A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia

Continuação do artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus. Vamos entender melhor as diferenças entre a verdadeira mentalidade e a falsa ideia?

Ao longo do tempo, a mentalidade verdadeira e falsa ideia enraizaram-se nas tradições do mundo de várias maneiras. As religiões sempre embutiram em seus ensinamentos a competição, a disputa, a lei do mais forte.

Mudar de mentalidade
Foto Pixabay: Mohamed_hassan

A tradição do cristianismo considera que Jesus foi anunciado por João Batista prenunciado pelo arrependimento: “arrependei-vos, pois ficou próximo o reino dos céus”. Com esse pensamento, tínhamos que nos arrepender dos pecados, do erro cometido. Essa educação nos deixa cheio de culpas, pois se errei, eu preciso de perdão para ser salvo.

As religiões utilizaram-se dessa ideia para dizer que somente o perdão de Deus salva aquele que erra, e o que desobedece, eternamente castigado, entregue ao diabo. Este pensamento não se implantou somente pelas religiões: no trabalho, se errar é despedido, na família, se errar é preterido, e assim acontece em inúmeras situações. Na vida toda, não se pode errar! As pessoas usam de fingimento, de esconder, de camuflar os erros, de falsidade, pois se lembre: errar é Pecado. Isso desencadeia várias consequências, entre elas que as pessoas não são como verdadeiramente são, nem se sentem incluídas, perdidas, sem rumo.

Por isso temos que entender a mensagem do Espiritismo de pertencimento, de fazer parte, de colaboração. Temos de buscar esse entendimento. Temos de deixar de lado a ideia de que o mais forte salvará o simples, o ignorante, que os fortes e destacados são maiores e melhores.

Para fazer valer a verdade, tem que fazer o Bem! Mas é necessário reformar a forma de fazer esses ensinamentos, mudando como e o que se ensina para as crianças, com mudanças estruturais nas escolas. A competição não pode ser o estímulo para o aprendizado. Ensinam-se as falsas ideias quando se diz a criança que a luta serve para destacar, ser superior, ser o melhor que o outro, estar “entre os superiores”, para não ser renegado pela sociedade. Essa mentalidade é falsa!

No entanto, os mais recentes trabalhos de tradução dos evangelhos, esclarecem que o verbo grego metanoéô, ligado ao substantivo metánoia, tem o sentido de “mudar de mentalidade”. Frederico Lourenço explica: “No cerne da palavra está o vocábulo nous (“mente”): daí o fato de a essência da ideia estar ancorada na mudança mental (de que o arrependimento é sintoma)” (Novo Testamento).

O versículo 14 do cap. 1, de Marcos, fica assim:

14 Depois de João [Batista] ter sido traído, Jesus foi para a Galileia proclamar a boa-nova de Deus, 15 dizendo: “Completou-se o tempo e ficou próximo o reino de Deus. Mudai de mentalidade e acreditai na boa-nova”.

Marcos: 1,14-15

Com essa simples passagem da Bíblia, transformamos completamente o entendimento do sentido de Arrepender-se: há necessidade de mudar de mentalidade para superar uma mentalidade falsa! Não é arrepender do erro, mas mudar a forma de entendimento, Mudar de Mentalidade.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em Obediência Passiva e a Fé cega – Os dois Princípios da Falsa Ideia




O Espiritismo: A Ideia de Jesus

Continuação do artigo Profecia do Espírito da Verdade. O Espiritismo desenvolve a Ideia de Jesus.

Espiritismo desenvolveu o ensinamento de Jesus
Ego Sum Via Veritas et Vita (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida) pixabay – didgeman

Por um tempo, desprezaram a mensagem de Kardec trazendo ideias falsas para dentro de sua doutrina. Suas obras conclusivas tiveram suas melhores ideias adulteradas. Uma divulgação persistente dos falsos princípios por refratários (( “22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome, não são menos refratários ao Espiritismo: são os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dos prazeres. Temem encontrar a condenação de sua ambição, de seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Lamentá-los é tudo o que se pode fazer. ” A. Kardec, O livros dos Mediuns, Noções Preliminares, cap. III Método )), implantou a mentira entre muitos espíritas, causando divisão.

No entanto, numa sequência crescente, os documentos, fatos e ideias originais de Allan Kardec retornaram à luz. Suas obras foram recuperadas, como as obras O Céu e o Inferno de 1865 e A Genese de 1868 em suas traduções de suas versões originais. Os conteúdos apresentados são de extrema importancia, pois são ideias muito mais aprofundadas por Kardec.

Os novos tempos já se anunciam, as ideias reformadoras se espalham pelo mundo. É interessante notar como pelo estudo iluminado pela dedicação sincera e desinteressada, a mensagem espírita, que é a de Jesus, vai chegar a todos. E o
Espiritismo será a alavanca da revolução moral, que vai regenerar a humanidade, abrindo caminho para o mundo feliz.

O mal no mundo representa a mentalidade falsa, que divide o mundo visando justificar o orgulho e egoísmo dos que se consideram superiores e privilegiados. Desta forma, eles conseguem dominar e, ainda pior, abusar das massas. Eles a consideram inferiores e impuras.
O bem, a boa nova ou mentalidade verdadeira visa despertar o dever pela razão e liberdade, elegendo a solidariedade pela cooperação e apoio mútuo, visando a felicidade de toda a humanidade, em todos os seus níveis. Pela orientação e direção dos bons espíritos, que são ministros de Deus. Todos percorrem o caminho do bem que leva a Deus.
O Espiritismo, enfim, explica e desenvolve a ideia de Jesus, mentalidade verdadeira ou boa nova. Como todas as revelações, enfrenta a oposição dos orgulhosos e egoístas que defendem a mentalidade falsa.

Qual é a ideia da mentalidade falsa? Difundir falsamente que temos 2 Deuses no mundo, Deus e o Diabo; espalhar a ideia que o mundo espiritual está divido em 2 partes, céu e inferno; que as pessoas são dividas em puras e impuras, superiores e inferiores, etc. Esta é a FALSA IDEIA.

