Uma pedra sobre o negacionismo ao redor das adulterações das obras de Allan Kardec

Prezado leitor, seremos breves sobre o assunto, colocando uma pedra sobre o negacionismo ao redor das adulterações das obras de Allan Kardec. A bibliografia utilizada consta ao final. O texto será apresentado em tópicos sucintos, para facilitar a leitura.

Antes de começar, saiba que você pode obter as obras originais de Kardec, já liberadas em PDF pela editora FEAL, clicando aqui.

1. A figura de Roustaing

Por volta da década de 1860, emerge a figura de Jean-Baptiste Roustaing, influente e rico advogado francês, buscando se projetar no meio espírita. Esse senhor passa a receber psicografias, por meio de apenas uma médium, de um ou mais Espíritos que se diziam os próprios evangelistas, reproduzindo dogmas absurdos, dentre os quais ((ROUSTAING, Os Quatro Evangelhos, volumes I a IV, FEB)):

  • o dogma da queda pelo pecado, afirmando que o indivíduo só precisa encarnar depois que comete um erro;
  • o dogma do corpo fluídico de Jesus, afirmando que ele nunca esteve encarnado entre nós, sendo apenas uma materialização;
  • o dogma da retrogradação da alma (“involução”), ao afirmar que o Espírito que erra muito encarna como uma lesma (“criptógamo carnudo”).

2. Roustaing odiava a ciência espírita

Roustaing e seus seguidores passaram a odiar a ciência espírita e o método de Kardec, pois esse método era o seu calcanhar-de-aquiles, facilmente colocando abaixo sua teoria. Esse ódio transparece na publicação, em 1882, do panfleto Les quatre évangiles de J. B. Roustaing- réponse à ses critiques et à ses adversaires, édité par les élèves de J. B. Roustaing (Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing — resposta a seus críticos e a seus adversários, editado pelos discípulos de J. B. Roustaing), um panfleto escrito dezesseis anos antes por Roustaing.

As intenções de Roustaing são confirmadas pelos Espíritos, quando Kardec, em 16 de setembro de 1862, questiona a respeito desse senhor, que desejava que Kardec fosse até sua casa, ao invés de visitar os espíritas operários:

Não, em geral, ele passa por um entusiasta, exaltado, querendo se impor.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Nem Céu, Nem Inferno: as leis da alma segundo o Espiritismo. Editora FEAL, 2020.

3. A nova edição de O Céu e o Inferno

Logo após a morte de Kardec, surge uma nova edição de O Céu e o Inferno, contendo, dentre tantas alterações terríveis:

  • A remoção do prefácio da obra, onde Kardec expõe justamente o método científico necessário para a Doutrina Espírita;
  • A alteração completa do capítulo VIII, tornando-se VII, com a criação do subtítulo “Código Penal da Vida Futura”, um título absurdo, nele inserindo o item 10, onde se diz que todas as vicissitudes que aqui sofremos seriam resultados de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, nesta ou em outras vidas. O efeito dessa ideia é, por força de lógica, admitir que todas as dificuldades que passamos seriam fruto de imperfeições adquiridas, como espécie de castigo, levando à ideia de que só encarnariam aqui Espíritos imperfeitos, necessitando de correção — o mesmo dogma de Roustaing, extenuadamente combatido por Kardec e pelos Espíritos.
  • A perda da correspondência entre os 25 itens do capítulo VIII com o restante do livro.

4. A nova edição de A Gênese

Em 1872, surge a nova edição de A Gênese, onde constam adulterações muito importantes:

Removido o item 2 do capítulo IV, onde Kardec fala justamente sobre os princípios de fé cega e obediência passiva: “A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame”.

  • Sobre a desaparição do corpo de Jesus, foi removido o item 67, em que Kardec trata da questão do desaparecimento do corpo de Jesus, afirmando que a questão ainda não havia sido completamente solucionada pela ciência espírita: “Ora, até o presente, nenhuma das [opiniões pessoais] que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle”. Lembre-se: Roustaing admitia o dogma de que Jesus estava entre nós apenas em materialização do corpo fluídico, e odiava o método do duplo controle ((“Esse duplo controle é basilar e obrigatório para a aceitação de qualquer novo conceito fundamental da doutrina espírita por Kardec. Enquanto isso não tenha ocorrido, será considerada simples opinião, quer tenha vindo de um homem, quer de um Espírito” — FIGUEIREDO, 2021)).
  • No capítulo XVIII, item 20, foi removido todo o trecho em que Kardec diz: “Longe de substituir um exclusivismo por outro, o Espiritismo se apresenta como campeão absoluto da liberdade de consciência”.
  • No item 24 do mesmo capítulo, foi removido todo o item 24, em que Kardec faz grave observação acerca dos inimigos do progresso moral (grifos nossos):

Dizer que a humanidade está madura para a regeneração não significa que todos os indivíduos estejam no mesmo degrau, mas muitos têm, por intuição, o germe das ideias novas que as circunstâncias farão desabrochar. Então, eles se mostrarão mais avançados do que se possa supor e seguirão com empenho a iniciativa da maioria.

Há, entretanto, os que são essencialmente refratários a essas ideias, mesmo entre os mais inteligentes, e que certamente não as aceitarão, pelo menos nesta existência; em alguns casos, de boa-fé, por convicção; outros por interesse. São aqueles cujos interesses materiais estão ligados à atual conjuntura e que não estão adiantados o suficiente para deles abrir mão, pois o bem geral importa menos que seu bem pessoal — ficam apreensivos ao menor movimento reformador. A verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade para certas pessoas está inteiramente naquilo que não lhes causa nenhum transtorno. Todas as ideias progressivas são, de seu ponto de vista, ideias subversivas, e por isso dedicam a elas um ódio implacável e lhe fazem uma guerra obstinada. São inteligentes o suficiente para ver no Espiritismo um auxiliar das ideias progressistas e dos elementos da transformação que temem e, por não se sentirem à sua altura, eles se esforçam por destruí-lo. Caso o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Nós já o dissemos em outro lugar: “Quanto mais uma ideia é grandiosa, mais encontra adversários, e pode-se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais seja objeto”.

5. Adulteração publicada em Obras Póstumas

Na publicação de Obras Póstumas, por Pierre Gaetan Leymarrie, o autor insere uma psicografia adulterada, na qual Kardec está solicitando conselhos sobre a nova edição de A Gênese, que ele estava, sim, elaborando:

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrinatudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa psicografia clicando aqui.

Leymarie, buscando reforçar a ideia de que a quinta edição de A Gênese (já colocada sob questionamento desde aquela época) teria sido produzida pelas mãos de Kardec, utiliza apenas o trecho final desse diálogo, descartando o início dele e inserindo um trecho que não existia, no começo:

22 de fevereiro de 1868.
(Comunicação particular — Médium: Sr. D…)
A gênese

Em seguida a uma comunicação em que o Dr. Demeure me deu conselhos muito sábios sobre modificações a serem feitas no livro A gênese, para a sua reimpressão, da qual ele me concitava a cuidar sem demora, eu lhe disse:

— A venda, até aqui tão rápida, sem dúvida esfriará; foi um efeito do primeiro momento. Creio bem que a quarta e a quinta edições custarão mais a esgotar-se. Todavia, como é preciso certo tempo para a revisão e a reimpressão, cumpre que eu não esteja desprevenido. Poderias dizer-me de quanto tempo, mais ou menos, disponho para tratar disso?

Resposta — É um trabalho sério essa revisão e eu te aconselho que não tardes muito a começá-lo. Será melhor que o tenhas pronto antecipadamente, do que ficarem à tua espera. Contudo, não te apresses demais. Sem embargo da aparente contradição das minhas palavras, tu de certo me compreendes. Põe-te desde já a trabalhar, porém, não lhe consagres excessivo tempo. Faze-o com o devido vagar; as ideias se te apresentarão mais claras e o teu corpo lucrará, fatigando-se menos.

Deves, entretanto, contar com um esgotamento rápido dos volumes. Quando nós te dizíamos que esse livro seria um grande êxito entre os que tens tido, referíamo-nos simultaneamente a êxito filosófico e material. Como vês, eram justas as nossas previsões. Importa estejas pronto para qualquer momento; as coisas se passarão com maior rapidez do que supões.

6. O fato jurídico insuperável

São fatos jurídicos incontestes as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal — assim afirmam ao menos quatro operadores jurídicos especializados: Simoni PrivatoJúlio NogueiraLucas Sampaio e Marcelo Henrique. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra. Infelizmente, leigos em matéria de direito autoral têm encontrado ressonância em alguns indivíduos e, também, na Federação Espírita Brasileira, trabalhando por manter uma tese negacionista e contrariando a lei.

7. Late como cão, abana o rabo como cão, tem forma de cão, mas é um pássaro?

Tendo chegado aqui, tendo dado a devida atenção aos fatos, verificáveis na bibliografia indicada, o prezado leitor, além de tudo agindo de maneira racional e lógica (e respeitando a lei) não poderá ter nenhuma dúvida sobre os fatos das adulterações. Dizer em contrário seria contraria a lei e renegar aquilo que é transparente. Afinal, se late como cão, abana o rabo como cão, tem forma de cão, definitivamente é um cão, e não um pássaro — mas “alguns” querem que seja.

Ora, prezado leitor, para dar azo à tese negacionista desses senhores, tentando sustentar que não foram adulterações, mas sim modificações feitas pelas mãos de Kardec:

  • seria, em primeiro lugar, necessário contrariar a lei;
  • seria necessário ignorar, voluntariamente, que Roustaing odiava a ciência espírita e que queria tomar o lugar de Kardec;
  • seria necessário ignorar, voluntariamente, que Guerin, influente e rico seguidor de Roustaing, ofereceu sua influência ao redor dos novos presidentes da Sociedade Anônima;
  • seria necessário admitir que Kardec, sem nenhuma explicação possível, removeu trechos tão importantes justamente nos pontos de maior choque com as teses roustainguistas ou seu modus operandi;
  • seria necessário admitir que Kardec contrariou a ciência espírita, para dizer, na adulteração de O Céu e o Inferno, que todas as vicissitudes que aqui sofremos seriam resultados de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, nesta ou em outras vidas. O efeito dessa ideia é, por força de lógica, admitir que todas as dificuldades que passamos seriam fruto de imperfeições adquiridas, como espécie de castigo, levando à ideia de que só encarnariam aqui Espíritos imperfeitos, necessitando de correção — exatamente a tese roustainguista, “por acaso”. Isso é falso e, aliás, é desmentido inclusive na Gênese adulterada, na análise da passagem do Cego de Nascença: “Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso”.
  • seria, necessário ignorar voluntariamente que Leymarie, para dar suporte à tese de que a 5⁠ª edição de A Gênese teria sido produzida por Kardec, publicou uma psicografia adulterada, cortando a parte que toca na importância de NÃO REMOVER NENHUMA IDEIA DOUTRINÁRIA, coisa feita na adulteração.
  • seria necessário aposentar a racionalidade frente a coisas tão óbvias, deixando de lado a orientação tão importante de Erasto: “Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa” (item 230 de O Livro dos Médiuns).

8. Conclusão

Não estamos aqui para tentar forçar o entendimento de quem não quer entender e, por desejar admitir sofismas, dá azo à fascinação — como Roustaing fez, frente a ideias tão absurdas como aquelas. Para quem quer entender, está claro como água. Que cada um cuide de investigar melhor para chegar às suas próprias conclusões — após ter investigado tudo, e não antes.

9. Bibliografia




O desvio da Federação Espírita Brasileira: como o roustainguismo afastou do Espiritismo o Movimento Espírita

O que se conhece de Espiritismo no Brasil passa, necessariamente, pela imagem de um Movimento Espírita formado majoritariamente pela influência da Federação Espírita Brasileira. Contudo, quanto mais estudamos, mas estranhamos a distância inquestionável desse Movimento com o Espiritismo original. Começamos a nos perguntar, então: “o que aconteceu?”. Informações recentemente descobertas nos colocaram a par daquilo que, para alguns, já é muito claro, há muito tempo.

Tudo começou com a leitura de Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec, de Wilson Garcia. O fato inconteste, finalmente vem dar luz às nossas dúvidas: a Federação Espírita Brasileira é uma instituição de tradição e raízes roustainguistas, desde seus primeiros passos!

Roustaing

Roustaing — Jean-Baptiste Roustaing — para quem não sabe, foi um poderoso advogado à época de Kardec. Resumidamente, passou a receber comunicações espíritas através de uma médium — sim, apenas uma médium. Nessas comunicações, “os Espíritos” (provavelmente era apenas um) apresentavam-se como sendo os quatro evangelistas e diziam que ele, Roustaing, era o Revelador das Revelações. Não é necessário dizer que isso era uma flagrante mistificação, é? Diremos: isso era uma flagrante mistificação, facilmente reconhecida por alguém que conhecesse profundamente a ciência espírita. Esse alguém, Kardec, critica a obra transmitida por esses Espíritos, “Os Evangelhos”, e, assim, tocando no orgulho e na vaidade gritantes daquele senhor, cria um novo inimigo.

Dentre os dogmas admitidos por esse senhor, estava a ideia de que um Espírito que erra muito é enviado para um planeta inferior, onde encarnaria como uma lesma (“criptógamos carnudos”). Havia também o dogma da queda pelo pecado, onde o ser humano somente teria que encarnar após cometer um erro e, assim, adquirir uma culpa que o projetaria a um castigo, pela encarnação — a mesma ideia inserida na adulteração de O Céu e o Inferno — bem como o dogma de que Jesus era apenas um agênere, ou seja, jamais encarnou entre nós.

Ideias místicas, por alguma razão que não compreendemos, agradam a muitos, por mais complicadas e sem sentido que possam nos parecer, frente à inquebrantável cristalinidade do Espiritismo. Assim, essas ideias encontraram coro ainda em território Francês, inclusive por Leymarrie, responsável maior pela adulteração dos propósitos da Sociedade Anônima e da Revista Espírita, após a morte de Kardec. Logo, essas ideias foram importadas para solo brasileiro, onde se fundou o Grupo Sayão ((Antônio Luis Sayão, esse mesmo, cultuado pela FEB)), ou Grupo dos Humildes, ou Grupo Ismael. Nesse grupo, aliás, comunicava-se o Espírito do “Anjo” Ismael, reproduzindo diversos absurdos misticistas, o mesmo “Anjo” Ismael que aparece em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, uma obra produzida por um Espírito mistificador, repleta de absurdos misticistas e mesmo de mentiras. Desse grupo fazia parte, também, o tão conhecido Dr. Bezerra de Menezes. É.

FEB, roustainguista

Antes do Grupo Sayão, fundou-se o Grupo Confúcio. A esse Grupo pertenceram, entre outros, o Dr. Siqueira Dias, Dr. Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, Dr. Antonio da Silva Neto, Dr. Joaquim Carlos Travassos, Prof. Casimir Lieutaud. Muitos desses vocês verão no material disponibilizado, declarando sua “fé” em Roustaing e nos seus quatro Evangelhos. A esse grupo seguiu a Sociedade de Estudos Espíritas “Deus, Cristo e Caridade”, fundada em março de 1876. “Deus, Cristo e Caridade” é, até hoje, o lema da FEB.

“Acedendo Bezerra de Menezes em aceitar a Presidência da Federação, em 1895, o ‘Grupo Ismael’ acompanhou o apóstolo, apoiou-o na direção da Casa e integrou-se a ela”, conforme se lê no portal da própria FEB (A FEB – Origens), acessado em 23/06/2024. Assim, passou a dominar a FEB um grupo roustainguista, que se estabeleceu e criou raízes que atravessariam o século XX, adentrariam o século XXI e, nos primeiros anos desse, em 2018, embora deixassem o estatuto febiano, que anteriormente obrigavam o estudo e a disseminação dessas obras, continuaram em suas entranhas, posto até hoje essa instituição não ter assumido publicamente seus desvios e se comprometido à reparação.

O coordenador da Assessoria jurídica do CFN, Francisco Ferraz Batista, apresentou o resultado dos processos havidos na 29o Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro, sobre a retirada, do Estatuto da FEB, da parte do item referente à divulgação e estudo das obras de J.B Roustaing. Os resultados foram favoráveis à FEB, para a retirada do referido trecho do item do seu Estatuto, o que deverá ocorrer, formalmente, em reunião da Assembleia Geral.

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Conselho Federativo Nacional. Ata da Reunião Ordinária do CFN – 2018. Disponível em: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2019/01/CFN_FEB_Ata_da_Reuniao_Ordinaria_de_2018.pdf. Acesso em: 24 jun. 2024.

