Contradições dos Espíritos

Lê-se na Revista Espírita de novembro de 1860 (“Relações afetuosas dos Espíritos”):

“Se Georges tivesse sido um desses Espíritos vulgares ou sistemáticos, que externam suas próprias ideias sem se inquietarem com sua exatidão ou sua falsidade, não teríamos dado a menor importância. Em razão de sua sabedoria e de sua profundeza habituais, poder-se-ia supor houvesse algo de verdadeiro no fundo dessa teoria, mas que o pensamento não teria sido expresso completamente. Com efeito, é o que resulta das explicações que pedimos. Temos, pois, uma prova a mais de que nada se deve aceitar sem o haver submetido ao controle da razão; e aqui a razão e os fatos nos dizem que tal teoria não poderia ser absoluta.

[…]

O simples bom-senso nos diz, pois, que a situação de que se falou é relativa e não absoluta; que pode verificar-se para alguns em dadas circunstâncias, mas não poderia ser geral, porque, do contrário, seria o maior obstáculo ao progresso do Espírito e, por isto mesmo, não seria conforme à justiça de Deus, nem à sua bondade. Evidentemente, o Espírito de Georges só encarou uma fase da erraticidade, na qual, para melhor dizer, restringiu a acepção do termo errante a uma certa categoria de Espíritos, em vez de aplicá-la, como nós o fazemos, indistintamente, a todos os Espíritos não encarnados.”

Esta é mais uma lição para os nossos diálogos com os Espíritos. Os mesmos desafios que Kardec enfrentava, nós também os enfrentaremos. A questão é que, baseando-se no que Kardec já estudou, temos um princípio, um ponto de partida, e não ficamos perdidos, sem saber como reagir.

Mais uma vez, o bom senso de Kardec nos chama à razão sobre a necessidade de *NADA* aceitar cegamente, sempre considerando todas as dificuldades nas quais as comunicações espíritas estão envolvidas. Uma vez mais, o retorno ao bom senso kardeciano contrasta gritantemente com o que o Movimento Espírita atual faz e ensina.




O verdadeiro problema do Movimento Espírita

Voltemos ao Movimento Espírita na época de Kardec, conforme a “Estatística do Espiritismo” publicada na Revista Espírita de 1869:

“católicos romanos, livres-pensadores, não ligados ao dogma, 50%; ─ católicos gregos, 15%; ─ judeus, 10%; ─ protestantes liberais, 10%; ─ católicos ligados aos dogmas, 10%; ─ protestantes ortodoxos, 3%; ─ muçulmanos, 2%”.

Desde o princípio, o Movimento Espírita foi heterogêneo quanto à origem religiosa de seus participantes. Isso nunca foi um problema. Ninguém precisa renunciar à sua identidade religiosa para estudar uma ciência. O verdadeiro problema está na perda da unidade do conhecimento dessa ciência.

Com Kardec, o Espiritismo possuía uma definição clara, princípios bem delimitados e uma defesa vigorosa de seu método de observação, comparação e controle das manifestações inteligentes. Após sua morte, a ciência foi distorcida, o método abandonado, e os princípios traídos. No Brasil, particularmente, o nome Espiritismo foi sequestrado para designar uma religião sincrética, marcada por misticismo, fatalismo e idolatria mediúnica — cujo “Vaticano” atende pelo nome de Federação [Não] Espírita Brasileira.

É preciso parar de transferir a culpa. O problema do Movimento Espírita não é, em essência, o catolicismo ou o protestantismo. O desvio central é roustainguista. O dogmatismo religioso, sim, contaminou o Movimento, mas só porque encontrou nele terreno fértil: espíritas que, sem autonomia intelectual, sem estudo rigoroso, sem espírito crítico, deixaram-se levar por autoridades humanas e abandonaram o modelo científico proposto por Kardec.

No passado, isso até poderia ser escusável, já que a Revista Espírita só foi traduzida para o português na década de 1960. Também não havia, como hoje, facilidade de acesso ao conhecimento. Hoje — e já há algum tempo — isso não mais se sustenta. Não há desculpa plausível além da pura falta de vontade de estudar a Doutrina como ela realmente é, oara ficar perdendo tempo com a sistematização de ideias colhidas em ROMANCES (sic!).

