O Espiritismo sem os Espíritos

Hoje, 3 de outubro, é aniversário de nascimento de Allan Kardec – Hypolite Leon Denizard Rivail¹, seu nome de registro – e, por entendermos fundamental seu papel no estudo da Doutrina dos Espíritos, à qual denominou Espiritismo, vamos abordar um assunto importantíssimo, que, para quem estuda as obras de Kardec, até pode soar pueril, sem importância: o “Espiritismo sem Espíritos”.

Ora, não será raro aquele que já tenha ouvido as mais diversas afirmações ou que tenha conhecimento do pensamento difundido de que não devemos incomodar os Espíritos, evocando-os. Muitos se baseiam na conhecida frase de Chico Xavier, “o telefone toca de lá pra cá”, imputando a ela um entendimento distorcido e fazendo dela cláusula pétrea no código mediúnico: “não podemos evocá-los. Devemos esperar que eles nos busquem”. Nada mais afastado da verdade e mesmo do propósito do Espiritismo.

Digno de nota, a frase de Chico, pode ser assim interpretada: “podemos evocá-los, mas depende deles, e não de nós, se vão responder ou não”. Outrossim, precisamos lembrar que Chico estava constantemente cercado de milhares de pessoas em busca de uma mensagem de seus entes queridos já falecidos. Chico não podia garantir que poderia atender a todas, sendo levado a dizer, em minhas palavras: “irmãos, eu sou apenas um intermediário e não consigo, sozinho, atender a todos. Por isso, me coloco à disposição deles, permitindo suas comunicações, conforme os bons Espíritos julgarem melhor”.

Essa opinião, contudo, de que não devemos evocar os Espíritos, vêm de muito longe e, aliás, foi muito agradável àqueles que, após Kardec, não desejavam que o método da concordância universal dos ensinos dos Espíritos se mantivesse de pé, posto que colocaria abaixo suas opiniões pessoais. Isso é bem conhecido.

Allan Kardec, na Revista Espírita de Janeiro de 1866, em artigo de título idêntico ao nosso, faz a seguinte observação:

Examinemos agora a questão sob outro ponto de vista. Quem fez o Espiritismo? É uma concepção humana pessoal? Todo mundo sabe o contrário. O Espiritismo é o resultado do ensinamento dos Espíritos, de tal sorte que sem as comunicações dos Espíritos não haveria Espiritismo. Se a Doutrina Espírita fosse uma simples teoria filosófica nascida de um cérebro humano, ela não teria senão o valor de uma opinião pessoal; saída da universalidade do ensino dos Espíritos, tem o valor de uma obra coletiva, e é por isto mesmo que em tão pouco tempo se propagou por toda a Terra, cada um recebendo por si mesmo, ou por suas relações íntimas, instruções idênticas e a prova da realidade das manifestações.

E segue, criticando os inimigos da Doutrina que, por verem na universalidade do ensino dos Espíritos, um grande inimigo às suas ideias próprias:

Pois bem! É em presença deste resultado patente, material, que se tenta erigir em sistema a inutilidade das comunicações dos Espíritos. Convenhamos que se elas não tivessem a popularidade que adquiriram, não as atacariam, e que é a prodigiosa vulgarização dessas ideias que suscita tantos adversários ao Espiritismo. Os que hoje rejeitam as comunicações não parecem essas crianças ingratas que negam e desprezam os seus pais? Não é ingratidão para com os Espíritos, a quem devem o que sabem?

Onde o Movimento Espírita tomou um desvio

Após Kardec, como já sabemos, o Movimento Espírita sofreu enorme desvio, praticamente colocando o mestre lionês e seu método de estudo no esquecimento. Depois disso, chegado ao Brasil, já se encontrava o Movimento bastante alterado em suas bases, esquecido de que o Espiritismo sem os Espíritos é apenas sistema de ideias pessoais, ideias essas que se proliferaram dentre os Espíritas através de mais de um século.

Roustaing, um dos primeiros maiores adversários do Espiritismo, contemporâneo de Kardec, movido por enorme vaidade, através principalmente de Pierre-Gaëtan Leymarie, inseriu seus conteúdos no meio espírita que, se não bastassem serem contrários à Doutrina Espírita em muitos pontos, eram obtidos através de apenas um Espírito – ou seja, nada de universalidade de ensinos. Se houvessem estimulado tal método, veriam tais teorias desmentidas pelos próprios Espíritos, o que não seria interessante à vaidade pessoal do “escolhido”.

Estupefato, descobri, recentemente, que a própria FEB, no início do século XX, defendia as ideias roustainguistas como um complemento a Allan Kardec:

E foi por compreender a sua preponderante utilidade [do Evangelho] que a Federação instituiu o seu estudo nas sessões das terças-feiras, preferindo-o ao Evangelho segundo o Espiritismo [por Allan Kardec], que apenas contém os ensinos morais, Os quatro Evangelhos (Revelação da revelação), ditados a J.-B. Roustaing, por ser completa essa revelação, contendo, não somente o desenvolvimento daqueles ensinos, mas a explicação de todos os atos da vida de Jesus, com uma nova e esclarecedora orientação acerca da natureza e da sua missão messiânica.

(FEB, 1902, p. 1)

Vemos, portanto, desde quando tais ideias danosas se infiltraram no Espiritismo, sobretudo no Brasil, onde diversos médiuns – não questionando seus propósitos e seus valores – passaram a serem tomados como oráculos ou profetas – mais uma vez, nada de universalidade dos ensinos.

Mas será que precisamos disso, hoje?

Muitos, contudo, vão dizer: esse método de Kardec, baseado nas evocações, somente foi útil para o nascimento do Espiritismo. Hoje, não precisamos mais disso, pois já temos muito conteúdo que nos servem de base de ensinamento.

Sim, inquestionavelmente temos, hoje, tanta base de ensinamento moral que, se realmente os compreendêssemos, estaríamos anos-luz à frente em nossa evolução espiritual. Contudo, não se deu o mesmo com os ensinamentos do Cristo que, mesmo assim, nos enviou o Consolador Prometido – a Doutrina dos Espíritos. Por quê? Porque o Espírito avança primeiro em intelectualidade, para apenas depois avançar em moralidade. Como, então, diminuir essa distância? Apenas através da união da fé à ciência. E foi essa a missão de Kardec, tão bem realizada no estudo da Doutrina dos Espíritos.

Ora, não podemos esquecer: o Espiritismo é uma ciência de aspecto moral e filosófico, nascida do estudo e da observação das manifestações espíritas, obtendo, delas, o conhecimento, baseado na universalidade dos ensinamentos dos Espíritos – ou seja, a distribuição dos ensinamentos dos Espíritos por toda a parte, obtendo, desses ensinamentos, a concordância, sob a luz da razão. Chegamos, assim, em uma constatação:

Retirar, do Espiritismo, as evocações, é retirar dele a característica principal: o de uma ciência que, como sempre demonstrou e defendeu Kardec, deveria andar de mãos dadas com a ciência humana.

Então, somos forçados a constatar, também, que as evocações, com finalidade séria, são ainda necessárias e, talvez, sempre serão. Ou será que já sabemos de tudo a respeito das nossas relações com os Espíritos e do mundo dos Espíritos? Ou será que o avanço da ciência humana não trouxe, de um lado, tantas confirmações e, de outro, novas dúvidas, a respeito dessas relações e da nossa natureza espiritual? Ou será que as mistificações não passaram a inundar o Movimento Espírita?

Vamos ver, a respeito da última questão, o pensamento de Cláudio Bueno da Silva no portal O Consolador:

Quando se fala em mistificação, em desvios de rota do movimento espírita, impossível não citar os célebres e traumáticos “ismos”, que causaram tantas controvérsias: o Ubaldismo, de Pietro Ubaldi; o Ramatisismo, de Ramatis; o Roustainguismo, de J. B. Roustaing; o Armondismo, de Edgar Armond; o Divinismo, de Oswaldo Polidoro, e outros “ismos”. Todos eles com uma curiosa característica: em meio a verdades, muitos equívocos destoantes da Revelação Espírita, codificada por Allan Kardec. Embora algumas dessas proposições não tenham surgido propriamente dentro do movimento espírita, nele se infiltraram, deixando resquícios que perduram ainda em muitos centros e federações pelo país.

Mas as investidas das sombras não param. Há algum tempo, muitas casas espíritas foram “invadidas” pela teoria das crianças índigo, versão importada sobre a reencarnação de muitos “anjinhos” inteligentes, cheios de independência e malícia, mas cheios também de rebeldia e agressividade que, segundo a fantasia dos seus “criadores” norte-americanos, têm a missão de renovar (?) a Terra. Muitos espíritas ficaram encantados com a novidade e durante bom tempo não se falou de outra coisa dentro da casa espírita.

CLÁUDIO BUENO DA SILVA – http://www.oconsolador.com.br/ano6/285/claudio_bueno.html

Os próprios Espíritos defendem a nossa comunicação com eles

A leitura e o estudo da obra de Allan Kardec nos demonstra, sem cessar, que os Espíritos vêm de bom grado, sempre que possível, responder às evocações realizadas. Quando Espíritos bondosos ou sábios ficam felizes em transmitir bons ensinamentos; quando Espíritos, ainda inferiores, encontram alívio em exporem suas dificuldades ou em transmitir alguma palavra de conforto aos seus familiares. Outras vezes, conforme permitido, transmitem conselhos importantes, como podemos ver no artigo “Mamãe, aqui estou”, da R.E. de Janeiro de 1858:

Júlia: Mãe, por que te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.