Julio Nogueira, no artigo “Breve exame dos estatutos da FEB ((NOGUEIRA, Julio. Breve exame dos estatutos da FEB. Disponível em: http://www.telma.org.br/artigos/breve-exame-dos-estatutos-da-federacao-espirita-brasileira-1883-1924-mudanca-de-orientacao-inicial-inclusao-de-roustaing-so-realizada-na-reforma-estatutaria-de-1917-criacao-de-sistema-de-poder-exclusivista-que-nao-nasce-do-consenso-ent. Acesso em: 24 jun. 2024.))”, explica bem sobre o estatuto febiano e suas relações com Roustaing.

A FEB deixou o roustainguismo?

A retirada desse trecho do estatuto da FEB obviamente não retirou Roustaing de suas entranhas, posto que continua constando a obrigatoriedade do estudo de “Brasil, Coração do Mundo”, obra que continua sustentando a mentira sobre Roustaing, destacada por nós em negrito:

“Segundo os planos de trabalho do mundo invisível, o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de João-Batista Roustaing, que organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico”.

CAMPOS, Humberto de. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB – Federação Espírita Brasileira, 1938. Disponível em: https://files.comunidades.net/portaldoespirito/Brasil_Coracao_do_Mundo_Patria_do_Evangelho.pdf. Acesso em: 24 jun. 2024.

É assim que, “para ser espírita”, na generalidade dos centros espíritas em que se pise, te direcionarão à catequização febiana, estudando o “Espiritismo” não nas obras de Kardec, mas nas apostilas da Federação Espírita Brasileira, onde, trazendo como obra básica “Brasil, Coração do Mundo”, valida-se ao mesmo tempo a mentira sobre a figura de Roustaing e o misticismo do “anjo” Ismael. Valida-se, por conseguinte, toda a tradição febiana e o descarte de toda a metodologia e toda a organização necessárias para a continuidade do desenvolvimento do Espiritismo, substituindo-se toda a ciência espírita pela crença cega nos Espíritos e nas personalidades chanceladas pela FEB…

Cita Sérgio Aleixo:

Conforme prevê o assim chamado “Pacto Áureo” (05/10/1949), “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”. Pois bem! Isto passou ao art. 63 do estatuto da Casa-Máter do rustenismo no mundo, que registra:

O Conselho [Federativo Nacional da F.E.B.] fará sentir a todas as sociedades espíritas do Brasil que lhes cabe pôr em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier.

Entre outras piadas de além-túmulo, no capítulo I desta obra, “a amargura divina” de Jesus “empolga” toda uma “formosa assembleia de querubins e arcanjos” e ele, “que dirige este globo”,[1] não sabe sequer onde é o Brasil.

ALEIXO, Sérgio. O roustainguismo nas obras de Chico Xavier. Disponível em: https://memoriaspirito.wordpress.com/roustainguismo-herculano-pires/roustainguismo-chico-xavier-sergio-aleixo/. Acesso em: 24 jun. 2024.

Poderíamos estender este artigo longamente, demonstrando que os presidentes dessa instituição sempre foram roustainguistas; que a FEB, várias vezes, conforme se lê em O Reformador, colocou Roustaing acima de Kardec; que a FEB, no início do século XX, publicou a obra Os Evangelhos, de Roustaing, trazendo, no prefácio, uma verdadeira afronta a Kardec, ao Espiritismo e aos espíritas confessos. Deixaremos essa constatação a cargo do prezado leitor, que encontrará no material aqui disponibilizado, obtido em grande parte do próprio site da FEB (no Google, pesquise assim: “site:febnet.org.br Roustaing”), a prova do que ora dizemos. Limitamo-nos a destacar a seguinte imagem, obtida de um documento oriundo do site da própria FEB:

https://www.febnet.org.br/ba/file/Horarios/3_feira_O_Evangelho.pdf

Importante também destacar que, no domínio da FEB, consta um glossário, “Espiritismo de A a Z”, constando a explicação de termos e vocábulos — à luz do Espiritismo, óbvio? Não. À sombra de Roustaing:

http://www.sistemas.febnet.org.br/site/az/AZ-Vocabulos-e-Conceitos.php?CodVoc=380&L=3&busca=&CodLivro=

Movimento Espírita afastado do Espiritismo

Ocuparemo-nos, porém, de avaliar os efeitos de um Movimento Espírita formado pela FEB:

Espíritas que desconhecem o Espiritismo; espíritas que têm medo dos Espíritos; espíritas que não evocam os Espíritos, questionando as comunicações evidentemente enganosas; espíritas que creem cegamente nas comunicações dos Espíritos, aceitando tudo à guisa de “complemento doutrinário”; espíritas que não praticam a mediunidade no lar, crendo que isso atrairia obsessores e que – um absurdo – somente no centro espírita teriam proteção dos bons Espíritos, que se eles não fossem aos lares dos bem intencionados; espíritas, enfim, que reproduzem as diversas falsas ideias, colhidas das comunicações aceitas cegamente e das opiniões de médiuns idolatrados, provocando verdadeiro vexame ao Espiritismo e dando munição aos seus críticos.

Devemos citar que, dentre esses médiuns idolatrados, figura Divaldo Franco, que, nas palavras de Augusto dos Anjos:

Divaldo Pereira Franco, o primeiro vintém, por mais de uma vez fez a mim, pessoalmente, a afirmativa de que não há como explicar os Evangelhos senão à luz da “Revelação da Revelação”. Seria uma posição reservada, apenas para meu conhecimento particular? Claro que não. Antes que tudo porque os homens de bem não têm por vezo, sob nenhum pretexto, formar posições dúbias, uma pública e outra para os amigos particulares. Esse comportamento anfibológico não cabe nos espíritos de boa moral. Depois, porque a mesma afirmativa o estimado médium baiano já a fez da tribuna, a plenos pulmões, do alto da autoridade e da retumbância que lhe reconhecemos e que tanto têm servido à iluminação espiritual de nós todos, espíritas do Brasil e de fora do Brasil. Para prová-lo, transcrevo a seguir, «verbo ad verbum», as mais recentes palavras de Divaldo Pereira Franco pro- nunciadas do alto da tribuna do Grupo Espírita Fabiano (um dos mais sérios e bem orientados grupos que existem na Guanabara), na noite do dia 6 de Outubro de 1969, estando como de costume superlotado o auditório. Eis o trecho da memorável alocução, gravada em fita magnética, com o conhecimento do orador:

“Durante muitos anos eu não entendia. Eu fui a Roustaing, que é a minha fonte inexaurível de estudo evangélico! Há quase vinte anos que eu leio o benfeitor João Batista Roustaing, meditando na sua palavrazinha, nas belas informações da Sra. Collignon, provindas da Espiritualidade. Mas é de uma interpretação maravilhosa!”

ANJOS, Luciano dos. Um gosto e 4 vinténs. Reformador, Rio de Janeiro, p. 9-11, jan. 1970. Extraído do livro A Posição Zero.

Infelizmente, esse não foi o único caso de um médium idolatrado ou de suas psicografias defendendo a figura de Roustaing e suas ideias, como poderão constatar neste artigo. Lembramos que, aqui, estamos discutindo ideias, e não julgando pessoas.

É evidente que, embora nem todo o Movimento Espírita seja filiado à FEB, os tentáculos do roustainguismo e do misticismo envolveram todo o Movimento Espírita Brasileiro. Infelizmente, esses tentáculos também atravessaram os oceanos…

Plano de Campanha

Vemos, enfim, cumprida a “profecia” realizada em 1867 e apresentada na Revista Espírita de agosto do mesmo ano, artigo “Plano de Campanha”:

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade… Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, esforçar-se-ão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

A tão desejada unidade do Movimento Espírita não se dará pela afiliação a uma instituição que mais se assemelha ao clero católico. Não. Isso, aliás, contraria os planos para o Espiritismo, idealizados por Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868 — Constituição Transitória do Espiritismo. Essa unidade somente se dará entre aqueles que, de boa vontade, mergulharem no estudo da ciência espírita, voltando a, depois disso, praticarem a mediunidade no lar, em pequenos grupos, harmoniosos, coesos, realizando a análise das comunicações e das evocações. Esses grupos, espalhados por toda parte, colaborando entre si, sem nenhuma submissão ao controle de uma instituição, mas, sim, ao controle da generalidade dos ensinamentos dos Espíritos, submetidos ao crivo da razão, poderão, então, voltar a trabalhar no desenvolvimento doutrinário. Não antes, não sem isso.

Por isso, destacamos a necessidade da formação de grupos de estudos – no lar, pela internet, no centro espírita – para o estudo dedicado das obras de Kardec não adulteradas e das obras de contextualização. Deixamos, aqui, nossa modesta colaboração nesse sentido: Projeto Semear — Formação de Grupos de Estudos.

No dia em que a Federação Espírita Brasileira assumir seu desvio, comprometendo-se à reparação e subtraindo-se ao propósito de determinar os rumos do Espiritismo no Brasil, voltaremos a valorizá-la. Não antes, não sem isso.




Projeto Semear — Formação de Grupos de Estudos

Boas-vindas

Bem-vindos a esta jornada, amigos de Kardec! Que satisfação vê-los aqui, almas queridas, buscando o aprendizado tão importante e do qual os espíritas se desviaram, há muito….

Atentem para a formação deste grupo ou dos demais. A iniciativa é seria e o assunto é grave. Os inimigos da doutrina novamente se agitam, pois que ela volta, agora, com toda a força, para cumprir aquilo que se propôs, há mais de um século. A humanidade grita: meu Deus, onde as respostas? Não encontrando a felicidade almejada, dia após dia, sem conseguir respostas satisfatórias, lançam-se às penúrias do materialismo desenfreado, do sensualismo, dos vícios e, muitos, não suportando ou não tendo maiores perspectivas, terminam por tirar a própria vida, para descobrir, afinal, que de nada isso adiantou.

O assunto, veem, é grave, e grave é a responsabilidade de todos os que se retiram do estudo, por orgulho e vaidade, para dar aos outros o lúgubre aspecto das opiniões construídas sobre distorções e adulterações.

É chegada a hora, meus amigos, de restabelecer aquilo que ficou para trás. É chegada a hora de multiplicar esforços e de semear, por toda a parte. Mas, atenção, pois os inimigos do bem, tristes indivíduos que ainda não conseguiram perceber o buraco que cavam para eles mesmos caírem, tentarão se estabelecer entre vocês. Mantenham-se em guarda, portanto, e não se esquivem da responsabilidade de manter a harmonia no grupo, abordando cada um que traga desarmonia ou desordem.

Confiem neste grupo, O Legado de Allan Kardec, que tem a particularidade de ser um raro grupo, neste planeta, formado com tanta identidade, tanta harmonia, tantos propósitos sérios, estabelecidos no passado, de trabalhar pela recuperação dessa Doutrina esquecida.

Sejam preces ambulantes, por suas disposições internas e pela aplicação dos princípios aprendidos às suas próprias vidas, e manterão, junto a vocês, a companhia de bons Espíritos, encarnados ou desencarnados. Não esqueçam: os bons Espíritos, seus anjos guardiões ou Espíritos protetores, abençoam esta empreitada e estarão junto a cada um de vocês, inspirando-os e intuindo-os.

União, fé, amor e caridade: este, o lema que cada indivíduo deve carregar no peito, aplicado em todo o seu entendimento e em toda a sua extensão, a si e no contato com os demais.

União: a unidade garantida pelos propósitos legítimos e pelo entendimento adequado do Espiritismo

Fé: a fé raciocinada, tão esquecida pelo Movimento Espírita, construída do entendimento racional, sem dúvidas possíveis, dos princípios da Doutrina Espírita.

Amor: o amor ao próximo, como a si mesmo. É necessário paciência e perseverança consigo mesmo, além de reconhecimento dos passos já dados, do caminho já percorrido. O mesmo deve ser aplicado aos demais.

Caridade: a caridade verdadeira é o dever moral, cumprido sem esperança de premiação ou reconhecimento. É o compartilhar, o aprender e o ensinar. Esse é o bem, a felicidade, e é por retirar-se desse papel que o indivíduo se lança nos despenhadeiros do personalismo, do egoísmo, do orgulho.

A partir de agora, esqueça os romances, esqueça o que aprendeu no Movimento Espírita ou no Centro Espírita. A partir de agora você está começando do zero e vai aprender o Espiritismo da maneira certa!

Orientações gerais

  1. A ideia é auxiliar na formação de um novo grupo ou mais, onde os participantes cuidarão de se organizarem a esse respeito. Nós daremos toda a orientação e o suporte necessários. Precisamos que uma ou mais pessoas se apresentem como iniciadores do núcleo central do grupo, de maneira pró-ativa.
  2. A proposta é que vocês criem um ou mais grupos, organizando-se entre vocês. Estaremos, junto ao meu grupo, no papel de apoiadores e orientadores.
  3. Pontualmente, poderemos elaborar estudos especiais, com a participação do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec, ou de vocês conosco.
  4. Comecem estudando “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo” e “Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal”, de Paulo Henrique de Figueiredo. Alternativamente, assistam aos vídeos destacados no tópico Materiais para estudos.
  5. Estimulamos que vocês comecem necessariamente pelo estudo da Revista Espírita. Após o estudo dos dois primeiros anos, enquanto continuam esse estudo, poderão ver a necessidade de criar um novo horário para estudar O Livro dos Médiuns. Nesse ponto, vocês estarão muito mais maduros para esse estudo.
  6. O estudo deve ser ao-vivo, por vídeo ou pessoalmente. WhatsApp é ferramenta de apoio.
  7. Não devem existir professores. Todos devem se colocar na condição de estudante que não conhece nada do Espiritismo. Foi assim que começamos.
  8. Sugestão:

    • Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo.
    • Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo.
    • No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim o grupo sai da leitura maçante.
    • Quem não fizer o estudo antes acabará tendo a possibilidade de não entender adequadamente o conteúdo. Isso é um estímulo ao estudo.
    • Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos.
    • As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, poderão ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições;

  9. Criem regras. Vejam as nossas sugestões no tópico seguinte, Sugestão de regras.
  10. Aprendam a não sistematizar conclusões sobre os artigos da Revista Espírita. Kardec deixa bem claro quando um estudo qualquer está devidamente concluído, ao menos de momento. Muitos artigos são apresentados como hipóteses, apenas.
  11. Criem documentos no Google Drive com o conteúdo de cada estudo, e façam um estudo prévio, fazendo anotações e comentários nesse documento. Isso ajuda a enriquecer o aprendizado.
  12. Não visem números. Prefiram qualidade. Estudem em pequenos grupos, coesos, harmoniosos, e não tenham medo de chamar a atenção, com firmeza e caridade, daqueles que eventualmente destoem das regras e da harmonia do grupo.
  13. Deixem os romances mediúnicos e demais obras de lado. O estudo das obras de contextualização e das obras de Kardec já lhes tomará bons anos.
  14. Não busquem Espiritismo prático (reuniões mediúnicas), de início. Se houverem médiuns entre vocês, sobretudo com a mediunidade muito aflorada, é importante formar um grupo à parte, ainda mais coeso e harmonioso. Muitos cuidados serão necessários. Nesse caso, não deixem de buscar apoio em nós.
  15. Sobretudo, não se esqueçam de manter contato conosco. Cuidaremos de registrar sua(s) iniciativa(s) em nosso site e ficaremos muito felizes de podermos trocar experiências e aprendizados com vocês.
  16. Evitem apenas produzir longos vídeos para o Youtube. Foquem, principalmente, conforme o aprendizado for se estabelecendo, em produzir vídeos curtos e, principalmente, textos em blogs, de maneira colaborativa (textos em blogs são facilmente encontrados em pesquisas do Google).
  17. À medida do possível, envolvam também os jovens nesse trabalho de aprendizado, seja nos seus próprios grupos, seja incentivando-os a formarem novos grupos. Espalhem esse propósito.

Sugestão de regras

Estudos da Revista Espírita, em grupo

OBJETIVO DO GRUPO

  • O nosso principal objetivo é conhecer o Espiritismo em sua essência e aplicar esse conhecimento em nossas próprias vidas. Ao mesmo tempo, porém, desejamos fazer isso de uma forma simples, clara e amistosa, de modo que nossos estudos sejam facilmente entendidos pelo público, razão pela qual realizamos um estudo prévio e a elaboração de um conteúdo, de forma que possamos extrair o melhor de cada assunto.
  • Após cada estudo, visamos produzir artigos, neste site, que complementem e formalizem o estudo, mas que também permitam a inclusão de deficientes auditivos. É por isso, principalmente, que os estudos precisam ser simples e, em simultâneo, profundos como possível.
  • Diferentemente de outros estudos do Espiritismo, que partem de obras conclusivas, nós estamos partindo de um periódico que demonstra o método de exploração, de raciocínio e de dedução de Allan Kardec, na construção do Espiritismo (aqui entendido na parte humana dessa ciência). Existe um enorme ganho em fazer assim, mas não estamos desatentos aos assuntos que precisam ser complementados com conclusões posteriores, de modo a não ficarem “capengas”, como é o caso da teoria dos fluidos, abandonada por Kardec em sua obra final, A Gênese.
  • A Revista Espírita, diferentemente de outras obras, é um periódico que combina:

    • assuntos e “causos” da época — que, longe de serem desinteressantes, serviam para dar suporte à Doutrina, baseado no cotidiano dos fatos espíritas vivenciados dentre a população mundial, mas que, do ponto de vista atual, muitas vezes não tem muita relevância para o nosso estudo
    • escritos muito mais densos e bem elaborados por Kardec, com extrema perspicácia, que pouco a pouco, e de forma muito organizada, vão construindo toda essa ciência que é o Espiritismo — ciência desconhecida e esquecida atualmente.

