A Verdade que Liberta

Continuação do artigo O Domínio pela Mentira e Violência

Jesus veio nos trazer a verdade que nos liberta! Ele mencionou o diabo na Bíblia, mas será que ele acreditava na existência literal do diabo? A palavra “Diabo” está escrita na Bíblia, mas seu significado vai além do literal.

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Na verdade, tudo se resume à interpretação. Deus e Diabo são representações do Bem e do Mal, respectivamente. No entanto, encarar o Diabo como puramente malévolo é uma concepção equivocada. O Diabo não é uma entidade; ele reside naqueles que abraçam essa falsa ideia. A Mal não tem forma, não é uma entidade real. Ninguém é inerentemente mal. Existe alguém verdadeiramente maligno neste mundo? Não, porque o mal é uma concepção falsa que sustenta um hábito. Quando alguém muda sua mentalidade, ela deixa de agir no mal, mas superar o hábito é um processo demorado. No entanto, nunca se supera se a mentalidade não mudar.

O que realmente transformará o mundo é a educação genuína – não aquela que apenas perpetua ideias falsas, que decora ensinamentos, mas sim aquela que compreendida, que liberta. As armas do bem são a compreensão e a explicação. Como posso fazer você entender que o futuro do mundo está na cooperação? Simplesmente explicando e cooperando incessantemente, sem se preocupar com os resultados.

Estamos introduzindo um novo hábito no mundo. Ao vencermos a falsa ideia do mal, veremos uma renovação global, oferecendo novas oportunidades para todos. Não há Espírito que não vá, mais cedo ou mais tarde, optar pelo caminho do bem. No entanto, o bem não é imposto; cada um deve alcançá-lo com seu próprio esforço.

O verdadeiro entendimento nos libertará dessa falsa dicotomia entre bem e mal, levando-nos a uma vida de cooperação e harmonia. A passagem a seguir de Jesus é reveladora:

42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso pai, amar-me-íeis. Eu vim de Deus e vou [para Deus]. Pois não vim por mim mesmo, mas foi Ele que me enviou. “


Bíblia – Volume I: Novo testamento – Os quatro evangelhos – Evangelho de João (pp. 470-471). Companhia das Letras. Edição do Kindle. Trad. Frederico Lourenço

Jesus disse que foi enviado por Deus e não por meios próprios. Ele veio para ensinar a Lei da Deus.

43 Por que razão não percebeis o meu discurso? Porque não conseguis ouvir a minha palavra.

Idem

A ciência avança principalmente pela mudança de paradigma, isto é, a mudança de ideias. ((Paradigma procede do grego “paradigma”, que significa “exemplo” ou “modelo”. Inicialmente, era aplicado na gramática (para definir o seu uso num determinado contexto) e na retórica (para se referir a uma parábola ou a uma fábula). A partir da década de 60, começou a ser empregue para definir um modelo ou um padrão em qualquer disciplina científica ou contexto epistemológico. fonte: clique aqui)) . Temos que compreender como é a nova ideia. Assim, depois que ela faz sentido, nós a testamos e quando verificamos sua coerência, nós a adotamos. A chave é compartilhar a nova ideia.
Mas isso não significa que todos se tornarão superiores, esse não é a ideia do mundo. As crianças não precisam estudar na escola apenas para obter as melhores notas, gerando competição entre elas. Cada uma deve buscar aprender mais do que sabia antes, pois somos todos espíritos em estágios diferentes de evolução. Há espíritos muito inteligentes no nosso mundo porque já passaram mais tempo experimentando os mundo. No entanto, os inteligentes não são superiores aos simples, pois em outras existências já foram simples como eles. Eles vieram para nosso mundo porque se sentiram mais preparados lá. Os espíritos inteligentes não são malévolos ou demoníacos; no entanto, devem cultivar a simplicidade para servir e contribuir, não para serem servidos. Este é o grande lema do mundo.

Para avançarmos em direção à felicidade neste mundo, precisamos ajudar a remover as vendas dos olhos daqueles que estão cegos pela falsa ideia. No entanto, eles não aceitarão facilmente agir por todos. Assim, alguns partem para outro mundo, onde podem progredir ajudar os outros muitos a progredirem tecnologicamente mais rapidamente e ter uma nova oportunidade de repensar suas escolhas. Não é um castigo ou punição ser enviado para outro mundo; é simplesmente uma consequência de uma escolha que não os permitiu evoluir. Se eles reconsiderarem suas atitudes no outro mundo, renovados, poderão retornar aqui.

Isso ocorreu em nosso mundo; os simples estavam na Terra quando chegaram os exilados. Eles receberam uma segunda chance ao virem para cá, mas agora precisam contribuir de forma útil para o avanço deste mundo. Infelizmente, muitos caíram na falsa ideia de que devem ser servidos, criando assim todas as ideias equivocadas que permeiam o mundo. Mas, sempre que tentamos explicar a verdade, por ser uma ideia falsa, eles resistem.

Esta é a última oportunidade tanto para mudar de mentalidade quanto para participar plenamente deste mundo. Aqueles que se recusam a cooperar não compreenderão a verdade através da força, da memorização de ordens ou da obediência cega. Somente através de esforço pessoal é que alguém poderá compreender.

44 Vós sois [filhos] do diabo, vosso pai; e quereis pôr em prática as vontades do vosso pai. Ele é homicida desde o princípio e não esteve nem está na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere a mentira, profere-a a partir dos seus; pois é mentiroso e é pai [da mentira]. 45 Eu porque digo a verdade não acreditais em mim. 46 Quem de vós me condena a respeito do erro? Se eu falo a verdade, por que razão não acreditais em mim? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. É por isto que vós não me ouvis: porque não sois de Deus”.

Idem

Esta parte do Evangelho de João está apontando que o “diabo” está na falsa ideia de superioridade e pureza. Ao nos considerarmos puros e superiores, tendemos a julgar e condenar os outros que consideramos simples e inferiores. No entanto, o ato de julgar é, em si mesmo, uma falsa ideia: quando apontamos o erro em outra pessoa, na verdade estamos cometendo um equívoco, pois estamos julgando a pessoa em vez de seu comportamento específico. Isso equivale a considerar a pessoa como “o mal” e condená-la injustamente. Ninguém tem o direito de agir assim. Nem mesmo os espíritos benevolentes condenam os outros dessa maneira.

O mal se revela na distorção da lei divina, quando buscamos satisfazer nossos interesses pessoais à custa da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, devemos rejeitar a noção de superioridade devido ao nosso conhecimento.

Nesse contexto, nossa responsabilidade se torna ainda mais crucial! Aqueles que possuem conhecimento têm o dever não apenas de ajudar os menos instruídos, mas também de servir.

Devemos dedicar nossos esforços a disseminar o conhecimento e garantir que muitos o compreendam. O futuro do mundo está na cooperação, não na competição. Qualquer novo valor deve ser compartilhado globalmente para que todos possam se beneficiar.

48 Os judeus responderam e disseram-lhe: “Não dizemos bem que és samaritano e tens um demônio?”. 49 Respondeu-lhes Jesus: “Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai e vós me desonrais. 50 Eu não procuro a minha glória. Existe aquele que procura e julga. 51 Amém amém vos digo: se alguém observar a minha palavra, não verá a morte até a eternidade”.