Para que nós consigamos superar a falsa ideia, não podemos usar as “mesmas armas” da falsa ideia. Ela usa da imposição, da violência, da divisão, da mentira, dos escolhidos que entendem dos ensinamentos como superioridade intelectual inexistente: diz que se não entendeu é inferior, só superior compreende

A VERDADEIRA IDEIA depende do esforço de cada um! Cada um de nós precisa entender a ideia verdadeira!!

Basta voce ser indiferente que voce ajude a manter Falsa Ideia.!

Há um artigo muito interessante de 1859 que vamos destacar alguns pontos referente a essa ideia de Jesus descrita também pelo Espiritismo:

“Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são compatíveis com o Cristianismo, porque o Cristianismo é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreender o Espiritismo em sua verdadeira essência.

A. Kardec, Revista Espirita, 1859 – Refutação de um artigo de “L ‘Univers” (( https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/893/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1859/4547/maio/refutacao-de-um-artigo-de-l-univers ))

O Espiritismo não é, pois, uma religião. (…) o Espiritismo ocupa-se da observação dos fatos e não das particularidades desta ou daquela crença; da pesquisa das causas; da explicação que os fatos podem dar dos fenômenos conhecidos, tanto na ordem moral quanto na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, do mesmo modo que a Astronomia não impõe o culto aos astros, nem a Pirotecnia o culto ao fogo. (…)

Hoje, graças às luzes do Cristianismo, podemos julgá-lo com mais segurança. Ele nos põe em guarda contra os sistemas errados, frutos da ignorância. E a própria religião pode haurir nele a prova palpável de muitas verdades contestadas por certas opiniões. Eis porque, contrariando a maior parte das ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às ideias religiosas aqueles que se tresmalharam num cepticismo exagerado.

Idem

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes Continua em A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia




Profecia do Espírito da Verdade

A Profecia do Espírito da Verdade aconteceu.

Quando a elaboração da doutrina espírita pelo diálogo com os espíritos ainda estava por começar, Allan Kardec em 1856 conversou com o Espírito da Verdade, que lhe apresentou a seguinte Profecia para o Espiritismo:

Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa.
Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo.
(Obras póstumas, pag. 344)

De 1858 ate 1869, período em que Kardec publicou seu livros e a Revista Espírita difundindo o Espiritismo, ocorreram ofensas, calúnias e difamações. Ele defendeu suas ideias e dos Espiritos com unhas e dentes. Depois de sua morte em 1869, houve uma série de adulterações em suas obras, . Além disso, inúmeras falsas ideias foram espalhadas sobre a doutrina. Leia o artigo Nossa Posição onde explanamos nossa conclusões.

Infelizmente, as grandes revelações sempre enfrentam essas caracteristicas como consequências: ódio, traição, desprezo e falsas ideias. Se o Espiritismo tem uma grande importância, é natural que ocorra com ele.

As outras revelações, como a de Moisés e de Cristo tiveram as mesmas resistências que o Espírito da Verdade mencionou.

Superando a falsa ideia dos egípcios, Moisés levou ao povo que o seguiu a ideia do Deus único, e do destino solidário da humanidade. Moisés não falou só para o povo hebreu: ele chamou as pessoas de todas as classes do Egito. E é isso que fez com que os sacerdotes egípcios se incomodassem: era o perigo eminente de uma revolução social. O ódio e as traições começaram.

E os judeus, que estavam entre os que adotaram seu pensamento, desviaram da proposta da harmonia universal. Eles elaboraram as crenças e práticas exclusivistas, separando puros e impuros, os que seriam de Deus e os dominados pelo diabo. eram as falsas ideias que estavam bem longe do proposto por Moisés. A ideia de Deus, diabo, céu e inferno, puros e impuros, não faz parte desta revelação.. E foi isso que Jesus veio fazer ao colocar as coisas em seu caminho.

Jesus veio entre os judeus para trazer a mentalidade verdadeira e denunciar a falsa ideia. Sua boa nova representou a chegada da lei divina plena para a humanidade. Jesus previu que suas ideias seriam deturpadas. Se Jesus previu isso com seu próprio ensinamento, por que não ocorreria com a Revelação Espírita?

26.​Entretanto, Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não podeis compreender, e muitas outras teria de dizer, mas não compreenderias; por isso vos falo por parábolas; todavia, mais tarde eu vos enviarei o Consolador, o Espírito Verdade que restabelecerá todas as coisas e a todas explicará.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

Se Jesus anunciou que seria preciso restituir os ensinamentos perdidos, claramente deduzimos que algo ficou abandonado, tanto nos ensinamentos de Moisés, nos de Jesus e do Espiritismo.

E Kardec empreendeu uma luta que realmente acabou tirando dele a saúde, como foi a profecia do Espírito da Verdade. Pelos estudos sabemos que as melhores instruções da Doutrina Espírita foram desprezadas em muitos casos, e pior, falseadas em outras. Precisamos recuperar esses ensinamentos perdidos! (( texto elaborado a partir da palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes ))

Abaixo, a comunicação completa do Espírito da Verdade de 1856:

12 de junho de 1856 (Em casa do Sr. C…; médium: Srta. Aline C…)
MINHA MISSÃO

Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram.
Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?
R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios. Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.
Espírito da Verdade

Eu — Espírito da Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Obras Póstumas, pag. 343-5

Em Obras Póstumas, segue uma nota interessante feita por Allan Kardec mais de 10 anos depois:

NOTA — Escrevo esta nota a 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e atesto que ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as vicissitudes que me foram preditas. Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.
Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude,
tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou. Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa!
Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobrelevaram de muito o mal. Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram.

Obras póstumas, pag 345-6

Continua no artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus




Análise criteriosa das comunicações e psicografias mediúnicas

Kardec, no artigo “Exames das comunicações mediúnicas que nos enviam”, da Revista Espírita de maio de 1863, demonstra o cuidado e a seriedade que a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas tinha com as comunicações mediúnicas que a ela eram enviadas. É uma verdadeira aula de seriedade frente à ciência espírita, por isso reproduzimo-la na íntegra:

“Muitas comunicações nos foram enviadas por diferentes grupos, já pedindo conselho e julgamento de suas tendências, já, como umas poucas, na esperança de publicação na Revista. Todas nos foram mandadas com a faculdade de dispormos das mesmas como melhor entendêssemos para o bem da causa. Fizemos o seu exame e classificação, e não fiquem admirados da impossibilidade de publicá-las todas, quando souberem que além das já publicadas, há mais de três mil e seiscentas que, por si sós, teriam absorvido cinco anos completos da Revista, sem contar um certo número de manuscritos mais ou menos volumosos dos quais falaremos adiante. A súmula desse exame nos fornecerá tema para algumas reflexões, que cada um poderá aproveitar.

