CSI do Espiritismo: o órgão oficial da Verdade

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CSI do Espiritismo, de Carlos Seth, tornou-se órgão oficial da Verdade.

por Paulo Degering R. Junior


Ao contrário de respeitar a lei mundial, no que tange ao direito moral do autor e que classifica, peremptoriamente, sob ponto de vista jurídico, a quarta edição de O Céu e o Inferno e a quinta edição de A Gênese como adulterações fácticas, indiscutíveis, o grupo conhecido como CSI do Espiritismo, através de uma argumentação repleta de furos e falta de lógica, dando palavras finais sobre o assunto e atropelando o ordenamento jurídico, diz que não houve adulterações.

Lá, no CSI do Espiritismo, de Carlos Seth, Adair Ribeiro e Luciana Farias, não se discute mais sobre o assunto. Apesar de o registro legal da publicação da quinta edição de A Gênese datar apenas de 1872, como eles encontraram um (só um) suposto exemplar dessa edição, mas com a data de 1869, numa biblioteca da Suíça (não da França, mas da Suíça), logo ligaram esse exemplar perdido ao fato de Kardec ter declarado estar preparando uma nova versão — como se isso pudesse ser utilizado como prova de conclusão e de correspondência. E, no balaio, junto vai a afirmação de que a grotesca — e evidente — adulteração de O Céu e o Inferno não existiu!

A lógica da Verdade absoluta (CSI do Espiritismo) é esta: se Kardec declarou estar preparando uma nova edição de A Gênese e se um exemplar, datado de 1869, com alterações no mínimo estranhas, foi encontrado (na Suíça), então é evidente que ele só pode ter sido publicado pelas mãos de Kardec (apesar dos problemas, logo na capa), e mente quem disser o contrário!

É claro que aqui existe um detalhe: o fato de que, tendo o Depósito Legal da 5.ª edição sido realizado apenas em 1872, quase três anos após a morte de Kardec, isso, per se, classifica uma questão legal importante — a de que qualquer alteração realizada após a morte de um autor implica em adulteração. Mas é claro que o Ministério da Verdade tem a resposta: o exemplar único, sabe-se lá por que, esquecido numa biblioteca suíça (e não francesa) é a prova cabal contra a questão jurídica (não é)!

Tem também o fato de a esposa de Kardec ter assinado a ata de 1873 (se não me engano) onde estaria dando ciência da publicação daquela edição… Mas que ela tenha sido colocada de lado por Leymarie, como demonstra Simoni Privato, e que essa edição não tenha sido publicada na França, nos primeiros anos, é claro que não vem ao caso. Parece-nos que foi tudo pensado para que essa adulteração não ficasse em evidência no território francês.

Seria lógico, para um pensador incauto, imaginar que o fato de não ser possível encontrar, na França, exemplares dessa nova edição, “Revisada, Corrigida e Aumentada”, deva-se ao fato de que, na França, isso poderia ser considerado uma contravenção — já que ela não tinha depósito legal — mas não para quem aceita a Verdade Inquestionável.

Como eles encontraram diversas evidências de que Kardec, antes de morrer, havia encomendado uma nova edição de A Gênese; como encontraram evidências de que essa nova edição havia começado a ser impressa; como eles verificaram que a própria viúva de Kardec, três anos depois, assinou um documento dando ciência sobre a distribuição dessa nova edição, eles concluíram, é claro, que seria absolutamente impossível que alguém tomasse os tipos móveis, após a morte de Kardec, e produzisse uma segunda versão, apresentando cada uma conforme conveniência, ou que tivessem dado sumiço na versão alterada por Kardec, ficando apenas com uma versão adulterada. Não, nada disso pode ter acontecido, segundo o CSI do Espiritismo.

