muito cedo orfanado e, por isso, criado em comum por outras pessoas. Desde pequeno, ensinado sobre as tradições ligadas à sobrevivência, esforçava-se para ajudar na conservação do ambiente que lhe permitia a subsistência, embora não se conformasse com aquele estilo de vida, tão limitado. Era perquiridor: buscava meios de obter mais água, de cultivar mais alimentos… Mas era tudo muito limitado e seus esforços não iam muito longe com o conhecimento que tinha.

Certo dia, caminhando pelas extremidades do vilarejo, uma forte rajada de vento, cheia de areia, trouxe com ela algo diferente: pétalas de flores e algumas folhas verdes. Ele as tomou do chão e as analisou. Eram diferentes de tudo o que tinham naquele vilarejo e, além de tudo, eram muito viçosas e bem desenvolvidas. Aquilo lhe despertou a curiosidade. Rapidamente, voltou ao seu pequeno casebre, tomou um cantil de água e algum alimento e saiu, sem dizer nada a ninguém. Tomou a direção de onde vinha o vento, sem saber o que encontraria.

O rapaz caminhou sob sol forte, sempre buscando sinais das folhas e flores, que encontrava aqui e ali. Por vezes, quase perdia a esperança, quando não encontrava em parte alguma sinais desses elementos. Sem desistir, ampliava um pouco mais a largura de suas buscas, sempre tentando se manter na direção correta. Logo, encontrava um pequena folha ou alguma pétala que, embora desidratadas, ele reconhecia como sendo do mesmo tipo encontrado anteriormente.

Veio a noite, e o rapaz se acomodou ao lado de um rochedo, onde encontrou algum calor para passar a noite. Alimentou-se sobriamente e notou que seu cantil já se encontrava quase pela metade… A preocupação lhe atormentou por algum tempo, mas logo dormiu e, no dia seguinte retomou a caminhada. Assim seguiu, por mais dois dias…

Por algum tempo, no meio do terceiro dia, andou o rapaz na direção sabida, mas não mais encontrava sinais das folhas ou das flores. Andou mais longe, alargou a busca, mas, nada. O desespero começou a alcançá-lo, pois seu cantil já continha apenas água lamacenta e ele já estava muito distante de sua origem. Sabia que voltar seria muito difícil, senão impossível, pois a desidratação já lhe atormentava o corpo.

Foi então que, caindo de joelhos em meio à areia, com lágrimas nos olhos ressecados, angustiado e sem esperança, uma borboleta pousou em seu ombro. Espantado, levantou-se. Ele não conhecia aquele inseto de tão belo voo. Algo lhe tomou novamente o ser e, com ânimo renovado, decidiu segui-la. Andou algumas centenas de metros, e logo percebeu outras borboletas ao redor. Notou que o chão começava a mudar. Aqui e ali, em meio à areia, que começava a ficar menos fofa, uma espécie de grama, algo ressecada, brotava e resistia. Seguiu nessa direção, e a paisagem ia mudando sucessivamente, até que alguns arbustos mais encorpados começavam a surgir e, mais ao longe, ele parecia divisar uma vegetação alta e densa… Mas o sol fustigava-lhe, a desidratação lhe causava tonturas e, de repente, um torpor lhe tomou e ele caiu ao chão, crendo que ali seria o seu fim.

Algum tempo depois, o rapaz acordou com seus lábios molhados de água fresca. Confuso, notou que estava encostado em uma grande árvore, que fornecia sombra fresca. Seus olhos estavam embaçados. Parecia ver, ao redor, algumas outras pessoas, mas não passavam de sombras turvas. Esfregou os olhos, buscando enxergar melhor, mas sem sucesso. Sentiu alguém aproximar e lhe jogar água sobre o rosto. Levou as mãos novamente aos olhos umedecidos, limpou-os e, aos poucos, notou a visão retornando. Foi quando conseguiu observar três pessoas ao seu redor, portando ferramentas e algumas bolsas de pano. Sorriam para ele. Uma delas entregou-lhe um cantil, do qual o rapaz bebeu com avidez. A água era fresca, límpida, como ele nunca havia ingerido antes, senão quando conseguia colher alguma água da chuva.