Ibidem

Nesta parte, está expressado: “Você está contaminado pelo mal! E tem um diabo!” Se alguém já julga o outro um diabo, parece não haver solução. Quem é egoísta e arrogante rotula os outros como inferiores, sempre vendo o mal nos outros. Os fanáticos religiosos veem os diferentes como inferiores. Os materialistas julgam aqueles que pensam de forma diferente como inferiores. O cerne do problema é quando um indivíduo acredita ser superior e é teimoso em não mudar de ideia, mesmo quando confrontado com a verdade. A verdade o confronta, questionando sua autoimagem elevada.

Agora, se alguém se considera superior, só reconhecerá seu erro quando chegar a essa conclusão por conta própria. Muitas vezes, essa pessoa, no fundo, não acredita realmente em sua superioridade, por isso sente a necessidade de afirmá-la tão veementemente.

O único fator que nos torna iguais é nossa individualidade. Somos Espíritos únicos, cada um com diferentes experiências para desenvolver e compreender. No entanto, ter mais conhecimento não nos torna superiores aos outros. O que verdadeiramente define a evolução de um Espírito não é sua inteligência ou experiência, mas sua capacidade de compreender a lei de Deus. O objetivo do Espírito é dar o melhor de si mesmo.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em O Duplo Conceito do Bem e do Mal




O Domínio pela Mentira e Violência

Aquele que erra conscientemente usa da violência e da mentira para dominar e agir em benefício próprio.

Continuação do artigo A Verdade sobre o Mal e o Castigo.

Para alcançar o domínio sobre os outros, muitas vezes emprega-se a estratégia de fazer com que eles acreditem que o erro ou a falha reside em não obedecer, merecendo, por isso, punição. Ao mesmo tempo, é propagada a ilusão de que obedecer trará recompensas. Essa é a armadilha da maldade, conhecida como heteronomia. Aqueles que se submetem são então controlados por meio de condicionamentos, e é aí que reside a verdadeira violência do mal.

A maldade age por meio da violência e da mentira. Ela proclama: “Você deve obedecer! Se não obedecer, receberá punição!” Em seguida, ela afirma: “Essa é a única maneira de lidar com aqueles que se recusam a obedecer.” Isso é uma inversão de valores.

O mal se manifesta na falsa ideia que distorce a lei divina, buscando a satisfação dos interesses e da alegria pessoal às custas da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, não devemos nos deixar enganar pelo pensamento de que somos superiores por termos conhecimento. E sabe o erro daquele que sabe? A indiferença! Ter valores e não usar os valores para o bem.

Nesse sentido, o nosso dever que já sabe se intensifica! A responsabilidade daqueles que possuem conhecimento vai além de simplesmente ajudar os menos instruídos; eles devem também servir. Reflita: O dever de quem sabe é servir aos mais simples!

Não devemos pensar em tirar proveito de nosso conhecimento, mas sim em cooperar. Devemos empregar nossos esforços para disseminar este conhecimento e fazer com que muitos o compreendam. O futuro do mundo reside na cooperação, não na competição.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em A Verdade que Liberta




Obediência Passiva e Fé Cega — Os dois Princípios da Falsa Ideia

Continuação do artigo A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia.

Várias vezes em suas obras, Kardec cita A obediência passiva e a fé cega. Agora reflitamos por qual motivo eles são os princípios da Falsa Ideia.

Os falsos profetas, para conquistar pela obediência passiva, precisavam impedir que as massas aprendessem pelo próprio esforço sem a experiência de erro e acerto para aprender. Eles, os profetas falsos, condenavam o erro, como se o erro fosse a causa do mal do mundo.

Porém, todos sabemos que só é possível aprender quando se tenta. Da tentativa, produz-se erro e acerto. A partir daí, avaliamos e percebemos a melhor maneira de agir. E Deus não condena o erro, pois o erro faz parte do aprender. Pense bem: muito diferente errar inconscientemente do que persistir no erro conscientemente.

“Para elevar-se, deve o homem ser provado. Impedir sua ação e pôr um entrave em seu livre-arbítrio seria ir contra Deus e neste caso as provas tornar-se-iam inúteis, porque os Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante. Para chegar às esferas felizes, é necessário que ele progrida e que se eleve em conhecimento e sabedoria, e é somente na adversidade que ele adquire um coração elevado e melhor compreende a grandeza de Deus.”

Allan Kardec. Revista Espírita — Jornal de Estudos Psicológicos — 1858 – Novembro

Ao mesmo tempo, quando alguém faz algo, seja no trabalho ou no cotidiano, tem que saber o que está fazendo e quais são os resultados do que está fazendo. Então, esse alguém pode estar fazendo o mal sem saber ou mesmo participando do mal sem consciência do mal. Portanto, o ideal seria nunca realizar uma atividade sem entender.

A falsa ideia, através dos dois princípios de obediência passiva e fé cega, leva a crer que o erro é o mal. Consequentemente, o erro gera medo. Será melhor obedecer sem entender e ter fé?

Desde tempos remotos, os sacerdotes que determinam o comportamento das pessoas, pois eles mesmos afirmam que Deus os escolheu para determinar Sua Lei. Os sacerdotes criaram o falso ensinamento de que o acerto está em obedecer a Deus para receber as recompensas divinas e se salvar. Eles propagam também que o erro representa o agir inspirado pelo diabo, que atenta o homem para se apossar dele. Kardec mostra este entendimento em A Genese:

A religião era, nesse tempo, um freio poderoso para governar. Os povos se curvavam voluntariamente diante dos poderes invisíveis, em nome dos quais eram subjugados e cujos governantes diziam possuir seu domínio, quando não se faziam passar por equivalentes a esses poderes. Para dar mais força à religião, era necessário apresentá-la como absoluta, infalível e imutável, sem os quais ela teria perdido a ascendência sobre esses seres quase primitivos, apenas iniciados para a racionalidade. Ela não poderia ser discutida, assim como as ordens de um soberano. Disso resultou o princípio da fé cega e da obediência passiva, que tinha, na origem, sua razão de ser e sua utilidade. A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame65.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (Portuguese Edition) . cap IV, item 2. Edição do Kindle.((A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo: https://amzn.to/3RM91hF ))

Quem desobedece ou não se arrepende, será entregue ao diabo, sofrendo castigos, vicissitudes, dores. Por meio dessa ideia falsa, os sacerdotes condicionaram as massas a acreditar sem raciocinar — Fé Cega — alegando que a razão não compreende a vontade divina. Obedecendo sem compreender — Obediência Passiva.

Em qualquer área de atuação acontece a fé cega e a obediência passiva: ciência, filosofia, religião, no trabalho, no lar, nos relacionamentos. Na idade média, usava-se o dogma religioso para balizar as ações. Hoje se usa o dogma materialista. Dessa forma, é como se fosse a idade média da ciência!

Se a pessoa acredita que o seu trabalho não é nem pode ser espiritualizado, é excluído do meio. A exclusão é o mesmo instrumento que a igreja fazia, com condenação, excomunhão, perseguição, etc. Está certo que a condenação da igreja levava a morte, mas hoje a exclusão pela sociedade é praticamente morrer, ficando marginalizado. Existem os graduados no ensino superior( ou mesmo no ensino técnico) que tendem a acreditar no materialismo; os outros são os excluídos. E acontece a luta do superior contra inferior. O Espiritualismo é o diabo da ciência! E o Materialismo é o deus da ciência!

Por fim, atualmente, pela falsa ideia, os que pensam diferente, sejam de outros países ou outras religiões, são inimigos, são controlados pelo diabo, e devem ser combatidos e destruídos. Os que obedecem são protegidos pelo deus bom. Assim, criam o exclusivismo e a guerra. É um exclusivismo MATERIALISTA!