Evidências, agora, são suporte para dar a palavra final sobre algo que não pode ser provado — e que eles afirmam que não pode ser provado. O que precisamos entender e aceitar, “de nosso lado”, é que Kardec ficou — ele que me perdoe — gagá, nos seus últimos anos! Que, apesar de ter realizado obras tão profundas e sábias, em termos científicos e filosóficos — O Céu e o Inferno e A Gênese — pouco após isso, deve ter tido algum tipo de síncope que o deixou lesado, a ponto de ir contra a direção dos Espíritos, que diziam que a obra estava ótima e que NADA deveria ser removido.

Minha opinião é que não há absolutamente nada de doutrina a ser retirado; tudo aí é útil e satisfatório sob todos os aspectos

[…]

É necessário deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público”.

No caso, além da demonstração jurídica da adulteração de A Gênese, também esta comunicação reforça o fato em razão das alterações doutrinárias identificadas na obra, com a supressão de diversos trechos em que Kardec critica a moral heterônoma do fanatismo religioso, dentre outras manipulações.

Ainda nesta comunicação, o espírito sugeriu também que ele trabalhasse sem pressa e sem dedicar muito tempo:

Sobretudo, não se apresse demais. (…) Comece a trabalhar imediatamente, mas não de forma exagerada. Não se apresse”.

AUTONOMIA. NCNI – Conselhos sobre A Gênese. Disponível em: https://espirito.org.br/autonomia/ncni-conselhos-sobre-a-genese/. Acesso em: 24 abr. 2023.

Kardec não só removeu pontos importantíssimos das obras, como o prefácio da nova edição de OCI (afinal, quem é que precisa de um prefácio explicando o caráter da obra e a propriedade que ela tem, como resultado do estudo da ciência espírita?), como fez um verdadeiro frankenstein de AG, trocando ideias fundamentais antes declaradas e fazendo até mesmo referências a postulados que haveria de remover na nova edição de OCI. Logo ele, que, com uma habilidade assustadora, era capaz de conduzir uma linha de pensamentos perfeitamente encadeada entre vários números da Revista Espírita! Removeu um capítulo de OCI e transformou em lei do pós-morte aquilo que outrora dizia não ser possível tomar como lei — sem dar nenhuma explicação sobre isso!

Coitado do Kardec, deve ter soltado um parafuso de tanto falar com Espíritos. Segundo essa linha de pensamentos — a da Verdade Inquestionável — ele, por pouco, poderia ter se tornado um novo discípulo de Roustaing!

Pior: além de gagá, Kardec ficou MEDROSO. Ora, é a única coisa que podemos depreender da inquestionável verdade do CSI do Espiritismo, já que fez, n’A Gênese, pesadas assertivas sobre os adversários do Espiritismo, para depois removê-las na nova edição.

Dizer que a humanidade está madura para a regeneração não significa que todos os indivíduos estejam no mesmo degrau, mas muitos têm, por intuição, o germe das ideias novas que as circunstâncias farão desabrochar. Então, eles se mostrarão mais avançados do que se possa supor e seguirão com empenho a iniciativa da maioria. Há, entretanto, os que são essencialmente refratários a essas ideias, mesmo entre os mais inteligentes, e que certamente não as aceitarão, pelo menos nesta existência; em alguns casos, de boa-fé, por convicção; outros por interesse. São aqueles cujos interesses materiais estão ligados à atual conjuntura e que não estão adiantados o suficiente para deles abrir mão, pois o bem geral importa menos que seu bem pessoal — ficam apreensivos ao menor movimento reformador. A verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade para certas pessoas está inteiramente naquilo que não lhes causa nenhum transtorno. Todas as ideias progressivas são, de seu ponto de vista, ideias subversivas e, por isso, dedicam a elas um ódio implacável e lhe fazem uma guerra obstinada. São inteligentes o suficiente para ver no Espiritismo um auxiliar das ideias progressistas e dos elementos da transformação que temem e, por não se sentirem à sua altura, eles se esforçam por destruí-lo. Caso o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Nós já o dissemos em outro lugar: “Quanto mais uma ideia é grandiosa, mais encontra adversários, e pode-se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais seja objeto”.

