Visões

Aqui Kardec aborda dois casos de visões espirituais. Apesar de sabermos das manifestações espirituais visuais, aqui nenhum deles parece se tratar disso, mas, antes, de fenômenos de dupla vista, sonambulismo ou êxtase, como no último caso, onde o próprio Espírito do encarnado se transporta para outro local, vivendo outras experiências que, depois, vêm a se confirmar. 

“Como os sonhos nada mais são que um estado de sonambulismo natural incompleto, designaremos as visões que ocorrem nesse estado sob o nome de visões sonambúlicas, para distingui-las das que se dão em estado de vigília e que chamaremos de visões pela dupla vista.”

A seguir, separamos um trecho que visa causar uma certa provocação e que abre campo para uma necessária reflexão:

“Quando as visões têm por objeto os seres do mundo incorpóreo, poder-se-ia, aparentemente com alguma razão, qualificá-las de alucinação, porque nada lhes pode demonstrar a exatidão.”

Em outras palavras: será que podemos confiar tanto assim nas “visões” mediúnicas de outros planos e mundos? É preciso, como lembra Kardec, tomar sempre muito cuidado, não acreditando por acreditar naquilo que qualquer um diga.

Cabe fazer uma breve abordagem sobre os extáticos, lembrando que tal mediunidade sonambúlica, que hoje se confunde entre as chamadas “viagens astrais”, carece de conhecimento e vigilância da parte do próprio médium. Frente às maravilhas com as visões, nesse caso específico, poder se afastar de tal forma de seu corpo carnal, fazendo sua ligação com ele tão tênue que chegue, mesmo, a se romper, sob sua vontade de abandoná-lo. Lembrando sempre que “Não é a partida do Espírito a causa da morte do corpo, mas é a morte deste que causa a partida do Espírito.”




Os médiuns julgados

Aqui Kardec aborda um caso ocorrido no qual uma instituição determinou o pagamento de um prêmio àquele que pudesse comprovar alguns fenômenos espíritas, ao que nenhum dos inscritos conseguiu atender, embora, fora dali, muitos deles obtivessem tais fenômenos facilmente, tal como se deu, lembra Kardec, dez anos antes, com alguns sonâmbulos magnetizados, na França, os quais, em outras circunstâncias, “liam livros fechados e decifravam toda uma carta, sentados sobre ela ou colocando-a bem dobrada e fechada sobre o ventre”. 

Já vimos isso recentemente, também. Importante compreender, com essa abordagem, que a espiritualidade não está a nosso mando e não está interessada em tais shows, sobretudo quando se visa, através disso, obter ganhos materiais de qualquer gênero. Aliás, é interessante notar como isso repulsa tanto o Espírito superior quanto o inferior, o que dá margem para uma grande discussão a respeito dos médiuns que se lançam, por exemplo, a ler a sorte.

Também nos traz à lembrança os diversos casos polêmicos nos quais diversos “espíritas” já se envolveram, como aconteceu ao próprio Leymarie, naquilo que ficou conhecido como “O Processo dos Espíritas”, fato que causou grande vergonha ao Movimento Espírita de então, e o conhecido caso da polêmica materialização espiritual, da qual Chico Xavier participou. Não podemos julgar se são caros de pura leviandade ou não, mas são casos bastante complicados, que não desmentem a possibilidade e mesmo a veracidade de tais fenômenos, mas que servem para nos chamar a atenção para alguns pontos:

  1. O Espiritismo conquista muito mais adeptos por sua filosofia consoladora e esclarecedora do que através de fenômenos, ante os quais, aquele que seja decididamente cético, não se tornará menos convencido;
  2. Seres humanos são falíveis, na maioria das vezes mais por invigilância do que por maldade. Não podemos endeusar ninguém, sobretudo quando lembramos que médiuns são, em geral, Espíritos bastante faltosos no passado, que recebem a mediunidade como grata oportunidade de correção de seus desvios;
  3. Os Espíritos não nos atendem quando nós queremos, mas quando eles o querem;
  4. Os Espíritos não se prestam a responder coisas triviais e que estão ao nosso alcance e tampouco se prestam a provar aquilo que é facilmente verificável pela nossa inteligência, tanto quanto um homem de grande conhecimento não se presta a responder às questões já respondidas, às quais muitos não se lançam a pesquisar por pura preguiça.

Escribas e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, muito gostaríamos que nos fizésseis ver algum prodígio.” Respondeu Jesus: “Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro senão o de Jonas.”

(Mateus, 12: 38 e 39.)




Evocações particulares

Nesse item, Kardec aborda algumas evocações particulares com a finalidade de promover uma análise com ganho geral.