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em A Verdade sobre o Mal e o Castigo




A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia

Continuação do artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus. Vamos entender melhor as diferenças entre a verdadeira mentalidade e a falsa ideia?

Ao longo do tempo, a mentalidade verdadeira e falsa ideia enraizaram-se nas tradições do mundo de várias maneiras. As religiões sempre embutiram em seus ensinamentos a competição, a disputa, a lei do mais forte.

Mudar de mentalidade
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A tradição do cristianismo considera que Jesus foi anunciado por João Batista prenunciado pelo arrependimento: “arrependei-vos, pois ficou próximo o reino dos céus”. Com esse pensamento, tínhamos que nos arrepender dos pecados, do erro cometido. Essa educação nos deixa cheio de culpas, pois se errei, eu preciso de perdão para ser salvo.

As religiões utilizaram-se dessa ideia para dizer que somente o perdão de Deus salva aquele que erra, e o que desobedece, eternamente castigado, entregue ao diabo. Este pensamento não se implantou somente pelas religiões: no trabalho, se errar é despedido, na família, se errar é preterido, e assim acontece em inúmeras situações. Na vida toda, não se pode errar! As pessoas usam de fingimento, de esconder, de camuflar os erros, de falsidade, pois se lembre: errar é Pecado. Isso desencadeia várias consequências, entre elas que as pessoas não são como verdadeiramente são, nem se sentem incluídas, perdidas, sem rumo.

Por isso temos que entender a mensagem do Espiritismo de pertencimento, de fazer parte, de colaboração. Temos de buscar esse entendimento. Temos de deixar de lado a ideia de que o mais forte salvará o simples, o ignorante, que os fortes e destacados são maiores e melhores.

Para fazer valer a verdade, tem que fazer o Bem! Mas é necessário reformar a forma de fazer esses ensinamentos, mudando como e o que se ensina para as crianças, com mudanças estruturais nas escolas. A competição não pode ser o estímulo para o aprendizado. Ensinam-se as falsas ideias quando se diz a criança que a luta serve para destacar, ser superior, ser o melhor que o outro, estar “entre os superiores”, para não ser renegado pela sociedade. Essa mentalidade é falsa!

No entanto, os mais recentes trabalhos de tradução dos evangelhos, esclarecem que o verbo grego metanoéô, ligado ao substantivo metánoia, tem o sentido de “mudar de mentalidade”. Frederico Lourenço explica: “No cerne da palavra está o vocábulo nous (“mente”): daí o fato de a essência da ideia estar ancorada na mudança mental (de que o arrependimento é sintoma)” (Novo Testamento).

O versículo 14 do cap. 1, de Marcos, fica assim:

14 Depois de João [Batista] ter sido traído, Jesus foi para a Galileia proclamar a boa-nova de Deus, 15 dizendo: “Completou-se o tempo e ficou próximo o reino de Deus. Mudai de mentalidade e acreditai na boa-nova”.

Marcos: 1,14-15

Com essa simples passagem da Bíblia, transformamos completamente o entendimento do sentido de Arrepender-se: há necessidade de mudar de mentalidade para superar uma mentalidade falsa! Não é arrepender do erro, mas mudar a forma de entendimento, Mudar de Mentalidade.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em Obediência Passiva e a Fé cega – Os dois Princípios da Falsa Ideia




Profecia do Espírito da Verdade

A Profecia do Espírito da Verdade aconteceu.

Quando a elaboração da doutrina espírita pelo diálogo com os espíritos ainda estava por começar, Allan Kardec em 1856 conversou com o Espírito da Verdade, que lhe apresentou a seguinte Profecia para o Espiritismo:

Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa.
Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo.
(Obras póstumas, pag. 344)

De 1858 ate 1869, período em que Kardec publicou seu livros e a Revista Espírita difundindo o Espiritismo, ocorreram ofensas, calúnias e difamações. Ele defendeu suas ideias e dos Espiritos com unhas e dentes. Depois de sua morte em 1869, houve uma série de adulterações em suas obras, . Além disso, inúmeras falsas ideias foram espalhadas sobre a doutrina. Leia o artigo Nossa Posição onde explanamos nossa conclusões.

Infelizmente, as grandes revelações sempre enfrentam essas caracteristicas como consequências: ódio, traição, desprezo e falsas ideias. Se o Espiritismo tem uma grande importância, é natural que ocorra com ele.

As outras revelações, como a de Moisés e de Cristo tiveram as mesmas resistências que o Espírito da Verdade mencionou.

Superando a falsa ideia dos egípcios, Moisés levou ao povo que o seguiu a ideia do Deus único, e do destino solidário da humanidade. Moisés não falou só para o povo hebreu: ele chamou as pessoas de todas as classes do Egito. E é isso que fez com que os sacerdotes egípcios se incomodassem: era o perigo eminente de uma revolução social. O ódio e as traições começaram.

E os judeus, que estavam entre os que adotaram seu pensamento, desviaram da proposta da harmonia universal. Eles elaboraram as crenças e práticas exclusivistas, separando puros e impuros, os que seriam de Deus e os dominados pelo diabo. eram as falsas ideias que estavam bem longe do proposto por Moisés. A ideia de Deus, diabo, céu e inferno, puros e impuros, não faz parte desta revelação.. E foi isso que Jesus veio fazer ao colocar as coisas em seu caminho.

Jesus veio entre os judeus para trazer a mentalidade verdadeira e denunciar a falsa ideia. Sua boa nova representou a chegada da lei divina plena para a humanidade. Jesus previu que suas ideias seriam deturpadas. Se Jesus previu isso com seu próprio ensinamento, por que não ocorreria com a Revelação Espírita?

26.​Entretanto, Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não podeis compreender, e muitas outras teria de dizer, mas não compreenderias; por isso vos falo por parábolas; todavia, mais tarde eu vos enviarei o Consolador, o Espírito Verdade que restabelecerá todas as coisas e a todas explicará.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

Se Jesus anunciou que seria preciso restituir os ensinamentos perdidos, claramente deduzimos que algo ficou abandonado, tanto nos ensinamentos de Moisés, nos de Jesus e do Espiritismo.

E Kardec empreendeu uma luta que realmente acabou tirando dele a saúde, como foi a profecia do Espírito da Verdade. Pelos estudos sabemos que as melhores instruções da Doutrina Espírita foram desprezadas em muitos casos, e pior, falseadas em outras. Precisamos recuperar esses ensinamentos perdidos! (( texto elaborado a partir da palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes ))

Abaixo, a comunicação completa do Espírito da Verdade de 1856:

12 de junho de 1856 (Em casa do Sr. C…; médium: Srta. Aline C…)
MINHA MISSÃO

Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram.
Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?
R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios. Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.
Espírito da Verdade

Eu — Espírito da Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Obras Póstumas, pag. 343-5

Em Obras Póstumas, segue uma nota interessante feita por Allan Kardec mais de 10 anos depois:

NOTA — Escrevo esta nota a 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e atesto que ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as vicissitudes que me foram preditas. Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.
Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude,
tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou. Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa!
Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobrelevaram de muito o mal. Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram.

Obras póstumas, pag 345-6

Continua no artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus




Lugares assombrados – O Livro dos Médiuns

Este artigo traz, na íntegra, o capítulo de O Livro dos Médiuns que trata sobre os lugares assombrados. Ele é excelente e claro por si só, de forma que não verificamos ser necessário tecer maiores comentários.

