Eventos de Estudo com Paulo Henrique de Figueiredo
Deixamos, abaixo, uma playlist com vídeos bastante interessantes de estudos com participação de Paulo Henrique de Figueiredo, o pesquisador espírita atualmente mais expoente.
Deixamos, abaixo, uma playlist com vídeos bastante interessantes de estudos com participação de Paulo Henrique de Figueiredo, o pesquisador espírita atualmente mais expoente.
“Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade. – Constantino, Espírito Protetor. (Bordéus, 1863.)”
“Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!. . . sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados.” – Erasto, anjo-da-guarda do médium. Paris, 1863.
O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XX – Os trabalhadores da última hora » Instruções dos Espíritos » Os últimos serão os primeiros.
Como sempre, não podemos tomar nada literalmente. É claro que não podemos deixar de lado o trabalho, necessário para o sustento da carne, nem mesmo os momentos de alegria ou relaxamento, necessários à saúde do corpo… Também não significa sair às ruas incomodando os outros com falatórios sobre reencarnação. Mas significa estudar e produzir. Podemos, com um pouco que cada possa estudar e fazer, fazer muito mais. Trabalhemos, amigos.
É fato que somos eternos, mas não queremos alcançar mais cedo a felicidade daquele que vive no bem, sem a mácula das imperfeições? E não desejamos isso também para nossos irmãos? Faz cerca de 150 anos que a moral espírita deixou de se desenvolver. Estamos com a faca e o queijo em mãos, e com fome. Vamos estudar?
Ficam, aqui, algumas sugestões de estudos importantes do Espiritismo, realizados por nós e por grupos irmãos.
Clique para conhecer:
https://www.geolegadodeallankardec.com.br/artigos/category/bate-papo-espiritismo-para-todos/
Estudos, em português, realizados sobre a obra “A Gênese”, da editora FEAL, que é baseada na 4.ª edição, original, e não na 5.ª edição, adulterada.
Se você desejar informações sobre como participar ativamente dos estudos, entre em contato.
Estudos, em português, realizados sobre a obra “O Céu e o Inferno”, da editora FEAL, que é baseada na 3.ª edição, original, e não na 4.ª edição, adulterada.
Se você desejar informações sobre como participar ativamente dos estudos, entre em contato.
A crença na existência do mal, como algo criado por Deus (ou pelo “diabo”, quem, por ter sido criado por Deus, acarreta a mesma consequência) e que vem de fora, é algo muito difundido, em todo o mundo e em todas as crenças. O Espiritismo, porém, é a única doutrina filosófica, até hoje existente, a demonstrar, racional e factualmente, que isso não é uma verdade.
Começamos citando Kardec, em A Gênese, no texto “Fonte do Bem e do Mal”:
Sendo Deus o princípio de todas as coisas e, sendo esse princípio todo sabedoria, todo bondade e todo justiça, tudo o que provém dele deve compartilhar esses atributos, pois o que é infinitamente sábio, justo e bom não pode produzir nada irracional, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter originado dele.
Se o mal estivesse nas atribuições de um ser especial, seja ele chamado Ahriman, seja Satã((O zoroastrismo, religião ancestral da Pérsia, propunha a existência de deuses gêmeos: Ahura Mazda, da bondade e da luz, e Angra Mainyu, o Ahriman, deus das trevas e do mal. O mundo estaria numa batalha entre o bem e o mal. Satã, personagem da Bíblia, é identificado como anjo caído no novo testamento. (N. do E.))), de duas, uma: ou ele seria igual a Deus e, por consequência, também poderoso e eterno, ou seria inferior.
No primeiro caso, haveria duas potências rivais, lutando sem cessar, cada uma procurando desfazer o que o outro está fazendo, opondo-se mutuamente. Essa hipótese é inconciliável com a harmonia que se revela, na ordem do Universo.
No segundo caso, sendo inferior a Deus, esse ser estaria subordinado a ele. Não podendo ser eterno como ele sem ser seu igual; só poderia ter sido criado por Deus. Se foi criado, só poderia ter sido por Deus. Nesse caso, Deus teria criado o Espírito do mal, o que seria a negação de sua infinita bondade.
KARDEC, Allan. A Gênese. Editora FEAL. 2a edição, 2018.