Entre elas encontramos algumas notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos com que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. Uma circunstância digna de nota é que a quase totalidade das comunicações dessa categoria emana de indivíduos isolados e não de grupos. Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério, e impedir se visse o lado ridículo. Como se sabe, o isolamento favorece a fascinação, ao passo que as reuniões encontram controle na pluralidade de opiniões.

Reconhecemos, contudo, com prazer, que as comunicações dessa natureza formam, na massa, uma pequena minoria. A maioria das outras encerra bons pensamentos e excelentes conselhos, mas não se negue que todas sejam boas para publicação, pelos motivos que vamos expor.

Os bons Espíritos ensinam mais ou menos a mesma coisa por toda parte, porque em toda parte há os mesmos vícios a reformar e as mesmas virtudes a pregar, e aí está um dos caracteres distintivos do Espiritismo, pois geralmente a diferença está apenas na maior ou menor correção e elegância de estilo.

Para apreciar as comunicações com vistas à publicidade, não se pode analisá-las de seu ponto de vista, mas do ponto de vista público. Compreendemos a satisfação que se experimenta ao obter algo de bom, sobretudo quando se começa, mas além de que certas pessoas podem ter ilusões relativamente ao mérito intrínseco, não se pensa que há centenas de outros lugares onde se obtêm coisas semelhantes, e o que é de poderoso interesse individual pode ser banalidade para a massa.

Além disto, é preciso considerar que de algum tempo para cá as comunicações adquiriram, sob todos os aspectos, proporções e qualidades que deixam muito para trás as que eram obtidas há alguns anos. Aquilo que então era admirado, parece pálido e mesquinho ao lado do que se obtém hoje. Na maioria dos centros realmente sérios, o ensino dos Espíritos cresceu com a compreensão do Espiritismo. Considerando-se que por toda parte são recebidas instruções mais ou menos idênticas, sua publicação poderá interessar apenas sob a condição de apresentar qualidades especiais, tanto na forma quanto no alcance instrutivo. Seria, pois, ilusão crer que toda mensagem deve encontrar leitores numerosos e entusiastas. Outrora, a menor conversa espírita era novidade e atraía a atenção. Hoje, que os espíritas e os médiuns são incontáveis, o que era uma raridade é um fato quase banal e habitual, e que foi distanciado pela amplidão e pelo alcance das comunicações atuais, assim como os deveres escolares o são pelo trabalho do adulto.

Temos sob nossas vistas a coleção de um jornal publicado no princípio das manifestações, sob o título de La Table Parlante, título característico da época. Diz-se que o jornal tinha de 1.500 a 1.800 assinantes, cifra enorme para aquela época. Ele continha uma porção de pequenas conversas familiares e fatos mediúnicos que então tinham o enorme atrativo da curiosidade. Aí procuramos inutilmente algo para reproduzir em nossa Revista. Tudo quanto tivéssemos escolhido, hoje seria pueril, sem interesse. Se esse jornal não tivesse desaparecido, por circunstâncias que não vêm ao caso, só poderia ter vivido com a condição de acompanhar o progresso da Ciência, e se reaparecesse agora nas mesmas condições, não teria cinquenta assinantes. Os espíritas são imensamente mais numerosos do que então, é verdade, mas são mais esclarecidos, e querem ensinamentos mais substanciais.

Se as comunicações emanassem de um único centro, sem dúvida os leitores multiplicar-se-iam em razão do número de adeptos, mas não se deve perder de vista que os focos que as produzem se contam por milhares, e que por toda parte onde são obtidas coisas superiores, não pode haver interesse pelo que é fraco e medíocre.

O que dizemos não é para desencorajar de fazer publicações. Longe disso. Mas para mostrar a necessidade de escolha rigorosa, condição sine qua non do sucesso. Elevando os seus ensinamentos, os Espíritos no-los tornaram mais difíceis e mesmo exigentes. As publicações locais podem ter uma imensa utilidade, sob um duplo aspecto, o de espalhar nas massas o ensino dado na intimidade, depois o de mostrar a concordância que existe nesse ensino sobre diversos pontos. Aplaudiremos isto sempre, e os encorajaremos todas as vezes que elas forem feitas em boas condições.

Para começar, convém descartar tudo quanto, sendo de interesse privado, só interessa a quem isso diz respeito, e depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto.

Uma coisa pode ser excelente em si mesma e muito boa para servir de instrução pessoal, mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Infelizmente o homem é inclinado a supor que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros. O mais hábil pode enganar-se. O essencial é enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em alimentar essa ilusão em certos médiuns, por isso nunca seria demais recomendar a eles que não confiem em seu próprio julgamento. É nisto que os grupos são úteis, pela multiplicidade de opiniões que podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais esclarecido que todos, provaria sobejamente a má influência sob a qual se acha.

Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600, há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo, mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas cem de um mérito inconteste. Considerando-se que essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes, inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode-se julgar da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo.

Resta-nos dizer algumas palavras sobre os manuscritos ou trabalhos de fôlego que nos mandaram, entre os quais, de trinta, encontramos cinco ou seis de real valor.

No mundo invisível, como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal Espírito é apto a ditar uma boa comunicação isolada; a dar excelente conselho particular, mas é incapaz de um trabalho de conjunto completo, que suporte um exame, sejam quais forem suas pretensões. Por outro lado, o nome com o qual ele se compraz em disfarçar-se, não é uma garantia. Quanto mais alto o nome, mais obriga. Ora, é mais fácil tomar um nome do que justificá-lo. Eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e os traços menos equívocos da mais profunda ignorância. É nestas espécies de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de fazê-los imprimir, e mais de um pensa equivocadamente que tal recomendação basta para encontrar um editor interessado no negócio.