O artigo em questão foi suscitado pelo tema das Spirit Box, tratado no artigo homônimo e em vídeo recente.

O Livro dos Médiuns — Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo IX — Dos lugares assombrados

  1. As manifestações espontâneas, que em todos os tempos se hão produzido, e a persistência de alguns Espíritos em darem mostras ostensivas de sua presença em certas localidades, constituem a fonte de origem da crença na existência de lugares mal-assombrados. As respostas que se seguem foram dadas a perguntas feitas sobre este assunto:

1.ª. Os Espíritos se apegam unicamente às pessoas, ou também às coisas?

“Depende da elevação deles. Alguns Espíritos podem apegar-se aos objetos terrenos. Os avarentos, por exemplo, que esconderam seus tesouros e que ainda não estão bastante desmaterializados, muitas vezes se obstinam em vigiá-los e montar-lhes guarda.”

2.ª. Têm os Espíritos errantes ((Espírito errante é o Espírito entre uma vida e outra)) lugares de sua predileção?

“O princípio ainda é aqui o mesmo. Os Espíritos que já se não acham apegados à Terra vão para onde se lhes oferece ensejo de praticar o amor. São atraídos mais pelas pessoas do que pelos objetos materiais. Contudo, pode dar-se que dentre eles alguns tenham, durante certo tempo, preferência por determinados lugares. Esses, porém, são sempre Espíritos inferiores.”

3.ª. O apego dos Espíritos a uma localidade, sendo sinal de inferioridade, constituirá igualmente prova de serem eles maus?

“Certamente que não. Pode um Espírito ser pouco adiantado, sem que por isso seja mau. Não se observa o mesmo entre os homens?”

4.ª. Tem qualquer fundamento a crença de que os Espíritos frequentam de preferência as ruínas?

“Nenhum. Os Espíritos vão a tais lugares, como a todos os outros. A imaginação dos homens é que, despertada pelo aspecto lúgubre de certos sítios, atribui à presença dos Espíritos o que não passa, quase sempre, de efeito muito natural. Quantas vezes o medo não tem feito que se tome por fantasma a sombra de uma árvore e por espectros o grito de um animal, ou o sopro do vento? Os Espíritos gostam da presença dos homens; daí o preferirem os lugares habitados, aos lugares desertos.”

a) Contudo, pelo que sabemos da diversidade dos caracteres entre os Espíritos, podemos inferir a existência de Espíritos misantropos, que prefiram a solidão.

“Por isso mesmo não respondi de modo absoluto à questão. Disse que eles podem vir aos lugares desertos, como a toda parte. É evidente que, se alguns se conservam insulados, é porque assim lhes apraz. Isso, porém, não constitui motivo para que forçosamente tenham predileção pelas ruínas. Em muito maior número os há nas cidades e nos palácios, do que no interior dos bosques.”

5.ª. Em geral, as crenças populares guardam um fundo de verdade. Qual terá sido a origem da crença em lugares mal-assombrados?

“O fundo de verdade está na manifestação dos Espíritos, na qual o homem instintivamente acreditou desde todos os tempos. Mas, conforme disse acima, o aspecto lúgubre de certos lugares lhe fere a imaginação e esta o leva naturalmente a colocar nesses lugares os seres que ele considera sobrenaturais. Demais, a entreter essa crença supersticiosa, aí estão as narrativas poéticas e os contos fantásticos com que o acalentam na infância.”

6.ª. Há, para os Espíritos que costumam reunir-se, dias e horas em que prefiram fazê-lo?

“Não. Os dias e as horas são medidas de tempo para uso dos homens e para a vida corpórea, das quais os Espíritos nenhuma necessidade sentem e nenhum caso fazem.”

7ª Donde nasceu a ideia de que os Espíritos vêm preferencialmente durante a noite?

“Da impressão que o silêncio e a obscuridade produzem na imaginação. Todas essas crenças são superstições que o conhecimento racional do Espiritismo destruirá. O mesmo se dá com os dias e as horas que muitos julgam lhes serem mais favoráveis. Fica certo de que a influência da meia-noite nunca existiu, senão nos contos.”

a) Sendo assim, por que é então que alguns Espíritos anunciam sua vinda e suas manifestações para certos e determinados dias, como a sexta-feira, por exemplo?

“Isso fazem Espíritos que aproveitam a credulidade dos homens para se divertirem. Pela mesma razão, há os que se dizem o diabo, ou dão a si mesmos nomes infernais. Mostrai-lhes que não vos deixais enganar e não mais voltarão.”

8.ª. Preferem os Espíritos frequentar os túmulos onde repousam seus corpos?

“O corpo era uma simples vestimenta. Do mesmo modo que o prisioneiro nenhuma atração sente pelas correntes que o prendem, os Espíritos nenhuma experimentam pelo envoltório que os fez sofrer. A lembrança das pessoas que lhes são caras é a única coisa que para eles tem valor.”

a) São-lhes mais agradáveis, do que quaisquer outras, as preces que por eles se façam junto dos túmulos de seus corpos?

“A prece, bem o sabes, é uma evocação que atrai os Espíritos. Tanto maior ação terá, quanto mais fervorosa e sincera for. Ora, junto de um túmulo venerado, sempre se está em maior recolhimento, do que algures, e a conservação de estimadas relíquias é em testemunho de afeição dado ao Espírito e que nunca deixa de o sensibilizar. O que atua sobre o Espírito é sempre o pensamento e não os objetos materiais. Mais influência, do que sobre o Espírito, exercem esses objetos sobre aquele que ora, porque lhe fixam a atenção.”

9.ª. A vista disso, parece que não se deve considerar absolutamente falsa a crença em lugares mal-assombrados?

“Dissemos que certos Espíritos podem sentir-se atraídos por coisas materiais. Podem sê-lo por determinados lugares, onde parecem estabelecer domicílio, até que desapareçam as circunstâncias que os faziam buscar esses lugares.”

a) Que circunstâncias podem induzi-los a buscar tais lugares?

“A simpatia por algumas das pessoas que os frequentam, ou o desejo de com elas se comunicarem. Entretanto, nem sempre os animam intenções louváveis. Quando são Espíritos maus, podem pretender tirar vingança de pessoas de quem guardam queixas. A permanência em determinado lugar também pode ser, para alguns, uma punição que lhes é infligida, sobretudo se ali cometeram um crime, a fim de que o tenham constantemente diante dos olhos*.”

10.ª. Os lugares assombrados sempre o são por antigos habitantes deles?

“Sempre, não; — às vezes, porquanto, se o antigo habitante de um desses lugares é Espírito elevado, tão pouco se preocupará com a sua habitação terrena, quanto com o seu corpo. Os Espíritos que assombram certos lugares muitas vezes não têm, para assim procederem, outro motivo que não simples capricho, a menos que para lá sejam atraídos pela simpatia que lhes inspirem determinadas pessoas.”

a) Podem estabelecer-se num lugar desses com o fito de protegerem uma pessoa, ou a própria família?

“Certamente, se forem Espíritos bons; porém, neste caso, nunca manifestam sua presença por meios desagradáveis.”

11.ª. Haverá alguma coisa de real na história da Dama Branca?

“Mero conto, extraído de mil fatos verdadeiros.”

12.ª. Será racional temerem-se os lugares assombrados pelos Espíritos?