Assim, Kardec demonstra que não seria possível a existência de um ser que desse princípio ao mal, pois, sendo esse princípio o próprio Deus, não estaria de acordo com seus atributos (sendo Ele o bem); sendo um outro ser, esse ser teria sido criado por Deus o que faria, portanto, que o mal ainda assim seria criação de Deus.
Em O Céu e o Inferno, Kardec fala da origem do princípio do bem e do mal:
Durante longos séculos e sob diversos nomes, o princípio duplo do bem e do mal foi a base de todas as crenças religiosas, sendo personificado nas figuras de Aúra-Masda e Arimã entre os persas, e de Jeová e Satã entre os hebreus. Entretanto, como qualquer soberano deve ser auxiliado por ministros, todas as religiões admitiram agentes secundários, os gênios bons ou maus. Os pagãos os representavam através de uma inumerável multidão de individualidades, cada qual com atribuições especiais para o bem e para o mal, para os vícios e as virtudes, e às quais deram o nome genérico de deuses. Os cristãos e os muçulmanos receberam dos hebreus os anjos e os demônios.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEAL. 1a edição, 2021.
Essas doutrinas, que, em verdade, respondem à moral heterônoma, levam à crença de que o mal é algo externo, definido. No caso das religiões cristãs, esse princípio foi reproduzido na crença dos anjos e dos demônios, e isso principalmente após a Igreja Romana se apropriar do cristianismo:
A doutrina dos demônios tem sua origem, portanto, na antiga crença dos princípios do bem e do mal. Vamos examiná-la aqui apenas do ponto de vista cristão, verificando se está de acordo com o conhecimento mais exato que temos atualmente dos atributos da Divindade.
Esses atributos são o ponto de partida, a base de todas as doutrinas religiosas((A confusão entre o princípio material de prazer e dor (bom e ruim) com o princípio da moral (bem e mal) é a base da heteronomia presente nas crenças das religiões ancestrais. O animal se submete aos instintos, agindo assim cegamente às necessidades das espécies. Mas o ser humano tem dupla natureza, participa da vida animal pelo corpo e da vida espiritual pela alma. Tratado servilmente, o ser humano torna-se máquina. Cabe ao espírito humano abandonar a condição heterônoma de sujeição à vontade de terceiros (fé cega e obediência passiva) pela conquista do livre-arbítrio e do senso moral, como propõe o Espiritismo. (N. do E.))). Os dogmas, o culto, as cerimônias, os costumes, a moral, tudo está em harmonia com a ideia mais ou menos justa, mais ou menos elevada que se faz de Deus, desde o fetichismo até o Cristianismo. Se a essência íntima de Deus é ainda um mistério para a nossa inteligência, compreendemo-Lo hoje, no entanto, melhor do que jamais foi compreendido, graças aos ensinamentos do Cristo. Ensina-nos o Cristianismo, em linha com a razão, que Deus é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, e infinito em todas as suas perfeições.
Assim, como foi dito antes (cap. VII, “Penas eternas”), “Se fosse subtraída a menor fração de um só de seus atributos, não mais haveria Deus, porquanto poderia existir um ser mais perfeito”. Tais atributos, em sua mais absoluta plenitude, são, portanto, o critério de todas as religiões, a medida da verdade de cada um dos princípios que ensinam. E, para que qualquer desses princípios seja verdadeiro, é necessário que não atente contra nenhuma das perfeições de Deus. Vejamos se assim acontece na doutrina comum dos demônios.
Ibidem
Kardec segue tecendo uma linha de raciocínio da qual não é possível fugir: ou Deus é soberano, em tudo, ou não é.
Segundo a Igreja, Satã, o chefe ou rei dos demônios, não é uma personificação alegórica do mal, mas efetivamente um ser real a fazer exclusivamente o mal, enquanto Deus pratica exclusivamente o bem. Tomemo-lo, portanto, tal qual nos é apresentado.
Satã existe de toda a eternidade, como Deus, ou é posterior a Ele? Se existe de toda a eternidade, ele é incriado, e, portanto, igual a Deus, caso em que Deus não mais seria único, pois existiria um deus do bem e um deus do mal.