Esse é o verdadeiro desvio. Não se trata de fatores externos, mas da covardia doutrinária dos que se dizem espíritas e não ousam estudar, evocar, analisar e confrontar os erros — como Kardec fazia, com coragem e método — como muitos outros também faziam, fossem livres-pensadores, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, etc.




A chave que falta para a ciência compreender vida e morte

A ciência avançou enormemente na descrição dos mecanismos que mantêm um organismo vivo e daqueles que entram em colapso quando ele morre. Entendemos com precisão como as células funcionam, como o DNA coordena a formação de tecidos, como as proteínas regulam os processos bioquímicos, e como a morte leva à degradação dessas estruturas. Mas permanece uma questão essencial que ainda escapa aos modelos puramente materiais:

Por que a matéria se organiza?

Não apenas como ela se organiza, mas por que ela assume uma configuração funcional, integrada, coesa, direcionada? A física e a química descrevem as interações entre moléculas, mas não explicam satisfatoriamente a presença de um princípio ordenador que mantenha essa organização ao longo da vida. Tampouco explicam o porquê dessa organização cessar de maneira tão coordenada com a morte.

Essa é a chave que falta: o princípio inteligente e organizador que atua sobre a matéria. E é precisamente aqui que o Espiritismo, fundado por Allan Kardec, oferece uma contribuição decisiva para o pensamento científico.

Segundo o Espiritismo, o organismo vivo é estruturado por uma tríade: o corpo, o perispírito e o espírito. O perispírito é um envoltório semimaterial que serve de ponte entre o espírito (princípio inteligente) e o corpo (estrutura material). É o perispírito que molda o corpo físico desde a concepção e que o sustenta durante toda a vida, mantendo a coesão funcional e a identidade orgânica.

Com a morte, o espírito se desliga do corpo, cessando essa ação coordenadora. A matéria, então, entra em colapso não por uma “falha” aleatória, mas porque lhe falta o elemento que lhe dava unidade. As reações químicas que antes eram reguladas por um princípio inteligente passam a seguir apenas as leis naturais da degradação.

Essa visão não é metafísica arbitrária. Kardec propôs o Espiritismo como ciência de observação, baseada em fatos, experimentação e raciocínio. A hipótese do perispírito como modelo organizador biológico não exclui as descobertas da biologia; ela as integra numa abordagem mais ampla e coerente.

Negar essa possibilidade não é ser científico, mas ideológico. O verdadeiro espírito científico não teme ampliar seus horizontes quando os dados da realidade assim o exigem. E os fatos, tanto fisiológicos quanto mediúnicos, apontam para algo que vai além da matéria: uma inteligência que atua sobre ela.

Por isso, dizemos com firmeza:

O Espiritismo oferece a chave que falta para completar a compreensão da vida e da morte. Não se opõe à ciência verdadeira; ao contrário, convida-a a evoluir para além do reducionismo materialista.

O corpo morre. Mas a consciência, e o princípio que sustentava a organização desse corpo, seguem vivos. Essa é a chave. Essa é a ciência espiritual inaugurada por Allan Kardec. E é esse o legado que nos cabe estudar, divulgar e honrar com seriedade, profundidade e razão.




A FEB e sua contínua tentativa de manipular o Movimento Espírita

A Federação Espírita Brasileira, roustainguista praticamente desde suas origens, sempre atuou de maneira deliberada para manipular o Movimento Espírita, afastando-o do verdadeiro Espiritismo codificado por Allan Kardec. Já tratei desse desvio institucional em artigo anterior.

Sabemos bem (e, se você não sabia, agora sabe) que a FEB foi tomada por seguidores do dogmático Jean-Baptiste Roustaing a partir de 1895, quando Bezerra de Menezes — também adepto das teses roustainguistas — assumiu sua presidência. A partir dessa apropriação doutrinária, surgiu uma das maiores aberrações já vistas no Movimento Espírita Brasileiro: o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Trata-se de uma obra claramente inspirada por um Espírito mistificador — provavelmente Ismael — que serviu de base para a formulação do “Pacto Áureo” e, posteriormente, para a criação do ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita), programa este totalmente permeado pelas distorções do roustainguismo.

Nas apostilas do ESDE, mais especificamente no capítulo 4, encontramos uma citação dessa obra (psicografada por Chico Xavier, sob suposta autoria espiritual de Humberto de Campos), que transcrevo abaixo com os devidos grifos:

[…] Foi assim que Allan Kardec, a 3 de outubro de 1804, via a luz da atmosfera terrestre, na cidade de Lião. Segundo os planos de trabalho do mundo invisível, o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de João-Batista Roustaing (Jean-Baptiste Roustaing), que organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica e de Camille Flammarion, que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na codificação kardequiana no Velho Mundo e dilatando-a com os necessários complementos.