Sobre isso, aliás, fico me questionando sobre até que ponto devemos realmente desaconselhar que as pessoas busquem tais evocações para obterem alguma consolação a respeito de seus familiares falecidos ou mesmo para buscarem algum aconselhamento pessoal, dado que em minha própria família isso tantas vezes aconteceu de forma espontânea. Não estaria eu me contradizendo? Será que um médium que se preste a tal fim, de forma séria e desinteressada, não cumpre também um papel importante?

Entendemos, porém, que aqui, como em tudo, cabe a grande pergunta: qual a utilidade e a finalidade? Passados mais de 160 anos do “início” do Espiritismo, nós já compreendemos muito bem como é a vida após a morte, a continuidade das nossas imperfeições e virtudes, a necessidade de o encarnado seguir em frente sua vida, sem ficar lamentando sobre os entes desencarnados e, assim, não vemos a necessidade ir até um médium buscar psicografia de cada ente desencarnado. Precisamos realmente avançar sobre esse ponto, buscando cultivar as comunicações com os Espíritos com propósitos mais profundos, o que não exclui, a meu ver, a possibilidade de buscar apoio e, quem sabe, um aconselhamento sobre assuntos sérios e importantes, como o próprio Kardec fazia.

No primeiro caso abordado, fica clara uma comunicação bastante consoladora, pela filha falecida, mas também a verificação de três fatos:

  • Os Espíritos ficam felizes em poder nos auxiliar naquilo que é permitido;
  • Os Espíritos não podem nos informar sobre tudo. Precisamos nos esforçar por seguir com nossas pernas e, assim, termos nosso próprio mérito, que nos estrutura;
  • Suportar as provas com resignação e confiança em Deus, mas de forma ativa, nos permite um grande aproveitamento e, assim, uma grande felicidade no porvir (e mesmo durante a prova);

No segundo caso, “uma conversão”, vemos um caso notório de um pai e um filho que compartilhavam de um pensamento materialista ou, por assim dizer, negacionista da espiritualidade e de Deus. Acontece que, após a morte do pai, o filho teve contato com O Livro dos Espíritos e, tendo o lido, buscou um médium, com intensa curiosidade. Ele queria obter uma comunicação de seu pai, 4 meses após sua morte, a fim de acabar com suas dúvidas (nota-se que o Livro Dos Espíritos causou grande impacto nele).

O pai lhe traz informações pessoais, que confirmam sua legitimidade. Na conversa que se trava, mostra para o filho que a vida realmente continua após o túmulo. Destaco, porém, um trecho que nos chamou a atenção:

15. — Seremos punidos ou recompensados de acordo com nossos atos?

— Se você fizer o mal, sofrerá.

16. — Serei recompensado se fizer o bem?

— Avançará em seu caminho.

Importante relembrar que Kardec buscava a concordância universal e que sempre fazia anotações e considerações a respeito das opiniões contrárias àquilo que já estava estabelecido pelo ensinamento dos Espíritos. 

O trecho em questão denota que faz parte das idéias de Kardec, posto que está expressa pelo pensamento do Espírito comunicante, a compreensão de que ninguém é punido ou recompensado externamente. “Se você fizer o mal, sofrerá”, denota esse entendimento profundo da Doutrina Espírita: o sofrimento nasce como consequência direta de nossas ações, ao passo que a recompensa pelo bom proceder é o avanço em nossos caminhos. Não há pagamento de dívidas, não há julgamentos, punições ou mesmo recompensas externas. 

Isto é mais um ponto que corrobora com a afirmação (factual) de que o item “Código Penal da Vida Futura”, presente no capítulo VII a partir da 4a edição do O Céu e O Inferno, sabidamente adulterada, está em total desacordo com o pensamento do codificador, sobretudo no que tange ao apresentado no item 9º:

Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.




Duendes

Aqui Kardec apenas aborda a questão de que a intervenção de seres incorpóreos, tidos como duendes, diabretes e outros, sempre permeou a humanidade e, em si, não deixa de ser uma verdade. Acontece que, antes do Espiritismo, que a explicou, era tomada como superstição, fruto da imaginação, ou então cercada de superstição.

Aliás, interessante notar como mesmo dentro do Espiritismo essas intervenções são muitas vezes tomadas com conto da carochinha e, por isso, desacreditadas, sem antes serem analisadas.

Por outro lado, é interessante abordar como, há mais de 160 anos, Kardec já buscava explicar, à luz dos ensinamentos dos Espíritos e da razão, esses fatos antes cercados de superstições. Infelizmente, ainda hoje essa superstição ou esse misticismo persistem no meio espiritualista, onde, em algumas religiões, ainda se utlizam de termos e crenças limitantes, mesmo, como é o caso dos chamados “Tranca-Rua”, “Zé Pilantra”, etc, que não passam de Espíritos, da forma simples e pura como eles mesmos já nos ensinaram.




Manifestações Físicas

Aqui tem algo que despertou minha atenção. Há um propósito muito mais profundo, na Revista, que não havíamos compreendido ainda: nela, Kardec, além de buscar a divulgação do Espiritismo às massas, busca também a concordância universal dos ensinamentos!