  • A importância da Revista Espírita não é apenas moral, mas também prática. Ao estudá-la, vemos uma constante construção de conhecimentos, ao mesmo tempo em que constantemente vemos uma desconstrução de falsos conceitos atuais, como você precisa entender no artigo “O que é a Revista Espírita e como estudá-la?. Eis mais um motivo para o formato do nosso estudo, pois os falsos conceitos não se quebram aos golpes.
  • O Espiritismo precisa ser resgatado e conhecido em sua essência, tanto moral como prática, de modo que possamos retomar os estudos dessa Doutrina, junto aos Espíritos. Esse estudo tem um importantíssimo papel nesse sentido.
  • Hoje sabemos, afinal, que essa ciência não andava sozinha: muito longe disso, ela era um desenvolvimento do Espiritualismo Racional e uma “irmã gêmea”, como disse Kardec, do Magnetismo. É por isso que, oportunamente, abordamos esses conhecimentos, de forma simples, prática e pontual, já que, para se aprofundar sobre esses dois temas, recomendamos sempre a leitura das obras Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo e Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal, ambas de Paulo Henrique de Figueiredo, dentre outras (veja nossa lista de obras recomendadas).

Premissas

  • Neste grupo, partimos da conclusão que as duas últimas obras de Kardec, O Céu e o Inferno e A Gênese, foram adulteradas. Podemos indicar o porque de termos chegado a essa conclusão, mas não discutiremos sobre isso, posto que os fatos estão aí para cada um verificar.
  • Neste grupo, estuda-se o Espiritismo com base nas obras de Kardec, necessariamente. Isso não quer dizer que outras obras e outros autores não possam ser tratados, mas isso se fará desde que o que se busque seja a busca pela compreensão e pela aproximação, baseando-se no Espiritismo, e não para mero confronto.
  • A premissa mais básica de todas é o estudo. Ter lido aleatoriamente O Livro dos Espíritos ou O Evangelho Segundo o Espiritismo não é estudo. Estamos longe de ter abarcado o entendimento da doutrina por completo, mas existem pontos fundamentais que carecem de dedicação para serem compreendidos. Conte com o grupo para indicar e sugerir caminhos e conteúdos de importância.

REGRAS TÉCNICAS

  1. Entre nos nossos grupos do WhatsApp e do Telegram. É por eles que manteremos a comunicação direta com os demais integrantes. Se tiver os dois, entre nos dois.
  2. Não será dado a ninguém o direito de dar palavras finais sobre aquilo que não está devidamente estabelecido na Doutrina. Será, contudo, tomado o cuidado de, para cumprir essa regra, não recair em falta às regras n. 4, 5 e 6.
  3. Assim como Kardec tratava as opiniões de Espíritos desencarnados, tratamos as opiniões das almas encarnadas, isto é, aquilo que é apenas uma opinião, será tratado apenas como uma simples opinião e dela não faremos sistemas.
  4. Devemos evitar que qualquer tema que fuja daquele principal ou qualquer ponto de discórdia seja extenuadamente abordado durante o estudo, para não haver desvios e monopólio de palavras ou opiniões. O que fazer, nesses casos: buscar estudar, em Kardec, o assunto em questão e apresentar, em nova oportunidade, os resultados encontrados. O desrespeito a essa regra de bom-tom será prontamente interrompido por intercessão dos administradores.
  5. Todos têm a liberdade de chegar às suas próprias conclusões, levados pela própria razão, resguardados os objetivos do estudo e a base doutrinária. Por exemplo, o tema sobre a existência de colônias espirituais não está devidamente consolidado, mas a questão da reencarnação está. Se aquilo que está consolidado, na Doutrina, não foi aceito pela razão de determinada pessoa, ela com certeza se sentirá inclinada a deixar os estudos, já que não lhe falam à razão. O que não será aceito será a sistematização de opiniões pessoais no Grupo, conforme exposto acima.
  6. Não serão abordados temas políticos e religiosos (este, no sentido em que possa trazer qualquer inquietação ou humilhação. Lembramos que o Espiritismo está aberto a pessoas de todas as crenças). Aqui, parafraseamos Kardec, em Viagem Espírita em 1862:

[…] deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, certamente, melindraria certas consciências, ao passo que as questões de moral são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro, sobre o qual todas as opiniões religiosas podem encontrar-se e se dar as mãos. Ora, a desunião poderia nascer da controvérsia. Não vos esqueçais de que a desunião é um dos meios pelos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo; é com esse objetivo que muitas vezes eles induzem certos grupos a se ocuparem de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto especioso de que não se deve colocar a luz sob o alqueire. Não vos deixeis prender nessa armadilha, e que os dirigentes de grupos sejam firmes para repelirem todas as sugestões deste gênero, se não quiserem passar por cúmplices dessas maquinações”.

  1. O grupo não visa, atualmente, realizar qualquer tipo de “trabalho mediúnico”, o que, se um dia acontecer, demandará a criação de reuniões particulares e com os devidos cuidados para tanto.
  2. Pelo mesmo motivo acima, não vemos necessidade de sermos tão restritivos quanto às novas adesões, isto é, os novos aderentes não carecem de serem versados em Espiritismo, mas devem, de sua própria parte, fazerem estudos basilares necessários, quando não conhecerem a essência da Doutrina Espírita (que não é aquela adquirida pela leitura de romances). Recomendamos, para esse fim, ao menos a leitura das brochuras O que é o Espiritismo e Espiritismo em sua expressão mais simples.
  3. Nossas reuniões de estudo são transmitidas ao vivo no Youtube, ou são gravadas para posterior publicação nessa plataforma e em outras. Todo aquele que participar dos estudos deve estar ciente e de acordo com esse ponto fundamental.
  4. O Grupo faz uso do site https://www.geolegadodeallankardec.com.br e das plataformas virtuais diversas para divulgar o Espiritismo. Quem se sentir interessado em fazer parte disso, criando textos que possam auxiliar, devem contatar os administradores do Grupo.
  5. Todas as mídias digitais contam com outros colaboradores, igualmente colocados em função de administração, que possam cuidar do prosseguimento na eventual ausência, por tempo limitado ou indefinida, de minha parte.
  6. Tomaremos a liberdade de interromper qualquer áudio ou câmera que esteja atrapalhando a reunião.
  7. Ao participar da sala de reunião do Zoom, você está ciente que terá seu áudio e/ou vídeo compartilhados publicamente através da Internet (mais informações no formulário de inscrição, abaixo).
  8. O horário oficial de início dos estudos, com a transmissão via YouTube, é as 19:25.
  9. O período permitido para a entrada de participantes, na sala de espera (onde aprovaremos ou não sua entrada, segundo o preenchimento ou não do formulário abaixo) vai das 19:10 às 19:25. Depois disso, a permissão de entrada ficará exclusivamente sob critério dos anfitriões do grupo.
  10. A previsão de término da reunião é por volta de 20:40, às vezes se estendendo um pouquinho a mais.
  11. Antes de entrar, certifique-se de estar em ambiente favorável à participação, tanto visualmente quanto sonoramente, além de estar vestido adequadamente.
  12. De preferência, use um computador para a participação, onde será mais fácil interagir pelo chat do grupo.
  13. Por questões de organização, a reunião no Zoom e seus conteúdos didáticos são conduzidos por um integrante, que coordenará as participações de um e outro que desejem se expressar.
  14. Ao tomar a palavra, cuide para não estender demais o assunto para áreas que fujam do tema principal. Lembre-se: são 11 anos de Revista a abordar, dentre artigos acessórios e artigos fundamentais, muitas vezes com conteúdos intrinsecamente ligados entre edições diferentes, e, ainda por cima, junto aos conteúdos doutrinários complementares, tanto de Kardec, como de outros autores. Não queremos correr, mas não podemos perder tempo.
  15. Todos aqueles que desejem participar ativamente, questionando ou opinando sobre os artigos em pauta, devem observar a seguinte organização:

Fazer a leitura dos artigos relacionados ao tema ANTES da reunião de estudos. Isso permitirá que você sempre esteja a par dos assuntos, à medida que puderem ser abordados conforme o tempo disponível e a extensão de cada assunto. Reiteramos: a Revista Espírita, para estudos em grupo, não é algo que possa ser lido linha-a-linha, sem uma leitura prévia, já que muitos assuntos apresentam uma extensão formidável.

Sugestão:

  1. Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo. 
  2. Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo. 
  3. No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim a gente sai da leitura maçante
  4. Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos, como foi o caso do remorso e como poderá ser o caso, talvez, da frenologia (RE60/jun)
  5. As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, cremos que devem ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições.

22. Não se desmotive caso precise se afastar por algum tempo ou caso não possa estar sempre presente. Isso acontece com todos. Continue os estudos de sua parte e volte assim que possível.

23. Reitero, por fim, o nosso objetivo de construção sobre o diálogo. Assim, nos ajude a estabelecer esse diálogo, utilizando as redes sociais para isso também.

Preencha o formulário seguinte com os dados necessários para sua admissão na reunião. Não aceitaremos entradas de pessoas não registradas.

Materiais para estudos

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Dezembro > Organização do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Dezembro > Constituição transitória do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Plano de campanha – Era nova – Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Os Espiões

O que é a Revista Espírita e como estudá-la? – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Obras Recomendadas – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

Andragogia

AUTONOMIA – A HISTÓRIA JAMAIS CONTADA DO ESPIRITISMO – Paulo Henrique de Figueiredo

Seminário: “Magnetismo” com Paulo Henrique Figueiredo

O Bem e o Mal, Castigos e Recompensas, Sombra e Luz – Paulo Henrique de Figueiredo – 1a Parte

Link para download de todos os PDFs das obras de Kardec:

Allan Kardec Brasil

Como pesquisar nos PDFs: https://www.youtube.com/watch?v=kgjdgIiHLJk

Contato (Paulo): Clique aqui.

Foto de Greta Hoffman : https://www.pexels.com/pt-br/foto/jardim-fazenda-sitio-chacara-7728883/




A mais dura comunicação mediúnica recebida por Kardec: Plano de campanha contra o Espiritismo

No dia 10 de novembro de 1867, pelo médium Sr. T…, Kardec recebeu uma comunicação muito séria, a respeito do papel dos inimigos na luta contra o Espiritismo. Reproduzimos o artigo abaixo, na íntegra, dada a sua importância para todos os seriamente interessados no Espiritismo, já que ela demonstra os artifícios do plano de campanha contra o Espiritismo.

Plano de campanha — Era nova — Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

(Paris, 10 de novembro de 1867 — Médium: Sr. T… Em sono espontâneo)

NOTA: Nessa sessão, nenhuma pergunta prévia provocara o assunto que foi tratado. A princípio o médium se havia ocupado de saúde, depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões cuja análise damos a seguir. Ele falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.

Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um terror que eles não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer… A criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram para si mesmos que em breve estariam com a razão… Mas, como se costuma dizer, o menino tinha vida dura. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às troças. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros renovos… Para cada um que destruíam, surgiam cem outros.

A princípio empregaram contra ele as armas de outra época, as que outrora davam resultado contra as ideias novas, porque essas ideias eram apenas clarões esparsos que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância, e que ainda não tinham criado raízes nas massas… hoje é outra coisa; tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se emociona com as ameaças que amedrontam as crianças; o diabo, tão temido por nossos avós, já não mete medo: rimos dele.

Sim, as armas antigas entortaram-se na couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça-forte guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de prejudicá-lo, seus esforços só serviam para dar-lhe autoridade.

Para lutar com vantagem contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas, pois mas o menos não pode vencer o mais.

Então, não podendo triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… De lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semear a desordem, a divisão, a confusão. Porque chegaram a lançar a perturbação nalgumas fileiras, cedo de mais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente, a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram o alarido… Não a vedes perpassar tudo, nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo na cátedra? Ela trabalha todas as consciências; ela arrasta os Espíritos para novos horizontes; é encontrada no estado de intuição mesmo naqueles que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que a cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que ela é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade… Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, esforçar-se-ão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la ante o que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques, nesses fenômenos que surgem de todos os lados como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente supera a geração que se vai… Ainda alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando depois de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas para deter o impulso do espírito humano, que avança a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar o desabrochar do novo período humanitário… com apoios que se vão erguer em favor da nova doutrina cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores por sua autoridade.

Oh! Como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quanta ruína eles verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes abrir-se-ão à sua frente!… Será como a aurora afugentando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! O século XX será um século abençoado, porque verá a era nova anunciada pelo Cristo.

NOTA: Aqui o médium para, dominado por indizível emoção, e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, ele retoma:

─ O que eu vos dizia eu então? ─ Vós nos faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois falastes da era nova. ─ Continuo.

Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Eles renunciaram pouco mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são onipotentes neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que resistiu à ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à adulação, ao gosto do bem-estar material… Prometem pão ao que o não o tem; trabalho ao artesão; freguesia ao negociante; promoção ao empregado; honras aos ambiciosos, se renunciarem às suas crenças. Ferem-no em sua posição, em seus meios de existência, em suas afeições, se forem indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns o seu efeito ordinário. Entre esses encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os manobra se esconde… Há também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisso; sua renúncia é apenas aparente; eles se vergam, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, aqueles que no mais alto grau têm a verdadeira coragem da fé, enfrentam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos bons Espíritos… Alguns, ah!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do Céu; eles ficam, pela forma, ligados à doutrina, e sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que eles fazem, e que pagarão bem caro!

Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, felizes aqueles sobre os quais se estender a proteção dos bons Espíritos, porque jamais ela foi tão necessária!… Orai pelos irmãos desgarrados, a fim de que aproveitem os curtos instantes de moratória que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo pese sobre eles… Quando eles virem rebentar a tempestade, mais de um pedirá graça!… Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinamentos? Como médiuns, não escrevestes centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz e não a aproveitastes! Nós vos tínhamos dado um abrigo; por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido às seduções estendidas ao vosso amor-próprio e à vossa vaidade. Então acreditastes poder no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabei, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos.

Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? Que seja para oferecer um alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não. Desenganei-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, este deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente. A mediunidade, sob todas as formas, será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, por assim dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de frustrar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos que eles julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, repercutem nessas almas sensíveis como num Espelho, e se desvelam por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que os conheçam.

Feliz aquele que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

OBSERVAÇÃO: O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento era anunciado há já algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas dessa faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve muitos no momento da revolução; os Calvinistas das Cévènes, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, eram qualificados de iluminados; hoje começa-se a compreender que a visão à distância e independente dos órgãos da visão pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo a explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero de tal modo se multiplicaram, que já nos admiramos menos; o que outrora a alguns parecia milagre ou sortilégio é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se estancam uma fonte, ele ressurge por outros caminhos.

Então, esta faculdade não é nova, mas ela tende a se generalizar, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas também como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo endêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deverá produzir no organismo modificações que facilitarão a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Assim, é bom manter-se em guarda contra a charlatanice que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la e, por todos os meios possíveis, assegurar-se a boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno e ver se nada oferecem de suspeito.




O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.

No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:

“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”

Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:

Conselhos sobre A Gênese

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.

Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?

Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.

Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:

Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:

Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:

– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:

– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.

Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.

Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/03/alteracoes-ocorridas-no-cap-1-da-5-ed.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/05/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5_15.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/02/comentarios-sobre-as-alteracoes-do-cap.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5a.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/01/natureza-e-materia-nao-sao-sinonimos.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/09/comentarios-sobre-o-capitulo-xv-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/11/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/12/inconsistencias-doutrinarias-da-5.html

Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.

Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição

Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.

Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).

Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições




O canal Mesa Girante e as adulterações em O Céu e o Inferno

Recentemente o canal Mesa Girante, no Youtube, produziu um vídeo onde aborda outro vídeo, de Paulo Henrique de Figueiredo, falando sobre a obra “Nem Céu, Nem Inferno”, de cerca de 3 anos atrás. A obra trata do fato jurídico ((São fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.)) da adulteração de O Céu e o Inferno e do contexto da trama de traição ao redor de Kardec.

