O Céu e o Inferno e a esdrúxula campanha do CSI do Espiritismo e do Portal Luz Espírita

O portal Luz Espírita, sustentado por pesquisas enviesadas de Carlos Seth e outros, continua fazendo uma “campanha esdrúxula” ((Tomo a liberdade de utilizar o mesmo termo usado por eles contra quem eles discordam)) contra aqueles que concluem diferentemente deles, baseados em pilhas de evidências que eles escolhem desconsiderar. Notório dizer que, “do lado de cá”, longe de descartarmos as evidências por eles encontradas, apenas verificamos que elas não provam a impossibilidade de que as adulterações tenham ocorrido. Tudo o que eles têm são evidências de que Kardec havia iniciado a produção de novas edições de O Céu e o Inferno e A Gênese, mas não que ele as tenha concluído nem que as obras impressas após sua morte não tenham sofrido alterações. Além disso, não fazem o principal: explicar as diferenças absurdas, não anunciadas e mesmo contraditórias entre uma edição e outra.

A questão é que não desejamos obter o monopólio do bom-senso e da verdade, coisa que eles insistem em fazer, sem que tentem fazer o que mais importa: explicar o motivo das diferenças grotescas entre as edições em questão. Colocamos, por exemplo, algumas diferenças entre a quarta edição de O Céu e o Inferno, registrada após a morte de Kardec, e a terceira edição (igual à primeira). Respectivamente:

Quarta edição de O Céu e o Inferno

Registrada após a morte de Kardec.

  • Capítulo VIII tornou-se capítulo VII;
  • Removeu-se a maior parte da retórica filosófica com a qual Kardec abria o capítulo
  • O título “As penas futuras segundo o Espiritismo” tornou-se “Código penal da vida futura“.

7.º — O Espírito sofre pelo próprio mal que fez, de maneira que sua atenção estando incessantemente concentrada nas consequências desse mal, ele compreenda melhor seus inconvenientes e seja motivado a corrigir-se.

8.º — Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, um único bom movimento da alma, o mais leve mérito, numa palavra, que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, 4.ª edição.

O item 10 é, talvez, a maior prova da adulteração (clique para ler o artigo).

Terceira edição de O Céu e o Inferno

Publicada e registrada por Allan Kardec.

Capítulo VIII — As penas futuras segundo o Espiritismo

7. Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, nem um único bom movimento da alma — em suma, o mais singelo mérito — que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

8. A duração do castigo está subordinada ao aperfeiçoamento do espírito culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr fim aos sofrimentos é o arrependimento, a expiação e a reparação — em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem.

O espírito é, assim, sempre o árbitro de seu próprio destino; ele pode prolongar seus sofrimentos por seu endurecimento no mal, aliviá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem. Uma condenação por um tempo determinado qualquer teria o duplo inconveniente de ou continuar a atingir o espírito que se houvesse aperfeiçoado, ou cessar quando ele ainda estivesse no mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto este existe; e encerra a punição quando o mal não existe mais. Assim se acha confirmada esta expressão: Eu não quero a morte do pecador, mas que ele viva, e eu o acusarei ATÉ QUE ELE SE ARREPENDA.

9. Estando a duração do castigo subordinada ao arrependimento, resulta daí que o espírito culpado que não se arrependesse e jamais se aperfeiçoasse sofreria sempre, e que, para ele, a pena seria eterna. A eternidade das penas deve então ser entendida no sentido relativo, e não no sentido absoluto.

O Céu e o Inferno, 1.ª a 3.ª edições.

Podemos notar uma diferença gritante entre as edições. Da mesma forma, a quinta edição de A Gênese contém alterações inexplicáveis entre a edição publicada por Allan Kardec e a edição registrada quase três anos após sua morte.

Não poupamos esforços

Já abordamos o tema várias vezes. Aqueles mencionados anteriormente não poupam palavras e termos depreciativos para tentar lançar descrédito por aqueles que concluem diferentemente deles. Nós, portanto, fazemos a nossa parte, baseados em fartas evidências, e com a certeza de que a outra parte nunca se dedicou a ler e refletir com calma sobre todas elas. Não dizemos: “esta é a verdade final”, mas dizemos: “não se deixem guiar por quem tente tomar o monopólio da verdade”.