A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?

Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha mão sobre a Sra. X (a médium) para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).

A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?

Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?

A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?

Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.

A mãe: Eu realmente te revi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.

Júlia: Não. Sou eu mesma que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr. Z… Ele não é sincero.

(Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim espontaneamente, era uma nova prova de identidade do Espírito que se manifestava.)

A mãe: Que pode fazer contra mim o Sr. Z?

Júlia: Não te posso dizer. Isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.

Precisamos, portanto, lembrar que a mediunidade serve justamente para isso: intercâmbio entre os “dois planos”. Se não fosse assim, Deus não nos daria essa capacidade. Sim, é fato que devemos buscar caminhar com nossos próprios pés, sem ceder ao ímpeto de perguntar aos Espíritos sobre tudo. Mas também é fato de que, com seriedade e bom propósito, eles tem muito a nos ajudar, tanto nos assuntos pessoais quanto nos assuntos de importância geral. E isso, aliás, eles fazem constantemente, através da nossa intuição.

Mas, então, se julgamos precisar de comunicações mais claras, que fazer? Viver na dúvida?

Penso que, sobre isso, precisamos pensar com muito cuidado, a fim de realmente não ocuparmos médiuns e Espíritos com algo que nós mesmos podemos entender ou fazer, inclusive galgados nos ensinamentos já existentes no Espiritismo. Deveríamos agir como o estudante que, antes de fazer perguntas tolas, deveria sempre pesquisar o conhecimento já existente, caso contrário poderá ser mesmo repreendido pelo professor: “você não estudou com atenção. O conhecimento está lá; volte e releia”.

Sobre o resto, se há propósito sério, eles nos responderão dentro dos limites permitidos. Se, por outro lado, não houver propósito sério, poderão os bons Espíritos nos dar um belo puxão de orelha, no melhor dos casos; nos outros, poderão responder Espíritos maliciosos, com o intuito de nos provocar dificuldades e desvios, ou apenas de debocharem de nós.

Conclusão

Sendo data memorável, enfim, da vida desse Espírito que conhecemos por Allan Kardec, precisamos, em reconhecendo seu trabalho tão bem realizado e tão dedicado, recuperar a história real do Espiritismo, restaurando sua essência e afastando os escolhos que dela tomaram tão grande parte.

Espiritismo sem Espíritos, isto é, Espiritismo sem concordância universal dos ensinamentos dos Espíritos e, por conseguinte, sem a nossa busca pela comunicação com eles, não é Espiritismo: é apenas opinião pessoal.


  1. Entre os papéis de próprio punho de Allan Kardec há um esboço autobiográfico no qual ele corrige seu primeiro nome, normalmente grafado como Hippolyte, para a verdadeira grafia Hypolite. Canuto Abreu teceu considerações num artigo, que pode ser acessado pelo endereço em https://espirito.org.br/autonomia/allan-kardec-data-e-nome. assim como o manuscrito de Kardec. Também o ano de seu nascimento foi corrigido nesse mesmo documento, tendo nascido em 1803 e não em 1804 como as biografias posteriores registraram equivocadamente. [Paulo Henrique de Figueiredo- Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo]



Seria Allan Kardec racista, machista, homofóbico, etc?

Triste época, aquela da escravidão e da segregação, já em muito superada. Hoje, não falamos mais em “raças”, pois sabemos que só existe uma raça: a humana. Hoje, em grande maioria, sobretudo na nossa sociedade brasileira, os negros se integram e participam ativamente, enfrentando, ainda, algumas dificuldades, mas que decrescem dia após dia, com o avanço humano. Dessa época, surgem algumas falas de Allan Kardec, racistas aos olhos de hoje. Dizem, assim que ele seria racista, sem uma compreensão da época.

O erro, sempre, está em querer confundir Allan Kardec com o Espiritismo. O Espiritismo existe por si só, como fato da natureza. Kardec dedicou-se a estudá-lo. Nunca impôs suas ideias ou suas verdades para a Doutrina. Aliás, como veremos, foi por esse estudo que ele pôde verificar o negro, a mulher e até o homossexual, como veremos, por outro ângulo, como nunca antes nenhuma filosofia havia feito.

Resta lembrar que o conceito de raças era um conceito científico da época, que só veio ser superado no final do século XX.

A frase infamante

A frase em questão, utilizada para afirmarem que Allan Kardec seria racista, pertence a um artigo muito mais completo e profundo, publicado na Revista Espírita de abril de 1862 e que justamente vem de encontro com a ideia racista, demolindo-a:

“Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior, isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar […]”

Allan Kardec, R.E, abril de 1862

É, contudo, a velha mania do ser humano, cultivada até hoje: isola-se uma frase, retirando-a de todo um contexto, e apresenta-se como prova cabal do ponto contrário que se quer provar, quase sempre com vistas a denegrir a imagem de outrem.

Precisamos lembrar que Allan Kardec, ele se encontrava na França etnocêntrica de meados de 1800, quando toda a sociedade SEQUER atribuía uma alma aos negros e quando a própria ciência adotava um conceito racista:

No século XIX, iniciou-se o processo do neocolonialismo ou imperialismo europeu. A Inglaterra, a França, a Alemanha e outras potências capitalistas europeias investiram em novas políticas de expansão territorial e, praticamente, dividiram entre si os territórios da África, da Ásia e da Oceania.

Para justificar a exploração das riquezas daqueles lugares e a política de segregação racialos europeus tiveram que buscar uma justificativa científica, pois, no século XIX, a ciência já estava amplamente divulgada e a religião já não era mais suficiente para justificar qualquer tipo de ação autoritária.

Nesse sentido, a antropologia surgiu como uma tentativa de criar teorias científicas que justificassem a exploração dos povos de fora da Europa pelos povos europeus. As primeiras teorias dessa área, desenvolvidas pelo biólogo e geógrafo inglês Herbert Spencer, afirmavam que havia uma espécie de hierarquia das raças.

Nessa perspectiva, os brancos europeus eram superiores, seguidos pelos asiáticos, pelos índios e pelos africanos, sendo os últimos os menos desenvolvidos. Essa corrente ficou conhecida como darwinismo social ou evolucionismo social, pois se apropriou da teoria da evolução biológica de Charles Darwin e aplicou-a no campo sociológico[…]

Francisco Porfírio – Brasil Escola – https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/etnocentrismo.htm

Diz Paulo Henrique de Figueiredo, em A Gênese (ed. FEAL, 2022):

Quando Allan Kardec escreveu esta obra, a hierarquização evolutiva das então consideradas raças humanas não era vista como racismo, mas adotada por cientistas eminentes como Cuvier, Charles Darwin, Buchner, ou Carl Vogt, que afirmou: “Logo que os jovens negros atingem o período da puberdade, assiste-se a um fenômeno idêntico ao que ocorre nos macacos. Doravante, as faculdades intelectuais permanecem estacionárias e o indivíduo, tal como toda a raça, torna-se incapaz de qualquer progresso” (Leçons sur l’homme. p. 253).

Esse entendimento era hegemônico no meio científico, contextualizando assim as descrições ultrapassadas aqui desenvolvidas, pertencentes à Ciência da época, e não ao Espiritismo.

Allan Kardec, foi, por isso, levado a cometer esse erro de julgamento, racista para os olhos de hoje, baseado em alguns preconceitos e conceitos científicos da época. Por outro lado, demonstrou, pelos estudos do Espiritismo, que todos os seres humanos possuem almas que, inclusive, podem reencarnar onde quer que seja e sob qualquer cor, “raça” ou credo.

Vejamos: Kardec julgava os negros a partir do ponto de vista dos conceitos da época, que os admitia apenas como selvagens, oriundos das selvas africanas, todos muito aquém de qualquer civilização e cultura. É nesse erro de fundamento que Kardec se baseia para dizer: “como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior, isto é, primitiva”. Era um conceito da ciência da época, pautada pelo racismo, até mesmo por conta de interesses!

Contudo, se passarmos além desse pensamento de Allan Kardec, racista por definição, estudando a Doutrina Espírita a fundo, veremos que ela contraria, repito, todo e qualquer preconceito racial, sexual ou de castas.

Recuperemos, aliás, trechos do artigo em questão, muito importantes:

Diz-se a respeito dos negros escravos: “São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria vão esforço querer instruí-los. São uma raça inferior, incorrigível, profundamente incapaz.” A teoria que acabamos de apresentar permite encará-los sob outro prisma. Na questão do aperfeiçoamento das raças é sempre necessário levar em consideração dois elementos constitutivos do homem: o elemento espiritual e o corporal. É preciso conhecer ambos, e só o Espiritismo nos pode esclarecer quanto à natureza do elemento espiritual, o mais importante, por ser o que pensa e o que sobrevive, ao passo que o corporal se destrói.