Bem sabemos que Kardec se utilizou de alguns poucos médiuns, psicógrafos automáticos, para a formulação principalmente das duas primeiras obras. Como, então, ele podia julgar se aquilo que os Espíritos respondiam teria concordância universal, além da concordância com a razão e a lógica? Além das cartas que ele enviava e recebia de vários lugares, com questionamentos e respostas dos Espíritos, também através da Revista Espírita ele encontrava grande fonte desses relatos. 

Assim como Ernesto Bozzano (que. na verdade, seguiu seus passos), Allan Kardec colhia relatos de todas as partes, analisando-os em sua essência e, nos casos mais interessantes, buscava verificar suas procedências, a seriedade dos envolvidos, o desinteresse, etc e, assim, confrontava os conteúdos e fatos dali obtidos com os ensinamentos que lhe eram ou foram transmitidos por meios mais diretos!

Agora falando deste capítulo especificamente, Kardec está abordando conceitos que, mais tarde, serão confirmados em O Livro dos Médiuns, como é o caso da constatação de que os fenômenos físicos são sempre executados por Espíritos Inferiores, como ele evidencia na resposta “Quem faz dançarem os macacos pelas ruas? Serão os homens superiores?” que Espíritos deram a tal questionamento. Isso quer dizer: assim como, naquele tempo, as pessoas que faziam macacos dançarem nas ruas, para ganharem dinheiro, eram pessoas de gênero mais embrutecido, iliteratos, talvez levianas, mas não necessariamento maldosas, assim também acontecia com os Espíritos que faziam as mesas “dançarem”.

Temos, aliás, uma forte evidência disso nos diversos casos de comunicações por pancadas e, principalmente, no caso das Irmãs Fox, onde a maior preocupação do Espírito que alí se comunicava era dar conhecimento de que ele havia sido assassinado naquela localidade, revelando seus despojos escondidos e o autor do crime cometido. Era, portanto, uma comunicação séria, mas não uma comunicação elevada ou sábia.

Kardec destaca que os ensinamentos obtidos através dos relatos na publicação “Le Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans” são muito concordantes com os ensinamentos obtidos também pode ele, dados pelos Espíritos Superiores: o de que um médium sério, bem desenvolvido e equilibrado oferece um ascendente moral sobre esses Espíritos, agindo em favor de atenuar suas manifestações e mesmo de os auxiliarem a encontrarem melhores reflexões.




Respostas dos Espíritos a algumas perguntas

Aqui Kardec faz uma abordagem sobre algumas respostas dos Espíritos a respeito de algumas questões básicas, pertinentes naquele momento. O propósito era demonstrar ao público a clareza, a profundidade e a exatidão dessas respostas, creio. Tomo, desse capítulo, alguns pontos:

  • O Espírito é alguma coisa, que ainda não podemos compreender de completo. Nos falta, ainda, a capacidade de depreender que um ser possa se manifestar sem uma aparência visual ou sem os efeitos que atingem nossos sentidos materiais. Contudo, já compreendemos que o Espírito é a essência, o ser real que, para interagir com a matéria, precisa de um intermediário, chamado de perispírito.
  • O Espírito liberto da matéria não encontra nela nenhum obstáculo nem influência, isto é, pode atravessar objetos e até mesmo o fogo, sem nada sofrer.
  • Apenas os Espíritos inferiores se ocupam de ruídos, movimentos de objetos, etc. Contudo, os Espíritos superiores por vezes se utilizam desses espíritos para atingir um fim útil, como chamar a atenção. Este é um ponto que vai se firmar e se definir claramente em O Livro dos Médiuns, mais à frente.
  • A prova de que um conteúdo vem dos Espíritos, e não apenas da mente do médium ou dos demais presentes, está em que, em grande parte das vezes, o conteúdo transmitido vai contra o pensamento dos encarnados reunidos.
  • Todos os Espíritos são capazes de dar manifestações inteligentes.
  • Nem todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que se lhes fazem, o que, contudo, não os impede de a elas responderem. Disto parte a necessidade de sempre buscar julgar os conteúdos espirituais sob a luz da razão e da concordância.

Além disso, surgiu a grande questão: poderia o próprio Deus entrar em contato diretamente conosco? Bem, nos baseando na forma como o próprio Kardec se expressava, que consideramos bastante justa e ponderada, não temos a consideração de dizer se Deus, ou mesmo Jesus, que é um Espírito de altíssima hierarquia, podem ou não realizar milagres ou tomar ações diretamente. O que o Espiritismo faz é mostrar que existem explicações racionais e mesmo bastante naturais para os fatos ditos milagrosos, deles não se ocupando além disso.