Satã é posterior a Deus? Então ele é uma criatura de Deus. Uma vez que somente faz o mal, sendo incapaz de fazer o bem e de se arrepender, Deus terá criado um ser consagrado eternamente ao mal. Se o mal não é obra de Deus, mas obra de uma de suas criaturas predestinadas a fazê-lo, Deus será sempre o primeiro autor do mal, não sendo, portanto, infinitamente bom. O mesmo acontece com todos os seres maus, chamados demônios((Sabemos que a palavra “demoônio” vem do grego, e significa “gênio” ou “Espírito”.)).
Ibidem
Se, para dizer que Deus não criou o mal, diz-se que o diabo existe também de toda eternidade. Se assim fosse, então Deus não seria mais Deus, pois não seria único, já que existiria um deus do bem e um deus do mal.
Avança Kardec:
Segundo o Espiritismo, nem os anjos nem os demônios são seres à parte, já que a criação dos seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, eles constituem a humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas. Libertos desses corpos, constituem o mundo espiritual ou dos espíritos que povoam os Espaços. Deus os criou perfectíveis, dando-lhes por meta a perfeição e a felicidade que desta advém, mas não lhes deu a perfeição. Quis Deus que a atingissem pelo esforço pessoal, a fim de ter o mérito de sua conquista. Os seres progridem desde o momento de sua criação, seja encarnados ou no estado espiritual((As crenças heterônomas das religiões ancestrais afirmam a falsa ideia de que as almas foram criadas por Deus perfeitas em sabedoria e virtude. O mal se daria pelo pecado e ocasionaria a queda no mundo, onde as vicissitudes seriam castigos divinos. Assim, a humanidade inteira estaria nessa condição. Tudo muda com a teoria moral autônoma do Espiritismo, onde todas as almas são criadas simples, ignorantes e perfectíveis, a felicidade é a meta, e o mal, quando existe, é temporário, sendo superado pelo esforço. (N. do E.))) Chegados ao apogeu, tornam-se espíritos puros, ou anjos, segundo a expressão vulgar, de sorte que, do embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta em que cada elo assinala um passo na escala do progresso
Ibidem
Nós não somos, portanto, criados perfeitos. Somos criados simples e ignorantes e, pela nossa vontade, progredimos ou estacionamos, desenvolvemos virtudes ou imperfeições. Ora, já está estabelecido que a existência do diabo é, de fato, uma impossibilidade. Onde estaria o mal, então? O mal está em cada um, quando se afasta do bem por viver nas imperfeições.
Daí resulta existirem espíritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, conforme a posição que ocupam na escala((VIDE a “Escala Espírita“)). Há, portanto, espíritos em todos os graus de sabedoria e ignorância, de bondade e maldade. Nas classes inferiores há os que ainda são profundamente inclinados ao mal, comprazendo-se nele. Caso queiramos, podemos chamá- los de demônios porque são capazes de todas as transgressões atribuídas a estes últimos. Se o Espiritismo não os denomina assim, é porque tal nome se prende à ideia de seres distintos da humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, consagrados ao mal por toda a eternidade, incapazes de progredir na direção do bem.
Ibidem
Dissemos, então, que o mal é o afastamento do indivíduo da moral da lei divina, natural, para viver nas imperfeições. Queremos, portanto, entender: como se desenvolve o mal? Trataremos disso num próximo artigo, sob esse título!
Vivemos em um mundo até agora dominado pelos conceitos de heteronomia. Para bem entender esse conceito, precisamos analisar a etimologia da palavra: heteronomia é formada do radical grego “hetero” que significa “diferente”, e “nomos” que significa “lei”, portanto, é a aceitação de normas que não são nossas, mas que reconhecemos como válidas para orientar a nossa consciência que vai discernir o valor moral de nossos atos. Esse entendimento é fundamental, pois entender a moral autônoma faz total diferença no entendimento do Espiritismo.
No mundo heterônomo, nós atribuímos tudo a algo externo: a culpa está no diabo ou no obsessor, o efeito está na ira divina e a reparação está na imposição carmática. Tudo, absolutamente tudo no mundo heterônomo, vem como imposição externa, através de leis que respeitamos por obrigação, e não por entendimento. E na ausência dela ou de seus atores, nos vemos sem limites e sequer sem amor-próprio.
A heteronomia é algo inerente e talvez mesmo necessário a uma condição de pouco avanço espiritual, quando, sem o entendimento mais profundo dos mecanismos da vida e da evolução, somos forçados a atender, por medo, às imposições de leis divinas, humanizadas, ou mesmo das leis humanas, divinizadas. Infelizmente, como já sabemos, também é algo extensamente utilizado pelas religiões para manter o controle sobre seus fieis. Mas isso é algo que, conforme podemos constatar, vai se modificando conforme o avanço do Espírito humano, tanto em ciência quanto em moralidade.