Allan Kardec, R.E. abril de 1862

Aqui fica muito evidente, principalmente para quem leu todo o artigo, que Kardec justamente traz a questão em voga, naquele momento, para a análise sob outro prisma – o do Espiritismo – que poderia trazer uma outra forma de interpretar o assunto. Vamos seguir, apresentando o parágrafo completo de onde foi extraído a frase citada:

Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos. Como Espíritos, são inquestionavelmente uma raça inferior, isto é, primitiva. São verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já representa um progresso que levarão para outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório de melhores condições. Trabalhando por sua melhoria, trabalha-se menos pelo seu presente que por seu futuro e, por pouco que se consiga, para eles é sempre uma aquisição. Cada progresso é um passo à frente que facilita novos progressos.

ibidem

Vemos, como apresentado, que Allan Kardec partiu de um fundamento errado, racista, baseado em conceitos científicos, sociais e culturais da época — o de que os negros seriam uma “raça” selvagem e sem conhecimentos e o de que os brancos constituiriam uma raça superior — num contexto, onde muito provavelmente, ou ele sequer tinha contato com negros, ou, hipótese mais razoável, que ele apenas os conhecia de sua posição socialmente inferior, posto que a escravatura na França foi apenas abolida em 1848. Contudo, logo em seguida, ele adiciona que, por mais que pudessem constituir uma “raça” inferior, esses Espíritos, que ora ocupavam um corpo tido como “inferior” ao branco — nada mais afastado da realidade — através de sua progressão espiritual, ocupariam “envoltórios melhores”. Isso está mais ou menos expresso no seguinte pensamento, da Revista Espírita de novembro de 1858: “a Doutrina Espírita é mais ampla do que tudo isto. Para ela, não existem várias espécies de homens; simplesmente existem homens cujo Espírito é mais ou menos atrasado, susceptível, entretanto, de progredir“.

Kardec segue adiante e reproduz o pensamento reinante, naquele momento, a respeito do corpo físico constituinte da “raça negra”: “Por isso a raça negra, enquanto raça negra, corporalmente falando, jamais atingirá os níveis das raças caucásicas, mas como Espíritos é outra coisa: pode tornar-se e tornar-se-á aquilo que somos. Apenas necessitará de tempo e de melhores instrumentos.

É repugnante aos nossos olhos, hoje? Sim, é. E é algo sobre o que precisamos discutir, de forma não anacrônica, a fim de entendermos e separarmos o pensamento do homem, imperfeito, do pensamento expresso pela ciência Espírita, como em tudo.

Observe que Kardec tomava um ponto de vista baseado na ciência humana e na ciência dos Espíritos. Pela primeira, baseou-se nas ideias de raças, exprimindo, assim, um pensamento errado. Pela segunda, acertou ao entender que somos todos iguais. O Espiritismo, portanto, não é racista, mas muito pelo contrário.

Compete, também, fazer uma outra observação: Kardec não via o negro como ser que não devesse ter os mesmos respeito, caridade, fraternidade e amor, como devemos a todos os outros. Vemos isso muito bem expresso na Revista Espírita de junho de 1859, quando um homem negro, falecido, é evocado, e se exprime assim:

4. ─ No entanto, éreis livre. Em que vos sentis mais feliz agora?
─ Porque meu Espírito não é mais negro.

Ao que Kardec faz a seguinte nota:

NOTA: Esta resposta é mais sensata do que parece à primeira vista. Com certeza jamais o Espírito é negro. Ele quer dizer que, como Espírito, não tem mais as humilhações às quais está sujeita a raça negra.

Ora, necessário, então, se faz entender essa questão, no contexto histórico certo, pelos dois lados: de um lado, Kardec, o branco, europeu, que acreditava ser o negro uma “raça” inferior, mas que entendia que se tratava de irmão nosso, Espírito como nós, que também sofria pelas humilhações e que desejava ser feliz. Do outro lado, o negro, que não apenas se sentia, mas que era humilhado e maltratado, por conta de sua cor de pele. Seria muito supor que, nesse contexto bem específico, muito diferente do que é hoje a sociedade moderna (em grande parte), o Espírito que encarnou em um corpo negro quisesse deixar de ser negro em uma próxima vida? Isso fica patente no pensamento do Espírito (Pai César):

10. (Ao Pai César) ─ Dissestes que procurais um corpo com qual possais avançar. Escolhereis um corpo branco ou preto?
─ Um branco, porque o desprezo me faria mal.

Partindo do ponto de vista que o negro era tratado como animal, enfrentando dificuldades acerbas, seria muito supor que, nessa época, um Espírito escolhesse encarnar em um corpo negro de modo a enfrentar as imensas dificuldades que essa vida lhe ofereceria, aprendendo com elas? Hoje, viver como negro não é mais tão sofrido como era nessa época e, com a evolução do ser humano, as expiações escolhidas pelos Espíritos seriam outras. A questão, sempre, para bem entender essas difíceis questões, é separar Espírito e corpo, além de contextualizar termos e ideias conforme época, história e contexto social.

Importa lembrar, também, que, se Kardec foi, de certa forma, preconceituoso, por outro lado não foi escravagista nem sequer segregacionista ou, se um dia o foi, mudou sua opinião quando de contato com a ciência espírita:

829. Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens?

“É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.”

É contrária à natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente (nota de Allan Kardec)

[…]

831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças mais inteligentes?

“Sim, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante longo tempo, os homens consideraram certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro os que assim procedem. Insensatos! Nada veem senão a matéria. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito.” (361–803.)

Allan Kardec – O Livro dos Espíritos

Não paremos, porém. Vamos seguir em frente, analisando outros assuntos importantes e correlatos.

Seria Kardec machista?

Para analisar esses temas, vou utilizar como base o artigo produzido por Paulo Henrique de Figueiredo, que pode ser apreciado, na íntegra, no link https://revolucaoespirita.com.br/kardec-homossexualidade/

Começando pela questão do machismo, Kardec faz uma interessantíssima abordagem na Revista Espírita de janeiro de 1866, no artigo de título “As mulheres tem alma?”. Sim, pasmem, era essa a questão de então.

As mulheres têm alma? Sabe-se que a coisa nem sempre foi tida como certa, pois, ao que se diz, foi posta em deliberação num concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos. Sabe-se a que grau de aviltamento essa crença as reduziu na maior parte das regiões do Oriente. Mesmo que hoje, nos povos civilizados, a questão seja resolvida em seu favor, o preconceito de sua inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado, cujo nome me foge, assim definia a mulher: “Instrumento de prazeres do homem”, definição mais muçulmana que cristã. Desse preconceito nasceu sua inferioridade legal, ainda não apagada de nossos códigos. Por muito tempo elas aceitaram essa escravização como uma coisa natural, tão poderosa é a força do hábito. É assim que acontece com aqueles que são submetidos à servidão de pai para filho, que acabam por se julgarem de natureza diversa da dos seus senhores.

Allan Kardec, R.E, Janeiro de 1866

Incrível, não? Ainda se questionava, em algumas sociedades, se a mulher realmente possuía alma e, nascida de um preconceito, sua inferioridade legal ainda existia. As mulheres não podiam sequer votar – fato muito bem conhecido ainda hoje. Notemos uma coisa: se Kardec pode ter sido preconceituoso com relação aos negros, ele, contudo, não os jugava animais que deveriam ser escravizados à vontade do branco, assim como a mulher não deveria ser escravizada à vontade do homem.

“Depois de ter reconhecido que elas têm uma alma, se lhes reconheceu o direito de conquistar os graus da ciência, é já alguma coisa. Mas a sua libertação parcial não é senão o resultado do desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes, ou, querendo-se, de um sentimento mais exato da justiça; é uma espécie de concessão que se lhe faz, e, é preciso bendizê-la, se lhes regateando o mais possível”.

ibidem

Comenta Paulo Henrique, em seu artigo:

Naquele tempo, apesar da questão da existência da alma da mulher ser considerada ridícula, ainda não se ponderava que a “igualdade de posição social entre o homem e a mulher fosse de direito natural”, e não uma concessão feita pelo homem. A contribuição do Espiritismo para o debate é extraordinária e atual. Enquanto atualmente se discute o fato de que as tradicionais diferenças de gênero se estabeleceram em função da cultura e não da natureza fisiológica (visando justificar o poder do homem), o Espiritismo demonstra o outro extremo da questão: a igualdade é natural, pois os espíritos não têm distinção sexual! Ou seja, se a divisão de sexo por gêneros é cultural (se sabe hoje), a igualdade é natural (explicam os espíritos).

Em O Livro dos Espíritos, Kardec se aprofunda nessa questão, de forma muito atual, criando, de uma vez por todas, através dos ensinamentos dos Espíritos Superiores, a mais profunda noção de igualdade já vista em uma Doutrina, por estar baseada nos princípios da Lei Natural, que transcende a matéria e o tempo:

817. São iguais perante Deus o homem e a mulher e têm os mesmos direitos?

“Não outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?”

818. Donde provém a inferioridade moral da mulher em certas regiões?

“Do predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. É resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito.”

819. Com que fim mais fraca fisicamente do que o homem é a mulher?

“Para lhe determinar funções especiais. Ao homem, por ser o mais forte, os trabalhos rudes; à mulher, os trabalhos leves; a ambos o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor.”