Minha consideração: Deus é Deus, e poderia fazer de tudo; contudo deixa à sua obra e às suas criaturas as tarefas necessárias à sua própria evolução, assim como um bom pai permite que o filho se encarregue ele mesmo de explorar um brinquedo ou de desenvolver uma tarefa em conjunto com outras criancinhas. Aliás, Jesus é justamente o maior exemplo disso, não como uma criancinha, mas como o filho mais velho, que já aprendeu muito, e que vem, em nome do Pai, ensinar aos outros irmãos.




Vários modos de comunicação

Os Espíritos se comunicam de várias formas. As primeiras delas se deram através dos fenômenos da tiptologia e da sematologia que são, respectivamente, as comunicações através de pancadas (por exemplo, 1 batida para sim e 2 para não) e aquelas através do movimento de objetos (por exemplo: o Espírito move uma mesa ou um lápis na direção da letra ou da palavra que deseja comunicar).

Esses, contudo, foram métodos muito rudimentares e mesmo extremamente cansativos para ambos os lados. Além disso, se prestaram muito mais a chamar a atenção para o fato das inteligências espirituais agindo por trás dos fênomenos do que para a transmissão de ensinamentos superiores, poste que se dão a tais fenômenos apenas Espíritos inferiores – embora possam estar “a serviço” de outros Espíritos mais elevados.

O uso do lápis amarrado à cestinha também foi uma forma de sematologia, mas, mais propriamente, é chamado por Kardec, pelo menos nesse momento, de escrita indireta. Muito rapidamente, porém, e a conselho dos próprios Espíritos, esse método foi substituído pela psicografia, onde o próprio médium segura o lápis ou a pena e cede o controle de sua mão ao Espírito comunicante.

A capacidade e a profundidade dessa escrita, obtida pela psicografia, depende muito da capacidade do próprio médium e do Espírito comunicante – em outras palavras, da sinergia entre eles. Alguns obtém longos manuscritos de ordem elevada; outros obtém escritas impossíveis de serem lidas senão pelos próprios médiuns, como se uma espécie de intuição os guiasse.

Também é importante lembrar que a psicografia pode ser mais intuitiva ou mais mecânica. Quando ela é mais mecânica, as mãos do médium podem ser agitadas, controladas, sem que este saiba sequer o que está escrevendo. É o contrário do que acontece no primeiro caso, onde a comunicação vem através da intuição.

Outro gênero de comunicação é o da palavra – aquilo que hoje nós conhecemos como psicofonia. O Espírito toma controle das cordas vocais do Encarnado e transmite sua comunicação. Às vezes, essas comunicações, porém, acontecem sem intermediação corpórea, quais são os casos de vozes que ouvimos no ar ou em nossos pensamentos, como explicaremos a seguir.

É interessante notar que a Revista Espírita nasceu antes de O Livro dos Médiuns, tendo, ela, alguns propósitos muito bem definidos e importantes: o primeiro deles, era propagar ao máximo possível o Espiritismo dentre as massas; o segundo seria o de poder obter relatos de todas as fontes, verificando os conteúdos de forma metodológica e buscando a tão necessária concordância universal. Muitos conteúdos tratados na Revista, de forma séria e sob tal metodologia, foram posteriormente reproduzidos e aprofundados em outras obras, como na citada.

Nesse contexto e nesse momento, Kardec utiliza um termo que nunca mais utilizou – daí a importância do entendimento acima: espiritologia, havendo, então, dois tipos desse fenômeno – o da espiritologia direta e o da espiritologia mediata. Seriam, respectivamente, os casos de comunicações verbais diretas, onde os Espíritos aparecem em estado de vigília, e os casos de comunicações onde palavras e frases soam em nossos pensamentos ou mesmo em nossos ouvidos.

Este é, enfim, um dos primeiros passos, quiça um esboço, de algo muito mais grandioso e profundo que, em pouco tempo, ganharia forma em O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores. Voltaremos a esse assunto futuramente, mas você, caro leitor, pode aprofunda-lo, como a tantos outros, no estudo dessa obra tão necessária e recomendada.




Diferentes Formas de Manifestação

Kardec sempre abordou em O Livro dos Espíritos as Naturezas das Manifestações. Elas podem ser:

Manifestações Frívolas – que emanam de Espíritos levianos, zombeteiros, travessos, maliciosos. São pensamentos que não adicionam nada;

Manifestações Grosseiras – que emanam de Espíritos inferiores para chocar as pessoas. São bem complicadas. Justamente por isso as reuniões não são feitas abertas ao publico;

Manifestações Sérias – não necessariamente são sábias, por não ser um Espírito de maior evolução, mas são sérias pelo assunto importante ao parente, um familiar, um amigo. Trivialidade, às vezes;

Manifestações Sábias, que emanam de Espíritos superiores. São comunicações que  acrescentam algum tipo de ensinamento.