É interessante notar como os textos da outra parte são sempre apaixonados, isto é, carregam uma grande nota de emoção e de raiva ou inveja aparentes. Isso já denota uma urgência por provocar a crença por outros meios, que não os da razão. Aliás, nesse afã de dominar a verdade, Carlos Seth já cometeu gafes tão banais como querer dizer que falar em Espiritualismo Racional seria trazer uma divisão para o meio espírita.

É ainda mais interessante notar que eles nunca mencionam o nome de Paulo Henrique de Figueiredo, nem trazem suas evidências e seus argumentos para a discussão. Apenas se limitam a dizer que eles já refutaram tudo — ao que discordamos profundamente. Fazem o mesmo com a Simoni Privato, embora ainda citem seu nome.

Bem, sem buscar prolongar esse assunto de maneira cansativa, agradecemos sempre a livre propaganda que eles mesmos fazem contra as ideias que não podem aceitar.




A adulteração em A Gênese e o “CSI do Espiritismo”

Para quem acompanha nosso trabalho e já se inteirou das informações desta iniciativa, sabe que ela nasceu, principalmente, por uma grande agitação pessoal causada após a leitura das obras “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, e “Nem céu nem inferno: As leis da alma segundo o Espiritismo”, por Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo. Após ter contato com essas obras, que, reitero e defendo, são extremamente bem fundamentadas na evidência dos fatos históricos, aliadas à irretorquível racionalidade de seus autores e demais envolvidos, fica claramente evidente que o Espiritismo sofreu grande revés, após a morte de Allan Kardec, com a adulteração na letra, em A Gênese e em O Céu e o Inferno, e no movimento espírita. Não é o que pensa Carlos Seth, do CSI do Espiritismo, mas já falaremos sobre isso.

Na letra, duas obras do professor Rivail (Allan Kardec) sofreram adulterações, após sua morte, inserindo-se nela conteúdos que causam entendimentos diferentes daqueles que o Codificador e os Espíritos Superiores anteriormente refletiram nessas obras.

No movimento espírita a adulteração foi no sentido de que, conforme planos de Kardec, esse deveria deixar de ser centralizado em uma pessoa ou grupo, espalhando-se sobre incontáveis grupos, solidários entre si, continuando os estudos nos mesmos moldes de lógica, razão, concordância universal e, sobretudo, caridade e fraternidade. Após sua morte, o movimento, sob a nomenclatura da Sociedade Espírita Parisiense, fundada por Kardec, e às custas de suas notórias imagem e contribuição prévias, passou a ser regido conforme as vontades particulares e os interesses pessoais. Tornou-se, a referida Sociedade, o templo repleto de vendilhões.

Antes de continuar, contudo, eu peço: não acredite apenas em mim. Leia você também as referidas obras, além da obra “Muita Luz”, de Berthe Fropo, facilmente encontrada em PDF, na Internet.

Creio que como Espíritas devemos buscar o exemplo probo e justo do grande mestre, professor Rivail, que nunca dava afirmativa ou negativa sobre qualquer assunto sem, antes, dele se inteirar completamente. E aqui, não podemos fazer diferente, se realmente queremos ser leais à Doutrina Espírita que, para espalhar luz, carece de ser confirmada e compreendida por toda a parte.

Pois, bem! Regido por esse impulso, cheguei até uma página no Facebook chamada “CSI do Espiritismo“, onde, dentre alguns artigos, um há bastante especial, de Carlos Seth, do dia 04/11/2020, tratando a respeito de uma carta manuscrita, com a letra inconfundível de Allan Kardec, que daria a entender que, “sem sombra de dúvidas”, a obra “A Gênese” não teria sido adulterada em sua 5.ª edição, mas, sim, produzida pelo próprio Allan Kardec.

Quero adiantar que acho estranho um artigo de uma página supostamente espírita e que, pelo próprio nome, dá a entender o grande compromisso com a investigação, se basear apenas em um dos lados da história, não indo a fundo na citação e na análise das afirmações contrárias, como é o caso daquelas apresentadas largamente pela autora Simoni Privato na obra anteriormente citada e, depois, por Paulo e Lucas na obra “Nem céu nem inferno”.