Um grande problema do conceito da heteronomia, ou, antes, da crença nele, é que ele entrava por certo tempo a evolução do Espírito: ora, se o indivíduo acredita que suas dificuldades na vida são um castigo imposto por Deus, ele apenas aceita seus efeitos, de forma submissa (o que, sim, é importante), mas sem fazer nada para se modificar. Aguarda apenas o fim de suas provações. Nem mesmo a caridade pode ser realmente entendida e praticada em um contexto heterônomo, pois o indivíduo pratica a caridade esperando um retorno, sem entender que ela é uma obrigação moral e natural do ser pensante.
Outro ponto muito problemático é que quando o indivíduo acredita no castigo divino — e, pior ainda, no castigo eterno — é muito comum que perca qualquer limite após cometer um erro. Com certeza o leitor já ouviu inúmeras vezes a afirmação: “já vou para o inferno mesmo, então, um pecado a mais, tanto faz”.
Mas nos enganamos se pensamos que o conceito heterônomo se encontra apenas nas religiões. Infelizmente, mesmo no meio espírita, tal conceito também se infiltrou, sobretudo com a adulteração das obras O Céu e o Inferno e A Gênese, de Allan Kardec. Se hoje ouvimos constantemente, da boca de espíritas, as palavras “carma”, “lei de ação e reação”, “resgate”, isso se dá em grande parte por essas adulterações, passadas de geração em geração e que hoje fazem muitos de nós, espíritas, ainda acreditarmos que o “carma” faz eu renascer nessa vida para “resgatar” um erro passado.
Vejamos bem: é justamente uma das mais sérias adulterações em O Céu e o Inferno que incutiu esse pensamento heterônomo, que atrasa o avanço do Espírito, no seio de uma Doutrina que era totalmente voltada à autonomia do ser. No capítulo VII, item 9 da obra citada, vamos ler: “Toda falta cometida, todo mal realizado é uma divida contraída que deverá ser paga; se não for em uma existência, será na seguinte ou seguintes”. Esse item não existia até a morte de Kardec, sendo que só apareceu em novas edições feitas mais de dois anos após a morte do Professor.
Não — insisto em dizer: no Espiritismo não existe carma, nem “lei de ação e reação” e, muito menos, “resgate”. São conceitos que, no fundo, tem o mesmo efeito da crença no castigo divino e na queda pelo pecado, que foram, ambas, ideias superadas pelo Espiritismo.
Oposta ao conceito da heteronomia, a autonomia (auto — de si mesmo) coloca o indivíduo como peça central em sua evolução. Depende de sua vontade, única e exclusivamente, tanto suas ações, quanto seus pensamentos e os Espíritos atraídos ou repelidos por estes.
No conceito da autonomia, que não nasceu com o Espiritismo, mas que foi por essa Doutrina ampliado — e demonstrado — o Espírito é senhor de si mesmo e de suas escolhas desde o momento em que desenvolve a consciência e, com isso, passa a ter o livre-arbítrio. Escolhe, assim, entre bem e mau, ou melhor, escolhe sobre formas de agir frente às situações e se felicita ou não com seus efeitos. Contudo, quando o efeito é negativo, não significa que está sendo efetivamente castigado por um Deus punitivo, mas sim que está sofrendo as consequências morais de suas ações. E essas consequências morais só existem para o Espírito que já tem consciência de sua existência, razão pela qual os animais, por exemplo, não as tem.
É assim que, avaliando as consequências de nossos atos e, quando mais conscientes, as imperfeições morais que nos levam a cometer erros, nos impomos, a nós mesmos, vidas cheias de provas e de expiações, com o fim de tentar nos livrarmos dessas imperfeições, a partir do aprendizado:
“Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem”, quando desejam conquistar paciência, resignação ou saber agir com poucos recursos. Outros desejam testar se já superaram as paixões inferiores e então “preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar”. Aqueles que lutam contra os abusos que cometeram, “decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício” (O Livro dos Espíritos, p.220).