KARDEC, Allan. A GÊNESE, 4.ª EDIÇÃO — EDITORA FEAL

Vai ver Kardec recebeu alguma carta ameaçadora — mais ameaçadora que as dezenas que deveria receber com ameaças. Ou então Kardec notou, enfim, seu erro em julgar que o Espiritismo fosse assim tão potente a ponto de despertar esse ódio implacável ao qual se referiu.

Bem, além de aceitarmos a Verdade Inquestionável do CSI do Espiritismo, aprendendo a deixar de lado esse negócio de “razão”, precisamos também aprender a enterrar certos autores, que nem sequer são citados pelo órgão representativo da verdade divina na Terra. Podemos até mesmo criticá-los, como fez Carlos Seth, mas não podemos, de forma alguma, utilizar seus vastos trabalhos de anos de pesquisa sobre Magnetismo, Espiritualismo Racional e Espiritismo. Jamais! Ao criticá-los, não devemos nem sequer citar nomes – vai que as pessoas despertem o interesse em ler as insanidades que diz esse tal “Paulo Henrique de Figueiredo”. Afinal, esse autor tem a ousadia de questionar o Ministério da Verdade, utilizando essa tal da “razão” e, afirmando que não consegue ver um Kardec tresloucado, diz que encontrou a plena concordância das ideias tratadas nas obras e na Revista Espírita com as primeiras edições dessas obras — edições essas que também não devem ser citadas.

Passemos uma régua por cima de todo esse imbróglio, e não mais falemos sobre isso. As evidências do “outro lado”, esse que “acredita” numa adulteração, devem ser sumariamente esquecidas, junto aos seus autores. Diferentemente do que dizia Kardec — que não podemos dar palavra final sobre aquilo que não pode ser provado — nós devemos aceitar a palavra final do CSI do Espiritismo. Desde que as evidências por eles encontradas tornaram-se expressão final da verdade inquestionável, todos — repito: todos — os argumentos do “outro lado” tornam-se automaticamente nulos! Aquele “caminhão” de argumentos trazidos por Simoni Privato em “O Legado de Allan Kardec”? N-U-L-O, pois diz Carlos Seth Investiga: “Nós demonstramos com FATOS que TODAS as evidências utilizadas para provar que “A Gênese” poderia ter sido adulterada NÃO se sustentaram”. Há quem discorde.

Ah, o FATO de Leymarie ter adulterado uma comunicação espiritual, em Obras Póstumas, removendo justamente o trecho em que o Espírito recomendava que Kardec não retirasse nenhuma ideia na nova edição de A Gênese também foi prontamente anulado pelas evidências do órgão da Verdade Inquestionável.

Também não devemos nem sequer trazer à tona esses argumentos contrários, pois do que é que vale, contra algumas evidências materiais, uma enorme quantidade de argumentos lógicos e o fato de que o registro, após a morte do autor, de uma edição alterada, configura adulteração? ? Absolutamente nada!

É claro que isso traz um “pequeno” problema, já que o Espiritismo não pode ser provado senão por meio da racionalidade, mas não devemos temer: o Ministério da Verdade com certeza terá uma solução para isso. Assim que o Espiritismo estiver um tanto mais minado pela desconfiança colocada sobre Kardec (quem, lembre-se, ficou gagá) e pela descoberta de “fofocas da época”, obtidas através de opiniões dos médiuns dissidentes, encontradas em documentos antigos, poderemos, quem sabe, passar um rodo sobre o Espiritismo “de Kardec” e fundar uma nova era de estudos históricos.

Mas não é tudo: devemos, além de declarar a nulidade de qualquer argumento em contrário, sem apresentá-los ao público, combater também qualquer ideia que venha da direção contrária, criticando obras sem nenhuma necessidade de compromisso científico. Se cometermos falácias, não tem problema. Afinal, estaremos combatendo a mentira e, para isso, devemos usar todas as armas.