É muito estranho, na verdade. Parece haver uma pressa, uma ansiedade mesmo, muito grande, em encontrar sequer uma fonte que dê embasamento, embora enviesado, à tese de que toda essa enorme quantidade de informações que apontam para adulterações não passariam, na verdade, de engano, ou que os autores tiveram mero descuido na análise peremptória de todo esse material.

É totalmente diferente do que fazia e do que recomendava Allan Kardec, que, por inúmeras vezes, apresentava e discutia as ideias contrárias, mesmo aquelas que poderiam, em um primeiro golpe de vista, conquistar simpatias contrárias ao Espiritismo. Ele, porém, não estava preocupado com isso. Sua preocupação era a verdade, haurida na verificação da lógica dos fatos e da razão.

De minha parte, não pretendo cometer o mesmo engano e, por isso, reproduzo abaixo alguns trechos desse artigo, que pode ser conferido na íntegra através deste link.

O artigo da página CSI do Espiritismo e minhas considerações

Vou destacar os trechos mais importantes do artigo citado, fazendo minhas considerações logo abaixo de cada trecho.

É informado por Allan Kardec (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito) que a tradução devia ser feita a partir da nova edição da obra (A Gênese), que estava naquele momento – em setembro de 1868 – sendo reimpressa e que esta continha correções e acréscimos importantes.

Isso não prova que se tratava de uma nova edição, mas, sim, da reimpressão, muito provavelmente da mesma edição – a 4a, em estágio de finalização naquele momento. Ora, não podemos supor que Kardec, metódico e sempre extremamente cuidadoso com tudo, haveria submetido uma nova edição para impressão sem que se houvesse realizado o depósito legal junto à Biblioteca Nacional, o que ainda era exigido por lei e que foi estritamente cumprido para todas as novas edições de todas as obras por ele produzidas.

Temos, ainda, aqui, algo muito substancial: em “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, a autora faz uma profunda explicação sobre como funcionavam as impressões naquele tempo. De forma resumida, enquanto a edição de uma obra não estivesse concluída, isto é, ainda houvessem correções a serem realizadas, elas eram feitas sobre tipos móveis, com a impressão de poucos exemplares. Após a finalização das correções e dos ajustes, os tipos móveis eram utlizados para a fundição de matrizes, que funcionavam como moldes para a produção de tipos fixos, em metal, para a produção em larga escala.

Acontece que existe uma declaração, do Sr. Rouge, tipógrafo das seis primeiras edições de A Gênese, afirmando que as matrizes da obra foram realizadas ao final de 1868 e cobradas do Sr Rivail (Kardec), ou seja, pouco após a citada carta em que ele fala em reimpressão da obra, por conter erros e acréscimos. Ou seja: a edição estava em fase final de elaboração, tendo sido concluída logo após!

Notamos que seria claramente possível a reimpressão de novas edições sem alterações. O contrário  (a realização de alterações) demandaria a submissão de novo registro na Biblioteca Nacional Francesa, sem o qual o autor estaria agindo ilegalmente e poderia enfrentar reações do próprio governo, então sob o Segundo Império, de Napoleão III.

A obra referida (A Gênese) teve 3 edições feitas com Kardec em vida. A 1ª edição da obra veio à luz, em Paris, no dia 6 de janeirode 1868, seguindo-se, nesse mesmo ano, a publicação da 2ª e da 3ª edições, absolutamente idênticas,
meras reimpressões da 1ª edição (é por isso que há apenas dois depósitos legais da obra: a primeira edição e a 4ª edição).

A 4ª edição, embora contendo na capa e na folha de rosto o ano de 1868, só foi publicada no primeiro semestre de 1869, já desencarnado o Codificador, mas guardando as mesmas características das três primeiras edições, com as quais não se diferencia em ponto algum, ou seja, produzida sobre as matrizes encomendadas pelo próprio Kardec ao final de 1868.

No manuscrito consta a informação de que as folhas impressas da nova edição (A Gênese) seriam enviadas por Allan Kardec (ao destinatário da carta para a tradução), além de dizer que existia cerca de metade delas (referência às folhas impressas com o conteúdo da nova edição) já prontas, comprovando que o mestre havia concluído o texto alterado da nova edição.