Nesse vídeo, o autor do canal Mesa Girante trata de, debochadamente, tentar invalidar a importância da obra por supostas precipitações de Paulo Henrique ao tratar do tema, no vídeo. Pergunto-me por que é que ele, o dono do canal Mesa Girante, não se dedicou primeiramente a ler essa obra, o que teria enriquecido demais o debate? Por que é que ele se concentrou apenas naquilo que lhe pareceu incongruente, pelas falas de Paulo Henrique, sem dar atenção aos demais pontos de relevância da obra? Digo isso porque eu mesmo o procurei, através dos comentários, para demonstrar que a adulteração de O Céu e o Inferno é o produto inquestionável dos dogmas roustainguistas, além do fato jurídico.

No dia seguinte, eu produzi um vídeo, sob efeito de uma irritação pela maneira como o tema foi abordado, com tom de deboche e sem nenhuma intenção de cooperação, e sim de competição, já que não foi procurar Paulo Henrique para conversar sobre as divergências de entendimentos. Esse vídeo, que eu produzi, eu resolvi apagar, pois acabei tratando com afetação um tema onde não deve haver absolutamente nada disso. Em lugar desse vídeo, gravei um novo, onde falo sobre o foco central da adulteração, como você pode ver ao final deste artigo.

Acontece, porém, que, assim que gravei, chegou ao meu conhecimento uma live com Lucas Sampaio, co-autor do livro Nem Céu, Nem Inferno, onde ele explica em detalhes todas as questões envolvidas nesse tema da adulteração. O conteúdo é muito explicativo por si só, de maneira que reproduzo abaixo o mesmo vídeo e aproveito para tecer comentários sobre seu conteúdo.

Comentários sobre a live do Lucas Sampaio

  • É fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.
  • Kardec estava, sim, fazendo revisões nessas obras, preparando novas edições. Isso está registrado em cartas. Contudo, menos de um mês depois da carta onde cita o trabalho de tradução para o alemão, existe uma carta de Kardec para um amigo seu, dizendo que, por problemas de saúde, ele precisou suspender todas as atividades que não fossem estritamente necessárias.
  • Os Espíritos, evocados por Kardec, dizem que ele não deveria suprimir nada nas novas edições. Foi feito justamente o contrário nas edições publicadas após sua morte, com a supressão de pontos importantes nas obras.
  • A psicografia original, onde os Espíritos diziam a Kardec para não suprimir nada nas novas edições, foi adulterada por Leymarrie em Obras Póstumas, retirando justamente esse conselho, para dar credibilidade à 5a edição de A Gênese. Isso se deu após a denúncia de Henry Sausse.
  • Os negacionistas dos fatos jurídicos e das evidências de adulteração chegam a usar depoimentos de pessoas ligadas a Leymarie para sustentar suas teses.
  • É importantíssimo ler a obra O Legado de Allan Kardec, que traz diversas evidências sobre os fatos acerca da adulteração de A Gênese.
  • Fala-se em registros contábeis da Sociedade, assinados pela esposa de Kardec, três anos após sua morte, onde estariam registrados os custos de impressão de O Céu e o Inferno a fevereiro de 1869. Faz sentido fazer contabilidade de algo passado à criação da Sociedade Anônima (empresa)? Faz sentido confiar em documentos da Sociedade Anônima, a mesma que deu o golpe post-mortem em Kardec? Como veremos a seguir, os documentos oficiais mostram que a obra não foi impressa naquela data.
  • Foi encontrada, nos registros legais da Biblioteca Nacional, a declaração de impressor n. 8.584 com pedido de autorização do tipógrafo Rouge registrado em 9/7/1869 para imprimir 2.000 exemplares da mesma quarta edição de O Céu e o Inferno, conforme a página 294 do documento F/18(II)/128, mais de três meses após a desencarnação de Allan Kardec.
  • Na Revista Espírita de junho de 1869, foi publicado, pela Sociedade Anônima, o artigo de título “À venda em 1° de junho de 1869”, tratando da edição que ficou pronta somente em 19 do mês seguinte. E o aviso ainda explica:

Quarta edição de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo, contendo numerosos exemplos sobre a situação dos Espíritos no mundo espiritual e na Terra; 1 vol. in-12, preço: 3 fr. 50.

Observação – A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, passou por modificações significativas. Alguns capítulos em particular foram inteiramente reformulados e consideravelmente aumentados.

(SOCIEDADE ANÔNIMA, [RE] 1869, jul., p. 224)

  • Tudo indica que Amelie, com mais de 70 anos, em luto, foi enganada pela Sociedade Anônima, e confiou no que diziam ou apresentavam a ela. Berthe Froppo menciona que ela acreditava que a S.A. iria vender os livro de Kardec a preços populares (e fizeram o contrário). A doce Gabi, como a chamava Kardec, entregou tudo, crendo que o melhor seria feito, pois não tinha um espírito de liderança. Foi afastada de qualquer papel de decisão da S.A. Foi, em suma, ludibriada. Não se opôs às novas edições, pois sabia que seu marido trabalhava sobre elas. Escolheu entregar à S.A. toda a obra de Kardec, pois pensava, seguindo os propósitos de Kardec, que o Espiritismo deveria ser de todos, e não mais centralizado em ninguém. Era a promessa da Sociedade, finalmente não cumprida.
  • Existe uma falta de vontade (e aqui eu reitero: inclusive pelo CSI do Espiritismo e do dono do canal Mesa Girante) em fazer um estudo cuidadoso e aplicado, inclusive comparativo. Não: fica-se girando apenas na superfície das afirmações e das negações simplórias, numa sanha de negar o que vemos estar óbvio aos nossos olhos.
  • As teses de negação não respeitam o fato jurídico; não se importam com os planos de Kardec para o futuro do Espiritismo; não se importam com os vários golpes sofridos por Kardec e pelo Espiritismo; não se importam com o golpe à unidade de método e de organização, necessárias à continuidade doutrinária; não fazem análises doutrinárias sobre o conteúdo anterior e as alterações; não se importam com o fato de a Sociedade Anônima haver incendiado um grande número de manuscritos de Kardec, após sua morte; não falam do verdadeiro complô sendo formado ao redor de Kardec, por Roustaing e seus seguidores; não trazem à luz os incontáveis fatos e evidências dos interesses contrários ao bem, por pessoas ao redor de Kardec.

    Não, e nem podem, pois dar atenção ao fato dos descalabros sofridos por Kardec e pelo Espiritismo seria alimentar os argumentos da adulteração, o que não seria do interesse deles. Pelo contrário: esforçam-se por colocar dúvida injustificável sobre pessoas como Berthe Froppo, amiga íntima do casal Kardec, que fez algumas graves denúncias contra Leymarie e a sociedade anônima! Não, para eles o testemunho de Froppo não vale, mas valem as alegações do adulterador, Leymarie, e sua esposa, além dos demais envolvidos, por interesse, em seus negócios espíritas!

  • O prefácio de A Gênese e a introdução do capítulo 8º de O Céu e o Inferno (3a edição) tratam justamente do método do Espiritismo, que o protege de se transformar em um sistema pessoal, o que incomodava sobremaneira Roustaing e Pezzani, seu amigo pessoal, que tinham suas próprias concepções do que deveria ser o Espiritismo. Será acaso que tanto um como outro foram removidos nas novas edições?
  • Os trechos removidos na adulteração de A Gênese denunciam exatamente como pensam e agem os inimigos da verdadeira ideia.
  • Cada um dos 25 itens do capítulo VIII de O Céu e o Inferno tinham fundamentação no restante da obra. Na 4a edição, adulterada, muitos itens perderam essa correspondência, conforme se demonstra em O Céu e o Inferno, da editora FEAL (clique aqui para baixar gratuitamente).

Live com Lucas Sampaio sobre as Adulterações nas obras de Kardec

Vídeo do meu canal falando sobre o vídeo do canal Mesa Girante




A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

São fatos jurídicos incontestes as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal – assim afirmam ao menos quatro operadores jurídicos especializados: Simoni Privato, Júlio Nogueira, Lucas Sampaio e Marcelo Henrique. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra. Infelizmente, a Federação Espírita Brasileira, tendo muito a recapitular ao tomar essa atitude (já que os textos original de O Céu e o Inferno e A Gênese contraditam uma infinidade de erros que povoam a generalidade das publicações por ela editadas e impressas) ainda reluta contra esses fatos, baseando-se em argumentações de leigos em matéria de direito autoral.

Além do fato jurídico e do necessário respeito à lei, pelo estudo, acabamos de identificar mais uma evidência, talvez a mais determinante de todas, da adulteração de O Céu e o Inferno, obra de Allan Kardec, justamente na parte que exprimia a filosofia doutrinária em sua mais clara e pura face.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec trata da questão dos Espíritos que escolheram sempre o caminho do bem (tratamos disso também no artigo “Reforma Íntima e Espiritismo“:

Existem Espíritos que sempre escolheram o caminho do bem

121. Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?

“Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria.”

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem?

“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”

a) — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

Chegam mais depressa ao fim. Ademais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”

O Livro dos Espíritos. Grifos nossos.

Confirmados pelos Espíritos, existem aqueles que sempre escolheram o caminho do bem, o que não os livra da necessidade de encarnar, para seu desenvolvimento. Assim, não têm o que expiar, dado que a expiação é a escolha consciente de provas e oportunidades que lhes ajudem a desapegar de imperfeições conscientemente adquiridas (lembrando que errar, meramente, não é adquirir imperfeições, desde que o erro seja superado pelo aprendizado. O que gera imperfeições é a repetição consciente do erro).

Além disso, é mais que lógico que aquele que tenha superado, através da expiação, uma imperfeição adquirida, não tem mais o que expiar, exceto caso desenvolva novas imperfeições. Ainda assim, ele pode necessitar nascer em um planeta como a Terra, simplesmente porque suas necessidades atuais demandam ou porque escolha encarnar em missão. O próprio Jesus Cristo é o exemplo máximo desse último caso e, mesmo sendo um Espírito puro, ainda assim enfrentou as vicissitudes da matéria, sem ter nada o que expiar. Vejam aonde leva a admissão dessas falsas ideias: ao dogma de Espíritos criados à parte e que nunca estiveram, em realidade, entre nós (um dogma sustentado por Roustaing)!

Forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno

E aqui chegamos à mais forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno, que, na edição lançada após a morte de Kardec, introduziu dois itens no capítulo VIII (que se tornou capítulo VII):

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, quarta edição. FEB. Grifos meus.

Esses dois itens, repito, não existiam na terceira edição da obra, lançada e impressa por Kardec em vida. Admitir que Kardec tenha incluído esses itens nessa edição, em especial o item 10, seria admitir que Kardec entrou em contradição com tudo o que havia desenvolvido até então.

Para dar suporte a essa falsa ideia, os seguintes parágrafos foram removidos na adulteração, no capítulo IX (antigo capítulo X):

Nos primeiros estágios de sua existência, os espíritos estão sujeitos à encarnação material, que é necessária ao seu desenvolvimento, até que tenham chegado a um certo grau. O número das encarnações é indeterminado, e subordina-se à rapidez do progresso, que ocorre na razão direta do trabalho e da boa vontade do espírito, que age sempre em função de seu livre-arbítrio. Aqueles que, por sua incúria, negligência, obstinação ou má vontade permanecem mais tempo nas classes inferiores, sofrem disso as consequências, e o hábito do mal dificulta-lhes a saída desse estado. Um dia, porém, cansam-se dessa existência penosa e dos sofrimentos daí decorrentes. É então que, ao comparar sua situação à dos bons espíritos, compreendem que seu interesse está no bem, procurando então melhorar-se, mas o fazem por vontade pró- pria, sem que a isso sejam forçados. Estão submetidos à lei do progresso por conta de sua aptidão a progredir, mas não o fazem contra a própria vontade. Fornece-lhes Deus incessantemente os meios de progredir, mas são livres para se aproveitarem destes ou não. Se o progresso fosse obrigatório, nenhum mérito os espíritos teriam, e Deus quer que tenham todos o mérito de suas obras, não privilegiando ninguém com o primeiro lugar, posto franqueado a todos, mas que o alcançam somente através dos próprios esforços. Os anjos mais elevados conquistaram sua posição percorrendo, como os demais, a rota comum. Todos, do topo à base, pertenceram ou pertencem ainda à humanidade.

Os homens são, assim, espíritos encarnados mais ou menos adiantados, e os espíritos são as almas dos homens que deixaram seu invólucro material. A vida espiritual é a vida normal do espírito. O corpo não é senão uma vestimenta temporária, apropriada às funções que devem exercer na Terra, tal como o guerreiro veste a armadura e a cota de malha para o momento do combate, delas despindo-se após a batalha, para eventualmente vesti-las de novo quando chegada a hora de uma nova luta. A vida corporal é o combate que os espíritos devem enfrentar para avançar, para o que se revestem dessa armadura que é para eles ao mesmo tempo um instrumento de ação, mas também um embaraço.

Ao encarnarem, os espíritos trazem suas qualidades inerentes. Os espíritos imperfeitos constituem, portanto, os homens imperfeitos; aqueles mais adiantados, bons, inteligentes, instruídos, são os homens instintivamente bons, inteligentes e aptos a adquirir com facilidade novos conhecimentos. Da mesma forma, os homens, ao morrer, fornecem ao mundo espiritual espíritos bons ou maus, adiantados ou atrasados. O mundo corporal e o mundo espiritual suprem-se assim constantemente um ao outro.

Entre os maus espíritos há os que têm toda a perversidade dos demônios, aos quais pode-se aplicar perfeitamente a imagem que se faz desses últimos. Quando encarnados, constituem os homens perversos e astuciosos que se comprazem no mal, parecendo criados para a desgraça de todos os que são atraídos para sua intimidade, e dos quais pode-se dizer – sem que isso constitua ofensa – que são demônios encarnados.

Tendo alcançado um certo grau de purificação, os espíritos recebem missões compatíveis com seu adiantamento, desempenhando dessa forma todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes ordens. Como Deus criou desde sempre, também desde sempre houve espíritos suficientes para atender a todas as necessidades do governo do Universo. Uma só espécie de seres inteligentes, submetidos à lei do progresso, é, portanto, suficiente para tudo. Essa unidade na criação, juntamente à ideia de que todos têm uma mesma origem comum, o mesmo caminho para percorrer, e que se elevam todos por seu mérito próprio, corresponde muito melhor à justiça de Deus do que à criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas por dons naturais, equivalentes a privilégios.

O Céu e o Inferno – Editora FEAL

Notem, também, o seguinte trecho de O Livro dos Espíritos (grifos meus):

  1. Sendo as vicissitudes da vida corporal expiação das faltas do passado e, ao mesmo tempo, provas com vistas ao futuro , seguir-se-á que da natureza de tais vicissitudes se possa inferir de que gênero foi a existência anterior ?

Muito amiúde é isso possível , pois que cada um é punido naquilo por onde pecou. Entretanto, não há que tirar daí uma regra absoluta. As tendências instintivas constituem indício mais seguro, visto que as provas por que passa o Espírito são determinadas tanto pelo que respeita ao passado, quanto pelo que toca ao futuro .”

Isto aqui é muito importante. Kardec, em suas obras, vem sempre numa construção crescente, várias vezes repetindo aquilo que já era compreendido como fato da ciência espírita. Quando ele houvesse de contrariar um ponto, por uma correção de entendimento, ele era muito claro sobre isso. Eis que, “do nada”, Kardec teria contrariado a Doutrina para dizer o seguinte, fazendo regra:

“Pela natureza dos sofrimentos e das vicissitudes suportadas na vida corpórea , pode-se julgar da natureza das faltas cometidas numa existência precedente, e das imperfeições que lhe são a causa.” (Allan Kardec, O Céu e o Inferno, 4a edição, adulterada).

Percebe que isso é incongruente com o entendimento de Kardec sobre o Espiritismo e com sua maneira de se portar? O mesmo ele teria feito no parágrafo anterior a esse, o que é impossível, já que, depois, ele voltaria a contrariar essas opiniões erradas, n’A Gênese. Isso é capital, pois essa ideia está diretamente ligada à influência roustainguista na adulteração dessa obra, no capítulo que é, basicamente, o cerne, a base da teoria moral espírita.

