O Espiritismo frente à guerra

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Estamos, nesta data, vivendo um novo momento de apreensão no mundo, com uma nova guerra se iniciando entre a Rússia e a Ucrânia. Será muito oportuno, portanto, relembrar alguns importantes conceitos do Espiritismo frente a tais situações, como as guerras.

A situação de quem morre nas guerras

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que qualquer maldade humana nasce da imperfeição inerente a Espíritos que, como praticamente todos nós, ainda estamos na terceira ordem da escala espírita. O Espírito que pratica o mal, individualmente ou em conjunto, o faz porque ainda é ignorante sobre a moral e age segundo seu livre-arbítrio já conquistado. Assim, destaco, jamais uma ação de perversidade ou maldade, praticada por alguém, nasce de uma cobrança divina de uma “dívida” passada.

Creio muito importante destacar esse pensamento, logo de início, pois muitos ainda pensam, muito erradamente, que a vítima de um crime está “resgatando débitos passados”, o que não é uma verdade. Ora, que Deus é esse que cobra dívidas através de crimes e que, com isso, faz um outro Espírito – o do criminoso – adquirir um novo débito?

Portanto, não, as pessoas que morrem vítima de um crime, seja ele isolado, como um homicídio, seja ele em grupo, desde os casos menores, mas não menos expressivos, como o caso do incêndio da boate Kiss, que rendeu um processo criminal, até os maiores, como os casos do nazismo, que matou mais de seis milhões de judeus, ou do genocídio cometido pelo revolucionário chinês Mao Tsé-Tung, cuja política matou de 50 a 80 milhões de pessoas, não morrem por estarem sendo cobradas por absolutamente nada do passado: morrem por efeito das decisões alheias, criminosas – lembrando que, é claro, o Espírito que preveja a vida sob tal condição pode escolher aí reencarnar a fim de expiar erros passados e tentar aprender e se livrar das imperfeições que o levaram a errar.

Já tratei desse assunto em outro artigo, destacando que as mortes coletivas não se dão por conta de “resgates coletivos”, mas por conta de estarmos sujeitos a tais vicissitudes, inerentes à matéria bruta que hoje ocupamos.

A “data limite”

Muitos têm, com certo medo, se referido a uma suposta “profecia” atribuída a Chico Xavier a respeito da chamada data limite, onde, a partir de determinada data, em 1969, os Espíritos elevados que cuidam do progresso terrestre dariam um “ultimato” ao ser humano terrestre: se não houvesse nenhuma guerra, dentro dos 50 anos seguintes, entraríamos em uma nova fase de evolução planetária.

Acontece, aí, que temos alguns problemas frente à Doutrina:

  1. Espíritos superiores não costumam dar previsões futuras desse gênero.
  2. Como poderiam os Espíritos superiores darem tal ultimato sabendo que o ser humano ainda é muito imperfeito e conhecendo o ia e vai no coração humano?
  3. Nós sabemos que a evolução do Espírito não respeita datas. Para o Espírito imortal, o tempo não existe, e o que não for feito hoje, nem aqui, será feito em décadas, centênios ou milênios. A urgência que existe mora em cada um, pois, cada dia perdido de desprendimento das imperfeições será um dia a mais de sofrimento nessa condição espiritual.

Outro problema é que grande parte desse assunto vem sendo discutido de segunda mão, através de outras pessoas, não tendo saído diretamente da boca de Chico Xavier. Portanto, é preciso olhar tal assunto com muito cuidado.

A guerra e o Espiritismo: O Livro dos Espíritos

Na obra citada, Kardec também aborda a temática das guerras. Vamos analisar as perguntas e as respostas:

742. Que é o que impele o homem à guerra?

“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.”

O ser humano, ainda muito imperfeito, quer imperar pela força a fim de fazer valer suas vontades egoísticas. Conforme formos progredindo, deixaremos para trás tais imperfeições e guerrearemos menos, em qualquer escala. O grande problema é que, hoje, o homem está esquecido da moral e da alma.

743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”

Infelizmente, numa sociedade absurdamente materialista, estamos bastante esquecidos de praticar a Lei de Deus.

744. Que objetivou a Providência, tornando necessária a guerra?

“A liberdade e o progresso.”