Essa afirmação, em particular, é factualmente mentirosa. Roustaing não só não foi auxiliar de Kardec, como se colocava em nítida oposição ao Espiritismo genuíno, especialmente por sua recusa à metodologia científica que sustentava a obra kardequiana — ponto esse que representava verdadeiro calcanhar de aquiles de seus escritos místicos e doutrinariamente frágeis.

Recentemente, ao tentar mostrar essa distorção a um amigo, percebi que o tomo I do ESDE havia sido “revisado”, e a citação acima foi modificada: o nome de Roustaing foi simplesmente removido do trecho, como se nunca tivesse constado ali.

Uma tentativa sem-vergonha de apagar suas raízes roustainguistas sem, contudo, reconhecer publicamente o desvio doutrinário nem dar qualquer sinal de retorno ao caminho correto. Essa é a FEB: sempre operando nos bastidores, tentando controlar o Movimento Espírita e manter sua influência, exatamente como a Igreja Católica fez com o cristianismo ao longo dos séculos.

Não se enganem: a FEB continua roustainguista. Continua rejeitando a evocação e o exame racional das comunicações dos Espíritos — práticas essenciais à metodologia kardequiana. Continua tentando controlar a mediunidade conforme seus próprios dogmas, limitando-a aos moldes de seus centros (roustainguistas, embora se autodenominem “espíritas”). E continua silente quando deveria se levantar em defesa da verdadeira Doutrina Espírita.

A FEB, meus caros, só poderá ser considerada legítima quando, de forma pública e inequívoca, assumir seu desvio e reconhecer o erro histórico cometido. Não antes. Nunca antes disso.




Mediunidade: estudo e prática

Sob um título muito chamativo, temos mais uma série de apostilas da Federação Espírita Brasileira, dividida em dois volumes. Perguntamo-nos, sem conhecê-la: por que criar uma apostila se as obras de Kardec já são bastante claras e concisas por si mesmas?

Encontrando os PDFs dessas apostilas, a primeira coisa que me ocorreu foi pesquisar sobre “evocações”. Abri o PDF e pesquisei por “evoca” (para abordar “evocar”, “evocação”, “evocações”, “evocado”, etc). Afinal, uma apostila que vá tratar do tema da mediunidade, no contexto espírita, necessariamente precisa abordar a evocação, ferramenta indispensável ao processo mediúnico. “Surpresa”: nada! Nada, absolutamente nada sobre as evocações, no volume I, senão uma referência à questão de a prece ser uma evocação. Vamos, então, ao volume II. Quem sabe deixaram para tratar nesse, evitando antecipar um tema tão importante. Nova “surpresa”. Nesse volume, aparece sim, o seguinte:

Deve-se evitar evocações diretas dos Espíritos, optando-se pela sua manifestação espontânea: “Frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos […]”.45 Cabe à direção espiritual a seleção de desencarnados que deverão manifestar-se na reunião.

A nota de rodapé faz referência a O Livro dos Médiuns, mas o trecho foi inserido fora de contexto, para dar a falsa ideia da recomendação de não evocar diretamente os Espíritos. Na verdade, o trecho inserido está sendo mencionado, por Kardec, no sentido de denotar que as evocações oferecem mais dificuldades do que as comunicações espontâneas, já que, nas últimas, o Espírito escolhe livremente o médium mais apto à sua comunicação, coisa que se torna mais difícil no caso das evocações:

Porque, como já dissemos, as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresenta. Convém, por isso, que os médiuns não se entreguem a evocações para perguntas detalhadas sem estarem seguros do desenvolvimento de suas faculdades e da natureza dos Espíritos que os assistem, pois com os que são mal assistidos as evocações não podem ter nenhum caráter de autenticidade.

Allan Kardec — O Livro dos Médiuns

Contudo, Kardec demonstra que as evocações são preferíveis às comunicações mediúnicas, recomendando que se ocupem das últimas apenas os grupos que tiverem certeza de controlar os Espíritos:

“[…] não chamar nenhum em particular é abrir a porta a todos os que querem entrar”.