Eu não compreendo Francês, muito menos entendo a letra de Kardec. Tenho que considerar o que o autor do texto está dizendo e, aqui, me pergunto: afinal, se tratava de uma REIMPRESSÃO ou de uma NOVA EDIÇÃO? Contudo, ao buscar nos textos transcritos do francês (disponíveis aqui) não há, até onde vi, a palavra “édition” relacionada à obra A Gênese, tampouco à obra “O Céu e o Inferno”.

NOTA: após leitura cuidadosa, notei que, sim, a palavra “édition” – “nouvelle édition – nova edição – existe na carta original. Ainda assim, nesse momento, isso não prova que a suposta 5a edição, de 1869, seja integralmente das mãos de Kardec.

Considerando que as “provas impressas” já estavam sendo feitas pela tipografia em setembro de 1868, e se elas seriam enviadas para a tradução em alemão, podemos afirmar que temos um reforço substancial à hipótese da Declaração de Impressão de 04/02/1869 se referir à 5ª edição “revista, corrigida e aumentada”. Além disso, se as matrizes de impressão estavam praticamente prontas em setembro de 1868 – visto que a gráfica já estava imprimindo as folhas – a tentativa de quaisquer interferências no conteúdo da obra após o falecimento de Kardec, e antes da publicação da 5ª edição de 1869 – grifo meu – (abril, maio ou junho), seria bastante improvável. Como justificar qualquer alteração para o tipógrafo? Quem assumiria este custo de fazer uma nova diagramação de todo o livro e da confecção de novas matrizes? Por que? Que provas existem sobre esta hipótese?

A quinta edição somente foi publicada oficialmente em 1872. Existe, até o momento, UM exemplar de uma suposta quinta edição, de 1869, mas que se mostra evidentemente clandestina, como se pode observar aqui: https://espirito.org.br/artigos/sobre-5a-edicao-clandestina-genese-de-1869/

No manuscrito da carta de 25/09/1868 temos, também, a importante informação de que o livro “O Céu e o Inferno” iria, igualmente, ser reimpresso com correções (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito)

Mesmo caso. Reimpressão não é nova edição.

Ela é a fonte primária que comprova((Argumento falacioso, visto que parte da análise de apenas um lado dos fatos, e de forma enviesada.)) que Allan Kardec efetuou alterações no livro A Gênese, com correções e acréscimos importantes. Além de indicar que o mestre já havia iniciado o processo de reimpressão da nova edição da 5ª edição, já em setembro de 1868((Iniciar é diferente de finalizar. Naquela época, principalmente, o processo envolvia a impressão de exemplares para análise e correção. Apenas ao final disso, com a edição finalizada, fundia-se a matriz para a impressão em massa – o que nunca aconteceu, conforme relata Privato)). O manuscrito da carta confirma que pelo menos metade das folhas de impressão dos textos da edição revisada já estariam prontas naquela data((Isso apenas dá suporte à tese de que a nova edição estava em andamento, em pleno processo de revisão e correção, mas não finalizada.)).

Considerações finais

Apenas ao final do artigo citado, aparentemente como uma forma de “descansar” a consciência, há uma muito breve citação ao nome de Simoni Privato, com um agradecimento por seu trabalho fraternal (?), não havendo qualquer citação anterior, seja de sua obra, como bibliografia, a fim de buscar comparar as evidências por ela apontadas.

A página em questão, CSI do Espiritismo, vêm sendo largamente indicada como “fonte confiável”, como a última palavra a respeito dessas investigações, por diversas outras entidades, individuais ou representativas, como é o caso da FEB, em seu artigo “A propósito da suposta adulteração do livro O céu e o inferno, de Allan Kardec”. Acontece, porém, que não está havendo o necessário estudo metodológico e concordante, submetido à razão, sequer sobre esses FATOS:

  1. Constitui adulteração e, por isso mesmo, se torna ilegal, qualquer alteração em obra, realizada postumamente, que não seja para a atualização gramatical necessária. Kardec não estava vivo para dizer se queria aquela obra publicada daquela forma, ainda que ela tenha sido produzida por sua própria mão.
  2. Pelo simples fato de que não há depósito legal, por Allan Kardec, da 5a edição de A Gênese, nem da 4a edição de O Céu e o Inferno, cujas alterações, aliás, compreendem a eliminação do prefácio da obra, o que sequer faz sentido à razão, deveríamos nos manter, por segurança, com a 4a Edição de A Gênese e a 3a Edição de O Céu e o Inferno.
  3. A Sociedade Espírita de Paris, comandada por Leymarie, se distanciou totalmente dos propósitos de Kardec, deixando-se, esse infeliz senhor, sucumbir pela tentação da vaidade e do dinheiro. Chegou ao ponto de expulsar, de um dos apartamentos destinados por Allan Kardec a fins de caridade, um casal de idosos, por simples atraso nos pagamentos do aluguel, quando o mesmo e a Sociedade contavam com grandes somas de posses e dinheiro. Além disso, colocou de lado os planos para a continuidade do movimento espírita, com a multiplicação dos grupos de estudos e das “investigações” espíritas, regidas sob a metodologia necessária – ora, como poderiam aplicar tal medotologia aqueles que se veriam desmentidos por ela, não é mesmo?
  4. Uma das provas mais utilizadas para afirmar que a 5a edição foi de autoria integral do próprio Kardec, a tal 5a edição de 1869, apresenta em sua capa, como endereço de impressão, o novo endereço da sede da Sociedade Espírita Parisiense: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”.

Sabemos que Kardec morreu antes do estabelecimento da Sociedade no novo endereço, o que comprova que tal edição somente foi impressa após sua morte. Leia mais clicando aqui.

Algo muito grave, também, é que, indiretamente, está se imputando ao sr. Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) um crime grave: o de ter realizado uma nova edição, com alterações, sem a ter submetido legalmente, através do depósito legal necessário, como sempre o fez, afirmando-o, também, irresponsável. Ora, quem em sã consciência estudou Kardec um pouco mais aprofundadamente, facilmente verificará que uma coisa que ele jamais deixou de fazer foi agir séria e legalmente, tomando todos os cuidados para assegurar um futuro seguro para a Doutrina Espírita.

Aliás, de posse dos manuscritos de Kardec, disponibilizados pelo CDOR, da FEAL, foi possível identificar que:

Algumas cartas manuscritas demonstram que, em fevereiro de 1868, Kardec estava interessado em acrescentar trechos em A Gênese, pois era de seu costume, depois de um tempo do lançamento, revisar suas obras. Para isso, pediu conselhos aos espíritos para organizar esse trabalho.

Alguns amigos espirituais deram orientações para uma revisão da obra, com a expressa indicação para não alterar em nada as questões doutrinárias, como se percebe pelos seguintes trechos desta comunicação:

Minha opinião é que não há absolutamente nada de doutrina a ser retirado; tudo aí é útil e satisfatório sob todos os aspectos” e

É necessário deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público”.

No caso, além da demonstração jurídica da adulteração de A Gênese, também esta comunicação reforça o fato em razão das alterações doutrinárias identificadas na obra, com a supressão de diversos trechos em que Kardec critica a moral heterônoma do fanatismo religioso, dentre outras manipulações.

Ainda nesta comunicação, o espírito sugeriu também que ele trabalhasse sem pressa e sem dedicar muito tempo:

Sobretudo, não se apresse demais. (…) Comece a trabalhar imediatamente, mas não de forma exagerada. Não se apresse”.

https://espirito.org.br/autonomia/ncni-conselhos-sobre-a-genese/

Chega a ser um absurdo. Essas cartas acima citada estão disponíveis, no mínimo, desde 2020, e os confrades do “CSI do Espiritismo” nem tocam nesse assunto!

Esses fatos, somados a inúmeros outros, que, hoje, podem ser facilmente colhidos e verificados pelo trabalho dos autores citados, deveriam acender um grande, um enorme sinal de alerta nas instituições espíritas brasileiras, provocando a busca por uma profunda análise do passado, sem vieses (porque não basta tomar apenas um lado da história – aquele que mais agrada a determinadas opiniões) mas, sobretudo, pela recuperação dos projetos de continuidade e do modelo exemplar de Allan Kardec, esses sim esquecidos pelo tempo e, obviamente, por conta das adulterações no Movimento.

Essa sim, sem sofismas, é a verdadeira forma de prestar homenagem a esse homem, professor Hippolyte Leon Denizard Rivail, que, junto à sua esposa, Amélie Gabrielle Boudet, dedicaram seus tempo, felicidade, tranquilidade e saúde em nome da causa da caridade e da difusão da doutrina consoladora pela Europa e pelo mundo.