Diz Carlos Seth, do CSI do Espiritismo:

Em meados de 1890 houve a consolidação da divisão entre o Espiritismo consolador e o Espiritismo científico, conforme já apontou o colega John Monroe.

A história se repetiu entre 2016 e 2020 agora no campo da moral, com o lançamento de livros que procuraram trazer pensamentos de Kant, Maine de Biran e Victor Cousin para dentro do Espiritismo, mesmo que para isso precisassem deturpar as ideias de Allan Kardec.

BASTOS, Carlos Seth. Bônus adicional – O final. Espíritos sob investigação. Disponível em: <https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L193.pdf>. Acesso em: 15/04/2023.

Sem sombra de dúvidas, Seth não leu absolutamente nada do que esse povo doido está falando por aí sobre o Espiritualismo Racional, nem leu a Revista Espírita, que é onde está firmada a base científica do Espiritismo, que ele parece criticar. Justamente na Revista Espírita, onde Kardec parece ter “perdido a cabeça”, ao afirmar o Espiritismo sendo um desenvolvimento do Espiritualismo Racional! Interessante é que a leitura e o cuidado em não se falar do que não se sabe faz ser evidente que o Espiritualismo Racional deu base ao Espiritismo, havendo um grande intercâmbio entre essas duas ciências, sendo que o Espiritismo vem dar a chave para aquilo que o ER não tinha como responder. Mas é aí que mora o problema: esse assunto é tratado por um autor cujo nome o Ministério da Verdade (CSI do Espiritismo) não permite nem sequer que seja citado — esse tal “Figueiredo”. Cito até a obra: “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”. Mas, por favor, não leiam esse livro, repleto de sandices! Devemos apenas colocá-la na sombra da inexistência, junto ao seu autor que, segundo o Ministério, está causando uma divisão no Espiritismo, “agora no campo moral”!

Se a Verdade Inquestionável age assim, é porque tem um motivo muito sério: é que esse autor pode dar aval às subversivas ideias da adulteração. Mostrando suas intenções malévolas e colocando seus livros no esquecimento, através de algumas inofensivas e nada levianas afirmações falaciosas, age a Verdade em nome do Bem. Essas ideias de autonomia e Espiritualismo Racional — “racional” — se são tratadas por esse autor, ou são fruto de erro, ou devem apenas serem esquecidas, a fim de que, repetimos, não levem as pessoas a lerem as obras proibidas.

Preste muita atenção: a controvérsia sobre a adulteração das obras O Céu e o Inferno e A Gênese se mostrou inexistente! Sim, porque, para nós que aceitamos a Verdade Inquestionável do CSI do Espiritismo, o outro lado nem sequer existe! Como aceitamos evidências como provas (embora ciência seja sobre teorias, e não provas) e fazemos uma inferência que para muitos pode parecer forçada — mas o Ministério da Verdade afirma que não é — todo o restante torna-se automaticamente nulo. Apaguemos também a história, que nem sequer devemos citar. Sobre os autores que corroborem essa ideia de um complô ao redor de Kardec, não podemos fazer nada mais do que mostrá-los como são — impulsivos e levianos, embora tenham se dedicado a longos anos de pesquisas — para que, enfim, possamos guiar as pessoas pelo caminho correto — o da Verdade Inquestionável — não pela razão, mas pela coerção, já que a maioria é incapaz de pensar por si própria. Aquela história de deixar ao tempo e ao público julgar o que é correto — essas ideias malucas de Kardec — caem por terra, pois temos evidências que podem ser tomadas como provas cabais, segundo nossas teorias.