“Não. Os Espíritos que frequentam certos lugares, produzindo neles desordens, antes querem divertir-se à custa da credulidade e da poltronaria dos homens, do que lhes fazer mal. Aliás, deveis lembrar-vos de que em toda parte há Espíritos e de que, assim, onde quer que estejais, os tereis ao vosso lado, ainda mesmo nas mais tranquilas habitações. Quase sempre, eles só assombram certas casas, porque encontram ensejo de manifestarem sua presença nelas.”

13.ª. Haverá meios de os expulsar?

“Há; o que as mais das vezes fazem para isso, porém, os atrai, em vez de os afastar. O melhor meio de expulsar os maus Espíritos consiste em atrair os bons. Atraí, pois, os bons Espíritos, praticando todo o bem que puderdes, e os maus desaparecerão, visto que o bem e o mal são incompatíveis. Sede sempre bons e somente bons Espíritos tereis junto de vós.”

a) Há, no entanto, pessoas muito bondosas que vivem às voltas com as tropelias dos maus Espíritos. Por quê?

“Se essas pessoas são realmente boas, isso acontece talvez como prova, para lhes exercitar a paciência e concitá-las a se tornarem ainda melhores. Fica certo, porém, de que não são os que continuamente falam das virtudes os que mais as possuem. Aquele que é possuidor de qualidades reais quase sempre o ignora, ou delas nunca fala.”

14.ª. Que se deve pensar com relação à eficácia dos exorcismos, para expelir dos lugares mal-assombrados os maus Espíritos?

“Já tiveste ocasião de verificar a eficácia desse processo? Não tens visto, ao contrário, as tropelias redobrarem de intensidade, depois das cerimônias do exorcismo? É que os Espíritos que as causam se divertem com o serem tomados pelo diabo.

“Também, os que se não apresentam com intenções malévolas podem manifestar sua presença por meio de ruídos e até tornando-se visíveis, mas nunca praticam desordens, nem incômodos. São, frequentemente, Espíritos sofredores, cujos sofrimentos podeis aliviar orando por eles. Outras vezes, são mesmo Espíritos benfazejos, que vos querem provar estarem junto de vós, ou, então, Espíritos levianos que brincam. Como quase sempre os que perturbam o repouso são Espíritos que se divertem, o que de melhor têm a fazer, os que se veem perseguidos, é rir do que lhes sucede. Os perturbadores se cansam, verificando que não conseguem meter medo, nem impacientar.” (Veja-se atrás o capítulo V: Das manifestações espontâneas.)

Resulta das explicações acima haver Espíritos que se prendem a certos lugares, preferindo permanecer neles, sem que, entretanto, tenham necessidade de manifestar sua presença por meio de efeitos sensíveis. Qualquer lugar pode constituir morada obrigatória, ou predileta de um Espírito, embora mau, sem que jamais qualquer manifestação se produza. Os que se prendem a certas localidades, ou a certas coisas materiais, nunca são Espíritos superiores. Contudo, mesmo que não pertençam a esta categoria, pode dar-se que não sejam maus e nenhuma intenção má alimentem. Não raro, são até comensais mais úteis do que prejudiciais, porquanto, desde que se interessam pelas pessoas, podem protegê-las.

  • Veja-se Revue spirite, de fevereiro de 1860: “História de um danado”.



Materialidade de além-túmulo: o Zuavo de Magenta

Apresentamos na ultima LIVE uma das Conversas Além Túmulo da Revista Espírita de 1859, tratando do tema Materialidade de além-túmulo.

Desta vez, eles conversam com um soldado morto em batalha.

O governo permitiu que os jornais apolíticos dessem notícias da guerra*. Como, porém, são abundantes os relatos sob todas as formas, seria inútil repeti-los aqui. A maior novidade para os nossos leitores é uma história vinda do outro mundo.

Embora não seja extraída da fonte oficial do Moniteur, nem por isso oferece menos interesse do ponto de vista dos nossos estudos. Assim, pensamos interrogar algumas das gloriosas vítimas da vitória, presumindo que daí pudéssemos extrair alguma instrução útil. Semelhantes temas de estudo, e principalmente de atualidade, não se apresentam a cada passo. Não conhecendo pessoalmente nenhum dos participantes da última batalha, rogamos aos Espíritos que nos assistem que nos enviassem alguém. Chegamos a pensar que a presença de um estranho seria preferível à de amigos ou de parentes dominados pela emoção. Dada uma resposta afirmativa, obtivemos as seguintes comunicações.

RE 1859 O Zuavo de Magenta

Isso se passou na Segunda Guerra Italiana de Independência. A guerra ocorreu em 1859, e foi travada entre o Reino da Sardenha, liderado por Camillo di Cavour, e a França, liderada pelo Imperador Napoleão III, contra o Império Austríaco. Exporemos alguns trechos dessa longa conversa além túmulo.

1. ─ Rogamos a Deus Todo Poderoso permita ao Espírito de um militar morto na batalha de Magenta vir comunicar-se conosco.

─ Que quereis saber?

2. ─ Onde vos encontráveis quando vos chamamos?

─ Não saberia dizer.

3. ─ Quem vos preveniu que desejávamos conversar convosco?

─ Alguém mais sagaz do que eu.

4. ─ Quando em vida duvidáveis que os mortos pudessem vir conversar com os vivos?

─ Oh! Isso não.

5. ─ Que sensação experimentais por estardes aqui?

─ Isto me causa prazer. Segundo me dizem, tendes grandes coisas a fazer.

6. ─ A que corpo do exército pertencíeis? (Alguém diz a meia-voz: Pela linguagem parece um “zuzu”)

─ Ah! Bem o dizes!

7. ─ Qual era o vosso posto?

─ O de todo o mundo.

8. ─ Como vos chamáveis?

─ Joseph Midard.

9. ─ Como morrestes?

─ Quereis saber tudo sem pagar nada?

10. ─ Ainda bem que não perdestes a jovialidade. Dizei, dizei; nós pagaremos depois. Como morrestes?

─ De uma ameixa [projétil] que recebi.

11. ─ Ficastes contrariado com a morte?

─ Palavra que não! Estou bem, aqui.

12. ─ No momento da morte percebestes o que houve?

─ Não. Eu estava tão atordoado que não podia acreditar.[nota a seguir]

NOTA de A. K.: Isto está de acordo com o que temos observado nos casos de morte violenta. Não se dando conta imediatamente da sua situação, o Espírito não se julga morto. Este fenômeno se explica muito facilmente. É análogo ao dos sonâmbulos, que não acreditam que estejam dormindo. Realmente, para o sonâmbulo, a ideia de sono é sinônima de suspensão das faculdades intelectuais. Ora, como ele pensa, não acredita que dorme. Só mais tarde se convence, quando familiarizado com o sentido ligado a esse vocábulo. Dá-se o mesmo com um Espírito surpreendido por uma morte súbita, quando nada está preparado para a separação do corpo. Para ele, a morte é sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, desde que ele vive, sente e pensa, entende que não está morto. É preciso algum tempo para reconhecer-se.

13. ─ No momento de vossa morte, a batalha não havia terminado. Seguistes as suas peripécias?

─ Sim, pois como vos disse, não me julgava morto. Eu queria continuar batendo nos outros cães.

14. ─ Que sensação experimentastes então?

─ Eu estava encantado, pois me sentia muito leve.

15. ─ Víeis os Espíritos dos vossos camaradas deixando os corpos?

─ Eu nem pensava nisso, pois não me acreditava morto.