Kardec dizia que cabe a cada um de nós, com estudo, poder identificar, analisar e julgar a manifestação. Importante lembrar que, no nosso entendimento,  não devemos reprimir qualquer tipo de manifestação seja de qual natureza for, pois sempre há um propósito.

Destacamos que Kardec disse: “se é preciso experiência para julgar os homens, mais ainda para julgar os Espíritos”.

Vemos que as comunicações grosseiras são comuns, principalmente, para quem está começando o estudo mediúnico. Em reuniões, é comum o Espírito manifestante usar de xingamentos, falar coisas complicadas, pensamentos baixos, pensamentos maliciosos, sexuais, etc. Há de se ter certa maturidade do grupo, pois pode ter conteúdo bem “pesado”, tanto psicofonico quanto escrito. Muitas vezes o médium fica confuso ao pensar  que o problema é com ele, por ele ter trazido aquela manifestação grosseira. Ele está em treinamento mediúnico então “a sua casa” ainda está aberta para todo tipo de manifestação. É comum  aparecerem espíritos grosseiros. Ele está lá, mas um médium educado sabe diferenciar. O que muda teoricamente é a intenção. Isso tudo exige muita disciplina e treino.

O maior medo do grupo mediúnico é a mistificação. Muitos dos Espíritos se apresentam disfarçados, com palavras bonitas, linguagem evangelizada, etc. para atrair a confiança do médium, mas na realidade são Espíritos apresentando teorias ilógicas, sem fundamentos, prejudiciais às pessoas. O conteúdo é impressionante, aparentemente elevado e bonito. O médium fica fascinado nessa manifestação falsa e muitas vezes, por vaidade e orgulho, fica cego aos sinais. É o que mais tira o médium da seara do bem. Há de se ter discernimento para perceber que não é uma mensagem séria, muito menos sábia – e um dos maiores indícios disso é quando o Espírito se apresenta de forma pomposa ou com grandes nomes históricos. O médium ou o evocador que tenha se empenhado no estudo principalmente do Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns, contudo, mais facilmente consegue fazer essa distinção.

Quando o grupo mediúnico detecta esse tipo de manifestação grosseira,  devem  se ter muita habilidade para conversar com o médium fascinado, pois há o perigo do médium deixar o grupo. Muitos médiuns se “doem” por acreditar em mensagens desse tipo, deixando-se levar. O médium tem que entender que ele é apenas intermediário, e aceitar o entendimento dos outros membros daquela grupo. Tudo é um aprendizado.

Normalmente,  na conversa após a reunião mediúnica, o médium, humildemente,  deve perguntar como foi sua comunicação, como ele pode melhorar para servir a espiritualidade, ser  melhor entendido, etc. É muito importante que a casa ou o grupo espírita, já que houve o interesse dela se formar com aquele grupo,  busque constantemente cultivar a EVANGELIZAÇÃO de cada um de seus membros, posto que o médium, quando mais buscar sua reforma íntima, menos se deixará aberto por suas imperfeições.




Introdução

Iniciamos os estudos da Revista Espírita de Janeiro de 1858 pelo começo, abordando aquilo que destacamos e compreendemos da Introdução da publicação.

Finalidade do Espiritismo

O Espiritismo tem, como finalidade suprema, a iluminação do ser humano, trazendo influência sobre o estado moral da sociedade. Ele o faz, contudo, através do estudo da ciência espírita, que se prolifera e contagia inevitavelmente, todo o mundo. Vemos, hoje, nas diversas religiões, seus traços de influência. Nas Igrejas Católicas, em grande parte, já não se fala mais em um diabo ou em um inferno, por já haver uma compreensão tácita, se não formalizada pela teologia, de que tais conceitos nasceram apenas de uma incapacidade de compreensão no passado. Desfazem-se, assim, muitos dogmas, ao passo que, com o avanço da inteligência humana e suas buscas por respostas, outros [dogmas] são criados e permanecem sem esclarecimento, pela interrupção dos estudos metodológicos do Espiritismo.

Magnetismo

Kardec cita o magnetismo, cuja compreensão, juntamente a outras ciências de sua época, nos permite constatar que o Espiritismo nasceu no tempo certo, nem antes nem depois do que deveria e que, ao invés do que muitos pensam, encontrou terreno fértil para sua rápida disseminação. Sobre isso, recomendo a leitura da obra Espiritismo e Magnetismo, de Carlos Alberto Loureiro. Espiritismo e magnetismo, ambos, são fenômenos naturais, e a compreensão do segundo, como fato científico, torna mais fácil ainda a compreensão do primeiro.

À época de Allan Kardec, o estudo dos fenômenos magnéticos eram bastante vastos e comuns. É por isso que Kardec, quando foi chamado a conhecer o fenômeno das mesas dançantes, dele não duvidou, mas supôs, inicialmente, que se tratava de fenômeno dessa ordem. Ao investigá-lo, mais tarde, como já sabemos, encontrou ali um fenômeno inteligente, que despertou seu interesse profundo.