Mais evidências da ideia original

Apresento, a seguir, mais alguns trechos da obra de Kardec que evidenciam o verdadeiro entendimento sobre o assunto (a encarnação não é resultado exclusivo da expiação):

“Segundo um sistema que tem algo de especioso à primeira vista, os Espíritos não teriam sido criados para se encarnarem e a encarnação não seria senão o resultado de sua falta. Tal sistema cai pela mera consideração de que se nenhum Espírito tivesse falido, não haveria homens na Terra, nem em outros mundos. Ora, como a presença do homem é necessária para o melhoramento material dos mundos; como ele concorre por sua inteligência e sua atividade para a obra geral, ele é uma das engrenagens essenciais da Criação. Deus não podia subordinar a realização desta parte de sua obra à queda eventual de suas criaturas, a menos que contasse para tanto com um número sempre suficiente de culpados para fornecer operários aos mundos criados e por criar. O bom-senso repele tal ideia.”

KARDEC. Revista espírita — 1863 > junho > Do príncipio da não-retrogradação do Espírito. Grifos nossos.

Nesse artigo, nesse trecho, Kardec está evidentemente refutando, de maneira firme, a mesma ideia transmitida nos Quatro Evangelhos de Roustaing (que somente seria lançado em 1865), de que a encarnação se daria apenas para expiação, isto é, quando o Espírito é “culpado”:

A ideia da encarnação como castigo, dissemos, é uma ideia totalmente ligada aos dogmas de Roustaing:

N. 59. Que é o que devemos pensar da opinião que se formula assim: “Do mesmo modo que, para o Espírito em estado de formação, a materialização nos reinos mineral e vegetal e nas espécies intermediárias e igualmente a encarnação no reino animal e nas espécies intermediárias é uma necessidade e não um castigo resultante de falta cometida, também, para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade de seus atos, livre arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo”?

Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa.

O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as conseqüências.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I

É fácil observar a semelhança dessa ideia com aquele introduzida na 4a edição de O Céu e o Inferno: a de que a encarnação somente se dá quando o Espírito é culpado de um erro anterior.

Continuemos com as evidências da ideia original de Kardec e da Doutrina:

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação […]

O Livro dos Espíritos

Para uns, é expiação; para outros, missão. “Para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação“, ou seja, a expiação, tratada no meio religoso como um processo de remissão de pecados pelos castigos divino, aqui, para o Espiritismo, é apenas o processo de aprendizado e de desenvolvimento do Espírito.

Contudo, a fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em conseqüência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes.

O Livro dos Espíritos

O Espírito sofre as vicissitudes da exisência escolhida pelo Espírito, como prova, expiação ou missão.

  1. É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la?

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação, caso em que ela se lhes torna um castigo. — S. Luís. (Paris, 1859.)

KARDEC. O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo IV — Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo > Instruções dos Espíritos. > Necessidades da encarnação. > 25. Grifos nossos.

Evidentemente, os Espíritos demonstram que a encarnação é necessária a todos, de maneira que, enquanto se desenvolvem, fazem sua parte na Criação.

Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se crê. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia aí, quase sempre, a conseqüência natural de alguma falta cometida. O homem recebe, a cada instante, terríveis lições das quais infelizmente bem pouco aproveita.

Revista Espírita, 1864

Quase sempre as fontes de todas as vicissitudes da vida remontam à consequencia natural de alguma falta cometida.

[O homem de bem] Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas a decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Todas as vicissitudes da vida são provas ou expiações. Prova: tudo aquilo que nos serve ao aprendizado, todas as dificuldades da vida. Expiação: certos gêneros de provas, escolhidas para o exercício de desapego de uma imperfeição adquirida.

“Esta pergunta dos discípulos “É o pecado deste homem a causa de nascer cego” indica a intuição de uma existência anterior. Caso contrário, não teria sentido, porque o pecado que seria a causa de uma enfermidade de nascença deveria ter sido cometido antes do nascimento e, por consequência, em uma existência anterior. Se Jesus tivesse visto aí uma ideia falsa ele teria dito: “Como esse homem teria podido pecar antes de estar entre nós?” Em lugar disso ele lhes disse que, se o homem é cego, não significa que tenha pecado, mas, a fim de que o poder de Deus brilhe nele; é como dizer que ele devia ser o instrumento de uma manifestação do poder de Deus. Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso, porque Deus, que é justo, não poderia lhe impor um sofrimento sem compensação.”

KARDEC, Allan. A Gênese. 4a edição. “Cego de Nascença”. Grifos nossos.

Nesse trecho, onde Kardec trata da cura da cegueira, feita por Jesus, ele faz a seguinte observação: “Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso“. Ora, isso quer dizer que, para ele, e de acordo com o Espiritismo, as vicissitudes não se dão apenas como expiação, mas também como ferramenta de aprendizado. Esse trecho consta inclusive da 5a edição de A Gênese (a edição adulterada), e Kardec não pode ter se contradito em suas ideias em cada uma das obras. Esse não é o Kardec que conhecemos.

Motivo da adulteração

Todo aquele que está investigando o assunto seriamente, e que investigou também a adulteração de A Gênese, perceberá algo em comum entre as duas adulterações: o princípio do dogma da encarnação como o resultado do castigo pelo pecado – dogma fortemente limitador e aprisionante, repercutido por Roustaing e ensinado pelos Espíritos mistificadores que com ele se comunicavam, através da médium Emilie Collignon. Contra a sua teoria, existe um simples detalhe: Jesus.

Jesus, o Espírito mais evoluído que já encarnou entre nós, não tinha nada a “pagar”, posto que era Espírito puro. Como resolver esse problema? Dizendo que Jesus não encarnou, mas que, em verdade, foi um agênere, isto é, um Espírito materializado, que simplesmente nos enganou ao longo de sua trajetória.

O ponto é que, em O Céu e o Inferno, foram removidas as ideias doutrinárias que demonstravam a encarnação como necessária a todos, bons e maus, e foi acrescentada a ideia de que tudo o que passamos é fruto de expiações de erros de vidas passadas (item 10, cap. 7, Código Penal da Vida Futura); já na adulteração de A Gênese, não por acaso, o item 67 do capítulo XV foi removido, e, como demonstra Henri Netto,

[…] a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Ou seja: em A Gênese, para dar suporte às adulterações de O Céu e o Inferno, atacou-se a ideia que demonstra, pelo exemplo inequívoco, que a encarnação não serve apenas para expiação (acrescentando-se aqui que expiação é o ato consciente da escolha de provas visando o retorno ao bem, para os Espíritos que, em minoria, escolheram o apego ao erro e, assim, desenvolveram imperfeições). Removeu-se uma ideia doutrinária, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado às ideias doutrinárias.

Conclusão

De duas, uma: ou Kardec fez essa alteração, ou ele não fez essa alteração. Se ele mesmo fez essa alteração, então contradisse todo seu entendimento anterior e, além disso, demonstra um estado de saúde mental alterado, já que contradisse essa ideia n’A Gênese, inclusive em sua quinta edição, como demonstramos acima.

Ora, sabendo que Kardec deixa muito claro seu entendimento de que a encarnação não pode ser resultado exclusivo da expiação e conhecendo seu estado de saúde mental sadio, até o dia de sua morte, podemos chegar a apenas uma conclusão: essa obra foi adulterada.

A alteração é muito clara: “Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas”. Isso é claramente a ideia de Roustaing, e a essência desse capítulo foi perdida com a alteração, para implantar os mesmos dogmas que esse senhor aceitava e defendia:

“Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa”.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I, item 59

Muitos dirão, ainda, que o item 16 do cap. VII de O Céu e o Inferno (a versão adulterada) encerra o mesmo princípio removido do item 8, original:

16.º — O arrependimento é o primeiro passo para o aperfeiçoamento; mas sozinho não basta; são precisas ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, dando esperança e preparando as vias da reabilitação; mas somente a reparação pode anular o efeito, destruindo a causa; o perdão seria uma graça e não uma anulação.

Contudo, perguntamos: em que se torna a arrependimento, a expiação e a reparação, quando submetidas às ideias inseridas pelas adulterações, senão no cumprimento de uma sentença ou de um castigo? Em que se torna o erro, parte do aprendizado, senão em uma condenação? E, vendo sob esse ângulo, perguntamos: o indivíduo que é levado a pensar dessa maneira, como age ante à vida? Age austeramente, buscando superar o erro, ou, crendo-se condenado, se submete à inação ou, pior, descamba por mais erros ainda? E ante ao próximo, que sofre as vicissitudes da vida? Vê nele um irmão que requer o nosso apoio, um ser capaz de superar suas dificuldades pelo aprendizado, ou vê nele mais um condenado, sobre o qual nada se pode fazer, já que cumpre sua sentença? Finalmente: tudo isso leva ao estado de cooperação, em busca do progresso, ou leva ao materialismo e ao egoísmo?

São perguntas que cada um se deve fazer, de posse do conhecimento que, para mim, demorou três anos para ser clarificado e estabelecido. Quem sabe, com tudo isso, eu possa ajudar a diminuir esse tempo para você.

Inimigos do bem se esforçam por retardá-lo

É muito evidente que o capítulo mais importante de O Céu e o Inferno, justamente aquele que continha a essência da filosofia doutrinária, foi propositadamente adulterado. As ideias originalmente estabelecidas foram completamente remodeladas segundo dogmas ligados à ideia da queda pelo pecado, atrasando, por mais de 150 anos, o desenvolvimento do Espiritismo na face da Terra. Chega. Agora é hora de recuperar e de estudar. Recomendamos a leitura das nossas Obras Recomendadas.

Os esforços daqueles que tentam obter o domínio da verdade estão ligados às concepções de velho mundo. São Espíritos ainda incapazes de compreender a essência do Espiritismo e que, conscientemente ou não, lutam contra suas ideias de autonomia e de liberdade. Como diria Kardec, deixemos que o tempo se encarregue deles.

Dizem eles terem provado sumariamente a não adulteração e, assim, refutado todas as evidências em contrário. Assim sendo, peço a esses indivíduos que expliquem essa alteração ilógica e contraditória a toda a doutrina.

Como agem os sacerdotes

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique.

Há poucos dias, comentei no vídeo ” O Livro A Gênese foi mesmo adulterado?”, publicado no canal Grupo Espírita Revelare, no Youtube:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois estou oculto no canal.




Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

O seguinte artigo contém os conteúdos gentilmente disponibilizados pelo Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz, e correspondem ao evento recentemente realizado por Paulo Henrique de Figueiredo sobre o tema em destaque.

A apresentação pode ser facilmente baixada através deste link e também pode ser ouvida em Podcast, cujo áudio disponibilizamos a seguir.

Amaciante estraga a roupa

A palestra de Paulo Henrique de Figueiredo explica exatamente o que essa afirmação tem a ver com a mudança de mentalidade. Clique abaixo para ouví-la:


A seguir estão os tópicos da palestra, que podem ser verificados na apresentação disponibilizada e no áudio acima exposto.

ENCONTRO COM A CULTURA ESPÍRITA – Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

Paulo Henrique de Figueiredo – 28 e 29 out 2023




Diálogos de Além-Túmulo: da vingança à fraternidade

Através de um contato via TikTok, uma moça, residente em Portugal, pediu ajuda para seu caso. Dizia ela estar sofrendo com agitações em seu lar, com manifestações físicas, deixando-a atormentada. Sem colher maiores detalhes sobre o caso, resolvemos questionar ao Espírito Amigo, o Espírito que se apresentou como guia de nosso grupo, que nos recomendou o diálogo direto com o Espírito em questão:

Primeiro diálogo

1. Evocação

R: Aqui estou.

2. Olá amigo, seja muito bem-vindo entre nós. Nós primeiro gostaríamos de saber como podemos chamá-lo?

R: Vocês querem perguntar, então perguntem.

3. Tudo bem, nós vamos perguntar. Nós gostaríamos de entender qual é a sua motivação em estar ali e se é você que está provocando as manifestações físicas.

R: Provoquei sim.

4. Qual é o motivo?

R: A cobrança. Eu quero que ela se lembre do que ela fez.

5. O que ela te fez foi nesta vida presente, dela? Ou em outra encarnação?

R: Em uma outra.

6. Não queremos te julgar, não sabemos o que faríamos na sua posição. Gostaríamos de entender o que aconteceu.

R: Ela me maltratou. Ela sabia que eu tinha dificuldade. Mesmo assim, ela me maltratou.

7. Que posição vocês ocupavam? Em questão social, você era subalterno a ela?

R: Eu era filho. Ela nunca me tratou com amor.

8. Isso deve ter te provocado muita dificuldade durante a vida.

R: Muita surra. Muita humilhação.

9. Você se lembra se dessa encarnação anterior, você, como espírito, havia escolhido esse ambiente por algum motivo?

R: Era para termos uma vida equilibrada.

10. Você se lembra se você na vida anterior a essa vida, você já tinha conexão com ela?

R: Sim. Sempre tivemos problemas. Ela prometeu que dessa vez ela iria me amar. Eu sei que a situação não era boa, mas eu não tinha culpa nas escolhas que ela tinha feito. Eu só precisava nascer e a única responsabilidade dela era me amar, para que eu pudesse entender um pouco mais sobre o amor. Ela se omitiu. Se omitiu.. e só me trouxe sofrimento.

11. Tem outro espírito relacionado a essa história, agindo ali no local, não tem?

R: Tem.

12. Você sabe quem ele é?

R: Eu só sei que ele não é bom. Não.

13. Você não o conhece?

R: Não.

14. Por que você diz que ele não é bom?

R: Porque eu fujo dele.

15. Entendo. Será que ele tem boas intenções? E você não entendeu isso direito?

R: Eu não sei.

16. Eu quero que nos perdoe por qualquer pergunta mal direcionada. […] Você percebe que ela sofre hoje possivelmente por conta dessas escolhas que ela fez por essas tendências.

R: Eu percebo o sofrimento. Mas ela merece.

17. Ela sofre as consequências do que ela escolheu. Mas você se sente feliz estando ainda ao redor dela?

R: Eu só queria que ela me amasse. Mas se ela sofre de certa forma, eu sou feliz.

18. De que maneira você ficar fazendo essas demonstrações de manifestação na casa dela, você vai fazer ela sofrer? De que forma?

R: Não dando paz. Não dando sossego.

19. Existe uma grande diferença entre felicidade e alegria […] Você concorda com isso?

R: Não sei, acho que preciso pensar.

20. Essa realização está no princípio que o Espiritismo nos ensina […] Você consegue perceber esses espíritos?

R: É, eles estão aqui, sim. Dá pra ver. Eu tenho que pensar em tudo isso.

21. Esperamos que você se sinta bem entre nós […] quem sabe ajudando?

R: Acho que entendo um pouco do que você fala. Pode me chamar de Carlos.

22. Obrigado, Carlos. A intuição nunca nos falta, se eu falo bem, é por conta dos bons espíritos que estão conosco. Nunca se esqueça deles.

R: Eu vou pensar melhor em tudo o que você me falou.

23. E a gente espera que em próximas ocasiões possamos dialogar um pouco mais com você.

R: Espero que a gente possa se encontrar de novo, sim. Para poder conversar melhor.


Segundo diálogo

1. (Ao Espírito Amigo) Gostaria muito de saber, se for possível, gostaríamos de voltar a conversar com o Carlos, o espírito estava em participação ali com a M…

R: Carlos. Ele está aqui  presente.

2. Carlos, nosso amigo, queremos te receber de braços abertos novamente. E gostaríamos de saber como você está depois da nossa última conversa.

R: Um pouco mais esclarecido. Mas não estou cem por cento convencido.

4: Faz parte. O M… tentou chamá-lo no grupo dele. Você não quis ou você não pôde se comunicar lá?

R: Eu não quis.

5: Por qual motivo?

R: Eu ia escutar as mesmas coisas que vocês me falaram.

Observação: nesse diálogo, o Espírito ainda se expressava com desprezo e sarcasmo. Ainda assim, respondemos com bom-humor, fazendo-o sentir à vontade e mais próximo a nós.

6: Entendi, tudo bem. Nós entendemos essa  dificuldade. A gente mesmo, no dia a dia, é muito difícil de se convencer de que realmente a gente precisa perdoar uma determinada pessoa, deixar passar uma determinada coisa, né? Você gostaria de falar mais alguma coisa a respeito do que se passa ali, como a M…?

R: Se ela quer realmente o meu perdão, ela que ore por mim.

7: Ela disse estar orando, você percebeu?

R: Percebi.

8: Você ainda guarda um rancor?

R: É difícil esquecer certas coisas.

9: Justamente sobre isso que você está falando agora, de esquecer certas coisas. Como foi você na última vez? Você estava aqui, você falou que você precisava nascer e a única responsabilidade dela era te amar. Como foi essa combinação que vocês fizeram antes de nascer para poder acontecer isso?

R: Nós estamos vivendo algumas vidas juntos há algum tempo. Tivemos e fizemos coisas juntos que nos comprometeram. Por isso, nessa última vez, após o conhecimento que tivemos no mundo espiritual e a orientação que recebemos, combinamos que seria diferente. Mas ela se perdeu. Tá certo, eles me disseram que eu também não colaborei.