É claro: ao praticar o mal contra Espíritos Inferiores, teremos uma hipótese quase garantida de recebermos, em troca, a vingança; mas essa vingança, se houver, é efeito da escolha do outro Espírito, e não de uma reação “carmática” de uma suposta “lei de ação e reação” — que, aliás, é uma lei da Física Newtoniana, e não divina. Ao praticar a vingança, o outro Espírito também erra, pois dá margem ao hábito de suas imperfeições e, por isso, pode entrar em um círculo de erro e vingança com o outro que pode durar séculos. Quando isso não ocorre — e esse é o ponto-chave — o efeito é apenas o Espírito que erra permanecer por mais tempo afastado da felicidade dos bons Espíritos, por conta de suas próprias imperfeições.
Muitas pessoas, apegadas a velhos conceitos do passado, se sentem perplexas com tal afirmação, mas qualquer um que se tenha colocado dedicadamente a estudar o Espiritismo consegue perceber que a moral autônoma, em tudo, é colocada bastante clara aos nossos olhos, através da concordância universal dos ensinamentos dos Espíritos. O que ganhamos ao fazer o bem? Avançaremos mais rápido. E o que sofreremos ao praticar o mal? Ficaremos mais tempo retidos à inferioridade espiritual e à roda das sucessivas encarnações em mundos inferiores.
O Espiritismo nos demonstra que, ao entrarmos no círculo da consciência, passamos a versar sobre nossos próprios destinos, sendo que as provas e as expiações que enfrentamos na atual encarnação se devem às nossas próprias escolhas, realizadas antes de encarnarmos, ainda que muito difíceis, posto que, em estado de Espírito errante (libertos do corpo), avaliamos de forma muito mais clara nossas imperfeições e, assim, escolhemos oportunidades, ainda que sofridas, para aprendermos e nos elevarmos. O Espiritismo, aliás, quando bem compreendido, favorece muito a que tomemos melhores escolhas, pois paramos apenas de desejar a expiação de erros passados, numa mecânica de pecado e castigo, e passamos a escolher oportunidades que nos levem mais a fundo a aprender e a desenvolver melhores hábitos, abafando as imperfeições que tenhamos transformado em hábitos.
Já abordamos um caso bem típico, extraído da Revista Espírita, que trata da questão das escolhas do Espírito quanto às suas provas, tratado por Kardec na evocação do assassino Lemaire, na edição de março de 1858.
Outro caso bastante interessante é o de Antônio B, que, tendo emparedado viva sua esposa na vida anterior, não sabendo lidar com essa culpa, planejou uma encarnação onde terminou enterrado vivo, após ser pensado morto. Acordou no caixão e lá dentro padeceu horrivelmente até sua morte, como se tivesse “pagado” aquela dívida com sua própria consciência. O que realmente interessa nesse caso é que, efetivamente, em vida, foi um homem probo e bom, e não precisaria desse fim trágico para “quitar” qualquer coisa.
Uma prova racional de que não existe tal “lei”: se um Espírito inferior praticar o mal contra um Espírito superior, o que ele receberá em troca? Nada além de compreensão e amor. O próprio exemplo do assassino Lemaire nos demonstra isso. Onde estaria então o retorno? Num outro Espírito que Deus designaria para sua “vingança”, para “cobrar uma dívida”, tornando-o, assim então, também um Espírito em débito para com a Lei?
Não, prezado irmão: não existe retorno senão na constatação, cedo ou tarde, por parte do próprio Espírito, de que ele não é feliz enquanto for imperfeito. Claro, precisamos também lembrar: o Espírito se encontra no meio em que se apraz, e atrai para si os Espíritos de mesma vibração. Portanto, poderá até se sentir alegre, mas jamais será feliz o Espírito que, por suas predisposições, só atrai para si Espíritos inferiores. Nisso também consiste uma espécie de castigo.
A maior característica do Espiritismo é ser uma Doutrina científica racional, cuja teoria nasceu da observação lógica dos fatos e dos ensinamentos dos Espíritos. Ora, em se tratando de Deus, qual seria a razão de ele nos punir com castigos, sendo que ele nos criou e sabe que nossos erros nascem de nossas imperfeições? Não há racionalidade nisso. É como se puníssemos nossas crianças por errarem contas de matemática ou por colocarem o dedo na tomada: em ambos os casos, a dor ou a sensação de ficar para trás é a punição em si mesma e, ao adicionarmos a isso uma punição adicional, estamos apenas condicionando o ser a não pensar e apenas a ter medo de errar — e, portanto, a ter o medo de tentar.