16. ─ Em que se transformava, nesse momento, a multidão de Espíritos que perdia a vida no tumulto da batalha?─ Creio que faziam o mesmo que eu

17. ─ Encontrando-se reunidos nesse mundo dos Espíritos, que pensavam aqueles que se batiam mais encarniçadamente? Ainda se atiravam uns contra os outros?

─ Sim. Durante algum tempo, e conforme o seu caráter.

18. ─ Reconhecei-vos melhor agora?

─ Sem isto não me teriam mandado aqui.

19. ─ Poderíeis dizer-nos se entre os Espíritos de soldados mortos há muito tempo ainda se encontravam alguns interessados no resultado da batalha? (Rogamos a São Luís que o ajudasse nas respostas, a fim de que, para nossa instrução, fossem tão explícitas quanto possível).─ Em grande quantidade. É bom que saibais que esses combates e suas consequências são preparados com muita antecedência e que os nossos adversários não se envolveriam em crimes, como fizeram, se a isto não tivessem sido compelidos em razão das consequências futuras, que não tardareis a conhecer.

20. ─ Deveria haver ali Espíritos que se interessavam no sucesso dos austríacos. Haveria então dois campos de batalha entre eles?

─ Evidentemente.

OBSERVAÇÃO: Não parece que estamos vendo aqui os deuses de Homero tomando partido, uns pelos Gregos, outros pelos Troianos? Na verdade, quem eram esses deuses do paganismo, senão os Espíritos que os Antigos haviam transformado em divindade? Não temos razão quando dizemos que o Espiritismo é uma luz que esclarecerá diversos mistérios, a chave de numerosos problemas?

21. ─ Eles exerciam alguma influência sobre os combatentes?

─ Muito considerável.

22. ─ Podeis descrever-nos de que maneira eles exerciam tal influência?

─ Da mesma maneira que todas as influências dos Espíritos se exercem sobre os homens. [pelo pensamento]

OBSERVAÇÃO: É fato, como fica cada vez mais constatado, que a mentalidade do Espírito cria cenários de matéria fluídica ao seu redor. Outra coisa também pode ser possível: eles continuam no campo de batalha terreno, provavelmente com algumas “adições fluídicas”. Tudo isso deve ser indistinguível, de início, quando no estado de perturbação. Contudo, não é regra, ou seja, não constitui uma verdade geral para todo soldado, morto em guerra (vide O Tambor de Beresina, RE, julho de 1858). O erro, sempre, é tomar as palavras de Espíritos quaisquer sem analisar o seu fundo, principalmente quando o Espírito está em perturbação pós-morte ou é pouco esclarecido, o que se denota de suas próprias ideias. Eis o longo trabalho de Psicologia Experimental de Kardec!

23. ─ Que esperais fazer agora?

─ Estudar mais do que o fiz em minha última etapa.

24. ─ Ides voltar como espectador aos combates que ainda serão travados?

─ Ainda não sei. Tenho afeições que me prendem no momento. Contudo, espero de vez em quando dar uma fugida, para me divertir com as surras subsequentes.

25. ─ Que gênero de afeição vos retém ainda?

─ Uma velha mãe doente e sofredora, que chora por mim.

26. ─ Peço que me desculpeis o mau pensamento que me atravessou o espírito, relativamente à afeição que o retém.

─ Não tem importância. Digo bobagens para vos fazer rir um pouco. É natural que não me tomeis por grande coisa, tendo em vista o regimento medíocre a que pertenci. Ficai tranquilos, eu só me engajei por causa dessa pobre mãe. Mereço um pouco que me tenham mandado a vós.

27. ─ Quando vos encontráveis entre os Espíritos, ouvíeis o rumor da batalha? Víeis as coisas tão claramente como em vida?

─ A princípio eu a perdi de vista, mas depois de algum tempo via muito melhor, porque percebia todas as artimanhas. [está falando no sentido dos pensamentos]

28. ─ Pergunto se escutáveis o troar do canhão.

─ Sim.

29. ─ No momento da ação, pensáveis na morte e naquilo em que vos tornaríeis, caso fosseis morto?

─ Eu pensava no que seria de minha mãe.

30. ─ Era a primeira vez que entráveis em fogo?

─ Não, não. E a África?

31. ─ Vistes a entrada dos franceses em Milão?

─ Não.

32. ─ Aqui sois o único dos que morreram na Itália?

─ Sim.

33. ─ Pensais que a guerra durará muito tempo?

─ Não. É fácil e por isso mesmo pouco meritório fazer tal predição.

34. ─ Quando vedes, entre os Espíritos, um dos vossos chefes, ainda o reconheceis como vosso superior?

─ Se ele o for, sim; se não, não. [nota a seguir]

NOTA de A. K. : Na sua simplicidade e no seu laconismo, esta resposta é eminentemente profunda e filosófica. No mundo espírita, a superioridade moral é a única reconhecida. Quem não a teve na Terra, fosse qual fosse a sua posição, não tem, de fato, superioridade nenhuma. Lá o chefe pode estar abaixo do soldado e o patrão abaixo do servidor. Que lição para o nosso orgulho!

35. ─ Pensais na justiça de Deus e vos inquietais por isso?

─ Quem não pensaria nisso? Felizmente não tenho muito o que temer. Eu resgatei, por algumas ações que Deus considerou boas, as poucas leviandades que cometi como “zuzu”, como dizeis.

36. ─ Assistindo a um combate, poderíeis proteger um de vossos companheiros e desviar dele um golpe fatal?

─ Não. Não podemos fazer isso. A hora da morte é marcada por Deus. Se tem que acontecer, nada o impedirá, do mesmo modo ninguém poderá atingi-la se sua hora não tiver soado.

37. ─ Vedes o General Espinasse?

─ Não o vi ainda. Mas espero vê-lo em breve.

SEGUNDA CONVERSA

(17 DE JUNHO DE 1859)

38. (Evocação).

─ Presente! Firme! Em frente!

39. ─ Lembrai-vos de ter vindo aqui há oito dias?

─ Como não?!

40. ─ Disseste-nos que ainda não tínheis visto o General Espinasse. Como poderíeis reconhecê-lo, já que ele não levou consigo seu uniforme de general?─ Não, mas eu o conheço de vista. Ademais, não temos uma porção de amigos junto a nós, prontos a nos revelar a senha? Aqui não é como no quartel. A gente não tem medo de dar um encontrão com alguém, e eu vos garanto que só os velhacos ficam sozinhos.

41. ─ Sob que aparência aqui vos encontrais?

─ Zuavo.

42. ─ Se vos pudéssemos ver, como o veríamos?

─ De turbante e culote.

43. ─ Pois bem! Suponhamos que nos aparecêsseis de turbante e culote. Onde teríeis arranjado essas roupas, desde que deixastes as vossas no campo de batalha?

─ Ora, ora! Não sei como é isto, mas tenho um alfaiate que me as arranja.

44. ─ De que são feitos o turbante e o culote que usais? Não tendes ideia?

─ Não. Isto é lá com o trapeiro.

NOTA de A. K. : Esta questão da vestimenta dos Espíritos, como várias outras não menos interessantes, ligadas ao mesmo princípio, foram completamente elucidadas por novas observações feitas no seio da Sociedade. Daremos notícias disso no próximo número. Nosso bom zuavo não é suficientemente adiantado para resolver sozinho. Foi-nos preciso, para isso, o concurso de circunstâncias que se apresentaram fortuitamente e que nos puseram no caminho certo.

45. ─ Sabeis a razão pela qual nos vedes, ao passo que nós não vos podemos ver?

─ Acredito que vossos óculos estão muito fracos.