Refestelou-se daquele líquido e, em alguns momentos, sentiu a energia lhe retornando ao corpo. Teve forças e se levantou vagarosamente. Aquelas pessoas se aproximaram e quiseram lhe falar. Espantado, notou que falavam o seu idioma, embora com sotaque diferente! Convidaram-no a segui-las, ao que ele prontamente se entregou. Caminharam algum tempo em meio a uma linda floresta. Ele percebia o perfume, a umidade que lhe acalentava a pele, os sons de diferentes animais e do vento balançando as folhas. Notou, no chão, flores e folhas que ele reconhecia. Próximo, notou um riacho de água limpa e cristalina a correr em meio à vegetação. Que alegria ele sentia naquele momento!

Chegaram, então, ao centro de um vilarejo. Muitas pessoas viviam ali, todas de aparência saudável e rostos alegres. Haviam também animais e, nas proximidades, enxergava plantações verdejantes e robustas, algo totalmente diferente da realidade de seu local de origem.

Levaram-no, então, a uma casinha simples, onde se reuniam algumas pessoas em alegre conversação. Pareciam trabalhar em colaboração sobre o alimento oriundo das plantações. Rapidamente aquela gente o acolheu. Deram-no do que comer e beber, acomodaram-no como se fosse um dos seus, ouviram sua história e lhe contaram muitas coisas em retorno. Ali, o rapaz foi ensinado que a água que brota na superfície vem de muito fundo, e que encontra ali um local de saída. Que, para obter mais dessa água, seria necessário cavar um tanto mais, limpando o barro. Que poderiam fazer poços, para obtê-la fresca e cristalina e que, se as margens fossem cuidadas, com o plantio de certas plantas e árvores, aos poucos o corpo de água ganharia volume e qualidade. Ensinaram que as plantações de alimentos devem vir depois dessas áreas, para não facilitarem a evaporação. Ele rapidamente percebeu que era justamente o contrário do que faziam.

Também contaram ao rapaz que esses vilarejos espalhados pelo deserto foram originalmente formados por pessoas oriundas daquele lugar, muito, muito tempo antes. Eram pessoas que, apesar de viverem e se beneficiarem do conhecimento e da produção daquele lugar, pouco ou nada faziam para aprender e para colaborar. Convidadas constantemente ao trabalho necessário, decidiram afastar-se em um grupo e, depois, decidiram sair, com a intenção de formar elas mesmas suas próprias aldeias, onde acreditavam que poderiam fazer as coisas melhores, e de outra maneira. Isso aconteceu muitos, muitos anos antes e, desde então, eles não mais as viram por ali, embora, de vez em quando, algum bravo indivíduo saísse em missão de buscá-las para ajudá-las: encontrando-as, era rapidamente afastado pelas ideias que trazia e tinha que retornar àquele lugar.

O rapaz estava muito interessado. Questionava, queria saber mais. Compreendeu rapidamente que o conhecimento renegado foi a causa da miséria em que viviam esses vilarejos ou aldeias. Passou ali alguns dias, mas logo percebeu que tinha que retornar, pois precisava compartilhar com os seus tudo aquilo que viu e aprendeu. Tomada a decisão, saiu em viagem de retorno, dessa vez muito mais preparado, com alimento e água fartos. Conduziu-se sem maiores dificuldades ao seu vilarejo de origem, onde ingressou em alguns dias de jornada.

