Daniel Gontijo e os ex-espíritas

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Daniel Gontijo, materialista e ateu, em seu canal do Youtube, intitulado “Prof. Daniel Gontijo”, escolheu dar destaque a análises muito superficiais sobre o Espiritismo, ciência filosófica que, infelizmente, ele não conhece. Para isso, faz quórum com “ex-espíritas”, pessoas que também não conhecem o Espiritismo, e acaba emitindo ou repercutindo opiniões que terminam por refletir uma falsa ideia da Doutrina Espírita, com base em opiniões colhidas na superfície dos reflexos que, infelizmente, o Movimento Espírita produz.

Daniel Gontijo é graduado em Psicologia pela Universidade FUMEC (2009), além de mestre (2013) e doutor (2019) em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar de tantos títulos, age em maneira absolutamente contrária à do bom pesquisador, que somente emite opinião após buscar conhecer muito bem o assunto, coisa que ele nunca fez (ele mesmo diz, em seus vídeos: “lembro de tal coisa por cima, porque uma vez certa pessoa disse que tem algo mais ou menos assim em uma das Revistas Espíritas”).

Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos

Longe de minhas intenções, porém, buscar fazer uma imagem de um carrasco maldoso. Não, pelo contrário: Daniel se mostra como uma pessoa alegre e afável. É isso, porém, o que me parece mais incongruente, porque, dessa leveza, não parte a necessária tarefa do bom pesquisador, que a tudo investiga, a tudo analisa, para poder depois emitir uma opinião. Infelizmente, com o apoio da opinião de pessoas que nunca chegaram a conhecer o Espiritismo verdadeiro, baseia-se nos erros do Movimento Espírita para julgar o Espiritismo, assim como muitos, levianamente, julgam a Jesus pelos absurdos feitos em seu nome.

É interessante notar que o Daniel seja graduado em Psicologia, em primeiro lugar. Será que ele nunca ouviu falar, nem leu, que a Revista Espírita carrega o subtítulo “Jornal de estudos psicológicos” em sua capa? E, se viu, será que não se interessou nem por um momento em saber o porquê desse nome?

Com certeza, Daniel Gontijo não sabe que a Psicologia, no tempo de Kardec, estava inscrita sob os estudos do Espiritualismo Racional, na grade das Ciências Morais do ensino francês (que se espalhou pelo mundo): para isso, seria necessário ler Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo. Ele provavelmente não conhece a história do desenvolvimento dessas ciências através da observação racional, culminando na racional conclusão de que a Vontade seja o atributo essencial da alma. Muito menos deve saber que, muito antes de Kardec se colocar a investigar a ciência espírita, pesquisadores ligados ao magnetismo animal e ao Espiritualismo Racional já colhiam, em certos estudos com pessoas em transe hipnótico induzido, centenas de “cartas” atribuídas a outras personalidades já mortas, dando detalhes confirmados por familiares ainda vivos:

Os magnetizadores comprovaram muito cedo as relações dos sonâmbulos com seres invisíveis. Deleuze, discípulo de Mesmer, em sua correspondência mantida com o doutor G. P. Billot por mais de quatro anos, de março de 1829 até agosto de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim afirmou: “O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e a sua imortalidade; ele prova a possibilidade da comunicação das inteligências separadas da matéria com as que lhes estão ainda ligadas.” (BILLOT, 1839)

Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se venham manifestar, para lhes transmitir salutares conselhos. Acabo de ter disto um exemplo.” (Ibidem)

Foi com estas palavras que Deleuze introduziu a narração do caso de uma sonâmbula cujo falecido pai se manifestou por duas vezes a fim de aconselhá-la sobre a escolha do futuro marido da jovem. Em sua História crítica, ele já havia escrito: “Todos os sonâmbulos, deixados livres no transe, dizem-se esclarecidos e assistidos por um ser que lhes é desconhecido.” (DELEUZE, 1813) Por sua vez, Billot declarava receber instruções dos espíritos superiores, por intermédio dos magnetizados em transe sonambúlico, em suas pesquisas.