É sobretudo em semelhante caso que um exame escrupuloso se torna necessário, se não nos quisermos expor a aprender às nossas custas. Além do mais, é o melhor meio de afastar os Espíritos presunçosos e pseudossábios, que invariavelmente se retiram, quando não encontram instrumentos dóceis a quem façam aceitar suas palavras como artigos de fé. A intromissão desses Espíritos nas comunicações é ─ e isto é um fato conhecido ─ o maior escolho do Espiritismo. Todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.

Em resumo, publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem.

Uma consideração não menos importante é a da oportunidade. Umas há cuja publicação é intempestiva, e por isso prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo. Várias delas que nos são dirigidas estão neste caso e, posto que muito boas, devem ser adiadas. Quanto às outras, acharão seu lugar conforme as circunstâncias e o seu objetivo.”




Roustaing, Ismael e “Brasil, Coração do Mundo”

“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, é uma obra de Chico Xavier, atribuída ao Espírito de Humberto de Campos Veras. Obra assaz estranha, introduz uma série de ideias contrárias ao Espiritismo, girando principalmente sobre o papel do suposto Espírito de Ismael, que muitos acreditam ser o “protetor espiritual do Brasil”, mas que, na verdade, não passa de mais um inimigo do Espiritismo — talvez o maior deles. Ao longo de muito tempo, esse Espírito vem disseminando falsas ideias entre aqueles que as aceitam cegamente e, assim, vem causando enorme desserviço e atraso na propagação do Espiritismo em sua realidade. Em Roustaing, encontrou o trabalhador do mau caminho.

O trecho seguinte foi extraído do livro “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, e destaca evidências de que essa obra foi provavelmente adulterada pela Federação Espírita Brasileira:

[…] Julio Abreu Filho, primeiro tradutor dos 12 volumes da Revue Spirite, denunciou que exatamente um ano antes do aparecimento de “Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho”, o livro Crônicas de Além-Túmulo, também psicografado por Chico Xavier e assinado pelo próprio Humberto de Campos, havia sido lançado, e em cujas páginas se encontra uma mensagem semelhante na qual apenas Kardec, Denis, Delanne e Flammarion são citados, e por lugar nenhum Roustaing é mencionado. Diante da denúncia de uma possível interpolação, que poderia ser resolvida com muita facilidade ao mostrar os originais do livro questionado, a FEB informou que havia ordenado sua incineração. O fato se assemelha à queixa de Berthe Fropo no século XIX, de que Leymarie havia queimado numerosos documentos do arquivo de Kardec.

Ah!, como precisa de defensores essa Doutrina que, mesmo partindo dos Espíritos e sendo imortal, depende do trabalho humano para ser retomada e desenvolvida da maneira necessária, porque, infelizmente, os maus Espíritos têm encontrado muitos defensores, prontos a ouví-los cegamente.

Espíritas: avante!




O que deve ser a História do Espiritismo

O século XIX foi o Século da Razão! Isso quer dizer que não havia brecha para misticismo muito menos para dogmas. O dogma só desaparece quando debruçamos sobre o estudo dedicado e contínuo. Este Artigo que trazemos aqui é da Revista Espírita, outubro de 1862, “O que deve ser a história do Espiritismo“.

“A propósito dessa história, sobre a qual dissemos algumas palavras, várias pessoas nos perguntam o que compreenderia ela, e com esse objetivo nos enviaram diversos relatos de manifestações. Aos que pensaram assim trazer uma pedra ao edifício, agradecemos a intenção, mas diremos que se trata de algo mais sério que um catálogo de fenômenos espíritas encontradiço em muitas obras. Tendo o Espiritismo que marcar presença nos fastos da Humanidade, será interessante para as gerações futuras saber por que meios ter-se-á ele estabelecido. Será, pois, a história das peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão oposto; de sua marcha progressiva no mundo inteiro.

O verdadeiro mérito é modesto e não busca impor-se. É preciso que a Humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros da obra, daqueles cuja abnegação e devotamento merecerão ser inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na vanguarda; dos que sofreram pela causa, a fim de que sejam abençoados; dos que fizeram sofrer, a fim de que orem por eles, para que sejam perdoados. Numa palavra, de seus amigos dedicados e de seus inimigos confessos ou ocultos.

É preciso que a intriga e a ambição não usurpem o lugar que lhes não pertence, nem um reconhecimento e uma honra que não lhes são devidos. Se há Judas, é preciso que eles sejam desmascarados.

Uma parte, que não será a menos interessante, será a das revelações que sucessivamente anunciaram todas as fases dessa era nova e os acontecimentos de toda ordem que as acompanharam.

Aos que acharem a tarefa presunçosa, diremos que não teremos outro mérito senão o de possuir, por nossa posição excepcional, documentos que não estão em poder de ninguém, e que estão ao abrigo de quaisquer eventualidades. Considerando-se que o Espiritismo está sendo chamado, incontestavelmente, a desempenhar um grande papel na História, é importante que esse papel não seja desnaturado, e que seja mostrada a história autêntica, em oposição às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderia fabricar.

Quando aparecerá ela? Não será tão cedo, e talvez não em nossa vida, pois não se destina a satisfazer à curiosidade do momento. Se dela falamos por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e seja anotada a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está em seu começo, e muitas outras coisas acontecerão até lá. Então, é preciso esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.” (grifos nossos)

Observação: É interessante notar como parece que Allan Kardec já sabia do que aconteceria no futuro. Tanta oposição nas historias apócrifas e tanto interesse pessoal fabricado nas costas do Espiritismo… Por garantia ele guardou documentos para essas eventualidades que volta e meia são publicados! Fiquemos atentos ao que mais interessa

Hoje percebemos que essa história ainda está em pleno desenvolvimento. Estamos ainda aprendendo a passos lentos os ensinamentos que os Espíritos trouxeram na época de Kardec. Que todos usemos da Vontade e da Imaginação para alcançar esse entendimento tão apoiado na Razão!




Não falamos ao Movimento Espírita

Terminei um dos últimos artigos falando a respeito do Movimento Espírita, apegado aos erros que foram lenta e continuamente sendo admitidos no meio dele, apagando, lentamente, o conhecimento doutrinário ora adquirido pelos estudos de Kardec.