46. ─ Não seria por essa mesma razão que não vedes o general em seu uniforme?

─ Sim, mas ele não o veste todos os dias.

47. ─ Em que dias o veste?

─ Ora essa! Quando o chamam ao palácio.

48. ─ Por que estais aqui vestido de zuavo se não vos podemos ver?─ Simplesmente porque ainda sou zuavo, mesmo depois de cerca de oito anos, e porque entre os Espíritos conservamos essa forma durante muito tempo. Mas isso apenas entre nós. Compreendeis que quando vamos a um mundo muito diferente, como a Lua ou Júpiter, não nos damos ao trabalho de fazer essa toalete toda.

OBSERVAÇÂO: Isso aqui é muito interessante. O que eu entendo é que ele está se referindo ao fato de Espírito adotar uma forma perispiritual de acordo com o mundo onde vão e de acordo com a existência de uma personalidade nesse mundo, sem nem perceberem. Se tivesse vivido em um mundo distante como, por exemplo, um vendedor de animais, ao ser lá evocado, se apresentaria dessa forma.

49. ─ Falais da Lua e de Júpiter. Porventura já lá estivestes depois de morto?

─ Não. Não estais me entendendo. Depois da morte nos informamos de muitas coisas. Não nos explicaram uma porção de problemas da nossa Terra? Não conhecemos Deus e os outros seres muito melhor do que há quinze dias? Com a morte, o Espírito sofre uma metamorfose que não podeis compreender.

50. ─ Revistes o corpo deixado no campo de batalha?

─ Sim. Ele não está bonito.

51. ─ Que impressão vos deixou essa vista?

─ De tristeza.

52. ─ Tendes conhecimento de vossa existência anterior?

─ Sim, mas não é suficientemente gloriosa para que possa me pavonear.

53. ─ Dizei-nos apenas o gênero de vida que tínheis.

─ Simples mercador de peles de animais selvagens.

54. ─ Nós vos agradecemos a bondade de ter vindo pela segunda vez.

─ Até breve. Isto me diverte e me instrui. Já que sou bem tolerado aqui, voltarei de boa vontade.

OBSERVAÇÂO: A tolerância é uma das consequências da caridade. O zuavo se sentiu “acolhido” na comunicação.

A próxima publicação trará a evocação do oficial superior que estava na mesma batalha que este zuavo.




O que deve ser a História do Espiritismo

O século XIX foi o Século da Razão! Isso quer dizer que não havia brecha para misticismo muito menos para dogmas. O dogma só desaparece quando debruçamos sobre o estudo dedicado e contínuo. Este Artigo que trazemos aqui é da Revista Espírita, outubro de 1862, “O que deve ser a história do Espiritismo“.

“A propósito dessa história, sobre a qual dissemos algumas palavras, várias pessoas nos perguntam o que compreenderia ela, e com esse objetivo nos enviaram diversos relatos de manifestações. Aos que pensaram assim trazer uma pedra ao edifício, agradecemos a intenção, mas diremos que se trata de algo mais sério que um catálogo de fenômenos espíritas encontradiço em muitas obras. Tendo o Espiritismo que marcar presença nos fastos da Humanidade, será interessante para as gerações futuras saber por que meios ter-se-á ele estabelecido. Será, pois, a história das peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão oposto; de sua marcha progressiva no mundo inteiro.

O verdadeiro mérito é modesto e não busca impor-se. É preciso que a Humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros da obra, daqueles cuja abnegação e devotamento merecerão ser inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na vanguarda; dos que sofreram pela causa, a fim de que sejam abençoados; dos que fizeram sofrer, a fim de que orem por eles, para que sejam perdoados. Numa palavra, de seus amigos dedicados e de seus inimigos confessos ou ocultos.

É preciso que a intriga e a ambição não usurpem o lugar que lhes não pertence, nem um reconhecimento e uma honra que não lhes são devidos. Se há Judas, é preciso que eles sejam desmascarados.

Uma parte, que não será a menos interessante, será a das revelações que sucessivamente anunciaram todas as fases dessa era nova e os acontecimentos de toda ordem que as acompanharam.

Aos que acharem a tarefa presunçosa, diremos que não teremos outro mérito senão o de possuir, por nossa posição excepcional, documentos que não estão em poder de ninguém, e que estão ao abrigo de quaisquer eventualidades. Considerando-se que o Espiritismo está sendo chamado, incontestavelmente, a desempenhar um grande papel na História, é importante que esse papel não seja desnaturado, e que seja mostrada a história autêntica, em oposição às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderia fabricar.

Quando aparecerá ela? Não será tão cedo, e talvez não em nossa vida, pois não se destina a satisfazer à curiosidade do momento. Se dela falamos por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e seja anotada a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está em seu começo, e muitas outras coisas acontecerão até lá. Então, é preciso esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.” (grifos nossos)

Observação: É interessante notar como parece que Allan Kardec já sabia do que aconteceria no futuro. Tanta oposição nas historias apócrifas e tanto interesse pessoal fabricado nas costas do Espiritismo… Por garantia ele guardou documentos para essas eventualidades que volta e meia são publicados! Fiquemos atentos ao que mais interessa

Hoje percebemos que essa história ainda está em pleno desenvolvimento. Estamos ainda aprendendo a passos lentos os ensinamentos que os Espíritos trouxeram na época de Kardec. Que todos usemos da Vontade e da Imaginação para alcançar esse entendimento tão apoiado na Razão!




O homem é solidário do homem

Ao fazermos o estudo do livro O Céu e o Inferno (( https://mundomaior.com.br/produtos/ceu-inferno-allan-kardec-feal/#:~:text=O%20C%C3%A9u%20e%20o%20Inferno%20%C3%A9%20uma%20das%20cinco%20obras,a%20respeito%20de%20seu%20destino. )), nos chamou a atenção a Nota do Editor 149 ((

Com a teoria moral autônoma espírita, deixam de ter qualquer sentido os prejulgamentos, os privilégios, o orgulho, o egoísmo, o fanatismo, a incredulidade, próprios do mundo velho. A competição, que destaca os mais capazes, demonstra-se injusta, devendo ser substituída pela cooperação que integra solidariamente a todos. Os recursos da educação devem ser investidos mais amplamente entre as almas mais simples, para que participem ativamente da sociedade. Por esse caminho, a humanidade encontrará a felicidade: “O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento do seu ser, quer dizer, a felicidade em si mesmo ou naquilo que o cerca isoladamente: ele não pode encontrá-lo senão no HOMEM ou na Humanidade. Não fazeis, pois, nada para ser pessoalmente felizes, enquanto a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte de vós mesmos, possa vos afligir”

Allan Kardec. O Céu e o Inferno , NE 149 (p. 368). Edição do Kindle.)) .

Esta nota ele se refere a um artigo que está na Revista Espírita de março de 1867. Ele é uma das Dissertações Espiritas desta edição.

Ele é particularmente interessante por mostrar enfaticamente a importância da solidariedade na nossa humanidade. Além disso, há um boa reflexão quanto aos caminhos que levam a felicidade.

Compartilhamos integralmente com vocês:

A SOLIDARIEDADE

(Paris, 26 de novembro de 1866 – Médium: Sr. Sabb…)

Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade!
O estudo do Espiritismo não deve ser vão. Para certos
homens levianos, é uma diversão; para os homens sérios, deve ser
sério.