Falávamos da razão: pois é por ela, principalmente, que o Espiritismo nos conduz a melhores escolhas evolutivas. Ao entender profundamente a Doutrina, deixamos de fazer escolhas por conta de imposições ou expectativas externas, seja porque “Deus quer”, porque “Jesus espera”, ou porque “o diabo assombra”. Passamos a fazer melhores escolhas, com uma vontade mais ativa, quando entendemos que, quanto mais tempo dermos margem às nossas imperfeições ou à nossa materialidade, mais tempo demoraremos para sair dessa “roda de encarnações” dolorosas e embrutecidas.
Também esse entendimento é um grande remédio contra o suicídio: não mais o vemos com as concepções de pecado e castigo — que ainda são divulgados e defendidos até no meio espírita — mas, sim, com o entendimento racional: se sou Espírito inferior, cheio de imperfeições, significa que a vida é rica oportunidade de aprendizado. Encurtá-la por minha escolha, além de ser uma enorme oportunidade perdida, será apenas perda de tempo, pois me verei, em Espírito, imperfeito como sou, talvez de forma ainda mais escancarada, e terei que voltar e recomeçar uma nova existência para poder aprender e me livrar das imperfeições que me impossibilitam de me tornar mais feliz.
Define assim Kardec, em Instruções práticas sobre as manifestações espíritas, de 1858:
EXPIAÇÃO — pena que sofrem os Espíritos em punição de faltas cometidas durante a vida corpórea. Como sofrimento moral, a expiação se verifica no estado errante; como sofrimento físico, no estado de encarnado. As vicissitudes e os tormentos da vida corpórea são, ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiação para o passado.
Parece, por esse texto, que Kardec então defendia que, sim, pagamos na vida atual pelos erros passados? Não exatamente. Não podemos esquecer que, para a Doutrina Espírita, a autonomia, ou o Espírito como ator central de tudo, é a peça-chave de tudo. Portanto, mesmo no caso da expiação, é algo que consiste na escolha do próprio Espírito, com o intuito de buscar superar uma imperfeição adquirida:
A duração do castigo está subordinada ao aperfeiçoamento do espírito culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr fim aos sofrimentos é o arrependimento, a expiação e a reparação – em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução por Emanuel G. Dutra, Paulo Henrique de Figueiredo e Lucas Sampaio. Editora FEAL, 2021.
E, para bem entender o uso dos termos castigo e punição, por Allan Kardec, é necessário entender o contexto filosófico do Espiritualismo Racional, no qual ele estava inserido. Já falamos sobre isso no artigo “Punição e recompensa: você precisa estudar Paul Janet para entender Allan Kardec“.
Contudo, bem sabemos que “os tempos são chegados” e que o planeta Terra deixará, lentamente, de ser um planeta de provas e expiações para ser um mundo de regeneração, onde deverá haver encarnações um pouco mais felizes do que as atuais. Usemos, um momento, a razão para avaliar tudo isso que temos exposto até aqui:
Se a Doutrina Espírita, nos ensinando a moral autônoma, nos traça melhores rumos e melhores escolhas, pensemos: o que ensina mais ao indivíduo? Um sofrimento de mesmo gênero e mesmo grau, como no caso de Antônio B, acima, ou, entendendo as imperfeições que nos levaram a praticar o mal, em primeiro lugar, uma vida cheia de oportunidades, muitas vezes bastante desafiadores e trabalhosas, de exercitarmos o aprendizado e a prática do bem?
Entende onde estamos chegando? Tudo, absolutamente tudo, depende de nossas escolhas frente à nossa capacidade de entendimento consciente de nós mesmos, e, nisso, o estudo do Espiritismo nos alavanca em vários degraus.
É por isso que o mundo vai deixar de ser um mundo de provas e expiações: porque os Espíritos que aqui encarnam passarão a escolher melhor suas encarnações, deixando de aplicar a si mesmos a lei de talião (olho por olho, dente por dente) para, então, cuidarem de desenvolver hábitos morais mais saudáveis. Até nisso contatamos que tudo parte do indivíduo para fora, e não o contrário.