Erros? Ah, vários. As ideias de lugares na erraticidade; a ideia da reencarnação como pagamento de dívidas; a proibição de conversar com os Espíritos fora do centro espírita; a aceitação cega de comunicações isoladas, sem passar pelo crivo da ciência já adquirida e da razão; a igrejização dos centros espíritas, que passaram a adotar rituais e fórmulas, enfim, uma série de contrariedades àquilo que já havia sido estabelecido pelo estudo científico do Espiritismo.

E quem sou eu para apontar tais erros? Bem, sou um mero estudante da Doutrina que, depois de ter contato com uma série de fatos históricos e mergulhar no estudo da Revista Espírita, encontrou tanta disparidade. Mas, dizia eu, não é ao Movimento Espírita, resistente ao desapego das ideias fixadas por anos, às vezes décadas, de leituras de romances espíritas, sem passar, antes, pelo estudo da Doutrina Espírita. Também não àqueles que, em sua simplicidade, estão muito tranquilos em se dizerem adeptos da Doutrina, mas que dela não fazem estudos, nem tampouco se dedicam a divulgá-la. Não.

Tal como na época de Kardec, com as diferenças resguardadas, nós nos direcionamos aos estudiosos, pesquisadores e cientistas de boa-fé (e não de fé cega) que se interessem em conhecer aquilo que lhes é desconhecido. São esses que vão buscar entender e que, quando houverem entendido, espalharão as ideias que nasceram com Mesmer e com o Espiritualismo Racional e que encontraram pleno desenvolvimento com o Espiritismo. São esses que terão os olhos brilhando e, quem sabe, terminem emocionados como nós outros, ao constatarem no Espiritismo uma vasta profundidade de conhecimentos filosóficos, metafísicos, científicos e morais. O matemático, o físico, o químico, enfim, todos aqueles, de bom-senso, verão, maravilhados, a extensão da doutrina formada pelos estudos de Kardec, cuja figura ascenderá às mais elevadas condições de destaque entre os nomes que mudaram o mundo…

Estamos aqui, enfim, ansiosos e esperançosos pelo desenrolar dos últimos estudos, das últimas pesquisas. Enquanto não temos acesso aos conteúdos das últimas pesquisas que valiosos companheiros estão realizando, nos resta falar do que sabemos, do que entendemos até aqui, produzindo algo que, esperamos, seja útil amanhã, quando a Ciência começar a deixar o dogma e retomar a metafísica racional, o espiritualismo racional, mas, desta vez, com um enorme lastro de conhecimentos que tocam em todas as áreas do conhecimento humano, com seus já conhecidos aspectos filosóficos e morais.

Estamos muito contentes pelo caminho que se abre à nossa frente. E esperamos que você, sentido-se contagiado, também esteja. O Espiritismo voltará à sua condição de ciência, afastado do misticismo e do dogma. Quanto aos resistentes e aos dissidentes, o tempo encarregará de mostrar onde está a verdade, com a diferença que, quando a Ciência admitir o Espiritismo, isso, desta vez, será definitivo, e mudará o mundo.

Prezado leitor: se você sentir-se compelido, participe dos estudos, mas também ajude na divulgação do que já temos em mãos. São conhecimentos que tocam em todas as áreas e que poderão contar com a familiaridade de cada um. Vídeos são bons, mas não bastam, porque ainda não são pesquisáveis, isto é, aquilo que se trata em um vídeo, falando, não está acessível às ferramentas de busca. O texto está.

Esperamos você.




Novos Horizontes

No primeiro semestre de 2021, tive — e eu nem lembro mais como — contato com a obra de Simoni Privato — O Legado de Allan Kardec — obra essa que muito me abalou, frente ao entendimento de tudo o que aconteceu com o Movimento Espírita francês, após a morte de Kardec, e o quanto isso definiu o rumo desse movimento no século seguinte, em especial no Brasil. Em seguida, “por acaso”, alguém postou, em um grupo, um questionamento sobre uma obra recém-lançada, na época: “Nem céu, nem inferno”, de Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo (PHF). O primeiro pensamento foi: deve ser um absurdo. Mas o título era desafiador demais para deixar passar. Resolvi pesquisar e encontrei um artigo, em um blog espírita, falando sobre a obra… E, para entender quais eram as bases do que os autores afirmavam, adquiri e li a obra, com grande avidez, devo confessar.

Da leitura dessas obras, além da constatação da distância mencionada (entre Movimento Espírita e o Espiritismo), me nasceu a necessidade de estudar o Espiritismo nas obras de Kardec, pois o fato patente constatado é que, com pelo menos 20 anos estudando ou lendo obras espíritas, eu não conhecia o Espiritismo. Demérito? Nenhum. Estudei o que estava ao meu alcance. Humilhação? Só se eu julgasse que a verdade era apenas o que eu conhecia e que, fora disso, nada existiria. Mas se tem uma coisa que eu conhecia sobre Kardec, por tradição de estudos de O Livro dos Espíritos, com meu pai, era o seu grandioso empenho na busca científica da verdade, motivo que me instigou a estudar, sem apegos. Mas… Estudar o quê? O Livro dos Espíritos eu já conhecia em grande parte. A essência de O Livro dos Médiuns, também. Quero dizer: frente àquilo que estava ao meu alcance, a essência moral e científica me parecia bem compreendida.

Um fato que me chamou a atenção e que talvez a intuição tenha reforçado é que deveria haver algo de importante nessa tal “Revista Espírita”, posto que esses autores frequentemente recorriam a citações muito pertinentes e perspicazes de Kardec ou de Espíritos, contidas nesses volumes. Assim, nasceu esta iniciativa e nosso grupo de estudos… Mas isso tudo vocês provavelmente já sabem. Não é esse o ponto, somente achei interessante demonstrar, mais uma vez, o caminho que percorri até aqui, pois esse caminho está me levando para lugares nunca antes visitados.