Antes de tudo refleti numa coisa. Não estais na Terra
para aí viver à maneira dos animais, para vegetar à maneira de
gramíneas ou de árvores. As gramíneas e árvores têm a vida
orgânica, mas não têm a vida inteligente, como os animais não têm
a vida moral. Tudo vive, tudo respira em a Natureza, mas só o
homem sente e se sente.

Como são lamentáveis e insensatos aqueles que se
desprezam a ponto de se compararem a um pé de erva ou a um
elefante! Não confundamos os gêneros nem as espécies. Não são
grandes filósofos e grandes naturalistas que, por exemplo, vêem no
Espiritismo uma nova edição da metempsicose e, sobretudo, de
uma metempsicose absurda. A metempsicose não é outra coisa

senão o sonho de um homem de imaginação. Um animal, um
vegetal produz o seu congênere, nada mais, nada menos. Que isto
seja dito para impedir velhas ideias falsas de serem novamente
acreditadas, à sombra do Espiritismo.

Homem, sede homem; sabei de onde vindes e para
onde ides. Sois o filho amado dAquele que tudo fez e vos deu um
fim, um destino que deveis realizar sem o conhecer absolutamente.
Éreis necessário aos seus desígnios, à sua glória, à sua própria
felicidade? Questões inúteis, porque insolúveis. Vós sois; sede
reconhecidos por isto; mas ser não é tudo; é preciso ser segundo as
leis do Criador, que são as vossas próprias leis. Lançado na
existência, sois ao mesmo tempo causa e efeito. Ao menos quanto
ao presente, não podeis determinar o vosso papel, nem como
causa, nem como efeito, mas podeis seguir as vossas leis. Ora, a
principal é esta: O homem não é um ser isolado, é um ser coletivo.
O homem é solidário do homem. É em vão que procura o
complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que
o cerca isoladamente; não pode encontrá-lo senão no homem ou na
Humanidade. Então nada fazeis para ser pessoalmente feliz, tanto
quanto a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte
de vós mesmo, poderá vos afligir.

Mas, direis, é a moral que ensinais. Ora, a moral é um
velho lugar-comum. Olhai em torno de vós: que há de mais
ordinário, de mais comum que a sucessão periódica do dia e da
noite, que a necessidade de vos alimentardes e de vos vestirdes? É
para isto que tendem todos os vossos cuidados, todos os vossos
esforços. E é necessário, pois assim o exige a parte material do
vosso ser. Mas a vossa natureza não é dupla, e não sois mais espírito
do que corpo? Como, pois, vos é mais difícil ouvir lembrar as leis
morais do que as leis físicas, que aplicais a todo instante? Se fôsseis
menos preocupados e menos distraídos essa repetição não seria tão
necessária.

Não nos afastemos de nosso assunto. Bem
compreendido, o Espiritismo é, para a vida da alma, o que o
trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com este
objetivo e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso
melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa
existência material, tereis feito a Humanidade dar um grande passo.

Um Espírito

adjomargonzalez – pixabay



Perturbação Imediata Após Morte

Todos nascemos! Todos vamos morrer!

Desta verdade da vida, vem a preocupação do momento da morte. São sempre assuntos recorrentes.

Neste artigo, não pretendemos encerrar o assunto, muito pelo contrário! Estamos somente trazendo uma parte bem pequena desse vasto assunto. Afinal, todos vamos experimentar este acontecimento.

Os Espíritos explicaram que, no momento da morte, nem todos os Espíritos passam pelos mesmo processo. Cada ser é uma consciência diferente da outra. Assim, O Livro dos Espíritos traz as seguintes conclusões em seu capítulo III – Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual:

163. Deixando o corpo, a alma tem imediata consciência de si mesma? – Consciência imediata não é o termo: ela fica perturbada por algum tempo.

164. Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo? – Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria.

Comentário: Aqui fica evidente que cada pessoa experimenta um tipo de percepção da morte, segundo aquilo que vivenciou na matéria.

Agora, nesta pergunta 165, Allan Kardec consegue aprofundar mais na natureza da perturbação, assim como descrever melhor o que os Espíritos ensinaram em suas comunicações. Notem que não há nada com um tempo determinado. Esta parte da resposta, no nosso entender, é a mais esclarecedora.

165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração maior
ou menor da perturbação? – Uma grande influência, pois o Espírito compreende antecipadamente a sua situação: mas a prática do bem e a pureza de consciência são o que exerce maior influência.

Kardec continua explicando, no mesmo item, como o Espirito experimenta esses primeiros momentos:

“No momento da morte, tudo, a princípio, é confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada, no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a situação. A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, à medida que se extingue a influência da matéria e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.

A duração da perturbação de após morte é muito variável: pode ser de algumas horas, como de muitos meses e mesmo de muitos anos. Aqueles em que é menos longa são os que se identificaram durante a vida com seu estado futuro, porque estão compreendem imediatamente a sua posição.

Comentário: Parece que ele dá uma espécie de conselho na parte em que destacamos do texto.

“Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo o caráter dos indivíduos e sobretudo de acordo com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. Não obstante, vê o seu corpo, sabe que é dele, mas não compreende que esteja separado. Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão se mantém até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece o seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.”

Comentário: Há vários relatos de Espíritos que comparecem em seu funeral, que não entendem o motivo de estarem deitados dentro do caixão. Ficam completamente perdidos!

“Esse fenômeno é facilmente explicável. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica aturdido com a brusca mudança que nele se opera. Para ele, a morte é ainda sinônimo de destruição, de aniquilamento; ora, como continua a pensar, como ainda vê e escuta, não se considera morto. E o que aumenta a sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao que deixou na Terra, cuja natureza etérea ainda não teve tempo de verificar. Ele o julga sólido e compacto como o primeiro, e quando se chama a sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo. Assemelha-se este fenômeno ao dos sonâmbulos inexperientes, que não creem estar dormindo. Para eles, o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como pensam livremente e podem ver, não acham que estejam dormindo. Alguns Espíritos apresentam esta particularidade, embora a morte não os tenha colhido inopinadamente; mas ela é sempre mais generalizada entre os que, apesar de doentes, não pensavam em morrer. Vê-se então o espetáculo singular de um Espírito que assiste os próprios funerais como os de um estranho, deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento de compreender a verdade.”

Comentário: O Espírito confunde seu envoltório espiritual( perispírito) com o seu corpo carnal, de modo que não percebe que não tem mais corpo carnal!

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem: é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para aquele cuja consciência não está pura é cheia de ansiedades e angústias.

Comentário: Mais uma vez, os esclarecimentos dos Espíritos nos dão as dicas de como tornar o momento da morte tão mais brando!

Surpreendentemente, no último parágrafo deste capítulo, Kardec diz de forma clara sobre os desencarnes coletivos ocorridos em acidentes ou catástrofes!

“Nos casos de morte coletiva observou-se que todos os que perecem ao mesmo tempo, nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte, cada um vai para o seu lado ou somente se preocupa com aqueles que lhe interessam.”

Kardec, O Livro dos Espíritos, item 165

Comentário: Se um ser humano morrer ao mesmo tempo no mesmo acidente não quer dizer muito no momento do desencarne! Cada Espírito persegue os seus interesses segundo sua evolução.

Não pretendemos encerrar o assunto! Afinal, pelo que você leu até aqui, nada é conclusivo, pois cada um tem suas particularidades! Ao longo da codificação de Kardec, há muitas descrições desse momento e mais explicações que os Espíritos trouxeram.

Mas de uma coisa nunca vamos escapar: do momento da morte!