Allan Kardec – O Livro dos Espíritos

E, adiante, digno de nota, apresenta esse incrível e profundo pensamento:

821. As funções a que a mulher é destinada pela Natureza terão importância tão grande quanto as deferidas ao homem?

“Sim, maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.”

ibidem

Já vimos, até aqui, que Kardec vai na direção contrária do pensamento em vigência naquela época: a mulher, claro, possui alma e, sendo igual ao homem, deveria ser tratada com as mesmas condições garantidas pelo direito natural, dadas ao homem. O Espiritismo demonstra que a igualdade é natural, posto que o Espírito não tem sexo e, portanto, nem cor ou raça, como fica exemplificado na comunicação com o Espírito do senhor Sanson, um espírita da Sociedade de Paris, recém-desencarnado, em 1862, quando lhe fez a seguinte pergunta:

“Os Espíritos não têm sexo; entretanto, como há poucos dias ainda era homem, tende em vosso novo estado antes a natureza masculina do que a natureza feminina? Ocorre o mesmo com um Espírito que tivesse deixado seu corpo há muito tempo?”

E, por meio do médium, Sanson respondeu:

“Não temos que ser de natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os cria à sua vontade, e se, por seus objetivos maravilhosos, quis que os Espíritos se reencarnem sobre a Terra, deveu acrescentar a reprodução das espécies para macho e a fêmea. Mas o sentis, sem que seja necessária nenhuma explicação, os Espíritos não podem ter sexo.”

É assim, enfim, que chegamos à questão:

Kardec homofóbico?

Prezado leitor, preciso dizer que nem sei de onde as pessoas tiram esses pensamentos. Na verdade, sei: do senso-comum, aquele conhecido “telefone sem fio”, que transmite ideias de um para o outro sem as analisarem com seriedade.

Quem realmente busca estudar e compreender o Espiritismo e Allan Kardec já entendeu, apenas pelo exposto acima, que ele não poderia ser homofóbico. Contudo, vamos finalizar o artigo com sua seguinte citação, na mesma edição da Revista Espírita, seguida da citação de Paulo Henrique de Figueiredo a respeito desse trecho:

“Se essa influência da vida corporal repercute na vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se ele for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado.

Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres”.

Portanto, só existe diferença entre o homem e a mulher em relação ao organismo material, que se aniquila com a morte do corpo. Mas, quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas.

Allan Kardec, R.E., Jan/1866

É muito importante destacar aqui que o termo “anomalia aparente”, usado por Kardec, estava presente nas ciências da época, se referindo aos fenômenos que fogem da explicação das teorias aceitas, não sendo para elas “normais”; mas que, ao se encontrar uma nova explicação natural para o fenômeno em novas teorias, elas deixam de ser “anomalias” e se tornam fenômenos naturais. Por isso ela é “aparente”

Paulo Henrique de Figueiredo, site Revolução Espírita, 25/08/2016

Considerações finais

Existem pessoas boníssimas de todas as cores, inclusive pessoas da pior espécie, também de todas as cores e opções sexuais. Há Espíritos elevados em corpos disformes, assim como há Espíritos terríveis nos corpos mais lindos. Precisamos aprender a deixar de julgar o próximo, bem como a deixar de criar conceitos e preconceitos baseados em como as pessoas se parecem, aos nossos olhos.

O entendimento do Espiritismo vem justamente nesse sentido, quando entendemos que o corpo é apenas um vaso, que pode conter água mais cristalina ou menos. O Espírito humano pode encarnar em qualquer tipo de corpo humano, de acordo com suas necessidades. Como pode, então, sabendo muito bem disso, Kardec ter emitido opinião tão errônea a respeito dos negros?

Em parte isso se explica por um forte preconceito etnocêntrico que, na França de meados de 1800, enxergava o negro como “raça” inferior, selvagens, sem conhecimentos e sem cultura. De outro lado, entendamos bem, Allan Kardec, partindo da ideologia racista da ciência vigente, supunha que os Espíritos que encarnavam nos negros, eram também Espíritos de menor evolução, em fase de infância espiritual. Nada, repito, nada mais afastado da verdade, visto que sabemos o quanto de valor moral e de conhecimentos tinham esses irmãos, ainda usados como escravos pouco tempo antes na França e, ainda, por muitas décadas à frente, no Brasil. Contudo, ao mesmo tempo que partia desse ponto de partida errado, adicionava: “são Espíritos como nós, fadados à evolução e à perfeição”.

Já foi um grande passo, para um homem daquela época, ter dado alma a um povo que era tratado como máquina. Mas, sabemos, a marcha do progresso avança e, como dizia sempre Kardec, deveríamos sempre acompanhar os avanços científicos, abandonando a opinião que se mostrasse errada frente à ciência. É isso o que fazemos aqui e é o mesmo que faria Allan Kardec se, hoje, se encontrasse encarnado entre nós.

Contudo, nada disso muda nossa forma de entender o Espiritismo, em sua verdadeira concepção, e nem mesmo com relação ao papel grandioso que Kardec teve em seu estudo, posto que foi um homem imperfeito, embora comprometido com a caridade e as ciências. Na verdade, acrescenta, à Doutrina dos Espíritos, a beleza real que ela tem, entendida em sua profundidade e sem os preconceitos e conceitos humanos que, afinal, ela não tem, mas, sim, desfaz.




As “supostas” adulterações em Allan Kardec: um chamamento aos espíritas

Supostas? Não, não são supostas. São factuais, com inúmeras provas e fortes evidências apresentadas, obtidas inclusive por pesquisa de campo e baseadas, outras, em documentos históricos de Allan Kardec que, aos poucos, vem à tona.

Infelizmente, a FEB, apoiada nos argumento de Carlos Seth, está se baseando em evidências muito fracas para argumentar a favor daquilo que acredita – a não adulteração – sem apresentar, como Kardec faria, a argumentação contrária, sem ir a fundo nelas. Trato sobre isso neste artigo: https://geolegadodeallankardec.com.br/2021/09/01/as-adulteracoes-nas-obras-de-kardec-e-o-csi-do-espiritismo/

Pior que isso, a defesa da não adulteração, frente às provas já existentes, fere a própria imagem de Allan Kardec, como se ele, que sempre realizou tudo com todo o cuidado necessário, sob todas as exigências da lei humana, tivesse então decido submeter uma alteração de forma ilegal, sem realizar o depósito legal, obrigatório naquela época, tornando-o um criminoso confesso. Creio que podemos e devemos fazer mais que isso, não apenas em nome de Allan Kardec, mas em nome de algo muito maior e mais sério: o Espiritismo, doutrina que vem para, finalmente, provocar e auxiliar as grande mudanças necessárias à humanidade.

Sinto um grande descontentamento ao verificar não que existem opiniões contrárias, mas, sim, que muitos espíritas sequer buscam seguir o exemplo de Kardec, probo e humilde, verificando todas as fontes sérias, mesmo contrárias às suas ideias previamente desenvolvidas, indo a fundo nelas e analisando o que, nelas, há de verdadeiro ou provável e, modificando a opinião própria frente às evidências científicas e, quando não, esmiuçando tais ideias a fim de mostrar onde elas falham.

Infelizmente muitos não tem agido assim, a despeito de inúmeros espíritas sérios, já desde o século XIX e, depois, passando por Silvino Canuto de Abreu e o próprio Herculano Pires, terem levantado graves acusações frente aos desvios que a Doutrina sofreu após Kardec.

Em verdade, não desejo que concordem comigo, mas, sim, que ajamos todos de forma conscienciosa, espelhados no exemplo do professor Rivail. Diversas obras, desde alguns anos, tem apresentado evidências sérias demais e por demais bem embasadas a ponto de serem colocadas de lado e descartadas. Se vamos discutir sobre adulterações, discutamos sob a luz da razão, frente ao raciocínio lógico e as provas e evidências, como Kardec faria.

Por nos dizermos Espíritas, que é uma ciência nascida da observação dos fatos e das evidências, uma vez mais peço: não deixemos essas obras de lado, pois o que elas trazem, ainda que fosse falso, é por demais importante e grave para ignorá-las, como o movimento espírita brasileiro tem feito.

São elas, mas não apenas:

  • O Legado de Allan Kardec, por Simoni Privato
  • Nem céu nem inferno: As leis da alma segundo o Espiritismo, por Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo
  • Muita Luz (BEAUCOUP DE LUMIÈRE), de Berthe Fropo
  • Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, por Paulo Henrique de Figueiredo

Irmãos, leiam, estudem, se informe e espalhem essa motivação, por todo canto. Já é mais que hora de restaurarmos o entendimento original sobre o Espiritismo!




O Renascimento do Espiritismo

Vivemos a grande escuridão, novamente. Após o Espiritismo raiar na face da Terra como grandiosa luz que poderia nos lançar ao mais acelerado processo de renovação espiritual e moral humana, se espalhando com a velocidade de um raio, sofreu enorme revés e, então, passou a ser lentamente esquecido em suas proposta e verdadeira face originais. Vieram, então, as guerras, o grande desenvolvimento industrial, as enormes facilidades materiais, os enormes lucros e, por trás de grandes sorrisos falsos, de bonitas máscaras sociais, alegres e divertidas, se multiplicam as enormes dores e angústias que, não raro, encontram saída na desistência da vida e no suicídio direto ou indireto.