O tema da comunicação com os espíritos passou a fazer parte das discussões dos magnetizadores e das páginas de seus periódicos. Um estudo das obras de Chardel, Charpignon, Ricard, Teste e Aubin Gauthier revela diversas descrições de fenômenos experimentais que revelam a comunicação entre vivos e desencarnados.

Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet (1809-1885), com coragem e determinação, conversou com os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, principalmente Adèle Maginot, registrando em sua obra mais de cento e cinquenta atas assinadas por testemunhas que reconheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa da ciência espírita. Para Gabriel Delanne, “Era um lutador soberbo esse trabalhador, que teve a glória de se fazer o que foi: um dos pioneiros da verdade.” (DELLANE, 1899)

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

Certamente, Daniel também não conhece os fatos que levaram a Psicologia a deixar o Espiritualismo Racional e a se organizar sob o materialismo dogmático, cheio de afirmações categóricas e não científicas! Ele com certeza ainda não conhece os fatos que levaram Comte a tornar-se inimigo de Victor Cousin, tendo, depois, conseguido o que tanto queria: afirmar seus dogmas, após a queda forçada do Espiritualismo Racional. Para ele, Daniel, hoje talvez seja descabido sequer imaginar a existência de um Espiritualismo Racional, mas ele existiu. Digo mais: abriu caminho ao Espiritismo, que é seu desenvolvimento, formado através das características mais básicas da ciência — a observação racional — e do axioma científico — todo efeito tem uma causa e todo efeito inteligente tem uma causa inteligente (restando saber que causa é essa, sendo mesmo possível e investigada a fraude).

Houvesse estudado as Revistas Espíritas, ainda que para concluir em contrário (já que, em ciências, pessoas podem chegar a conclusões ou teorias diferentes), veria que, de todas as discordâncias possíveis, não se pode afirmar o trabalho da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, conduzido por Allan Kardec, como algo raso, sem seriedade ou sem metodologia científica. Muito menos se poderia afirmar Kardec sendo ingênuo ou tolo, mas muito pelo contrário: veria todas as considerações cuidadosas de Kardec a esse respeito, algo, aliás, que ninguém mais depois dele soube fazer:

Sem dúvida, dizem alguns contraditores, vós estáveis imbuídos de tais ideias e por isso os Espíritos concordaram com vossa maneira de ver. É um erro que prova, mais uma vez, o perigo dos julgamentos apressados e sem exame. Se, antes de julgar, tais pessoas se tivessem dado ao trabalho de ler o que escrevemos sobre o Espiritismo, ter-se-iam poupado ao trabalho de uma objeção tão leviana. Repetiremos, pois, o que já dissemos a respeito, isto é, que quando a doutrina da reencarnação nos foi ensinada pelos Espíritos, ela estava tão longe de nosso pensamento, que havíamos construído um sistema completamente diferente sobre os antecedentes da alma, sistema aliás partilhado por muitas pessoas. Sobre este ponto, a doutrina dos Espíritos nos surpreendeu. Diremos mais: ela nos contrariou, porque derrubou as nossas próprias ideias. Como se vê, estava longe de ser um reflexo delas.

Isto não é tudo. Nós não cedemos ao primeiro choque. Combatemos; defendemos a nossa opinião; levantamos objeções e só nos rendemos ante a evidência e quando notamos a insuficiência de nosso sistema para resolver todas as questões relativas a esse problema.

KARDEC, Allan. Revista Espírita de novembro de 1858.

Encerro com a grande questão: será que Daniel Gontijo tem essa vontade de conhecer o que desconhece, ainda que termine concluindo de maneira divergente? Ou será que continuará dando “prova de leviandade e triste mostra de falta de critério”? Veremos.

Fiz uma análise em vídeo sobre o último caso do canal citado e sobre a resposta dele ao meu vídeo. Você pode conferir:

Foto de cottonbro studio: https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-conselhos-orientacoes-assistencia-4100672/

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