O magnetismo era largamente utilizado para a produção de fenômenos hipnóticos sonambúlicos, dos quais se obtinha largo campo para estudos. Inclusive, sobre isso, os próprios Espíritos recomendam, em O Livro dos Espíritos, que o estudo desses fenòmenos daria ao homem grande fonte de conhecimentos:

445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?

“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar.”

Com o passar do tempo, contudo, tais fenômenos passaram a ser colocados à conta de crendice ou superstição, e foram relegados ao esquecimento. Contudo, temos diariamente aos nossos olhos, nos diversos grupos das redes sociais, relatos pessoais que muito parecem levar a tais capacidades sonambúlicas que, se estudadas e bem aplicadas, talvez muito bem poderiam trazer.

Fato é que esse tema, tão esquecido e tão pouco compreendido, poderá nos fornecer grande campo de estudo. Destaco, por exemplo, os conteúdos produzidos em fartura pelo grupo chamado “Hospitais Espirituais do Nordeste”, fartamente encontrados em seu canal do Youtube, mas que, sobre alguns pontos, ainda produzem estranheza, por não nos ser possível, ainda, estudá-los sobre outras fontes.

Espiritismo é ciência

Cabe apenas citar, para compreensão geral, essa grande verdade: Espiritismo é ciência de aspecto filosófico. Relembramos que ciência não é apenas aquilo que se faz em laboratório.

Mais à frente, Kardec afirma que “a história da Doutrina Espírita é, de certo modo, a história do espírito humano”. Concordo totalmente. Kardec buscava, para a compreensão dessa ciência, estudá-la em toda parte, em todas as fontes, jamais dando palavra final sobre algo que não se tenha buscado estudar a fundo.

Os propósitos da Revista Espírita

Kardec deixa muito claro o propósito de acolher, na Revista, todas as observações dirigidas, procurando esclarecer os pontos obscuros, conforme o conhecimento já adquirido. Isso dá grande norte aos nossos próprios estudos, acredito, buscando fazer como propôs o codificador: “discutir, mas não disputar”, ou seja, buscar o estudo e o esclarecimento entre todos aqueles que busquem, de bom grado, compreender a natureza do Espiritismo e dele tirar bom proveito às suas próprias vidas.

Kardec cita o propósito de relatar os fenômenos patentes que testemunhasse ou que lhes fossem relatados. O propósito maior disso tudo vai ficar mais claro em nossa próxima reunião de estudos, quando iniciaremos pelo tema “Manifestações Físicas”.

Seguindo esses passos, decidimos também abrir um formulário, em nosso site, onde quem desejar possa submeter relatos pessoais, que, selecionados, poderão ser abordados em nossos próprios estudos. 

A seguir, Kardec afirma o tão necessário empenho de não se dar afirmações de ideias próprias, mas, sim, de buscar interpretar tudo à luz da Doutrina dos Espíritos. Com isso, aliás, buscaremos resolver quaisquer dificuldades dentro do nosso próprio grupo.

Sobre o espaço, na Revista, para a publicação de comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, nos absteremos, por enquanto, de tal propósito de nossa parte, ou seja, não buscaremos tais comunicações pelos nossos próprios meios, pelas dificuldades já citadas. Estaremos abertos, contudo, se formos conduzidos a isso, já que é o propósito maior de nossa iniciativa




Teoria das manifestações físicas – I

Revista espírita – Jornal de estudos psicológicos – 1858 > Maio > Teoria das manifestações físicas – I

Reprodução integral do artigo original na Revista Espírita de Maio de 1858

É fácil conceber a influência moral dos Espíritos e as relações que possam ter com a nossa alma, ou com o Espírito em nós encarnado. Compreende-se que dois seres da mesma natureza possam comunicar-se pelo pensamento, que é um de seus atributos, sem o concurso dos órgãos da palavra. Já é, entretanto, mais difícil dar-nos conta dos efeitos materiais que eles podem produzir, tais como os ruídos, o movimento dos corpos sólidos, as aparições e sobretudo as aparições tangíveis.

Vamos tentar dar a explicação, segundo os próprios Espíritos e segundo a observação dos fatos.

A ideia que fazemos da natureza dos Espíritos torna à primeira vista incompreensíveis esses fenômenos. Diz-se que o Espírito é a ausência completa da matéria e, pois, que ele não pode agir materialmente. Ora, isto é errado. Interrogados sobre se são imateriais, assim responderam os Espíritos: “Imaterial não é bem o termo, porque o Espírito é alguma coisa; do contrário seria o nada. É material, se se quiser, mas de uma matéria de tal modo etérea que para vós é como se não existisse”. Assim, o Espírito não é uma abstração, como pensam alguns; é um ser, mas cuja natureza íntima escapa aos nossos sentidos grosseiros.