Aqueles, enfim, que não aceitam a Verdade Inquestionável, devemos tratá-los como são: resistentes e de mente fechada, que não aceitam as evidências que lhes apontamos. Preferem acreditar que Kardec jamais poderia ter realizado tais alterações, pois, dizem eles, não são racionais nem condizem com o método que ele teria utilizado por anos, nem muito menos com o restante da obra. Balela! Declaremos guerra a essas ideias sem nenhum nexo e proibamos, o quanto possível, que sejam sequer suscitadas, pois causam um mal gigantesco ao atiçarem, no povo, essa vontade absurda de pensar pela razão — tão absurda que não aceitam as evidências históricas como fato irrefutável da não adulteração. Aliás, devemos nomeá-los como tal: negacionistas, de modo que sejam desmoralizados onde quer que falem e não despertem a curiosidade de ninguém.

Ficam, assim, definidos alguns passos a serem seguidos para o restabelecimento da Verdade, segundo o CSI do Espiritismo:

  • Utilizar todo espaço possível, nas redes sociais e nos canais do Youtube, para afirmar que todos os argumentos contrários foram vencidos, sem nenhuma intenção de diálogo.
  • Escrever documentos e artigos mostrando uma série de evidências materiais que corroboram a tese, digo, a prova evidencial da Verdade — novamente, sem cogitar de apresentar argumentos contrários.
  • Escrever artigos que desmereçam autores e ideias em contraste à posição do Ministério do CSI do Espiritismo, sem se aventurar a conhecê-los, o que é óbvio, e sem nenhuma preocupação em cometer falácias. Lembre-se: tudo pelo Bem!
  • Criar espaços para estudos. Do Espiritismo? Não. De seu contexto científico? Muito menos! Para estudar as cartas antigas e investigar quem foram os médiuns que Kardec insistentemente dizia que não deviam ser colocados em relevância.
  • Ante qualquer discussão sobre a forma de ação do Ministério da Verdade, conduzir rápida e habilmente o assunto para a questão da adulteração, onde temos o total controle, já que o outro lado, já desmoralizado pelo enquadramento no negacionismo, não poderá sustentar fiabilidade ante o público.

Dizem eles que manchamos a imagem de Kardec e o próprio Espiritismo ao agir assim. Ora, a busca é pela Verdade, e tudo aquilo que sustente aquilo que temos como certeza, desde o início, deve ser exaltado, doa a quem doer. Mas chega desse assunto, pois não o discutiremos mais, agora que estamos de posse da Verdade Inquestionável.


Prezado leitor,

É claro que, se você estuda Kardec e nos acompanha, notou que o texto é apenas uma crítica, em tom de sátira, ao comportamento absurdo adotado por algumas pessoas que decidiram tomar, para elas, a verdade, deixando fatos importantes de lado. Sinto por ter te feito ler tudo isso. De nossa parte, não desejamos impor a nossa verdade ou as nossas conclusões. Deixamos a cada um a liberdade de julgar por si mesmo, de posse de evidências e fazendo uso da própria razão. O que nos entristece é que muitos, deixando-se conduzir, abstraem-se totalmente de conhecer obras como as de Paulo Henrique de Figueiredo e de Simoni Privato, que têm trazido uma contribuição ímpar para a compreensão do Espiritismo.

Qual é o cerne da questão, enfim? É que a 5.ª edição, com alterações, tem depósito legal realizado apenas em 1872. Isso, legalmente, configura adulteração. O restante, as evidências encontradas pelo “CSI do Espiritismo”, apontam apenas para o fato de que Kardec preparava uma nova versão, mas não prova que essa versão chegou a ser impressa. Constituem inferências forçadas todos os esforços no sentido de apontar que aquele único exemplar encontrado na Suíça corresponde a essa nova edição, apenas porque corresponde ao exemplar referente ao depósito legal de 1872, da 5.ª edição, feito por Leymarie. Esse é o ponto.

O que temos por segurança, sem nenhuma sombra de dúvida: Kardec realizou uma edição de A Gênese, da qual encomendou quatro reimpressões, sendo que cada uma delas configurava uma nova edição, embora iguais à primeira. A prova disso está no fato de ele não ter realizado depósito legal para as demais edições.