Muito alegre e com energia renovada, tomou o rapaz as ruas arenosas da pequena vila. Seu rosto expressava decisão, embora aqui e ali expressasse alguma tristeza por ver os seus companheiros, tristes e insalubres, encarando-o curiosamente. Buscou, contudo, não se afetar demais e, dirigindo-se aos chefes da vila, cheio de entusiasmo, contou do acontecido, pedindo que fosse realizada uma reunião naquela noite, onde pudesse expor aos demais tudo o que viu e aprendeu. Os chefes da vila receberam suas palavras com olhares de espanto e de incredulidade. Ao final, negaram-lhe a reunião solicitada, dizendo que tudo aquilo não passava de absurdos e que eles estavam certos dos ensinamentos de seus antepassados, aos quais se agarravam com paixão. Além disso, repreenderam-no duramente por ter se retirado sem aviso, pois causou enorme preocupação em todos do vilarejo.

O rapaz não conseguia acreditar. Incrédulo com aquela recepção amargosa, tomou outro caminho: decidiu que ele mesmo buscaria reunir algumas pessoas e que, depois disso, se fosse expulso pelo desrespeito, teria para onde ir. Assim, saiu pelas ruas do vilarejo. Encontrou muitos companheiros de vida e, um a um, foi contando resumidamente sua história e convocando-os para uma reunião, em seu casebre. Muitos expressavam um brilho no olhar, mas diziam não se sentir fortes para abandonar seus hábitos; outros, lhe acusavam de blasfemar contra os ensinamentos de sua tradição; outros, ainda, temiam serem expulsos dali pelos chefes do vilarejo, por pensarem diferentes.

Chegada a hora da reunião, esperava ansioso a chegada de muitos… Esperou, esperou mas, além dele, compareceram apenas outros dois, amigos de infância, tímidos e incertos, mas que perceberam a importância daquilo que ouviram, já que eles mesmos pensavam que aquela situação e aqueles ensinamentos não eram suficientes ou corretos. O rapaz entristeceu-se por alguns instantes, percebendo que nada seria fácil. Ele viu a felicidade de outras pessoas, que colaboravam em um ambiente cuidado por seus próprios esforços. Viu a água cristalina, enquanto, sobre a mesa de seu casebre, restava um jarro de água lamacenta. Ele não podia não tentar.

Passados alguns momentos, tomou resolução diferente. Percebeu que aquele ambiente não aceitaria essas verdades, senão depois de muito tempo, e com a colaboração de pessoas que fossem compreendendo as verdadeiras e originais ideias. Decidiu convidar os presentes a acompanhá-lo em jornada para aquela aldeia distante. Os dois amigos prontamente aceitaram o convite. Queriam aprender mais, queriam viver melhor, e entenderam que, para ajudar àquelas pessoas, teriam que aprender muito mais e se fortalecerem.

Assim, partiram no dia seguinte. Já certo de seu caminho, o rapaz fez que viajassem mais preparados e com mais rapidez. Chegaram às margens da floresta em dois dias, sem muitas dificuldades. Ali, logo encontrou pessoas que os receberam e os conduziram à vila, onde foram todos recebidos com felicidade e integrados à sociedade dali. Em pouco tempo, aprenderam muito. Sentiam-se felizes e contentes, pois não viviam para subsistir e nem para cuidarem apenas de si. Havia colaboração genuína no uso e no desenvolvimento do conhecimento que permitia manter aquele grande oásis, verdadeiro paraíso em meio ao deserto. Mas esse senso de colaboração lhes dizia, no interior, que não podiam ter tudo aquilo somente para eles, pois, fora dali, seus semelhantes viviam em plenas miséria e infelicidade.

Assim, depois de algum tempo, esses três formaram uma iniciativa, à qual se juntaram outros jovens daquele lugar: deveriam planejar, de quando em quando, missões com destino a esses vilarejos, buscando conquistar corações pela razão. Aos poucos, mapearam diversos deles, para onde partiam todo ano, buscando encontrar ouvidos dispostos a escutá-los. Em alguns deles, não encontravam senão hostilidade, sendo mesmo banidos de um e de outro. Nos outros, eram aceitos com precauções, nunca encontrando mais que frieza em seus chefes, que permitiam, contudo, que falassem. Desses, com certa raridade, retornavam com um algum novo companheiro, que frequentemente se juntava à mesma iniciativa.