Encarnado no corpo, o Espírito constitui a alma. Quando o deixa, com a morte, não sai despojado de todo o envoltório. Dizem-nos todos que conservam a forma que tinham quando vivos; realmente, quando nos aparecem, em geral é sob a forma por que os conhecíamos.

Observemo-los atentamente, no instante em que deixam a vida: Eles se acham em estado de perturbação; ao seu redor tudo é confuso; veem o próprio corpo, inteiro ou mutilado, conforme o gênero de morte. Por outro lado, veem-se e sentemse vivos; algo lhes diz que aquele é o seu corpo, mas não compreendem como podem estar separados. O laço que os unia ainda não está, pois, rompido completamente.

Dissipado esse primeiro momento de perturbação, o corpo se torna para eles como uma roupa velha, da qual se despojaram sem pesar, mas continuam a se ver em sua forma primitiva. Ora, isto não é um sistema: é o resultado de observações feitas com inúmeros sensitivos. Poderemos agora nos reportar ao que nos contaram de certas manifestações produzidas pelo Sr. Home e por outros médiuns do mesmo gênero: aparecem mãos que têm todas as propriedades das mãos vivas, que tocamos, que nos seguram e que se desfazem repentinamente.

Que devemos concluir disso? Que a alma não deixa tudo no caixão: leva algo consigo.

Assim, haveria em nós duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior; a outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, daquela abandonada pela alma; a outra se destaca e segue a alma que, assim, continua tendo sempre um envoltório. A esse envoltório denominamos perispírito. Essa matéria sutil, por assim dizer extraída de todas as partes do corpo a que estava ligada durante a vida, conserva a forma daquele. Eis por que todos os Espíritos são vistos e por que nos aparecem tais quais eram em vida.

Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade nem a rigidez da matéria compacta do corpo: é, se assim podemos dizer, flexível e expansiva. Eis por que a forma que toma, muito embora calcada sobre a do corpo, não é absoluta: dobra-se à vontade do Espírito, que lhe dá, conforme queira, esta ou aquela aparência, enquanto que o envoltório sólido lhe oferece uma resistência intransponível. Desembaraçando-se desse entrave que o comprimia, o perispírito distende-se ou se contrai; transforma-se e, numa palavra, presta-se a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua.

Prova a observação ─ e insistimos sobre o vocábulo observação, porque toda a nossa teoria é consequência dos fatos estudados ─ que a matéria sutil, que constitui o segundo envoltório do Espírito, só pouco a pouco se desprende do corpo, e não instantaneamente. Assim, os laços que unem alma e corpo não se rompem de súbito pela morte. Ora, o estado de perturbação que observamos dura todo o tempo em que se opera o desprendimento. Somente quando esse desprendimento é completo o Espírito recobra a inteira liberdade de suas faculdades e a consciência clara de si mesmo.

A experiência ainda prova que a duração desse desprendimento varia conforme os indivíduos. Em alguns opera-se em três ou quatro dias, ao passo que noutros não se completa senão ao cabo de vários meses. Assim, a destruição do corpo e a decomposição pútrida não bastam para que se opere a separação. Eis a razão por que certos Espíritos dizem: Sinto que os vermes me roem.

Em algumas pessoas a separação começa antes da morte: são as que em vida se elevaram pelo pensamento e pela pureza de seus sentimentos, acima das coisas materiais. Nelas a morte encontra apenas fracos liames entre a alma e o corpo e que se rompem quase instantaneamente. Quanto mais materialmente viveu o homem; quanto mais seus pensamentos foram absorvidos nos prazeres e nas preocupações da personalidade, tanto mais tenazes são aqueles laços. Parece que a matéria sutil se identifica com a matéria compacta e que entre elas se estabelece uma coesão molecular. Eis por que só se separam lentamente e com dificuldade.

Nos primeiros instantes que se seguem à morte, quando ainda existe união entre o corpo e o perispírito, este conserva muito melhor a impressão da forma corpórea, da qual, por assim dizer, reflete todas as nuanças e mesmo todos os acidentes. Eis por que um supliciado nos dizia, alguns dias após a sua execução: Se me pudésseis ver, ver-me-íeis com a cabeça separada do tronco. Um homem que tinha sido assassinado nos dizia: Vede a ferida que me fizeram no coração. Pensava ele que poderíamos vê-lo.

Estas considerações conduzir-nos-iam ao exame da interessante questão da sensação dos Espíritos e de seus sofrimentos. Fá-lo-emos em outro artigo, a fim de que aqui nos limitemos ao estudo das manifestações físicas.