A humanidade clama. Há choro e ranger de dentes. Eis que, então, o inimaginável acontece e uma doença de facílima transmissão, embora de taxas de mortalidade relativamente baixas, se alastra por toda a superfície do planeta, levando entes queridos, vizinhos e conhecidos, pobres e ricos, em questão de poucas semanas – quase sempre, em menos de 20 dias. A humanidade se mostra, uma vez mais, ferida e vulnerável. O Espírito foi esquecido. A moral foi colocada de lado, como artigo de politicagem. Deus se tornou artigo de fé cega, quase sempre incompreendido e, embora presente em muitas línguas, vazias no coração.

As partidas de pessoas próximas abalam as famílias e os indivíduos. Um grande movimento se acelera: a busca por reaproximação com o espiritual, a busca por consolação, a busca por respostas. E eis que justamente nessa mesma época, começam a se avolumar, aos nossos olhos, grandiosos estudos e preciosas obras, por mãos dedicadas de irmãos entregues ao trabalho da Verdade, trazendo a nós a verdadeira face do Espiritismo e sua história, e grande e preciosa parte, até então incompreendida ou, então, desconhecida.

Vivemos, hoje, processo muito parecido com aquele vivido nos meados do século XIX, nos trazendo uma oportunidade mais uma vez extremamente grandiosa. Vejo e acredito que, como antes, vivemos grande chamamento de volta à espiritualidade. Multiplicam-se por todas as partes os fenômenos mediúnicos, inclusive os físicos, com vistas a chamar a nossa atenção. Como antes, passou a humanidade por gravíssima fase materialista, dando margem às grandes chagas do egoísmo e do orgulho, além de espaço à proliferação de todos os vícios e imperfeições, físicas e morais.

Nos foi dado a conhecer que o Espiritismo sofreu com diversas manipulações e desvios, às vezes criminosos, se não aos olhos da justiça humana, mas ao menos perante a justiça Divina. Letra e Movimento foram adulterados. O Espiritismo, após a morte de Kardec, perde a força gigantesca que vinha desenvolvendo e, com as guerras, encontra, no Brasil, guarida, para ficar em estágio semi-gestacional, no meio religioso, por mais de um século…

Irmãos, como dizia, vivemos momento importantíssimo e singular. O Espiritismo nasceu em momento favorável e necessário, quando a humanidade buscava respostas filosóficas para fazer frente ao negacionismo materialista que, por sua vez, nasceu para enfrentar o dogmatismo ferrenho das velhas religiões. Hoje, o Espiritismo renasce, em sua real exuberância, no momento certo, para atender aos clamores daqueles tantos que buscam respostas ao mesmo materialismo pujante e ferrenho que esfriou as almas durante o último século e colocou o homem no caminho do ganho e do lucro, das paixões efêmeras e do culto ao corpo.

A enorme diferença é que, hoje, encontramos o trabalho já iniciado. Não necessitamos desenvolver o raciocínio do zero, analisando fenômenos físicos, conversando com Espíritos através de pancadas. Basta, a nós, estudar a fundo, com muita sabedoria e dedicação, o Espiritismo e as obras complementares que nos ajudem a melhor compreendê-lo, situando-o de forma contextualizada no momento histórico em que nasceu para, então, trazer aos nossos dias o exato entendimento, que até hoje não tivemos, em maioria, sobre o que realmente é o Espiritismo!

Mas isso não será possível enquanto não agirmos conforme o exemplo daquele que Deus nos deu como exemplo nesse particular. Não falo do nosso exemplo máximo, Jesus, mas, sim, do nosso grande e humilde mestre, afável e caridoso, pesquisador dedicado à humanidade, Allan Kardec. Não, enquanto não seguirmos o seu exemplo, repito, a recuperação do Espiritismo não será possível. Kardec não foi perfeito, como nenhum de nós somos, mas uma coisa muito importante ele exemplificou: a total ausência de personalismo, vaidade e orgulho, bem como a busca por analisar fatos, provas e opiniões, de todos os lados e de todas as fontes, sem, antes, forma ideia previamente concebida. Enquanto nosso personalismo, nossa vaidade, nosso orgulho, nossos preconceitos, enfim, falarem mais alto, não sairemos do mesmo lugar. Não é isso, infelizmente, que tem feito as pessoas que, tomando frágeis argumentos a favor de suas ideias pessoais, continuam renegando os fatos históricos e que, por isso, se afastam do desenrolar do entendimento claro e profundo a respeito do Espiritismo, como já tratei neste artigo.

Espíritas, olhem ao redor: o trabalho nos chama, arduamente! O mundo de regeneração não virá sozinho! A regeneração precisa partir de nós, mas ela não se dará enquanto nos mantivermos parados, sentados, esperando a vida e aquilo que achamos serem castigos, passarem. Precisamos compreender que as dificuldades da vida, que julgamos castigos intransponíveis, são, na verdade, oportunidades valiosas de aprendizado e de correção de nossas imperfeições que nos levam a errar. Precisamos compreender que, assim como Deus não nos impõe castigos, mas, sim, oportunidades difíceis – mas totalmente suportáveis, desde que nós mesmos não aumentemos suas dificuldades – para aprendizado e elevação, também precisamos nós, com o auxílio da Doutrina Espírita, aprendermos a colocar em prática em nossas vidas e, sobretudo, com nossas crianças, a mesma moral: somos imperfeitos e castigar o erro nascido da imperfeição apenas causa retração e, muitas vezes, aumento da imperfeição e do erro. É isso que o Espiritismo vem nos mostrar: ninguém se torna anjo num estalar de dedos e, também, ninguém perde o que já conquistou. Não há anjos caídos, da mesma forma que não há escolhidos por Deus. Todos nós chegaremos à perfeição, sem exceções, mas a velocidade com que lá chegaremos depende, única e exclusivamente, de nós.

Assim, irmãos, mais do que nunca, vale aquela tão importante exortação: “Espíritasamaivos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”. Precisamos deixar de lado as cisões. Precisamos deixar de lado os preconceitos. Precisamos, como Kardec, ouvir todas as opiniões, de todas as fontes, mas apenas como Kardec, entendendo muito bem seu trabalho, seu exemplo e seu método, poderemos nos unir, nos amar e nos instruir. E, sobretudo, precisamos produzir, em nosso bem e em favor do próximo, pois o tempo urge e, após um ano e meio de centros espíritas fechados, muitos sem nenhuma produção, sequer entre seus membros mais próximos, precisamos recuperar o Espiritismo que não é vivido em templos fechados, mas, sim, em nossa intimidade familiar e, daí, para o mundo afora!

Mais uma vez, fica aqui a exortação, o pedido, para que vós, irmãos, leiam também as obras tão importantes e necessárias ao nosso entendimento:

  • O Legado de Allan Kardec, por Simoni Privato
  • Nem céu nem inferno, por Paulo Henrique de Figueiredo e Lucas Sampaio
  • Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, por Paulo Henrique de Figueiredo
  • Muita Luz, por Berthe Fropo



Por que a esposa de Kardec não impediu as adulterações em A Gênese?

A questão das adulterações em A Gênese já está factualmente sancionada, isto é, não há mais dúvidas de que Allan Kardec não foi o responsável pelas alterações apresentadas a partir da quinta edição de A Gênese. Tudo isso fica bastante claro na obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato, mas nós também já abordamos um pouco disso no artigo As adulterações nas obras de Kardec e o “CSI do Espiritismo”. Ainda restava, contudo, uma questão: como é que a esposa de Kardec, Amélie Boudet, deixou passar essa adulteração tão séria?

A resposta veio de forma bastante simples e clara: ela não sabia de tais alterações (ou adulterações), nem as esperava, até mesmo porque nunca houve um depósito legal para a nova edição, necessário, naquela época, para qualquer alteração no conteúdo da obra. Allan Kardec sempre realizou tais depósitos, quando necessário, para uma nova obra ou para uma nova edição, com alterações da anterior. É por isso de ele nunca fez depósito legal de nenhuma outra edição de A Gênese, pois, nas quatro primeiras edições, ela não sofreu alterações.

Tudo isso fica mais claro no vídeo abaixo. Convidamos o leitor a assistir, com atenção, e a deixar seu comentário aqui neste artigo.




A adulteração em A Gênese e o “CSI do Espiritismo”

Para quem acompanha nosso trabalho e já se inteirou das informações desta iniciativa, sabe que ela nasceu, principalmente, por uma grande agitação pessoal causada após a leitura das obras “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, e “Nem céu nem inferno: As leis da alma segundo o Espiritismo”, por Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo. Após ter contato com essas obras, que, reitero e defendo, são extremamente bem fundamentadas na evidência dos fatos históricos, aliadas à irretorquível racionalidade de seus autores e demais envolvidos, fica claramente evidente que o Espiritismo sofreu grande revés, após a morte de Allan Kardec, com a adulteração na letra, em A Gênese e em O Céu e o Inferno, e no movimento espírita. Não é o que pensa Carlos Seth, do CSI do Espiritismo, mas já falaremos sobre isso.

Na letra, duas obras do professor Rivail (Allan Kardec) sofreram adulterações, após sua morte, inserindo-se nela conteúdos que causam entendimentos diferentes daqueles que o Codificador e os Espíritos Superiores anteriormente refletiram nessas obras.