Portanto, irmãos, avante: estudemos o Espiritismo de forma aprofundada e, hoje sabendo das adulterações em O Céu e o Inferno e A Gênese, estudemos as versões originais (já disponibilizadas pela FEAL) de modo a não mais perdermos tempo com conceitos heterônomos e, sobretudo, de modo a não mais repetirmos, no meio Espírita, as lastimáveis afirmações como aquelas que dizem que “fulano nasceu com problemas mentais porque está pagando por um erro na vida passada”. Isso, além de ser um erro absurdo, afasta as pessoas do Espiritismo.
Veja um exemplo:
Pasmemos: essa frase não é de Kardec. Nem parece ser sua, nem pode ser encontrada em NENHUMA de suas obras. Essa é uma prova a mais do quanto o Espiritismo foi invadido por falsas ideias, quase sempre antidoutrinárias.
Nossas provas são ricas oportunidades, quase sempre escolhidas por nós mesmos, sendo impostas apenas nos casos em que não temos condições conscienciais para tais escolhas e, mesmo assim, se dão por ação de benevolência de Espíritos superiores, e não como castigo divino.
A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza. (O céu e o inferno).
O maior castigo que há está em continuarmos por eras incontáveis nos arrastando na lama de nossas imperfeições. Isso já é o bastante.
Nota: o nome do artigo vem do texto de mesmo título, que serviu de inspiração a este, do livro Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo.
Sugerimos ao leitor os seguintes conteúdos complementares:
O Espiritismo “é uma revolução total que se opera nas ideias; revolução maior e mais poderosa porquanto não se restringe a um povo nem a uma casta, pois alcança simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos” (Allan Kardec – A Gênese)
Para chegar a essa revolução de ideias, que parte do indivíduo para seu círculo social e, daí, para o mundo, é necessário o estudo e o conhecimento, que alimenta e dá base à transformação individual e autônoma. Portanto, vamos estudar!
Nós nos reunimos semanalmente, às quartas-feiras, 15:00h (horário de São Paulo, GMT -3), a partir do dia 03/08/22.
Atenção: Começaremos no dia 03/08/22.
A obra em questão toca em temas bastante polêmicos, pois analisa vários dos problemas sociais e dos sistemas de reforma social, dentre eles o marxismo e o socialismo. Seguindo os passos de Kardec, destacamos que não será de nossa intenção fazer análises profundas sobre esses temas; nos limitaremos a amadurecer, junto ao autor, o entendimento da filosofia espírita em sua aplicação educacional, já que o Espiritismo promove uma revolução de ideias, que vão do indivíduo para a sociedade, respeitando a autonomia e a consciência de cada um, diferentemente do que propõe a maioria desses sistemas. Adentrar o caminho do debate dessas questões, que facilmente se torna um debate político apaixonado, não deve ser nosso propósito, e será, sempre, refreado, em nome do bom andamento de nossos estudos.
Para participar da sala de estudos, preencha o formulário abaixo. Você receberá no seu e-mail uma confirmação, que deve ser encaminhada para o endereço geolegadodeak@gmail.com.
De início, os estudos serão gravados, para posterior avaliação e postagem no Youtube (você deve concordar com isso). Contudo, não realizaremos transmissão simultânea desses estudos, de forma a melhor avaliar o conteúdo gravado.
O mundo só vai mudar quando a sociedade mudar, e essa só vai mudar quando o indivíduo conhecer e compreender a moral do bem, que é a Lei de Deus. Como atingir isso, senão pela educação de base, dentro e fora do lar? E como a moral do Espiritismo pode alavancar essa mudança?
Venha fazer parte desse estudo tão importante e especial. Dia 19 de SETEMBRO de 2022, às 19h de Brasília (GMT -3).
Você pode acompanhar a live pelo nosso canal do Youtube – https://youtu.be/vW8TeJoKASE – ou pelo Facebook – https://fb.me/e/1xarUPHXF – mas também pode participar da sala de bate-papo. Para receber o link de acesso, basta preencher o formulário abaixo.
Recomendamos, para esse evento, acompanhar, com atenção, o vídeo seguinte:
Muitos tem falado num silêncio que o Movimento Espírita precisaria romper com relação à política. Devemos lembrar, é claro, que o silêncio do Movimento Espírita não se reflete tão-somente ao cunho político, mas é um silêncio generalizado ante à própria Doutrina, que recentemente se agita sob os estudos das obras originais de Kardec e das obras que retomam conhecimentos esquecidos no tempo.