Imaginemos, pois, o Espírito revestido de seu envoltório semimaterial, ou perispírito, tendo a forma ou aparência que possuiu quando vivo. Alguns até se servem desta expressão para se designarem; dizem: minha aparência está em tal lugar. Evidentemente são estes os manes dos antigos. A matéria desse envoltório é suficientemente sutil para escapar à nossa vista em seu estado normal, mas não é completamente invisível. Para começar, vemo-lo pelos olhos da alma, nas visões produzidas durante os sonhos. Mas não é disto que nos queremos ocupar. Nessa matéria eterizada pode haver uma modificação; o próprio Espírito pode fazê-la sofrer uma espécie de condensação que a torna perceptível aos olhos do corpo. É o que ocorre nas aparições vaporosas. A sutileza dessa matéria lhe permite atravessar os corpos sólidos, razão por que tais aparições não encontram obstáculos e por que tantas vezes desaparecem através das paredes.

A condensação pode chegar ao ponto de produzir a resistência e a tangibilidade. É o caso das mãos que podemos ver e tocar. Mas essa condensação ─ e esta é a única palavra de que nos podemos servir, para dar uma ideia, embora imperfeita, de nosso pensamento ─ esta condensação, íamos dizendo, ou ainda essa solidificação da matéria etérea, é apenas temporária ou acidental, porque esse não é o seu estado normal. Eis por que, em um dado momento, as aparições tangíveis nos escapam como uma sombra. Assim, do mesmo modo que um corpo se nos apresenta em estado sólido, líquido ou gasoso, conforme o grau de condensação, assim a matéria etérea do perispírito pode aparecer-nos em estado sólido, vaporoso visível ou vaporoso invisível.

Veremos, a seguir, como se opera essa modificação.

A mão aparente, tangível, oferece uma resistência: exerce pressão, deixa impressões, opera uma tração sobre os objetos que seguramos. Nela há, pois, uma força. Ora, estes fatos, que não são hipóteses, podem levar-nos à explicação das manifestações físicas.

Notemos, antes de mais nada, que essa mão obedece a uma inteligência, pois age espontaneamente; dá sinais inequívocos de uma vontade e obedece a um pensamento: pertence, pois, a um ser completo, que só nos mostra essa parte de si mesmo, e a prova é que produz impressões com as partes invisíveis; os dentes deixam marcas na pele e produzem dor.

Entre as diversas manifestações, uma das mais interessantes é, sem dúvida, o toque espontâneo de instrumentos de música. Os pianos e acordeons são aparentemente os instrumentos prediletos. Este fenômeno é explicado muito naturalmente pelo que precede. A mão que tem a força para apanhar um objeto, também pode tê-la para fazer pressão sobre as teclas e fazê-las soar. Aliás, por diversas vezes vimos os dedos em ação, e quando a mão não é vista, veem-se as teclas em movimento e o fole a distender-se e fechar-se. As teclas só podem ser movidas por mão invisível, a qual dá mostras de inteligência, tocando árias perfeitamente ritmadas e não sons incoerentes.

Desde que essa mão pode enfiar-nos as unhas na carne, beliscar-nos, arrebatar aquilo que temos na mão; desde que a vemos apanhar e transportar um objeto, assim como nós o faríamos, também nos pode dar pancadas, erguer e derrubar uma mesa, tocar uma campainha, puxar uma cortina e até mesmo nos dar uma bofetada invisível.

Perguntarão talvez como essa mão, no estado vaporoso invisível, pode ter a mesma força que no estado tangível. E por que não? Vemos o ar derrubar edifícios, o gás lançar projéteis, a eletricidade transmitir sinais, o fluido do ímã levantar massas? Por que a matéria etérea do perispírito seria menos poderosa? Mas não a queiramos submeter às nossas experiências de laboratório e às nossas fórmulas algébricas. Principalmente pelo fato de havermos tomado os gases como termo de comparação, não lhes vamos atribuir propriedades idênticas, nem computar sua força do mesmo modo pelo qual calculamos a do vapor. Até agora ela escapa a todos os nossos instrumentos. É uma nova ordem de ideias, fora da competência das ciências exatas. Eis por que essas ciências não nos oferecem a aptidão especial para apreciá-las.

Damos esta teoria do movimento dos corpos sólidos sob a influência dos Espíritos apenas para mostrar a questão sob todos os seus aspectos e provar que, sem nos afastarmos muito das ideias recebidas, é possível dar-nos conta da ação dos Espíritos sobre a matéria inerte. Há, porém, uma outra, de alto alcance filosófico, dada pelos próprios Espíritos, e que lança sobre este problema uma luz inteiramente nova. Ela será mais bem compreendida depois que a tiverem lido. Aliás, é útil conhecer todos os sistemas, a fim de poder compará-los.

Resta agora explicar como se opera essa modificação da substância etérea do perispírito; por que processo o Espírito opera e, em consequência, o papel dos médiuns de influência física na produção desses fenômenos; aquilo que em tais circunstâncias neles se passa; a causa e a natureza de suas faculdades, etc.

É o que faremos no próximo artigo.