Observação: essa resposta corrobora o fato de muitas vezes (mas não sempre) os Espíritos passam várias vidas envolvidos uns com os outros. Algumas vezes, até mesmo numa espécie de círculo sem fim, transformado em perseguição, no qual, muitas vezes, nem sequer se lembram mais o que um fez para o outro e sua própria parcela de culpa nas ações. Concentram-se nos hábitos de vingança, julgando apenas o outro e se vitimizando, sem considerar seus próprios atos. Isso fica evidente em “Tá certo, eles me disseram que eu também não colaborei”, onde “eles” é uma referência aos bons Espíritos que o ajudam nesse processo.

10: Era isso que eu ia te perguntar: você se lembra se alguma coisa anterior fez ela despertar uma raiva de você, algo que você possa ter feito?

R: Eu acredito que sim. Não fui um bom companheiro para ela em uma encarnação anterior.

Observação: ajudar o Espírito a perceber os bons Espíritos ao redor, o bem, fazê-lo se sentir verdadeiramente acolhido e ajudá-lo a lembrar o que ele mesmo possa ter feito ajuda-o a sair desse estado de perseguição, dando lugar ao remorso e ao arrependimento.

11: Entendo, meu amigo. Vocês parece que estão em uma em uma relação de amor e ódio do ponto de vista carnal há muito tempo, né? E eu diria que vocês estão a um passo de transformar isso na verdadeira Felicidade.

R: Pode ser…

12: Você começa a perceber isso?

R: Tenho tentado deixar ela em paz. Tem como me esforçar um pouco mais, até porque esses espíritos que estão aqui me dizem o tempo todo que eu preciso melhorar. Eles já me mostraram as possibilidades que eu teria. Seria  diferente, se minhas atitudes fossem outras. Então eu busco não  ter aquele sentimento de vingança que ainda cresce e insiste dentro de mim.

Observação: essa é a luta de todos nós. Muitas vezes, nos sentimos desmerecidos por termos errado, sem entender que o que vale é o esforço, em o qual não chegaremos à relativa perfeição.

13: Essa semana, quando nós o evocamos e você não quis vir, fizemos uma prece por você. O que você sentiu durante esse momento de prece que fizemos em coletividade aqui? Em algum momento dessa prece você pensou: “sou mais forte e renunciarei a essa vingança”?

R: Eu recebi sua prece. Percebi o amor e a compaixão que vocês têm. Através dessa prece, me senti um pouco mais confortável. Ainda preciso de um pouco de tempo para assimilar.

14: Carlos, você sabia que você se mostrou um espírito um tanto esclarecido, sabia que você poderia ajudar muitos outros espíritos também?

R: É o que todos me dizem aqui.

15. Quer saber que essa capacidade – porque você se expressa muito bem… Você devia tentar ajudar alguém, tenta ajudar algum outro espírito. Você já tentou?

C: Não.

16. Não? Então tenta. E depois a gente vai conversar com você. Você vai dizer o que que você sentiu depois que você ajudou. Ele está bom? Você promete que você vem nos dizer?

R: Eu volto, eu volto.

17. Carlos, eu gostaria de fazer uma pergunta e peço ajuda do espírito amigo nessa resposta. Você disse que antes que os espíritos já falavam com você, já te mostravam certas coisas. Mesmo antes da nossa conversa, qual é a diferença em conversar conosco? Em que isso te ajuda mais, possivelmente, do que os Espíritos ao seu redor?

R:  A diferença é que vocês estão no corpo físico. E vocês vivenciam as mesmas dificuldades que eu. A desistência da vingança… Eles têm um entendimento diferente. Na verdade, me sinto mais próximo a vocês justamente por isso. Então, quando vocês falam vocês estão entendendo a minha dificuldade, porque vocês também têm a mesma dificuldade.

Observação: diria Kardec: “Espíritos mais burgueses (que se nos relevem esta expressão) nos tornam mais palpáveis as circunstâncias da nova existência em que se encontram. Neles, a ligação entre a vida corpórea e a vida espírita é mais íntima, compreendemo-la melhor, porque ela nos toca mais de perto. Aprendendo, pelo que eles nos dizem, em que se tornaram, o que pensam e o que experimentam os homens de todas as condições e de todos os caracteres, assim os de bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os ditosos e os desgraçados do século, numa palavra: os que viveram entre nós, os que vimos e conhecemos, os de quem sabemos a vida real, as virtudes e os erros, bem lhes compreendemos as alegrias e os sofrimentos, a umas e outros nos associamos e destes e daquelas tiramos um ensinamento moral, tanto mais proveitoso, quanto mais estreitas forem as nossas relações com eles. Mais facilmente nos pomos no lugar daquele que foi nosso igual, do que no de outro que apenas divisamos através da miragem de uma glória celestial. Os Espíritos vulgares nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, cuja teoria os Espíritos superiores nos ministram.” (O Livro dos Médiuns, item 281). Como vemos, o mesmo se dá com a relação deles para conosco. O aprendizado é mútuo.

18: Entendemos.

R: E quando, quando vocês se esforçam, vocês percebem a dificuldade que eu tenho?

19: Entendemos, obrigado pela resposta.

Observação: fraternidade, amigos, eis a palavra. Veja que em momento algum tratamos esse Espírito como algo a ser expurgado, mas como alguém que se deixou levar por falsas ideias, do mesmo jeito que muitas vezes nós mesmos fazemos. Notem que o Espírito busca entendimento, e é por isso que, mais do que palavras, o exemplo deve falar mais alto.

20: Entendemos. E Gostaria de perguntar: Você tem algo a dizer diretamente a M… (a moça perseguida), se for permitido?

R: Eu aguardo a minha modificação. Sinto que isso é possível. Mas não sei ainda quanto tempo vou demorar para entender melhor as coisas que estão acontecendo.

21: Aos pouquinhos, as coisas vão clareando um pouquinho de cada vez.

R: Digam à M… para ela não desistir. Eu também não vou desistir de melhorar aqui.

22: Agradecemos muito sua comunicação e ficamos muito felizes com você.

(Ao Espírito Amigo): Gostaríamos de perguntar ao espírito amigo se seria possível, por mais um pouquinho, falar com o espírito da avó da M…

R: Peço que no momento vocês tenham um descanso para médium. Ela sentiu A tensão do Carlos.

Observação: a médium terminou a comunicação um tanto cansada, mas, como tem nos asseverado, não é nada que persista para depois. As comoções morais do Espírito refletem momentaneamente no seu corpo, mas, tendo consciência de que são questões dele, e não dela, tais comoções não perduram em sua constituição física.


Terceiro Diálogo

1: Nós gostaríamos de receber o Carlos, Espírito amigo  que há algum tempo se une aos nossos propósitos.

R: Eu estou aqui. 

2: Tudo bem, Carlos, como você está? 

R: Melhor. Tive tempo de refletir e pensar a respeito das coisas que vocês falaram. Tenho estado ocupado com os espíritos de luz que são superiores a mim, aprendendo sobre o perdão e isso está me fazendo bem. 

3: A gente fica muito feliz por você, de verdade, e é interessante notar que é perceptível na médium. Você percebe isso também? 

R: Eu percebo que ela está mais leve. Ela não está segurando como fazia outra vez. Ela não contrai o músculo como ela costumava fazer antes.

Observação: a médium estava mais relaxada e não demonstrava mais, nem na fala, nem na expressão, o sarcasmo anteriormente presente. As respostas do Espírito também se tornaram mais completas e profundas, como veremos.

4: Nós gostaríamos de fazer algumas perguntas que a gente tinha para fazer antes de ir até um assunto importante. Tudo bem? 

R: Tudo bem.

5: Obrigada. Carlos, você pode descrever como você fazia as manifestações físicas? 

R: Essa é uma pergunta difícil. Ainda não tenho esse entendimento. Mas por aquilo que percebi, era a minha vontade. Não sei se estava ligada, se essa vontade estava ligada à raiva que eu tinha dentro de mim. Se tinha outra maneira que eu não percebia. Mas era uma união de coisas. Uma união de… Eu vou dizer forças que eu tinha. Os pensamentos ali da M…. Tudo isso se juntava. 

6: Entendo. Uma pergunta. Você falou em raiva. Nós entendemos que a raiva, a tristeza são emoções do corpo. Como você sentia essa raiva? 

R: Era uma compressão. Algo que parecia que me deixava preso. Como se estivesse me apertando. 

7: Você sentia que isso não te fazia bem? 

R: Isso me fazia querer explodir.

8: O que você sentia depois que conseguia movimentar tudo e fazer a manifestação? 

R: Quase uma libertação. Mas, depois, voltava tudo de novo. 

9: Você começou a fazer lá ou fez em outros lugares antes? 

R: Somente lá.

10: Desde a sua última encarnação, desde que você deixou o corpo você ficou ligado a ela? À M…? Ou você esteve em outros lugares ou em outros ambientes? 

R: Eu estive no mundo espiritual à procura dela. Mas por algum motivo eu não a encontrava. 

11: Entendi. Você percebe que se essas manifestações físicas dependiam da presença de alguém? De um médium? 

R: Dependiam sim da M… Era dela que eu colhia o que eu precisava.

Observação: se isso estiver correto, então M… é médium de efeitos físicos e não sabe.

12: Entendemos. Se você quisesse fazer isso para machucar alguém, mesmo ela… Por exemplo, lançar uma panela nela, ou uma faca, você conseguiria? 

R: Conseguiria, mas não foi permitido. 

13: Como a gente conversou a última vez, você conseguiu ajudar alguém, como a gente combinou da última vez? Você teve essa oportunidade? 

R: Eu segui com os irmãos aqui, como eu disse antes, para aprender sobre o perdão. Conversei com alguns espíritos que estavam numa situação parecida com a minha e percebi o quanto eles, perdendo tempo na vingança como eu fazia, deixavam de ver o que eu estava vendo naquele momento. Existe uma luz muito acima de nós. É uma luz que nos atrai, que faz com que desejemos tocá-la, experimentá-la, e esses irmãos que eu fui visitar não conseguiam nem sequer ver os irmãos espirituais que me acompanhavam, e isso chamou minha atenção. Me senti bem, se é isso que você quer saber, em poder escutar deles e tentar fazer com que eles enxergassem o que eu estava enxergando.

14: Certamente você os ajudou. Você contou tudo aquilo que eu ia te perguntar para você. 

R: É minha obrigação, agora é meu dever ajudá-los, assim como vai ser meu dever ajudar a M… Estou me preparando para isso. 

15: Quando você fazia os fenômenos na casa da M… era sempre você só ou tinha mais alguns outros espíritos lhe ajudando naquele fenômeno? 

R: Quando eu podia, eu chamava alguns e isso foi errado. O que eu faço agora é ir até esses espíritos e mostrar para eles que eu estava enganado. Nós temos um auxílio mútuo aqui: nós nos ligamos pelos nossos sentimentos e pelas nossas vontades, então quando nós nos ligamos àqueles que têm o mesmo propósito que nós, nós nos auxiliamos mutuamente e acabamos nos comprometendo até mais do que deveríamos. 

16: E hoje que você já mudou de hábito e de pensamento, esses irmãos ainda continuam nesse estado de pensamento ou você conseguiu mostrar a eles a sua nova realidade? 

R: Infelizmente eles continuam e me sinto responsável por isso. É meu dever agora fazer por eles o que vocês fizeram por mim. 

17: Eu gostaria de saber como você vê o espaço ao seu redor, agora que você não está mais tão ligado a esses propósitos de vingança. 

R: Amigo P…, você não tem ideia da imensidão que é o mundo espiritual. E eu ainda não me habituei em ver tão longe, perceber tantas coisas que me rodeavam e eu não percebia. É uma beleza. Nós não temos palavras. Nós vemos cores. Nós vemos brilhos. Nós vemos rastros luminosos de outros espíritos ainda mais elevados. É inacreditável a grandeza de tudo que nos rodeia. É como quando vemos o oceano pela primeira vez. Acho que até mais. Muito mais. 

18: Aquilo que nós vemos nas nossas imagens astronômicas sobre o espaço sideral, as luzes e tudo mais, chega a ser bonito ou não tem comparação com o que você vê? 

R: Para os olhos de vocês, a imensidão das estrelas, do espaço, é inebriante. Para nós, é muito mais. Porque nós vemos tudo isso e além disso… 

19: Me permita só mais uma pergunta: O que você diria sobre as pessoas que ligam tantos pensamentos a essas ideias materialistas no pós-morte, pensando que terão que ficar enclausuradas em casas, dormindo, comendo? 

R: Pobres criaturas. Elas perdem aquilo que eu perdi. Nós não temos estômago, nós não temos nada disso. Elas vão perder muito tempo. Porque elas trazem pra cá, aquilo que elas estão imaginando ali, e ficarão perdidas nisso até que despertem para a realidade, para aquilo que as espera. E o arrependimento, meu amigo. O arrependimento… Esse leva muito tempo para que a gente possa se desfazer dele. 

20: Carlos, como a gente pode ajudar? Tem alguma coisa que a gente possa fazer pra você? Pelo visto, você está mais tranquilo do que as últimas vezes que nós o chamamos. 

R: Continuem as preces. Não só pra mim. Ofereçam suas orações a todos aqueles que estavam na mesma situação que eu. E a outros. Uma prece geral aos espíritos sofredores alcança seu objetivo. Eu ainda estou próxima à M…. Não vou negar. Mas estou me controlando para não perturbá-la, porque eu sinto que ela está entendendo a necessidade de perdão assim como eu. 

21: Se você quiser deixar algumas palavras finais para nós, mesmo nos olhando de perto, agradecemos. 

R: A vocês, só continuem nesse esforço de trabalho. A M…, que ela possa me perdoar também. E se perdoar mesmo que ela não saiba o que ela fez. Que ela tenha fé e que ela possa seguir na sua vida com cuidado a fim não cometer os erros que ela já acometeu. Que ela ame e que ela tenha respeito por aqueles que ela tem próximos a ela. Que ela não os abandone. Que ela se mantenha firme nesse propósito. 

22: Comunicarei isso a ela. Muito obrigado, viu? 

R: O agradecimento é meu pelo auxílio que vocês me proporcionaram. 

A gratidão que carrego dentro de mim por vocês será sempre um farol para que eu não me perca no que ainda virá para mim. Que Deus os abençoe igualmente.


Os diálogos com esse Espítos nos trouxeram bom aprendizado, além de uma grata oportunidade de sermos úteis, conquistando mais um amigo em nossa jornada. O Espírito em questão, tendo sido evocado em um grupo parceiro, lá não quis se comunicar, mas o Espírito guia desse grupo mencionou que os fenômenos físicos estariam mexendo em panelas e na cama. Até o momento, eu não havia questionado sobre tais detalhes – o que sempre tenho buscado fazer, a fim de me manter isento. Questionando M…, a moça perseguida, sobre o que esse Espírito fazia, ela confirmou que ela ouvia panelas e louças batendo “sozinhas”.

Em nossos primeiros passos, notamos que estamos ainda apenas engatinhando nas evocações, aprendendo, assim, a fazer perguntas mais aprofundadas, no tempo disponível, sem sobrecarregar a médium. Esperamos, em breve, poder contar com mais grupos parceiros.




Contradições dos Espíritos

Lê-se na Revista Espírita de novembro de 1860 (“Relações afetuosas dos Espíritos”):

“Se Georges tivesse sido um desses Espíritos vulgares ou sistemáticos, que externam suas próprias ideias sem se inquietarem com sua exatidão ou sua falsidade, não teríamos dado a menor importância. Em razão de sua sabedoria e de sua profundeza habituais, poder-se-ia supor houvesse algo de verdadeiro no fundo dessa teoria, mas que o pensamento não teria sido expresso completamente. Com efeito, é o que resulta das explicações que pedimos. Temos, pois, uma prova a mais de que nada se deve aceitar sem o haver submetido ao controle da razão; e aqui a razão e os fatos nos dizem que tal teoria não poderia ser absoluta.

[…]

O simples bom-senso nos diz, pois, que a situação de que se falou é relativa e não absoluta; que pode verificar-se para alguns em dadas circunstâncias, mas não poderia ser geral, porque, do contrário, seria o maior obstáculo ao progresso do Espírito e, por isto mesmo, não seria conforme à justiça de Deus, nem à sua bondade. Evidentemente, o Espírito de Georges só encarou uma fase da erraticidade, na qual, para melhor dizer, restringiu a acepção do termo errante a uma certa categoria de Espíritos, em vez de aplicá-la, como nós o fazemos, indistintamente, a todos os Espíritos não encarnados.”