É, claro que, no que tange à política, nós jamais estaremos apoiando quem quer que vise ligar o Espiritismo às ideologias, sobretudo quando essas ideologias não se pautam pelas ideias que expressaremos a seguir.
São várias as iniciativas que estão buscando se contraporem ao silêncio citado. Somente de grupos de estudos, conhecemos três ou quatro bastante fortalecidos, além dos papéis dos pesquisadores atuais, dentro os quais não é possível deixar de destacar Paulo Henrique de Figueiredo, em seu extenuado trabalho de recuperação das informações desconhecidas, principalmente aquelas relativas à moral autônoma e ao espiritualismo racional, bem como no trabalho tão importante que é retomar as obras originais de Kardec, não adulteradas.
Pois bem: esse trabalho, que prima pela questão da autonomia, toma por base inquestionável o poder de escolha autônoma que o Espírito deve ter. Não faltariam as citações, na obra de Kardec, dele e de Espíritos diversos, a esse respeito: o Espírito, para se modificar realmente, precisa agir por sua livre vontade e pela razão, sendo que esta dá base à outra. Não existe nenhuma iniciativa, política ou não, que tenha obtido sucesso em qualquer mudança social, duradoura e real, por menor que ela seja, com base na autoridade, apenas. É por isso que vejo sempre com muito cuidado o assunto da política atrelado a qualquer pensamento espírita: ele deveria, inexoravelmente, ser pautado pelo princípio da moral, aplicada às relações, desde os primeiros passos da criança sobre este planeta.
Não canso de destacar, e esta será sempre minha bandeira, após compreender o Espiritismo em sua essência: a transformação social somente se dará pela transformação do indivíduo, através da educação familiar e escolar. É para isso que precisamos voltar TODOS os nossos esforços, dentro e fora da política, sendo que o último seria um meio eficaz para fazer retornar à sociedade a moral pautada pelo Espiritualismo Racional, que compreende e distingue a diferença entre felicidade e infelicidade, que são características dos avanços da alma em direção ao bem, das emoções e dos prazeres, que são puramente materiais. É esse o entendimento que falta. O homem deixará de viver sob as pontes quando ele entender que depende de si mesmo, e de ninguém mais, seu progresso, e quando os demais compreenderem que a caridade é um dever moral e desinteressado, indo muito além da esmola que humilha as partes.
Voltemos nossas inteligências a esse propósito, prezados irmãos! As crianças continuam se tornando jovens e adultos repletos de imperfeições adquiridas, ou daquelas não corrigidas, em grande parte puramente pelos maus hábitos da educação, simplesmente porque ninguém está atento à necessidade urgente de chamar à razão a família e todos os funcionários da educação, pública e particular. Kardec via com olhos radiantes o futuro, porque acreditava que o modelo educacional, pautado pelo Espiritualismo Racional, continuaria a florescer e a se espalhar… Mas o apagar das luzes do século dezenove também jogaram nas sombras as filosofias que elevavam a alma acima da puerilidade da matéria.
Precisamos retroceder e entender Rousseau, Pestalozzi, Rivail, Biran, Janet e tantos outros livres-pensadores que jamais desejaram provocar as mudanças pela força, pois cedo perceberam que ela, em realidade, apenas produz agastamento e irritação. Diria Rivail, em seu “Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública”:
“A criança irritada, e não persuadida, se submete somente à força; nada lhe prova que ela agiu mal; ela sabe apenas que não agiu conforme a vontade do mestre; e esta vontade ele a considera, não como justa e razoável, mas como um capricho e uma tirania; ela se acredita sempre submetida ao arbítrio. Como se faz com que ela sinta comumente mais a superioridade física do que a superioridade moral, ela espera com impaciência ter ela própria bastante força para se subtrair a isso; daí este espírito hostil que reina entre os mestres e os seus alunos.”
Assim será, porque assim é, em qualquer aspecto do Espírito. Rivail não pensava nisso, quando escreveu essa obra, mas nós hoje sabemos, como ele veio a saber depois: a criança está animada do mesmo Espírito do adulto, apenas pouco mais limitado em suas percepções e capacidades. É o seu Espírito, portanto, e não seu corpo, que não se submete à força. Lembremos disso.
Paulo Degering Rosa Junior