Um fato muito importante que aconteceu nessa trajetória foi a aproximação com o Grupo de Estudos Espiritismo para Todos, o que aconteceu porque, em contato com o Paulo Henrique, ele mesmo me indicou alguém desse grupo, que estudava junto a ele as obras de Kardec e seu contexto científico. Daí, veio o conhecimento sobre o Espiritualismo Racional, que várias vezes já abordamos por aqui, um pouco sobre o Magnetismo e, mais recentemente, um aprofundamento gigantesco em todo o contexto de Kardec, desconhecido atualmente. A metafísica, coisa totalmente desconhecida ou desconectada da ciência atual, era parte elementar dos estudos de qualquer cientista da época, e foi ela, juntamente a tudo o que a ciência fornecia, naquela época, que deu possibilidade à formação da Doutrina Espírita.

Da mesma forma que a Ciência propriamente dita tem como objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da natureza que reage incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, disso resulta que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro; que o Espiritismo e a Ciência se completam; que a Ciência sem o Espiritismo está impossibilitada de explicar certos fenômenos recorrendo somente às leis da matéria, e por ter prescindido do princípio espiritual se encontra em meio a tantas dificuldades; que o Espiritismo sem a Ciência careceria de apoio e de controle e poderia equivocar-se. Se o Espiritismo tivesse chegado antes das descobertas científicas, teria fracassado, como tudo o que ocorre antes do seu tempo.

KARDEC, Allan. A Gênese, 1868

É impossível descrever, somente neste artigo, tudo o que temos estudado até agora. O leitor que nos acompanha poderá identificar, na leitura dos textos deste site, diversas sugestões e pistas que frequentemente damos e que cabe a cada um o interesse de investigar ou não. O fato é que estamos chegando a um ponto, acompanhando os estudos do amigo Paulo Henrique, em que minhas primeiras indagações começam a ser respondidas: será possível retomar o Espiritismo, estudado cientificamente, como Kardec fazia? Será possível retomar o contato com os Espíritos, dando continuidade à formação, ou mesmo à recuperação doutrinária? Sim, é possível (e escrevo isso com um sorriso no rosto).

Veja: Kardec havia compreendido e avançado sobre pontos científicos que nós jamais suspeitávamos, e isso pôde ser constatado através de um método que, em breve, será conhecido por nós e pelo prezado leitor, porque o interesse é apresentá-lo para a humanidade. Não só o método, na verdade, mas o conhecimento encontrado através dele. Em estudo com PHF, onde esse conhecimento está sendo elaborado, não pude me sentir nada mais do que muito diminuído frente a Kardec. Me senti ignorante frente à minha compreensão prévia do Espiritismo. A cada nova constatação, eu ria, mas não era uma risada de desdém ou sarcasmo: era uma risada impossível de conter, que expressava meu nível de ignorância, frente ao tamanho que tomava a ciência espírita, formada pelos estudos de Kardec, através de anos de aprendizado junto aos Espíritos.

Nós já sabemos (e, se você não sabe, corra agora para estudar a Revista Espírita) que, no aprendizado com os Espíritos, não podemos tratá-los como reveladores, para os quais basta perguntar e eles respondem, com a teoria pronta. Não.

“… no mundo dos espíritos ocorre um fato muito singular, o qual seguramente ninguém havia suspeitado – os de existirem espíritos que não se consideram mortos. Pois bem: os Espíritos superiores, que conhecem perfeitamente esse fato, nunca vieram dizer por antecipação: “Há Espíritos que supõem ainda viver na vida terrestre; conservando seus gostos, hábitos e instintos”. Em lugar disso, provocaram a manifestação de Espíritos dessa categoria para que os observássemos. Assim, depois de ver Espíritos inseguros em relação ao seu estado, ou afirmando pertencerem a este mundo e desempenhando suas ocupações habituais, do exemplo se deduz a regra. A multiplicidade de fatos semelhantes provou não se tratar de uma exceção, mas de uma das fases da vida espiritual, permitindo estudar todas as variedades e causas dessa singular ilusão, além de reconhecer, sobretudo, ser essa situação própria de Espíritos pouco avançados moralmente, e característica de determinados tipos de morte; que é apenas temporária, mas podendo durar dias, meses e anos. Assim, a teoria nasceu da observação. O mesmo aconteceu com todos os demais princípios da doutrina.”

KARDEC, Allan. Ibidem.

É fácil perceber, portanto, quantos conhecimentos esses estudos requerem e, num século onde cada área está nichada, isto é, onde o físico não estuda filosofia; onde o matemático não conhece botânica; onde o químico não conhece astronomia, e onde nenhum deles conhece metafísica, fica mais fácil ainda compreender a dificuldade que enfrentamos. De minha parte, reconheço: se aventurar nesses estudos não é para qualquer um, e eu só posso me portar como um ganso (porque não quero me comparar a uma galinha, seria muito humilhante), correndo atrás das migalhas que caem das mãos daquele que plantou e que agora colhe os grãos da plantação.

Bem, como eu dizia, novos horizontes estão se abrindo e, cada um que se interesse em aprender e espalhar o conhecimento, pode e deve se lançar aos estudos, da forma que for possível a cada um. É difícil colher todo o aprendizado para retomar, por mãos próprias, o estudo científico do Espiritismo, mas quem disse que nós precisamos ser tão geniais como Einstein para entender a essência das leis do nosso universo, demonstradas por esse grande gênio? Podemos nos portar da mesma forma com o Espiritismo: basta dedicação, colocar a cabeça para funcionar e, de nossa parte, pesquisar, questionar e se aprofundar em tudo o que nos parecer nebuloso. O mais importante de tudo é que não estamos sozinhos: em grupo, a construção torna-se muito mais proveitosa, pois cada um, estando na posição de ajudar e de ser ajudado, auxilia e participa da construção do conhecimento. O que precisamos é sair da condição de professores de Espiritismo.

Terminamos nosso último estudo com o Paulo dizendo algo mais ou menos assim: “se esse conhecimento é tão interessante e transformador para nós, que somos ignorantes, imaginem para quem é inteligente!”. Sim. Imagine o que será para um matemático verificar que o Espiritismo fala de matemática. Imagine o que será para o físico, para o químico, para o médico, para o filósofo, verificar que, no Espiritismo, trata-se de tudo isso, com aspecto moral e sem misticismo? De que tudo se depreende da Lei Natural, e de que é disso que o Espiritismo vem tratar?