No movimento espírita a adulteração foi no sentido de que, conforme planos de Kardec, esse deveria deixar de ser centralizado em uma pessoa ou grupo, espalhando-se sobre incontáveis grupos, solidários entre si, continuando os estudos nos mesmos moldes de lógica, razão, concordância universal e, sobretudo, caridade e fraternidade. Após sua morte, o movimento, sob a nomenclatura da Sociedade Espírita Parisiense, fundada por Kardec, e às custas de suas notórias imagem e contribuição prévias, passou a ser regido conforme as vontades particulares e os interesses pessoais. Tornou-se, a referida Sociedade, o templo repleto de vendilhões.

Antes de continuar, contudo, eu peço: não acredite apenas em mim. Leia você também as referidas obras, além da obra “Muita Luz”, de Berthe Fropo, facilmente encontrada em PDF, na Internet.

Creio que como Espíritas devemos buscar o exemplo probo e justo do grande mestre, professor Rivail, que nunca dava afirmativa ou negativa sobre qualquer assunto sem, antes, dele se inteirar completamente. E aqui, não podemos fazer diferente, se realmente queremos ser leais à Doutrina Espírita que, para espalhar luz, carece de ser confirmada e compreendida por toda a parte.

Pois, bem! Regido por esse impulso, cheguei até uma página no Facebook chamada “CSI do Espiritismo“, onde, dentre alguns artigos, um há bastante especial, de Carlos Seth, do dia 04/11/2020, tratando a respeito de uma carta manuscrita, com a letra inconfundível de Allan Kardec, que daria a entender que, “sem sombra de dúvidas”, a obra “A Gênese” não teria sido adulterada em sua 5.ª edição, mas, sim, produzida pelo próprio Allan Kardec.

Quero adiantar que acho estranho um artigo de uma página supostamente espírita e que, pelo próprio nome, dá a entender o grande compromisso com a investigação, se basear apenas em um dos lados da história, não indo a fundo na citação e na análise das afirmações contrárias, como é o caso daquelas apresentadas largamente pela autora Simoni Privato na obra anteriormente citada e, depois, por Paulo e Lucas na obra “Nem céu nem inferno”.

É muito estranho, na verdade. Parece haver uma pressa, uma ansiedade mesmo, muito grande, em encontrar sequer uma fonte que dê embasamento, embora enviesado, à tese de que toda essa enorme quantidade de informações que apontam para adulterações não passariam, na verdade, de engano, ou que os autores tiveram mero descuido na análise peremptória de todo esse material.

É totalmente diferente do que fazia e do que recomendava Allan Kardec, que, por inúmeras vezes, apresentava e discutia as ideias contrárias, mesmo aquelas que poderiam, em um primeiro golpe de vista, conquistar simpatias contrárias ao Espiritismo. Ele, porém, não estava preocupado com isso. Sua preocupação era a verdade, haurida na verificação da lógica dos fatos e da razão.

De minha parte, não pretendo cometer o mesmo engano e, por isso, reproduzo abaixo alguns trechos desse artigo, que pode ser conferido na íntegra através deste link.

O artigo da página CSI do Espiritismo e minhas considerações

Vou destacar os trechos mais importantes do artigo citado, fazendo minhas considerações logo abaixo de cada trecho.

É informado por Allan Kardec (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito) que a tradução devia ser feita a partir da nova edição da obra (A Gênese), que estava naquele momento – em setembro de 1868 – sendo reimpressa e que esta continha correções e acréscimos importantes.

Isso não prova que se tratava de uma nova edição, mas, sim, da reimpressão, muito provavelmente da mesma edição – a 4a, em estágio de finalização naquele momento. Ora, não podemos supor que Kardec, metódico e sempre extremamente cuidadoso com tudo, haveria submetido uma nova edição para impressão sem que se houvesse realizado o depósito legal junto à Biblioteca Nacional, o que ainda era exigido por lei e que foi estritamente cumprido para todas as novas edições de todas as obras por ele produzidas.

Temos, ainda, aqui, algo muito substancial: em “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, a autora faz uma profunda explicação sobre como funcionavam as impressões naquele tempo. De forma resumida, enquanto a edição de uma obra não estivesse concluída, isto é, ainda houvessem correções a serem realizadas, elas eram feitas sobre tipos móveis, com a impressão de poucos exemplares. Após a finalização das correções e dos ajustes, os tipos móveis eram utlizados para a fundição de matrizes, que funcionavam como moldes para a produção de tipos fixos, em metal, para a produção em larga escala.

Acontece que existe uma declaração, do Sr. Rouge, tipógrafo das seis primeiras edições de A Gênese, afirmando que as matrizes da obra foram realizadas ao final de 1868 e cobradas do Sr Rivail (Kardec), ou seja, pouco após a citada carta em que ele fala em reimpressão da obra, por conter erros e acréscimos. Ou seja: a edição estava em fase final de elaboração, tendo sido concluída logo após!

Notamos que seria claramente possível a reimpressão de novas edições sem alterações. O contrário  (a realização de alterações) demandaria a submissão de novo registro na Biblioteca Nacional Francesa, sem o qual o autor estaria agindo ilegalmente e poderia enfrentar reações do próprio governo, então sob o Segundo Império, de Napoleão III.

A obra referida (A Gênese) teve 3 edições feitas com Kardec em vida. A 1ª edição da obra veio à luz, em Paris, no dia 6 de janeirode 1868, seguindo-se, nesse mesmo ano, a publicação da 2ª e da 3ª edições, absolutamente idênticas,
meras reimpressões da 1ª edição (é por isso que há apenas dois depósitos legais da obra: a primeira edição e a 4ª edição).

A 4ª edição, embora contendo na capa e na folha de rosto o ano de 1868, só foi publicada no primeiro semestre de 1869, já desencarnado o Codificador, mas guardando as mesmas características das três primeiras edições, com as quais não se diferencia em ponto algum, ou seja, produzida sobre as matrizes encomendadas pelo próprio Kardec ao final de 1868.

No manuscrito consta a informação de que as folhas impressas da nova edição (A Gênese) seriam enviadas por Allan Kardec (ao destinatário da carta para a tradução), além de dizer que existia cerca de metade delas (referência às folhas impressas com o conteúdo da nova edição) já prontas, comprovando que o mestre havia concluído o texto alterado da nova edição.

Eu não compreendo Francês, muito menos entendo a letra de Kardec. Tenho que considerar o que o autor do texto está dizendo e, aqui, me pergunto: afinal, se tratava de uma REIMPRESSÃO ou de uma NOVA EDIÇÃO? Contudo, ao buscar nos textos transcritos do francês (disponíveis aqui) não há, até onde vi, a palavra “édition” relacionada à obra A Gênese, tampouco à obra “O Céu e o Inferno”.

NOTA: após leitura cuidadosa, notei que, sim, a palavra “édition” – “nouvelle édition – nova edição – existe na carta original. Ainda assim, nesse momento, isso não prova que a suposta 5a edição, de 1869, seja integralmente das mãos de Kardec.

Considerando que as “provas impressas” já estavam sendo feitas pela tipografia em setembro de 1868, e se elas seriam enviadas para a tradução em alemão, podemos afirmar que temos um reforço substancial à hipótese da Declaração de Impressão de 04/02/1869 se referir à 5ª edição “revista, corrigida e aumentada”. Além disso, se as matrizes de impressão estavam praticamente prontas em setembro de 1868 – visto que a gráfica já estava imprimindo as folhas – a tentativa de quaisquer interferências no conteúdo da obra após o falecimento de Kardec, e antes da publicação da 5ª edição de 1869 – grifo meu – (abril, maio ou junho), seria bastante improvável. Como justificar qualquer alteração para o tipógrafo? Quem assumiria este custo de fazer uma nova diagramação de todo o livro e da confecção de novas matrizes? Por que? Que provas existem sobre esta hipótese?

A quinta edição somente foi publicada oficialmente em 1872. Existe, até o momento, UM exemplar de uma suposta quinta edição, de 1869, mas que se mostra evidentemente clandestina, como se pode observar aqui: https://espirito.org.br/artigos/sobre-5a-edicao-clandestina-genese-de-1869/

No manuscrito da carta de 25/09/1868 temos, também, a importante informação de que o livro “O Céu e o Inferno” iria, igualmente, ser reimpresso com correções (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito)

Mesmo caso. Reimpressão não é nova edição.

Ela é a fonte primária que comprova((Argumento falacioso, visto que parte da análise de apenas um lado dos fatos, e de forma enviesada.)) que Allan Kardec efetuou alterações no livro A Gênese, com correções e acréscimos importantes. Além de indicar que o mestre já havia iniciado o processo de reimpressão da nova edição da 5ª edição, já em setembro de 1868((Iniciar é diferente de finalizar. Naquela época, principalmente, o processo envolvia a impressão de exemplares para análise e correção. Apenas ao final disso, com a edição finalizada, fundia-se a matriz para a impressão em massa – o que nunca aconteceu, conforme relata Privato)). O manuscrito da carta confirma que pelo menos metade das folhas de impressão dos textos da edição revisada já estariam prontas naquela data((Isso apenas dá suporte à tese de que a nova edição estava em andamento, em pleno processo de revisão e correção, mas não finalizada.)).

Considerações finais

Apenas ao final do artigo citado, aparentemente como uma forma de “descansar” a consciência, há uma muito breve citação ao nome de Simoni Privato, com um agradecimento por seu trabalho fraternal (?), não havendo qualquer citação anterior, seja de sua obra, como bibliografia, a fim de buscar comparar as evidências por ela apontadas.