E assim passaram seus anos de vida, buscando fazer o que acreditaram ser o correto, sabendo que a distância entre os conhecimentos adulterados seriam vencidos um dia e que, nesse dia, as florestas verdejariam por todo lugar, progressivamente extinguindo o deserto para dar lugar a um novo e saudável ambiente. Um dia…


O grande oásis é o Espiritismo, cujo ensinamento os Espíritos vem nos transmitir, em esforço de colaboração. A água pura é o conhecimento resultante desse esforço, construído de maneira metodológica e científica. O rapaz é cada um que percebe essa distância entre o movimento espírita e o Espiritismo. Os vilarejos são os agrupamentos de adeptos espíritas onde não se fala em Kardec e onde o questionamento é visto como subversivo e prontamente coibido. O deserto é a situação atual do nosso mundo.




Nossa posição final sobre as adulterações nas obras de Kardec

Estamos aqui apenas para deixar registrada nossa posição final sobre o assunto das adulterações nas obras de Kardec, sobre o qual não mais se discute, a não ser ante a evidências inquestionáveis ou provas irrefutáveis, coisa que nem o “CSI do Espiritismo” produziu. Apresentamos, sucintamente, os seguintes pontos:

  1. A questão legal: O Depósito Legal de A Gênese foi realizado apenas em 1872, cerca de três anos após a morte de Kardec; o DL de O Céu e o Inferno, foi realizado cerca de três meses após sua morte. Isto já é fato legal suficiente para configurar crime a distribuição das obras alteradas, publicadas após o fatídico evento, e sobre isto não há discussão, nem, até hoje, nenhuma prova de que Kardec tenha realizado o processo legal, necessário para tal.

    Esse ponto é importante, porque, ainda que tudo o que esteja ali publicado seja mesmo da mão de Kardec — o que implicaria no fato de ele ter voltado atrás de suas palavras, removido princípios e formado obras desconexas em si e entre si — ainda que tudo o que está ali seja das mãos de Kardec, ainda assim não podemos ter nem sequer a certeza de que ele desejaria que tudo aquilo fosse publicado, pela mera dúvida possível de que aquelas edições poderiam não estar finalizadas. É isso o que garante o direito autoral.

    Mais que isso: legalmente, não importa se foram encontradas cartas (uma carta) em que Kardec mencionava a produção dessas novas edições. Se não houve o Depósito Legal da obra, pelas mãos de Allan Kardec, está configurado o crime contra a lei vigente à época e, do fato de o DL ser posterior à sua época, está configurado o crime contra o direito autoral.

  2. Ainda que evidências apontem que Kardec estava finalizando ou mesmo que teria finalizado essas edições, nada prova que as edições impressas não tenham sido adulteradas. Resta dúvida, além do indiscutível fato legal.
  3. Além disso, restam os fatos constatados pela razão, já discutidos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Portanto, repetindo sempre a nossa vontade de nos permanecer resguardado contra o erro, preferimos seguir o conselho de Erasto, dispensando dez verdades para não ser possível ficar com uma só mentira, um só engano. Há dúvida e, se há dúvida, a razão nos manda ficar com as obras originais, republicadas pela Editora FEAL, onde não apenas temos certeza de que todas as vírgulas vêm das mãos de Kardec, como também onde, pelo estudo, percebemos que as conexões intrínsecas das obras em si e entre si estão intactas e atendem à razão.

Assim, declaramos encerrado o assunto, tornando essa decisão parte de nossos princípios, não fazendo dele palco de discussões vazias, até que provas irrecusáveis venham a ser apresentadas. Até lá, ficamos com o que a nossa razão nos manda, por nossa livre vontade, respeitando quem, pela sua razão, chegue a outra conclusão, por mais estranho que isso nos pareça.

O Grupo.