Mas, para isso, é preciso vencer algumas barreiras concretadas pelo materialismo, não só na ciência, mas também dentro do movimento espírita. Primeiramente, será necessário demonstrar que a ciência moderna, ao virar as costas para a metafísica, tornou-se tão dogmática quanto a Igreja que, no passado, tratava como herege aquele que afirmava que a Terra girava ao redor do sol, ou que queimava “bruxas” por afirmarem estarem ouvindo ou vendo Espíritos. Depois, será necessário demonstrar que isso que eles acham que é Espiritismo — muitas vezes baseados em coisas absurdas que leem por aí, outras vezes baseados no que lhes apresentam conhecidos, ditos espíritas, mas dogmáticos e caminhando pelas falsas ideias, ou ainda pela falsa confusão entre Espiritismo e espiritualismo moderno, místico, supersticioso e também dogmático — será necessário demonstrar, eu dizia, que isso não é Espiritismo. Será preciso demonstrar que o Espiritismo foi (é) algo tão racional e sério, um fato inegável, que adiantou, há mais de 150 anos, verdades que apenas agora a Ciência está constatando. Enfim, para aqueles que chegarem, pelo uso do bom-senso, a esse ponto, será necessário demonstrar que o Espiritismo, como ciência muito bem instituída em sua época, formou-se da mesma forma que todas as outras ciências de observação, sendo, portanto, racional — tão racional quanto a busca, da física atual, pela existência da matéria negra ou da existência de outros universos, guiados por efeitos cujas causas não são, e talvez nunca sejam, diretamente observáveis. Eis o desafio.

E quanto ao Movimento Espírita materialista, apegado aos erros? Esse depende da vontade de cada um. Os Espíritos, nossos bons Espíritos protetores, nos intuem ou nos direcionam a situações, a obras, a pessoas, isto é, eles nos ajudam, quando sabem que temos um mínimo de disposição. A cada um cabe o interesse em investigar. A mim, não foi suficiente me conduzirem a um lar de idosos, em momento em que eu precisava de ajuda, onde, não obstante haver um predomínio de cultura religiosa católica, encontrei na estante alguns volumes da Revista Espírita! Não. Eu abri, folheei, mas, naquele momento, não fui adiante. Foi necessário passar o apuro, para, somente mais tarde, dar atenção a tal obra, pelo processo explicado anteriormente. Natural que cada um siga seu caminho, e devemos respeitar as escolhas de cada um. Talvez, aqueles que se apeguem e se fechem ao conhecimento, acreditem que estão fazendo o bem, tanto quanto muitos dos que queimavam obras científicas acreditavam estar fazendo o que era certo (o que não os exime de sua responsabilidade, mas o que atenua suas faltas, perante suas próprias consciências). Apresentemos o conhecimento, se desejarmos, mas, se desejarem queimá-lo, deixemo-los, enquanto fazemos a nossa parte. O tempo se encarrega de tudo.

Bem, escrevi bastante. Fico por aqui. Preciso colher alguns grãos que ficaram pelo caminho.




As adulterações em A Gênese após a morte de Kardec: fato ou questão de ponto de vista?

Por Paulo Degering Rosa Junior

A interpretação de texto é dependente da chave de leitura utilizada pelo leitor“, disse-nos uma correspondente envolvida em estudos, ainda hoje, sobre evidências que sugeririam ou comprovariam que a 5.ª edição de A Gênese não foi uma adulteração.

Com certeza – respondo eu – a interpretação depende do conhecimento do leitor. É possível até mesmo não entender a autonomia – fundamento da moral espírita – e, pelo contrário, depreender os falsos conceitos, como aqueles ligados ao carma. O que eu não vejo como questão de interpretação, porém, é a REMOÇÃO de trechos tão essenciais e importantes da obra, como aquele do item 24 do cap. XVIII (“Dizer que a humanidade está madura para a regeneração não significa que todos os indivíduos estejam no mesmo degrau…”) ou aquele que finaliza, na 4.ª edição, o item 19 do cap. III, a respeito dos instintos – “Todos os homens passam pelas paixões […]”. Além disso, temos a retirada ilógica do final do item 22 do cap. II, que explica o conceito da interação espiritual através do fluido perispiritual, indo em encontro à tese de Mesmer. Isso sem falar na carta manuscrita onde consta que, consultando os Espíritos, foi recomendado a Kardec que NADA fosse suprimido na nova edição.

Interessante, ademais, notar que se prende tanto às questões de A Gênese, fazendo um enorme silêncio sobre O Céu e o Inferno, que foi absurdamente destroçada, chegando a ficar contraditória., na 4.ª edição.

De verdade, eu não entendo como, ainda hoje, gasta-se tanto tempo nessa discussão que em nada agrega ao Espiritismo e à humanidade. Nós já sabemos que o Movimento Espírita foi completamente deturpado por pessoas como Leymarie, que também condenou o futuro da antes reconhecida Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; já sabemos da influência perniciosa de Roustaing e de seus discípulos; já sabemos das publicações dos discípulos leais de Kardec, que sinalizavam, em berros escritos, os fatos que se passavam então (conforme Beacoup de Lumière, de Berthe Fropo, amiga íntima do casal); sabemos, também, que se chegou ao ponto de queimarem-se manuscritos preciosos de Kardec, também pelas mãos de Leymarie; conhecemos os fatos amplamente apresentados por Simoni Privato, em O Legado de Allan Kardec. Apesar de tantos fatos e evidências, para alguns grupos é inconcebível que as obras citadas não tenham sido adulteradas, e gastam preciosos tempo e recursos em pesquisas que apenas apontam para evidências de que Kardec planejava novas edições – o que é mais que racional.

Enquanto isso, a compreensão do Espiritualismo Racional, do Magnetismo, da Educação e do Espiritismo – tudo muito intrinsecamente ligado – fica esquecida em terceiro plano, ao passo que o Movimento Espírita continua preso às falsas ideias, materialistas, vindas desde Aristóteles até os dias de hoje – as mesmas ideias que destroçaram a filosofia inatacável apresentada pela Doutrina Espírita. Respeito o tempo e a vontade de cada um, afinal, falamos de autonomia e, espero, hoje compreendemo-la. Mas não consigo ver, nisso tudo, senão mais uma forma de atrasar o passo da doutrina, enquanto, vivendo ainda na heteronomia, milhares de pessoas “esperam” um posicionamento oficial de órgãos como a FEB, a respeito não só das adulterações das obras, mas do reconhecimento da distância que tomaram da essência filosófica, científica e moral do Espiritismo.