A página em questão, CSI do Espiritismo, vêm sendo largamente indicada como “fonte confiável”, como a última palavra a respeito dessas investigações, por diversas outras entidades, individuais ou representativas, como é o caso da FEB, em seu artigo “A propósito da suposta adulteração do livro O céu e o inferno, de Allan Kardec”. Acontece, porém, que não está havendo o necessário estudo metodológico e concordante, submetido à razão, sequer sobre esses FATOS:

  1. Constitui adulteração e, por isso mesmo, se torna ilegal, qualquer alteração em obra, realizada postumamente, que não seja para a atualização gramatical necessária. Kardec não estava vivo para dizer se queria aquela obra publicada daquela forma, ainda que ela tenha sido produzida por sua própria mão.
  2. Pelo simples fato de que não há depósito legal, por Allan Kardec, da 5a edição de A Gênese, nem da 4a edição de O Céu e o Inferno, cujas alterações, aliás, compreendem a eliminação do prefácio da obra, o que sequer faz sentido à razão, deveríamos nos manter, por segurança, com a 4a Edição de A Gênese e a 3a Edição de O Céu e o Inferno.
  3. A Sociedade Espírita de Paris, comandada por Leymarie, se distanciou totalmente dos propósitos de Kardec, deixando-se, esse infeliz senhor, sucumbir pela tentação da vaidade e do dinheiro. Chegou ao ponto de expulsar, de um dos apartamentos destinados por Allan Kardec a fins de caridade, um casal de idosos, por simples atraso nos pagamentos do aluguel, quando o mesmo e a Sociedade contavam com grandes somas de posses e dinheiro. Além disso, colocou de lado os planos para a continuidade do movimento espírita, com a multiplicação dos grupos de estudos e das “investigações” espíritas, regidas sob a metodologia necessária – ora, como poderiam aplicar tal medotologia aqueles que se veriam desmentidos por ela, não é mesmo?
  4. Uma das provas mais utilizadas para afirmar que a 5a edição foi de autoria integral do próprio Kardec, a tal 5a edição de 1869, apresenta em sua capa, como endereço de impressão, o novo endereço da sede da Sociedade Espírita Parisiense: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”.

Sabemos que Kardec morreu antes do estabelecimento da Sociedade no novo endereço, o que comprova que tal edição somente foi impressa após sua morte. Leia mais clicando aqui.

Algo muito grave, também, é que, indiretamente, está se imputando ao sr. Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) um crime grave: o de ter realizado uma nova edição, com alterações, sem a ter submetido legalmente, através do depósito legal necessário, como sempre o fez, afirmando-o, também, irresponsável. Ora, quem em sã consciência estudou Kardec um pouco mais aprofundadamente, facilmente verificará que uma coisa que ele jamais deixou de fazer foi agir séria e legalmente, tomando todos os cuidados para assegurar um futuro seguro para a Doutrina Espírita.

Aliás, de posse dos manuscritos de Kardec, disponibilizados pelo CDOR, da FEAL, foi possível identificar que:

Algumas cartas manuscritas demonstram que, em fevereiro de 1868, Kardec estava interessado em acrescentar trechos em A Gênese, pois era de seu costume, depois de um tempo do lançamento, revisar suas obras. Para isso, pediu conselhos aos espíritos para organizar esse trabalho.

Alguns amigos espirituais deram orientações para uma revisão da obra, com a expressa indicação para não alterar em nada as questões doutrinárias, como se percebe pelos seguintes trechos desta comunicação:

Minha opinião é que não há absolutamente nada de doutrina a ser retirado; tudo aí é útil e satisfatório sob todos os aspectos” e

É necessário deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público”.

No caso, além da demonstração jurídica da adulteração de A Gênese, também esta comunicação reforça o fato em razão das alterações doutrinárias identificadas na obra, com a supressão de diversos trechos em que Kardec critica a moral heterônoma do fanatismo religioso, dentre outras manipulações.

Ainda nesta comunicação, o espírito sugeriu também que ele trabalhasse sem pressa e sem dedicar muito tempo:

Sobretudo, não se apresse demais. (…) Comece a trabalhar imediatamente, mas não de forma exagerada. Não se apresse”.

https://espirito.org.br/autonomia/ncni-conselhos-sobre-a-genese/

Chega a ser um absurdo. Essas cartas acima citada estão disponíveis, no mínimo, desde 2020, e os confrades do “CSI do Espiritismo” nem tocam nesse assunto!

Esses fatos, somados a inúmeros outros, que, hoje, podem ser facilmente colhidos e verificados pelo trabalho dos autores citados, deveriam acender um grande, um enorme sinal de alerta nas instituições espíritas brasileiras, provocando a busca por uma profunda análise do passado, sem vieses (porque não basta tomar apenas um lado da história – aquele que mais agrada a determinadas opiniões) mas, sobretudo, pela recuperação dos projetos de continuidade e do modelo exemplar de Allan Kardec, esses sim esquecidos pelo tempo e, obviamente, por conta das adulterações no Movimento.

Essa sim, sem sofismas, é a verdadeira forma de prestar homenagem a esse homem, professor Hippolyte Leon Denizard Rivail, que, junto à sua esposa, Amélie Gabrielle Boudet, dedicaram seus tempo, felicidade, tranquilidade e saúde em nome da causa da caridade e da difusão da doutrina consoladora pela Europa e pelo mundo.




Primeira Reunião do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

– Agradecimentos iniciais aos participantes.

Descrição de como surgiu a iniciativa deste Projeto::

“O divisor de águas foi uma mensagem de Paulo de Tarso ( sobre a questão  Mãe: trabalha, espera, perdoa). Depois veio toda a  trajetória para Reforma Íntima intuída. Depois foi aparecendo a literatura sobre pedagogia do amor, postagem da Revista Espirita e caiu na minha frente o livro Nem Céu nem Inferno ( Paulo Henrique de Figueiredo  e Lucas Sampaio ). Depois, caiu outro livro: O legado de Allan Kardec ( Simoni Privato Goidanich). E foi surgindo a inspiração em um determinado sábado de agosto… Quando abri os olhos eu tinha montado este site TODO! Nascia O Grupo de Estudos  O legado de Allan Kardec”  https://geolegadodeallankardec.com.br/

Relato de Paulo Degering

 Resumidamente: No livro Nem Céu Nem Inferno os autores iniciam com a questão da adulteração que houve no livro O  Céu e O Inferno (Allan Kardec) e conta um pouco do que aconteceu. Eles dão provas de todo o desvio do conteúdo do livro de Kardec que teve. Nesse livro, eles citam o livro da O legado de Allan Kardec (Simoni Privato Goidanich)

Simoni Privato identificou a alteração na obra A Gênese ( Allan Kardec). Mostrou o que aconteceu no momento, muito bem fundamentado. Leiam o livro que faz parte das nossas recomendações.

A grande questão não é a adulteração.  A grande questão é o desvio que o movimento sofreu. Se tivesse sido do jeito que Kardec planejou, e continuados de forma metodológica, os espiritas estariam diferentes do que estão hoje. Deu entrada  para assuntos que não condiziam com a mediunidade. Por exemplo, na época, um senhor, em contato com um médium, recebeu mensagens de um Espírito Superior falso. Com tática, Kardec alertou que era falso. Ele não deu ouvidos, ele se fascinou. Na sequencia, Kardec desencarnou, esse médium se aproximou de Leymarie, e assim entrou na Sociedade Espírita e a sociedade caiu.

Se Leymarie tivesse  adotado a metodologia de concordância universal de Kardec, ele conseguiria verificar.

Leon Denis, Gabriel  Delanne, etc, não tomaram a frente com a energia necessária. Ficaram perdidos com o desencarne de Allan Kardec, a viúva de Kardec ficou frágil.

Depois de Kardec, alguns continuaram o movimento como Ernesto Bozzano. Ele prosseguiu em A crise da Morte. Ele buscou a mesma metodologia de Kardec. Isso foi se perdendo com o tempo, pois não tinha a mesma força.

– Temos que reiniciar o movimento, é importante estudar muito, mas temos que atualizar. Muitos falam que está ultrapassado, discordamos quanto ao fundamento: não está ultrapassado, mas desatualizado.

Pensamos que Kardec fez um grande trabalho na época dele, em apenas 11 anos, mas muita coisa merece uma atualização. Na época dele a prática mais comum era a psicografia. Hoje não é tanto. Para entender psicofonia tivemos que procurar outros meios como o autor Leon Denis para entender.

– Citamos o termo Karma O termo Karma não faz parte do Espiritismo.

– Citamos Perispírito: Tem várias camadas ou não? Como é isso? De onde vem a palavra Perispírito?  De onde veio?  O primeiro quem fez menção sobre falou foi Paulo de Tarso na Bíblia,. Ele usou o termo Corpo Espiritual que fazia a comunicação entre o corpo e Espírito. Depois, Paracelso (sec XVI) criou o nome Corpo Astral. Não se podia falar nada sobre Ocultismo naquela época por causa da Inquisição, então o termo virou Esotérico (que é ensinado a um grupo restrito e fechado).  Acontece que o termo Corpo Astral não é Esotérico, pois ele simplesmente quer dizer Corpo dos Astros, ou seja, fora da Terra. Depois,  Kardec não quis usar nenhum desses termos que remetiam ao Esoterismo ou a Bíblia e criou a palavra Perispírito, quer dizer, em volta do Espírito(Peri=em volta), mais técnico, sem misticismo. Depois André Luís veio com o termo Psicossoma, (junção de Psico=mente, Soma=corpo). Todos são a mesma coisa em outras palavras.