Esta é mais uma lição para os nossos diálogos com os Espíritos. Os mesmos desafios que Kardec enfrentava, nós também os enfrentaremos. A questão é que, baseando-se no que Kardec já estudou, temos um princípio, um ponto de partida, e não ficamos perdidos, sem saber como reagir.

Mais uma vez, o bom senso de Kardec nos chama à razão sobre a necessidade de *NADA* aceitar cegamente, sempre considerando todas as dificuldades nas quais as comunicações espíritas estão envolvidas. Uma vez mais, o retorno ao bom senso kardeciano contrasta gritantemente com o que o Movimento Espírita atual faz e ensina.




O verdadeiro problema do Movimento Espírita

Voltemos ao Movimento Espírita na época de Kardec, conforme a “Estatística do Espiritismo” publicada na Revista Espírita de 1869:

“católicos romanos, livres-pensadores, não ligados ao dogma, 50%; ─ católicos gregos, 15%; ─ judeus, 10%; ─ protestantes liberais, 10%; ─ católicos ligados aos dogmas, 10%; ─ protestantes ortodoxos, 3%; ─ muçulmanos, 2%”.

Desde o princípio, o Movimento Espírita foi heterogêneo quanto à origem religiosa de seus participantes. Isso nunca foi um problema. Ninguém precisa renunciar à sua identidade religiosa para estudar uma ciência. O verdadeiro problema está na perda da unidade do conhecimento dessa ciência.

Com Kardec, o Espiritismo possuía uma definição clara, princípios bem delimitados e uma defesa vigorosa de seu método de observação, comparação e controle das manifestações inteligentes. Após sua morte, a ciência foi distorcida, o método abandonado, e os princípios traídos. No Brasil, particularmente, o nome Espiritismo foi sequestrado para designar uma religião sincrética, marcada por misticismo, fatalismo e idolatria mediúnica — cujo “Vaticano” atende pelo nome de Federação [Não] Espírita Brasileira.

É preciso parar de transferir a culpa. O problema do Movimento Espírita não é, em essência, o catolicismo ou o protestantismo. O desvio central é roustainguista. O dogmatismo religioso, sim, contaminou o Movimento, mas só porque encontrou nele terreno fértil: espíritas que, sem autonomia intelectual, sem estudo rigoroso, sem espírito crítico, deixaram-se levar por autoridades humanas e abandonaram o modelo científico proposto por Kardec.

No passado, isso até poderia ser escusável, já que a Revista Espírita só foi traduzida para o português na década de 1960. Também não havia, como hoje, facilidade de acesso ao conhecimento. Hoje — e já há algum tempo — isso não mais se sustenta. Não há desculpa plausível além da pura falta de vontade de estudar a Doutrina como ela realmente é, oara ficar perdendo tempo com a sistematização de ideias colhidas em ROMANCES (sic!).

Esse é o verdadeiro desvio. Não se trata de fatores externos, mas da covardia doutrinária dos que se dizem espíritas e não ousam estudar, evocar, analisar e confrontar os erros — como Kardec fazia, com coragem e método — como muitos outros também faziam, fossem livres-pensadores, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, etc.




A chave que falta para a ciência compreender vida e morte

A ciência avançou enormemente na descrição dos mecanismos que mantêm um organismo vivo e daqueles que entram em colapso quando ele morre. Entendemos com precisão como as células funcionam, como o DNA coordena a formação de tecidos, como as proteínas regulam os processos bioquímicos, e como a morte leva à degradação dessas estruturas. Mas permanece uma questão essencial que ainda escapa aos modelos puramente materiais:

Por que a matéria se organiza?

Não apenas como ela se organiza, mas por que ela assume uma configuração funcional, integrada, coesa, direcionada? A física e a química descrevem as interações entre moléculas, mas não explicam satisfatoriamente a presença de um princípio ordenador que mantenha essa organização ao longo da vida. Tampouco explicam o porquê dessa organização cessar de maneira tão coordenada com a morte.

Essa é a chave que falta: o princípio inteligente e organizador que atua sobre a matéria. E é precisamente aqui que o Espiritismo, fundado por Allan Kardec, oferece uma contribuição decisiva para o pensamento científico.

Segundo o Espiritismo, o organismo vivo é estruturado por uma tríade: o corpo, o perispírito e o espírito. O perispírito é um envoltório semimaterial que serve de ponte entre o espírito (princípio inteligente) e o corpo (estrutura material). É o perispírito que molda o corpo físico desde a concepção e que o sustenta durante toda a vida, mantendo a coesão funcional e a identidade orgânica.

Com a morte, o espírito se desliga do corpo, cessando essa ação coordenadora. A matéria, então, entra em colapso não por uma “falha” aleatória, mas porque lhe falta o elemento que lhe dava unidade. As reações químicas que antes eram reguladas por um princípio inteligente passam a seguir apenas as leis naturais da degradação.

Essa visão não é metafísica arbitrária. Kardec propôs o Espiritismo como ciência de observação, baseada em fatos, experimentação e raciocínio. A hipótese do perispírito como modelo organizador biológico não exclui as descobertas da biologia; ela as integra numa abordagem mais ampla e coerente.

Negar essa possibilidade não é ser científico, mas ideológico. O verdadeiro espírito científico não teme ampliar seus horizontes quando os dados da realidade assim o exigem. E os fatos, tanto fisiológicos quanto mediúnicos, apontam para algo que vai além da matéria: uma inteligência que atua sobre ela.

Por isso, dizemos com firmeza:

O Espiritismo oferece a chave que falta para completar a compreensão da vida e da morte. Não se opõe à ciência verdadeira; ao contrário, convida-a a evoluir para além do reducionismo materialista.

O corpo morre. Mas a consciência, e o princípio que sustentava a organização desse corpo, seguem vivos. Essa é a chave. Essa é a ciência espiritual inaugurada por Allan Kardec. E é esse o legado que nos cabe estudar, divulgar e honrar com seriedade, profundidade e razão.




O Brasil e a Ilusão da Pátria do Evangelho: A Quimera Roustainguista no Movimento Espírita

Introdução: A promessa frustrada de uma missão espiritual

O Brasil, com sua riqueza natural incomparável e sua posição geoestratégica, tem sido repetidamente apontado como um país do futuro. No entanto, esse “futuro” parece nunca chegar. Em meio a essa expectativa permanente, surgiu uma narrativa peculiar dentro do movimento espírita brasileiro: a ideia de que o Brasil seria a “Pátria do Evangelho”. Essa tese, nunca prevista por Allan Kardec ou pelos Espíritos da Codificação, ganhou força após a publicação do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, atribuído ao espírito Humberto de Campos e psicografado por Chico Xavier.
Longe de representar uma missão autêntica ou uma promessa divina, essa ideia se transformou numa muleta emocional e ideológica, utilizada por instituições como a FEB para perpetuar sua influência e manter o povo em uma ilusão paralisante.

O desvio doutrinário: quando a FEB se tornou uma trincheira roustainguista

Fundada em 1884, a Federação Espírita Brasileira passou por uma guinada decisiva em 1895, com a ascensão de Bezerra de Menezes à sua presidência. Adepto das ideias de Jean-Baptiste Roustaing, Bezerra promoveu a integração das teses roustainguistas à prática institucional da FEB. Roustaing defendia um Espiritismo místico, fortemente influenciado por interpretações dogmáticas e por ideias como o corpo fluídico de Jesus e a infalibilidade de certos médiuns.
Essas posições contrariavam diretamente a proposta de Kardec, que sempre defendeu o controle universal do ensino dos espíritos, a pluralidade das fontes e a razão como critério de análise. A substituição progressiva do Espiritismo racional, experimental e filosófico por uma versão sentimentalista e dogmática criou uma cisão profunda no movimento.

A mistificação do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”

Publicado em 1938, esse livro tornou-se um dos pilares da mitologia institucional da FEB. A obra apresenta uma narrativa altamente simbólica, repleta de elementos sobrenaturais e afirmações inverificáveis, que posicionam o Brasil como um instrumento direto da providência divina.
O trecho mais polêmico da obra afirma que Kardec contou com a colaboração de Roustaing como um dos pilares da Codificação. Essa afirmação não apenas é falsa como também ofensiva à memória e ao método kardequiano. Roustaing se colocava em oposição a Kardec, rejeitando o critério de exame racional e substituindo-o por uma crença dogmática e personalista.
A recente remoção silenciosa do nome de Roustaing das apostilas do ESDE, sem qualquer retratação ou nota pública, evidencia o modus operandi da FEB: apagar os rastros de sua orientação doutrinária sem jamais admitir seu erro.

As consequências dessa ilusão para o povo brasileiro

Ao promover a ideia de que o Brasil tem uma missão divina já garantida, cria-se uma cultura de passividade espiritual. O povo brasileiro, já fragilizado por um histórico de desigualdade, corrupção e impunidade, encontra nessa narrativa uma justificativa para a inércia: afinal, se a Providência escolheu o Brasil, tudo dará certo no fim.
A falta de educação moral real, como proposta em O Livro dos Espíritos (questões 614 a 625), somada à ausência de senso crítico e de participação cívica, permite que médiuns fascinados e instituições dogmáticas manipulem milhões. Em vez de promover a emancipação da consciência, como é o verdadeiro objetivo do Espiritismo, essas práticas mantêm os indivíduos infantilizados espiritualmente.

O verdadeiro papel do Brasil à luz do Espiritismo de Kardec

Kardec nunca apontou nações como detentoras de missões exclusivas. Em A Gênese, cap. XVIII, item 27, ele afirma que “os grandes movimentos progressistas se operam geralmente de maneira simultânea em várias partes do globo”. A missão, portanto, é sempre moral, individual e coletiva, nunca nacionalista ou predestinada.
A verdadeira redenção do Brasil não virá por decreto espiritual, mas pelo trabalho dos homens de bem, conforme descrito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5: “Os verdadeiros ‘obreiros do Senhor’ são todos aqueles que se colocam a serviço do bem com dedicação e desinteresse”.
Portanto, o Espiritismo pode sim desempenhar um papel fundamental na reconstrução moral do Brasil, mas apenas se for o Espiritismo de Kardec — não o dogmático, nem o manipulador.

Conclusão: O Brasil ainda pode se redimir — mas com Kardec, e não com ilusões

Se existe uma missão reservada ao Brasil, ela é condicional: depende do despertar da consciência moral, da reforma íntima, da superação do personalismo e do retorno às bases sólidas da Codificação. Nada disso acontecerá com a perpetuação de mitos, mistificações ou livros apócrifos travestidos de doutrina que, infelizmente, estão há tempos injustamente titulados como “espíritas”.
O Espiritismo no Brasil está em um ponto de inflexão. Cabe aos espíritas sérios e comprometidos com a verdade fazerem a distinção entre a Doutrina dos Espíritos e o sistema institucional comprometido com o passado. Somente então o Brasil poderá começar a cumprir, com dignidade e razão, seu verdadeiro papel no futuro espiritual da humanidade.

Por Marcus Vinicius




Linguagem Específica da Ciência Espirita

Você sabia que a maioria dos que se dizem espíritas… não conhecem o Espiritismo? Nem usam a linguagem específica da ciência espiritas para explicar seus fenômenos e seus conceitos.

Ser espírita não é questão de adesão emocional, nem de consumir romances supostamente “espíritas”.
Ser espírita é estudar com seriedade a Ciência Espírita, compreendendo seus fundamentos e colocando em prática seus princípios — como ensinava Allan Kardec.

O Espiritismo é uma doutrina de estudo, razão e observação. Trocar essa ciência por ficção é um enorme mal causado ao Espiritismo. Como é uma Ciência Filosófica ela deve ser estuada com os termos científicos específicos.

Ne época de Kardec, as Ciências Filosóficas faziam parte do ensino.

Quando Allan Kardec lançou sua Primeira Edição da Revista Espírita de 1858, logo a definiu na sua introdução ao justificar seu título Jornal de Estudos Psicológicos. A Ciência Espirita é, segundo seu tempo apresentado no quadro acima: Ciência Moral

Como Ciência, sua linguagem é especifica dos elementos dessa ciência para todos se entenderem. Os termos são extremamente importantes para haver uma comunicação adequada das ideias espiritas. Nós vemos, hoje em dia, uma mistura da ciência totalmente materialista do nosso tempo em que não se considera o estudo das hipóteses Metafísicas, por exemplo. Além disso, misturarem palavras de um em outro. Por causa disso, há uma confusão de conceitos do Materialismo misturado com o estudo dos assuntos do Espirito, que se estuda também metafisicamente.

Daremos alguns exemplos do uso equivocado de termos materialistas que passam despercebidos:

  1. USE PSICOFONIA – NÃO USE INCORPORAÇÃO: nós vemos muitos palestrantes ou mesmo descrições de manifestações em textos dito espíritas que se usa o termo incorporação. Espirito não é matéria para ocupar um lugar físico. Espirito não incorpora nenhum corpo. nem seu próprio espirito incorpora você. O Espirito fala pelo médium através de uma fenômeno chamado PSICOFONIA. O espírito do médium está COM ele e não incorpora seu corpo físico. Esse ponto é bem importante para não criar a falsa ideia de que o médium é possuído por outro espirito, ou que o espírito comunicamente toma o corpo do médium, ou mesmo que o espirito do médium vai para outros lugares enquanto o médium está em psicofonia. Isso não existe na Ciência Espirita!
  2. A AÇÃO DO ESPIRITO É TÃO E SOMENTE PELO SEU PENSAMENTO: espírito não tem corpo material. Segundo os estudos da Ciência Espirita, Deus criou 2 elementos gerais: ESPÍRITO E MATÉRIA. Espirito não tem analogia no nosso mundo material. Períspirito é matéria. O material de que é feito o períspirito é desconhecido para nós, mas mesmo sem conhecermos as características dele, é matéria. Períspirito não faz parte do espirito, assim como períspirito não é espirito. O espirito age através e tão somente pelo pensamento . Como exatamente isso acontece ainda é desconhecida por nós, mas há varias teorias dentro das livros que explicam esse mecanismo (leia A Gênese, cap. XIV – Os Fluidos.)
  3. USE EMANAÇÃO OU PROPAGAÇÃO – NÃO USE ENERGIA: o termo energia é definida na Física como capacidade de um corpo, uma substância ou um sistema físico têm de realizar trabalho. Em termos figurados(não científicos), energia é vigor ou potência moral; filosoficamente falando, segundo Aristóteles, ação de um motor físico ou metafísico (a metafísica, não é considerado ciência nos tempos de hoje) que permite a atualização de uma potencialidade. Veja, todas as definições levam em conta algo físico agindo sobre algo físico. Um dos princípios da Ciência Espirita é de que somos uma alma encarnada. Se somos uma alma, não temos corpo, logo não poderá ser uma energia(algo físico) saindo do espirito ou alma(não físico) e chegando em um corpo(físico). O mais apropriado seria uma emanação ou mesmo propagação .
  4. USE ESPÍRITONÃO USE MENTE: usa-se mente por outras áreas da ciência atual materialista. Alguns confundem mente com cérebro; cérebro é um orgão do corpo, cérebro é matéria. Como a Ciência Materialista não admite o espirito como hipótese, ele atribui ao cérebro o processo de pensar, mas não foi isso que os espíritos explicaram. Segundo a Ciência Espirita, através de sua observação, quem comanda o corpo é o espirito e não o cérebro. O cérebro envia os comandos. O cérebro nasce, vive e morre e o espirito permanece e leva com ele os conhecimentos adquiridos por várias encarnações. Quem tem e leva o conhecimento é o espírito não a mente. Quem pensa é o espirito. Você que entende a doutrina espirita sabe disso e sempre usa Espirito ao invés de Mente, não é?
  5. USE “COMO SE FOSSE UMA VIBRAÇÃO” NÃO USE “VIBRAÇÃO” ISOLADAMENTE AO FALAR DE FENOMENOS ESPÍRITAS: há hipóteses do mecanismo propriamente dito (vide item 2) e tão somente hipóteses. Usar o termo vibração pode levar a crer que o fenômeno espirita é uma onda como estudada na Física Ondulatória, onde apresenta diferentes tipos de ondas e vibrações diferentes, etc.
  6. USE PERISPÍRITO – NÃO USE FANTASMA: quem estuda a Ciência Espirita, sabe que há fenômenos de aparições que remetem a essas figuras que impressionam nosso imaginário. Mas não passam de espíritos e seus fenômenos para muitas vezes brincar ou assustar os encarnados. Espirita ter medo de espirito não existe!
  7. ESTAMOS SEMPRE NO MUNDO ESPIRITUAL: segundo a Ciência Espirita, quando encarnados vivemos em um mundo dual: mundo da matéria e mundo do espirito. Quando morremos, desencarnamos, ou seja, deixamos a matéria, mas CONTINUAMOS NO MUNDO ESPIRITUAL. Não use mais os termos “ele morreu e foi para a pátria espiritual”(Ele já estava no mundo dos espíritos); “agora vai encontrar seus entes que já morreram”(os seus entes queridos nunca estão longe. Lembra que os Espíritos não ficam em nenhum lugar?(vide item 1); “ele nos deixou”, etc
  8. USE CAUSA E EFEITO – NÃO USE LEI DE CAUSA E EFEITO: A causalidade é geralmente considerada um princípio fundamental, e não uma lei específica, no contexto filosófico e científico. Ela descreve a relação de causa e efeito entre eventos, onde um evento (a causa) é entendido como a razão por trás da ocorrência de outro evento (o efeito). A causalidade é um princípio fundamental que ajuda a entender a natureza da relação entre causa e efeito, e é utilizado em diversas áreas, desde a física e as ciências naturais até a filosofia e o direito. Embora a causalidade seja frequentemente referida como “lei da causa e efeito”, ela não é uma lei científica no sentido de uma relação quantitativa e experimentalmente verificável, como as leis da física. Ela é mais um conceito ou princípio que descreve a natureza da relação entre causa e efeito. A causalidade é importante para a compreensão do mundo ao nosso redor, pois permite identificar as causas de fenômenos e prever seus efeitos. Ela é fundamental para a ciência, a tecnologia e a vida cotidiana, pois nos ajuda a entender e interagir com o mundo de forma mais eficiente. Um exemplo: Imagine em uma caçada, um animal é abatido com um tiro e morre. O efeito é a morte. A causa foi o disparo da espingarda. Não foi uma Lei. Na Ciência Espirita, Kardec usou muito desses princípios para explicar os efeitos inteligentes das manifestações espiritas inteligentes. Lá ele explica que para todo efeito inteligente há uma causa inteligente. Há inúmeros relatos nas obras dele.
  9. USE PROVAS E EXPIAÇÕES – NÃO USE KARMA(OU CARMA): Karma e Espiritismo são como água e óleo: não se misturam. Cuidado com as pessoas que pregam a doutrina do karma dentro do meio espírita, pois o entendimento da Doutrina Espírita vai no sentido oposto.(clique no link para ler a explicação completa).
  10. USE ESPIRITO ESTACIONADO – NÃO USE RETROGRADAÇÃO: muitos misturam outras doutrinas reencarnacionistas com a ciência dos espíritos.. Segundo a Ciência Espirita, nós, espíritos, quando estamos mergulhados em imperfeições, como orgulho e egoísmo. Assim ficamos estacionados como em looping e não evoluímos. Mas isso não quer dizer que estamos voltando e vamos reencarnar em animais. Isso só quer dizer que ESTACIONAMOS NO PROCESSO EVOLUTIVO! O espirito de um ser humano nunca perde o conhecimento que teve anteriormente, então ele nunca reencarnará como animal por causa de suas imperfeições. Ele simplesmente não progredirá até se arrepender e retornar sinceramente ao bem.
  11. QUEM REGENERÁ SERÃO OS ESPIRITOS DO PLANETA TERRA – O PLANETA TERRA NÃO REGENERÁ: o Planeta não vai mudar e daí os espíritos vão ter que evoluir. Não existe DATA LIMITE, ANO, SÉCULO nem nada. É o inverso! Os espirito que estão no planeta que vão evoluir. Vai ser simplesmente quando a maioria dos espíritos encarnados estiverem mais evoluídos, não precisando mais de provas e expiações para evoluir. Um dia o Planeta terra se extinguirá como qualquer outro planeta também será. Essa é a ordem do universo material que conhecemos.
  12. USE ESPIRITO PURO – NAO USE ESPIRITO PERFEITO: O ideal de perfeição é Deus, então nunca um espirito vai ser um espirito perfeito. O espirito vai chegar a perfeição relativa ao seu grau evolutivo. Espirito Puro é aquele que não precisa mais reencarnar para evoluir pois já não sofre influencia da matéria. Mesmo sendo puros, eles vão evoluir (Lei do Progresso)
  13. PASSE NÃO É TRANSFERENCIA DE ENERGIA: vide item 3