Também é um fato que Kardec preparava uma nova edição dessa obra e de O Céu e o Inferno. Mas não existe prova que de ele as concluiu, sendo outra inferência forçada afirmar que o pedido de reimpressão de dois mil exemplares de A Gênese, feito em fevereiro de 1869, refira-se à impressão dessa nova edição. Pode ser que sim, pode ser que não. Se sim, pode ser que essa edição tenha sido destruída, para, então, alguém realizar uma adulteração. Para o argumento sobre o tempo hábil para fazê-lo, basta lembrar que, naquele tempo, as pessoas tinham muito mais tempo que nós temos hoje e que, além disso, não existe prova de que a versão adulterada não tenha sido impressa apenas mais tarde; para o argumento da necessidade de convencimento do impressor, basta supor que seria necessário apenas dizer, por exemplo, que foi um pedido de Kardec, feito pouco antes de morrer, e que, não sendo aquilo uma edição final, mas apenas uma edição para avaliação e correções, não seria necessário o depósito legal (o que é um fato).

Um ponto importante, aliás: qual é o sentido de Kardec mudar o título de sua obra (A Gênese), inserindo o subtítulo “revisada, corrigida e aumentada”, se nunca fez isso antes, para nenhuma das outras obras? A meu ver, mais parece algo feito, por um adulterador, no sentido de reforçar que aquela edição seria uma importante “alteração”.

A comunicação espiritual, onde o Espírito afirma, através do médium Sr. M. Desliens, que Kardec não deveria remover nada, mas apenas condensar aquilo que possivelmente tenha ficado claro em outros pontos (que você pode conferir aqui), foi adulterada por P. G. Leymarie, quando foi incluída com cortes e alterações em Obras póstumas, organizada por ele, e publicada em 1890: segunda parte, capítulo: “A minha iniciação no Espiritismo”, item: “Minha nova obra sobre A Gênese” (onde “Minha” seria uma referência a Kardec, falando de si mesmo).

Ora, por que essa sanha de Leymarie em dar suporte, por intermédio de uma flagrante adulteração, à ideia de que a 5.ª edição de A Gênese foi produzida por Kardec?

Enfim, deixemos cada um a seu tempo e as suas escolhas, mas não nos ausentemos de apresentar a real proposta da ciência espírita, totalmente autônoma e libertadora e, conforme concluímos, muito afastada dos conceitos transformados em “Código Penal da Vida Futura”, naquilo que, para nós, somente pode ser configurado como uma adulteração.

Fato é que Carlos Seth, na busca por tudo o que possa suportar sua ideia, tem distorcido, ele mesmo, ideias e palavras, utilizando de falácias e argumentos lógicos, algumas vezes inválidos, para forçar conclusões. Foi leviano e deselegante ao afirmar, com grande desconhecimento, que “certo autor” estaria provocando uma divisão no Espiritismo, “agora no campo moral”, ao trazer, para dentro da Doutrina, o Espiritualismo Racional (já tratamos disso no artigo Espiritualismo Racional e Espiritismo – uma nova divisão no meio Espírita?) e é igualmente deselegante ao utilizar seus meios de comunicação para denegrir aqueles que, pela razão e pelos fatos, concluem diferentemente dele, imputando a eles os termos “negacionistas”.

Ademais, apresentamos um argumento final: o próprio Carlos Seth afirma que não tem prova de que as obras não foram adulteradas. Resta, portanto, espaço para alguma dúvida e, assim sendo, não seria muito mais prudente ficar com a primeira edição dessas obras, de quando Kardec era vivo, onde temos a total confiança de que tudo, absolutamente tudo o que existe ali, foi produzido por suas mãos? Isso, é claro, sem tratarmos as outras edições como inexistentes, pois elas servem, a nosso ver, justamente para demonstrar o tom das alterações e o que foi que elas removeram ou inseriram no pensamento de Kardec.

Deixamos ao leitor a reflexão.

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