É isso.


Hoje, 25 de agosto de 2022, é o primeiro aniversário do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec. Nesse último ano, com a cooperação imprescindível de companheiros valorosos, o Grupo felicita-se de ter aprendido tanto, se desenvolvido tanto e de, a cada dia mais, se tornar mais útil pela compreensão da essência verdadeira – moral, científica e filosófica – do Espiritismo.

O Grupo nasceu justamente após a leitura de O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato, que nos acendeu o alerta sobre os fatos que regularmente vimos destacando e comentando e esperamos que, daqui em diante, tenhamos forças e possibilidades de auxiliar cada vez mais na disseminação do verdadeiro caráter da Doutrina Espírita, afastado das falsas ideias, materialistas e dogmáticas.

Espiritismo não tem “lei do retorno”, “lei de ação e reação”, “carma”, “quitação de dívidas” ou qualquer ideia ligada ao dogma da queda pelo pecado; o Espiritismo demonstra que o Espírito é o autor, o fator determinante da vontade, não estando submetido – embora seja influenciado – pela matéria. Demonstra, acima de tudo, o princípio da autonomia e do livre-arbítrio, afastado dos falsos conceitos de um Deus punitivo ou de um diabo inquisidor.

Estudemos!




A distância entre o Espiritismo e o Movimento Espírita

Uma correspondente questionou a respeito do que seria essa suposta distância, por nós sempre afirmada, entre a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita.

A ela, podemos responder desta forma, para exemplificar para todos:

“B…, isso é algo que cada um precisa realmente estudar ou buscar se informar, principalmente sobre as obras citadas ((

  • No sentido das alterações doutrinarias: O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato; Nem Céu Nem Inferno, de Paulo Henrique de Figueiredo; Ponto Final, de Wilson Garcia
  • No sentido do conhecimento sobre o contexto doutrinário: Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo;
  • No entendimento real da Doutrina, na essência proposta por Kardec, através dos estudos: O Céu e o Inferno e A Gênese, ambos da editora FEAL, pois os outros são as versões adulteradas, ainda.)) , porque compreender e, daí, assumir novo posicionamento, precisa ser uma ação autônoma. Contudo, posso ressaltar algumas diferenças capitais entre Doutrina Espírita (DE) e Movimento Espírita atual (ME):

  • Evocações dos espíritos: DE foi formada sobre elas e demonstrou a necessidade de serem realizadas, com método, para continuar seu desenvolvimento; ME recomenda não fazer, provocando uma onda de médiuns que ficam apenas “à disposição”, portanto, sem controle nem objetivo de aprendizado.
  • Generalidade do ensino: DE demonstrou a necessidade de desenvolver o estudo espírita através do método do duplo controle: universalidade e concordância do ensino e julgamento racional; ME, contagiada por Roustaing, que via um perigo nesse método (que desmentiria suas teorias), passou a tomar comunicações isoladas como expressão da verdade, sem raciocinar.
  • Vida do Espírito na erraticidade: DE demonstrou que emoções e sensações físicas somente existem para o Espírito apegado; ME passou a ensinar um mundo espiritual totalmente materializado, criando, assim, ideias de apego nocivas ao Espírito que desencarna.
  • Necessidade da encarnação: DE demonstrou que a encarnação é uma necessidade para o progresso do Espírito, na qual ele, mesmo que involuntariamente, faz seu papel solidário na criação. Afastou os conceitos de castigo e punição como uma ação arbitrária de Deus, demonstrando que tudo é fruto da escolha do Espírito consciente; ME, sob influência roustainguista, inseriu os falsos conceitos de carma, resgate, lei de ação e reação e lei do retorno.
  • Heteronomia x autonomia: DE demonstrou, em toda ela, que o Espírito se desenvolve de forma autônoma, sendo ele o autor primeiro, senão o único, de suas escolhas; ME, influenciada por Roustaing, passou a tratar da vida de forma heterônoma – se sofro é porque estou recebendo o retorno; se tenho alegria é porque fui abençoado, etc.
  • Caridade: DE demonstrou que a caridade é uma ação desinteressada, fruto do dever do Espírito que, conscientemente, se move em direção ao bem; ME passou a tratar da caridade como uma ação externa, quase sempre apenas material. Por ausência de estudos da DE, ME deixa de fazer o bem que poderia fazer para auxiliar no desenvolvimento da sociedade pelas ideias espíritas.
  • Moral: DE demonstrou que, todos criados simples e ignorantes, os Espíritos se desenvolvem errando e acertando, através das encarnações, escolhendo entre agir desta ou daquela forma. Não há dualidade entre bem e mal. Alguns escolhem repetir o erro, desenvolvendo imperfeições das quais muito custarão a se desvencilhar, através do trabalho reencarnatório, em uma ação consciente e autônoma; ME, influenciada por Roustaing, passou a tratar da encarnação como um castigo, como se todos os Espíritos que encarnam fossem imperfeitos.
  • Método: DE sempre demonstrou a forma como ela própria se desenvolveria: pelo estudo das ciências humanas, confrontadas, pela razão, com os ensinamentos espíritas, na troca de informações com grupos idôneos espalhados por todo o mundo; já a ME praticamente não estuda os fundamentos da DE, se isolou nos centros em rotinas que compreendem: monólogos, quase sempre recheados de todos os erros apontados anteriormente; passes, sem conhecimento do magnetismo; e sessões mediúnicas que, sem método e sem estudos, perdem o propósito e a utilidade que realmente poderiam ter.

E por aí vai.”

Vemos que as diferenças entre a Doutrina Espírita, em sua origem, e o que hoje professa ou acredita o Movimento Espírita, são profundas e, quase sempre, danosas à propagação da Doutrina. Cabe, portanto, o esforço voluntário de cada um no estudo honesto e desapegado, bem como na divulgação fraterna e cooperativa do conhecimento.

Complementando as obras citadas, não podemos deixar de apontar a necessidade do estudo da Revista Espírita, que demonstra como se deu a formação da Doutrina Espírita.