Se você lembrar de alguma expressão equivoca, só deixar um comentário.




Por que a Educação Precisa Urgentemente da Visão Espírita: O Que a Ciência Espírita Revela Sobre as Crianças

A educação moderna se tornou, em muitos aspectos, um processo mecânico: o objetivo principal parece ser preparar crianças para um mundo competitivo, ensinando conteúdos, habilidades técnicas e regras sociais. No entanto, essa abordagem ignora uma dimensão essencial do ser humano — aquela que transcende a biologia, o ambiente e o presente.

A Doutrina Espírita, fruto do trabalho metódico da Ciência Espírita, revela uma verdade transformadora: a criança não nasce em branco. Ela não é um simples resultado do meio, nem uma folha vazia pronta para ser preenchida por instruções. Cada criança é um Espírito imortal, com um passado, com conquistas, com dificuldades morais e aptidões naturais que já traz consigo antes mesmo de abrir os olhos para o mundo terreno.


🕊 A Criança como Espírito Reencarnado: Uma Nova Perspectiva Educacional

Enquanto a pedagogia materialista foca apenas em fatores hereditários e sociais, o Espiritismo demonstra que há raízes espirituais profundas por trás das tendências de cada criança.

Por que uma criança, mesmo sendo criada em um ambiente amoroso, pode apresentar egoísmo, vaidade, ciúmes, orgulho?
Por que outra, em condições adversas, já demonstra paciência, generosidade, empatia?

A resposta não está apenas no DNA ou no ambiente: está nas experiências passadas do Espírito. Ele reencarna para avançar, para corrigir suas imperfeições, para desenvolver virtudes. E a infância, como a Doutrina Espírita ensina, é uma fase de plasticidade, em que velhas tendências estão amortecidas e o Espírito está mais acessível à orientação moral.


🌱 A Função do Educador: Muito Além de Instruir

Quando a educação se limita a fornecer informações, conteúdos e técnicas, ela forma autômatos preparados para o mercado, mas não para a vida espiritual.

O verdadeiro papel do educador, à luz do Espiritismo, é auxiliar o Espírito em jornada. Isso significa:
✅ Ajudar a criança a reconhecer suas tendências negativas e trabalhar para transformá-las;
✅ Valorizar e canalizar para o bem as aptidões e facilidades que ela já traz de vidas passadas;
✅ Oferecer não apenas instrução intelectual, mas formação moral, que permanece com o Espírito além desta existência.

Como Allan Kardec observa (O Evangelho Segundo o Espiritismo), a educação moral é a chave para o progresso da humanidade. Não basta mudar leis ou estruturas sociais; é preciso transformar os indivíduos, um a um, começando desde cedo.


💡 Sem Espiritualidade, a Educação Empobrece

A ausência dessa perspectiva espiritual na educação gera várias consequências:
🔹 Crianças tratadas como máquinas de aprender, e não como Espíritos em evolução;
🔹 Falta de compreensão sobre desafios emocionais e morais que surgem na infância;
🔹 Um foco excessivo no desempenho acadêmico, deixando de lado o cultivo de virtudes como paciência, empatia, responsabilidade e solidariedade.

A visão espírita não é apenas um “acréscimo religioso” — ela é uma revolução profunda no modo de entender o ser humano e, portanto, no modo de educar.


🌟 Educar para a Eternidade: Uma Missão Urgente

Ao adotar uma educação inspirada nos princípios espíritas, não estamos falando de catequese ou doutrinação religiosa. Estamos falando de:
✨ Ver o ser humano em sua totalidade — corpo, mente e Espírito;
✨ Entender que o maior patrimônio da criança não são suas notas, mas suas conquistas morais;
✨ Ajudar cada pequeno ser a crescer como Espírito livre, consciente, responsável, capaz de amar e de trabalhar pelo bem comum.

A educação verdadeira prepara não apenas para uma profissão, mas para a vida — para esta vida e para todas as que virão.




Queda pelo pecado: a maior mentira já contada à humanidade

A ideia da “queda pelo pecado”, associada ao dogma do inferno eterno, constitui uma das maiores construções mentais de controle, medo e alienação que já se impuseram à humanidade. Sob a ótica do verdadeiro Espiritismo — o que se baseia exclusivamente nas obras de Allan Kardec, estruturado como ciência de observação dos fatos espirituais — essa concepção é desmascarada em suas bases filosóficas, morais e lógicas.


  1. O Dogma da Queda: Um mito de origem baseado na culpa

O mito da “queda” — presente em diferentes tradições religiosas — parte da ideia de que o Espírito foi criado perfeito, mas caiu por desobediência. Isso implica que a dor, o sofrimento e as imperfeições humanas seriam castigos divinos, consequência de uma culpa original.

Kardec rejeita essa ideia de forma contundente. Em O Livro dos Espíritos, especialmente nas questões 115 a 121, ele demonstra que os Espíritos são criados simples e ignorantes, e que a evolução é fruto de um processo progressivo, natural e racional, e não de uma punição. Não há “queda”: há educação e ascensão. A ignorância inicial não é culpa, é ponto de partida.


  1. O Inferno: uma construção moralista baseada no medo

O dogma do inferno eterno é ainda mais cruel. Ele não apenas limita a liberdade de pensar, mas cristaliza o erro e eterniza o sofrimento, negando a justiça e a misericórdia divinas.

Kardec combate essa noção em O Céu e o Inferno, demonstrando que não há penas eternas. A justiça divina é proporcional, educativa e regeneradora. O Espírito sofre, sim, mas sofre em razão de sua própria inferioridade moral, que persiste enquanto ele a mantiver. O sofrimento é passageiro, didático, jamais punitivo eterno.


  1. A falsa espiritualização do castigo: carma, lei de retorno, ação e reação

No Espiritismo verdadeiro, não há lugar para ideias como “carma”, “lei de ação e reação” ou “lei do retorno”, porque tais conceitos implicam uma justiça automática, quase mecânica, que despersonaliza o Espírito e transforma a vida espiritual numa engrenagem de punições e compensações.

Kardec propõe outra lógica: a liberdade moral e o progresso pelo esforço consciente. As consequências dos atos não são castigos impostos de fora, mas resultados naturais que oferecem ao Espírito oportunidade de compreender, crescer e superar suas limitações. Trata-se de uma pedagogia moral, não de uma contabilidade cósmica.


  1. O efeito perverso desses dogmas: reforçar o desvio e impedir a evolução

Quando alguém é ensinado a acreditar que já nasce culpado, que está manchado por um pecado original, ou que sofrerá eternamente por suas falhas, esse indivíduo internaliza o medo e, muitas vezes, a desesperança. Ao invés de estimular a transformação, tais ideias cristalizam o erro. O homem passa a crer que é naturalmente mau, indigno, perdido — e, assim, justifica seus próprios desvios ou se acomoda na inércia.

O Espiritismo propõe o contrário: o Espírito é perfectível. Ele é livre para escolher, aprender, errar, corrigir, amar e evoluir. Não há culpa eterna, mas responsabilidade contínua. Não há inferno, mas estados interiores de sofrimento ou paz, conforme a consciência se ilumina.


  1. Conclusão: o Espiritismo liberta, não condena

A maior libertação que o verdadeiro Espiritismo oferece à humanidade é essa: a destruição dos grilhões da culpa e do medo, substituídos pela luz da razão e da confiança no progresso. Não caímos de um paraíso: estamos subindo, passo a passo, da ignorância à sabedoria, da imperfeição à virtude.

Não somos condenados por existir: fomos criados para evoluir. Esse é o grande legado de Kardec.




Ninguém se torna espírita por mera adesão (nem por ler romances)

Você sabia que a maioria dos que se dizem espíritas… não conhecem o Espiritismo?

Ser espírita não é questão de adesão emocional, nem de consumir romances supostamente “espíritas”.
Ser espírita é estudar com seriedade a ciência espírita, compreendendo seus fundamentos e colocando em prática seus princípios — como ensinava Allan Kardec.

Infelizmente, até palestrantes famosos repetem absurdos que não estão nas obras da Codificação.
Veja uma lista de falsas ideias comumente difundidas, mas totalmente incompatíveis com o Espiritismo verdadeiro:

Não pode praticar mediunidade fora do centro (pode sim).

Não pode evocar os Espíritos (deve evocar, conforme Kardec ensinou).

Aceitar comunicações sem examinar (jamais faça isso!).

Nosso Lar e umbral existem (não existem; são criações literárias).

Passe é transferência de energia (não é; não há “energia” fluídica como no senso comum).

Todos os sofrimentos são expiações causadas por culpa (não são; há provas, missões e causas atuais).

A FEB define o Espiritismo (não define; muitas vezes se afasta dele).

Deficientes físicos nasceram assim por su… na vida anterior (isso é falso e perigoso).

Perispírito armazena danos a serem reparados em vidas futuras (falso; o perispírito não guarda “danos” físicos).

Recomendar romances para novatos conhecerem o Espiritismo (não se deve fazer isso; romances geram falsas ideias).

E por aí vai…

O Espiritismo é uma doutrina de estudo, razão e observação.
Trocar essa ciência por ficção é um enorme mal causado ao Espiritismo.

Se você quer conhecer o verdadeiro Espiritismo, sem distorções:

Acesse o site do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Comece agora a estudar com base nas obras originais, sem deturpações.




Encerramento de uma Era: Reflexões sobre a morte de Divaldo Franco

A morte do médium Divaldo Franco marca o fim simbólico de uma era no movimento espírita brasileiro — uma era em que médiuns renomados foram alçados à condição de líderes do Espiritismo. Mas é preciso dizer com toda a clareza: essa função jamais lhes competiu.

Divaldo Franco, como espírito encarnado, certamente realizou o bem. Em muitos momentos, posicionou-se corretamente quanto à Doutrina Espírita. Porém, seu trabalho — como o de qualquer médium — precisa ser analisado à luz da razão e confrontado com os princípios estabelecidos por Allan Kardec. Infelizmente, diversas de suas obras se afastam desses fundamentos, frequentemente adotando ideias ligadas ao roustainguismo e ao carma, conceitos que não pertencem à estrutura doutrinária do Espiritismo.

É importante frisar: não se “volta” ao mundo espiritual. Jamais o deixamos. Somos espíritos encarnados, e o mundo material é apenas uma expressão transitória da realidade espiritual. Esse ponto, tantas vezes simplificado ou distorcido, precisa ser resgatado em sua profundidade.

Chega de Idolatria

O movimento espírita precisa urgentemente abandonar a idolatria de médiuns. Nomes famosos são aceitos sem crítica, e suas psicografias publicadas às centenas, sem qualquer exame doutrinário rigoroso. O Espiritismo, sendo ciência, exige exame crítico constante — e esse exame não pode ser dispensado por conta da fama ou da suposta elevação moral de quem escreve ou transmite uma mensagem.

Sejamos diretos: muitas das comunicações atribuídas a espíritos superiores por Divaldo e outros médiuns não resistem à análise racional. Algumas são bem-intencionadas, mas reproduzem ideias terrenas. Outras são mistificações. A diferença entre elas só pode ser percebida com estudo sério, raciocínio e prática da evocação consciente e criteriosa — exatamente como ensinava Kardec.

Alerta: A Disputa pelo Espaço Vago

Com a partida de Divaldo, o espaço simbólico que ele ocupava ficará vago — e é aqui que precisamos redobrar a atenção. Alguns médiuns, já bastante conhecidos por suas supostas “cartas do além”, recheadas de clichês emocionais e doutrinariamente pobres, certamente tentarão ocupar esse lugar.

É preciso discernimento. As tais cartas que confortam sem esclarecer, que emocionam sem instruir, que repetem chavões e ideias banais, são o oposto da proposta de Allan Kardec. Representam o Espiritismo sentimentalizado, moralista e desconectado da investigação séria. Não podemos permitir que o Espiritismo continue sendo moldado por esse tipo de mediunidade superficial.

É Hora de Retomar o Espiritismo Verdadeiro

A Doutrina Espírita não precisa de líderes. Precisa de espíritas comprometidos com o método de investigação racional dos fenômenos espirituais, com a evocação ativa dos Espíritos e com o exame minucioso das mensagens. Kardec nos mostrou isso de forma inequívoca.

Para quem deseja compreender melhor esse modelo de organização colaborativa, recomendamos dois textos fundamentais da Revista Espírita, ambos de Allan Kardec:

  • Dezembro de 1861Organização do Espiritismo
  • Dezembro de 1868Constituição Transitória do Espiritismo

O verdadeiro Espiritismo é feito em rede, por todos, com método, com crítica, com razão. Chegou a hora de deixar os mitos e os ídolos para trás e retomarmos o caminho traçado por Kardec — sem desvios, sem aduladores, sem “cartinhas do além” recicladas em livros que apenas repetem o que o mundo já conhece.