Espiritismo e Política

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Bate o horário da palestra no Centro Espírita. Sobe à tribuna o palestrante, aparentemente bem preparado e de linguagem eloquente e, em meio a temas relativos ao meio espírita atual, começa a emitir opiniões diversas a respeito de um suposto propósito do Espiritismo como alicerce de movimentos políticos.

Muito provavelmente você também, caro leitor, já presenciou tais feitos, ou já ouviu relatos próximos. E, é claro, tais opiniões – pessoais, lembramos – despertam simpatias e antipatias, porque, no campo político, há muito embate e discordância de ideologias.

Não vamos nomear lados, partidos, ideologias ou o que quer que seja. O que vamos defender, aqui, é que o Espiritismo não é e nem nunca será um movimento político. E quem envolve a Doutrina em tais assuntos, não a entendeu em sua profundidade e se baseia num entendimento distorcido para fundamentar suas próprias inclinações ideológicas políticas, afastando do Espiritismo as pessoas que não concordam com sua forma de pensar – quase sempre bastante fechada em um círculo específico de ideias.

O Espiritismo, lembramos, é uma ciência moral de aspecto filosófico, cuja teoria nasceu da observação dos fatos espíritas – isto é, da manifestação dos Espíritos. Sua essência, em sua clareza original, é voltada à reforma de ideias, no sentido de como o Espírito humano encara sua evolução, suas provas, suas dificuldades e suas oportunidades. Não é acaso, aliás, que Allan Kardec foi formado no Castelo de Yverdon, pelo método de Pestalozzi: é através da pedagogia da fraternidade e do amor, e não pela punição, que o Espírito realmente adquire um entendimento real a respeito de suas potencialidades e de suas imperfeições, se aperfeiçoando e deixando para trás seus maus hábitos.

Por que dizemos tudo isso? Porque as ideologias políticas, de todos os lados, contam com adeptos – à exclusão daqueles muitos apenas utilizam da política para benefício próprio – que visam a melhoria social. Quando esses adeptos são espíritas, muitas vezes são levados a acreditar, por um entendimento muito raso, que as ideias espíritas se aliam às suas ideologias políticas, e passam a divulgar a quatro ventos tais crenças, sem se importar com as antipatias que despertarão. A propósito, precisamos também lembrar: a maioria das ideologias políticas atropela as liberdades de pensamento individuais, sendo que o Espiritismo faz justamente o contrário.

E isso tudo, repito, por um entendimento muito raso, por não se aprofundar nos estudos da Doutrina a ponto de entender que o propósito do Espiritismo é reeducar o Espírito humano e, aliando-se à educação desde a infância, melhorar a forma como o Espírito encara a vida material, promovendo nele uma mudança de ideias sobre as dificuldades da vida e sobre a necessidade de abafar seus ímpetos de orgulho e egoísmo e de agir de forma caridosa, como obrigação moral, respeitando o livre-arbítrio que cada um tem.

Isso sim muda a sociedade, pois modifica a forma como o indivíduo encara a vida e o próximo. O Espiritismo nos oferece terreno comum, sendo uma ciência disponível para pessoas de todas as crenças e ideologias, desde entendam que a sua real proposta é a modificação individual, pela livre-consciência, e não por força de lei.

Da mesma forma que se afugenta um indivíduo que bate à porta do centro buscando consolação mas ouve as mais diversas abobrinhas, também se afugentam irmãos ao envolver temas políticos no meio espírita. Infelizmente, vejo muitos espíritas apoiando ideias e indivíduos que, direta ou indiretamente, ferem ou declaradamente desejam ferir o primeiro princípio básico da lei divina, sustentada pelo Espiritismo, que é o livre-arbítrio.

Não quero dizer que seja eu alguém tão digno de se fazer importante por sua presença ou ausência, mas penso que não sou o único a se afastar por conta desse tipo de viés que não deveria, segundo minha modesta opinião, fazer parte de estudos da Doutrina – pensando que, embora queiramos imprimir aos grupos nossas próprias personalidades e ideias, temos muita responsabilidade sobre os demais, da mesma forma que tem responsabilidade aquele que “acolhe” a mãe de um indivíduo portador de deficiências dizendo que ele é assim porque cometeu suicídio na vida passada e que, por isso, a afasta.

Portanto, não, o Espiritismo não pode jamais ser misturado a movimentos políticos quaisquer.

Para terminar, lembremos

Allan Kardec que, na Revista Espírita de Fevereiro de 1862, faz um alerta:

“Devo ainda chamar a atenção para outra tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espiritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da Doutrina, que é o da moral (grifo nosso), para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar suscetibilidade e desconfianças.

Também não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes, nesse caso, as discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando eia for boa.

Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente uteis serão uma consequência natural”.

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