Quando se fala que a Providência (Deus) tornou necessária a guerra, é importante entender que Deus jamais faria da guerra uma necessidade em si, mas, sim, que permite o livre-arbítrio ao Espírito imperfeito que, sem sombra de dúvidas, entrará em contendas e guerras de todo o gênero. Faz parte da evolução. É quase sempre preciso conhecer o mau, em seu estágio mais avançado, para que a sociedade busque o bem. Outrora, o ser humano, em generalidade, guerreava e matava por qualquer motivo mesquinho. Hoje estamos consideravelmente longe desse passado.

Também há algo importante a destacar: as guerras de escala maior são, sempre, comandadas por um ou mais indivíduos ou grupos tiranos. No fim da linha está o soldado que, muitas vezes, nada tem a ver com isso e que sequer gostaria de estar ali, mas que se vê obrigado a seguir as ordens de seus comandantes. A Justiça Divina, é claro, “leva em conta” essas diferenças, isto é, o soldado que age sob comando, sem a vontade de fazer o mal, terá, frente à sua própria consciência, muito menos sentimento de culpa do que o comandante que os envia para o assassínio.

744. a) — Se a guerra deve ter por efeito o advento da liberdade, como pode frequentemente ter por objetivo e resultado a subjugação?

“Subjugação temporária, para pressionar os povos, a fim de fazê-los progredir mais depressa.”

É o complemento do que foi dito acima. A guerra pressiona ao avanço, tanto científico quanto moral.

745. Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para proveito seu?

“Grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição.”

Pela resposta a essa questão, parece então que o Espírito que provoca a guerra para tirar proveito terá, sim, que pagar por cada um daqueles que tenham sofrido por esse motivo. Mas não é exatamente isso. É preciso ler com atenção e cuidado, e as obras de Kardec, sendo baseadas em ciência, são continuamente construídas sobre postulados anteriores.

Notemos, aqui, que a resposta espiritual fala em expiação. A expiação, sendo uma espécie de penitência, não é um castigo imposto diretamente por Deus, como uma cobrança, mas sim como um efeito da consciência que o Espírito toma sobre o mal praticado. Desde o momento em que o Espírito entende que o que sofre por estar afastado do bem, passa a sofrer moralmente por conta disso e, então, passa a planejar encarnações onde expiará suas imperfeições, para superá-las. Também não significa que o Espírito expiará individualmente por cada um dos sofrimentos ou das mortes que tenha causado, mas, sim, que passará por um longo trabalho reencarnatório, tentando se livrar do peso moral adquirido com seus erros. Hitler, com certeza, não reencarnará mais de seis milhões de vezes para morrer da mesma forma e “pagar” pela morte de cada um dos judeus (e de outras vítimas da guerra), mas, com certeza, no momento em que entender a extensão do mal que fez e o tamanho do sofrimento que ele mesmo vivencia, passará por uma longa série de encarnações sofridas, por escolha própria, a fim de buscar vencer as imperfeições exacerbadas que lhe fizeram agir de tal forma.

Conclusão

A guerra e as contendas, em menor ou maior grau, ainda são inerentes à nossa condição de Espíritos muito imperfeitos, e só deixarão de existir no dia em que praticarmos as leis de Deus, isto é, no dia em que a caridade moral, a benevolência, enfim, o bem em si estiver instalado no coração de cada um, como obrigação, bem como que cada um faça seu esforço próprio para se livrar do egoísmo e do orgulho, imperfeições que dão origem a todas as outras. E, para isso, é necessário que o homem eleve-se acima da matéria e compreenda que, como Espíritos encarnados, a única coisa que realmente importa e que levamos daqui é o progresso que tenhamos ou não realizado. E, nisso, o Espiritismo, como ciência, e a educação nas bases da pedagogia de Pestalozzi (principalmente), tem muito ainda a contribuir.

Façamos preces, sim, pelos nossos irmãos. Sabemos que o pensamento tem poder de transmissão a infinitas distâncias. Podem, quem sabe, atingir os corações mais endurecidos, como também podem fazer muito bem àqueles que são vítimas dos desmandos despóticos de todos aqueles que querem imperar pela força e pela violência. E aproveitemos para estudar, não para darmos aulas de Espiritismo, mas para nos fazermos mais úteis à sociedade através de nossa própria transformação e da propagação das ideias baseadas na preexistência da alma e de sua continuidade infinita.

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