– As Obras de Chico Xavier trouxeram  muitos ensinamentos na obra de André Luís. Tem muita gente que fala que não pode ser aceita como Obra Espírita, pois não teve metodologia. É importante que busquemos a razão, mas a concordância pode ser atemporal. Tem muito ensinamento nessas obras. Por exemplo, as “Colônias Espirituais” que não foram mencionadas por Kardec, mas na obra de Bozzano fala disso, que as coisas pequenas podem ser moldadas. Por que uma colônia não poderia?  Quanto aos conhecimentos médicos citados nos livros ainda não se teve oportunidade de estender esse estudo. Tivemos que esperar. Outro exemplo:  a glândula que André Luís falou lá atrás, que agora com estudos comprovaram que é a Apatita o Cristal da Pineal. E mais: Ler André Luís é muito gostoso, pois ele fala do processo mediúnico, como se fosse uma chama, uma flor da glândula, o processo desencarnatório, quando ele vê a emanação do Perispirito depois do desligamento do corpo, que ele nem consegue desanexar direito com a questão que é do Espírito. Então, temos muito campo para avançar.

– Situação da Pandemia e Reuniões Espíritas. Há muitas complicações em fazer reunião mediúnicas virtualmente. Compreensão geral de que a Mediunidade está no dia-a-dia e não somente na reunião espírita. Tem gente que nem pensa que é mediunidade. E tem gente que confunde doenças com mediunidade e levam vida desregrada sofrendo influencia de maus Espíritos.

“Estamos vivendo um momento muito importante. Faz parte o aflorar da mediunidade em todo mundo. Parece que é o momento. As pessoas estão falando muito em ver coisas, sentem coisas, etc. Aumentaram muito o número de médiuns que não sabiam antes que eram médiuns. Estão olhando mais para dentro. O estudo ajuda a entender.  O estudo ajuda a se entender.  Com estudo podemos ajudar os outros a encontrarem saídas.”

por Paulo Degering

O estudo acalma. Nós nos tornamos mais conscientes do outro. Nós refletimos mais como reagimos. Sempre com vigilância.

Tem tanta gente que buscando o caminho certo pode fazer parte de um novo amanhã. A mediunidade serve para corrigir a gente e para levar luz para o mundo. Então temos um campo enorme de possibilidades.  Isso é para o futuro.

A sensitividade é a base de tudo: vem aquele sentimento, causa um incomodo e ela se  contamina energeticamente. Ou alguém chega da rua e você sente uma inquietação… Isso  está mostrando  que você não está equilibrado. Quando você sente alguém contaminado,  não justifica chegar perto desse  alguém e se contaminar. Não funciona assim. A contaminação não acontece tão facilmente assim.

– Relato de exemplo de que estudo melhora a educação mediúnica: “No começo, eu estava com a mediunidade toda aflorada, descontrolada, com Espíritos em casa, na rua, etc. Comecei a estudar, a dedicar, hoje em dia tudo isso passou. Parece que nem tenho mais mediunidade. Aprendemos ou pela dor ou pelo amor. Eu entrei pela dor. Que bom pois estou aqui com vocês. Fui obrigado a perder medo, pois não tenho mais medo dos Espíritos.”

por Joel Moura

– Temos que tirar o misticismo do sobrenatural quanto aos Espíritos. Eles estão a nossa volta. São iguais a nós, pensam e sentem como nós. Só estão sem corpo.  Tem dificuldades como todo ser humano tem. São fenômenos totalmente Naturais.

– Existem os Espíritos que querem fazer o mal. O que fazer? Fazer uma prece, o que seja, e olhar para dentro de mim. O que eu fiz, por qual motivo está acontecendo.

– Questão que mediunidade é seria, Kardec não tinha uma base. Ele fez a codificação, Ele  que estudou os efeitos, sofreu dificuldades por não conhecer nada. Hoje temos isso. Eu discordo de lugares que tem que estudar muito tempo para começar a fazer algo. Se a pessoa tem mediunidade ela tem que compreender o que está passando, buscar reforma intima, e assuma com seriedade. Kardec sempre procurava respostas nos médiuns.

– Paulo de Tarso antes de começar qualquer coisa, ele passou anos no deserto para começar a evangelizar. Ele teve uma historia muito bonita. Ele é a prova maior que a questão não é pecado. Quando você erra e tem culpa tem que levantar e pronto. E continuar se acredita nisso. Saulo era cruel, Paulo era o bem feitor. O cristianismo usou muito Paulo por ser convincente. Utilizaram-no para ele espalhar o evangelho, e ai que ele acordou. A espiritualidade foi muito inteligente em escolher ele.

– Nós vamos nos reunir semanalmente. O grupo se reunirá com periodicidade definida, às 19:30 de todas as quintas-feiras. Utilizaremos os diversos meios possíveis, buscando a realização de encontros on-line, gravados, a fim de disponibilizar o conteúdo desses estudos através de meios como o Youtube. Transcrições ou criação de artigos sobre esses conteúdos serão bem-vindas e serão disponibilizadas no acervo do grupo.  Uma vez por semana, tratando primeiramente da Revista Espirita de Allan Kardec. Para ficar claro:

No nosso site tem todas as informações de como tudo vai acontecer. Também tem a iniciativa para que outras pessoas criem seus grupos e talvez um dia se retornamos os estudos mediúnicos com os grupos confederativos como chamamos aqui . Talvez abrir outros grupos se tiver muita procura. Para nós nos basearmos, não estamos com tudo pronto, mas vamos ponderar e estruturar tudo. Para fazer um ponto inicial.

Parabéns a iniciativa.

Estamos todos juntos aqui. De verdade. Para vocês que chegaram e quem quer que venha: as pessoas certas vão chegando. Às vezes com dificuldades, mas com coesão e confiança sempre vamos conseguir ultrapassar os problemas.  O site está lindo e organizado, prático, muito bom.




Desafios da metodologia de Kardec nos dias atuais

À época de Kardec era fácil obter conteúdos com grande garantia de que não haviam sido “contaminados” por outros médiuns ou grupos, isto é, quando um mesmo ensinamento vinha de diversos pontos do globo, ou mesmo da Europa, ao mesmo tempo, era possível ter grande confiança de que o médium da Provença, por exemplo, não teve contato com o médium da Toscana, obtendo deste último e não da espiritualidade o conteúdo transmitido, mesmo que inadvertidamente.

Como adotar uma metodologia necessária, em tempos em que a comunicação pode estar no mesmo segundo do outro lado do globo? Em tempos de Internet e telefonia globais, isso se torna um grande desafio, mas cremos poder minorar essa possibilidade de enviesamento através dos seguintes preceitos metodológicos, de certa forma já prescritos por Allan Kardec:

  1. Os grupos constituídos precisam manter contato entre si, dando notícias de sua existência. 
  2. Através disso, poderão ser formados outros grupos, aos quais chamaremos Grupos Confederativos, por nos faltar termo melhor, constituídos de membros de cada um dos Grupos de Estudo, e que, obrigatoriamente, não sejam os médiuns que participam como medianeiros dos conteúdos transmitidos pela espiritualidade, nos Grupos de Estudo.
  3. Os membros dos Grupos de Estudo poderão compartilhar com os médiuns de seus grupos apenas o conhecimento que já tenha passado pelo crivo da concordância e da razão, através da verificação pelos Grupos Confederativos.
  4. Os conteúdos obtidos através dos médiuns de cada grupo de estudo não podem ser compartilhados com outros grupos de estudo, nem com outras pessoas fora desse grupo, senão com aquelas pertencentes aos Grupos Confederativos.

Desta forma, garante-se grande confiabilidade de que os ensinamentos provenientes de diversos grupos de estudo, através de seus médiuns participantes, não estão enviesados por conteúdos de outros grupos e médiuns. O trabalho do Grupo Confederativo, então, seria coordenar esses conteúdos, buscando analisá-los à moda de Kardec, aceitando aqueles que se mostrem concordantes e que atendam ao crivo da razão e da lógica, bem como aos ensinamentos já anteriormente positivados pelo mesmo método. Há, ainda, o problema que sempre existiu de determinado conteúdo estar enviesado por outros conteúdos previamente conhecidos, mas não necessariamente corretos, como é o caso da teoria dos sete corpos astrais. Contudo, aos grupos dotados de boa-fé e humildade, poderão facilmente verificar quais são os conteúdos que (1) vão contra aquilo que já estava positivado pela própria codificação kardequiana e que (2) poderão ser facilmente desmentidos pelo próprio estudo.

Lembramos que nossa condição não será a de pesquisadores que se ponham a fazer as mais variadas perguntas, esperando que sejam respondidas conforme nossa vontade, mas sim a de pessoas que, partindo do preceito da humildade e da disponibilidade em aprender, estarão atentas aos ensinamentos recebidos, procurando compreendê-los em sua extensão, dentro dos limites que a espiritualidade superior traçar para nós, assim como era feito à época de Allan Kardec. Assim, como Kardec, precisaremos organizar perguntas de forma construtiva, avançando ou modificando os rumos conforme forem dadas as respostas.