“As comunicações espontâneas não têm nenhum inconveniente quando controlamos os Espíritos e temos a certeza de não deixar que os maus venham a dominar”

Allan Kardec — O Livro dos Médiuns

Mais à frente, outra ocorrência do termo:

Os médiuns ostensivos devem, ainda, ser orientados a:

[…]

  • Ter consciência da impropriedade de evocar determinada entidade, parente ou amigo, no curso das reuniões, conscientes de que, no momento certo, eles se manifestarão, com o apoio dos orientadores espirituais.

Onde inserem novamente uma referência descontextualizada de Kardec:

O desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder conversar com os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderar a sua impaciência, porque a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades materiais que a tornam impossível ao principiante.

Allan Kardec — O Livro dos Médiuns

Notem que Kardec diz: ao principiante. Isso não é destacado e, no texto, acaba passando como uma orientação geral aos médiuns, acrescida à afirmação anterior — “Ter consciência da impropriedade de evocar determinada entidade, parente ou amigo, no curso das reuniões, conscientes de que, no momento certo, eles se manifestarão, com o apoio dos orientadores espirituais”, que é completamente falsa, já que a evocação era ferramenta utilizada por Kardec e incontáveis outros, necessária para o necessário diálogo e questionamento dos Espíritos. Além disso, não há, no restante da apostila, nenhuma menção à maneira correta de fazer as evocações e sua utilidade, coisa que, logicamente, é tratada por Kardec em O Livro dos Médiuns e em outras obras.

Na verdade, tudo isso não me espanta. Sendo a Federação Espírita Brasileira uma instituição roustainguista, tendo atuado para paulatinamente desviar o Movimento Espírita, decerto não lhe seria interessante colocar em foco justamente a ferramenta que, quando retomada, provocará sua desgraça, posto que dará a oportunidade do questionamento aos Espíritos, seguindo os passos de Kardec, dos diversos absurdos proferidos e impressos, sem nenhum cuidado, pela FEB, durante mais de um século.

Assim como o ESDE – Ensino Sistematizado da Doutrina Espírita – está repleto de absurdos e desvios, cultuando o apreço a Brasil, Coração do Mundo, obra de um Espírito mistificador, essas apostilas também cumprem, sim, o seu propósito: o de continuar o desvio.

Volto a repetir: Espiritismo se estuda nas obras originais, não adulteradas, de Kardec (clique para baixar). Corram, corram da FEB!




Uma pedra sobre o negacionismo ao redor das adulterações das obras de Allan Kardec

Prezado leitor, seremos breves sobre o assunto, colocando uma pedra sobre o negacionismo ao redor das adulterações das obras de Allan Kardec. A bibliografia utilizada consta ao final. O texto será apresentado em tópicos sucintos, para facilitar a leitura.

Antes de começar, saiba que você pode obter as obras originais de Kardec, já liberadas em PDF pela editora FEAL, clicando aqui.

1. A figura de Roustaing

Por volta da década de 1860, emerge a figura de Jean-Baptiste Roustaing, influente e rico advogado francês, buscando se projetar no meio espírita. Esse senhor passa a receber psicografias, por meio de apenas uma médium, de um ou mais Espíritos que se diziam os próprios evangelistas, reproduzindo dogmas absurdos, dentre os quais ((ROUSTAING, Os Quatro Evangelhos, volumes I a IV, FEB)):

  • o dogma da queda pelo pecado, afirmando que o indivíduo só precisa encarnar depois que comete um erro;
  • o dogma do corpo fluídico de Jesus, afirmando que ele nunca esteve encarnado entre nós, sendo apenas uma materialização;
  • o dogma da retrogradação da alma (“involução”), ao afirmar que o Espírito que erra muito encarna como uma lesma (“criptógamo carnudo”).

2. Roustaing odiava a ciência espírita

Roustaing e seus seguidores passaram a odiar a ciência espírita e o método de Kardec, pois esse método era o seu calcanhar-de-aquiles, facilmente colocando abaixo sua teoria. Esse ódio transparece na publicação, em 1882, do panfleto Les quatre évangiles de J. B. Roustaing- réponse à ses critiques et à ses adversaires, édité par les élèves de J. B. Roustaing (Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing — resposta a seus críticos e a seus adversários, editado pelos discípulos de J. B. Roustaing), um panfleto escrito dezesseis anos antes por Roustaing.

As intenções de Roustaing são confirmadas pelos Espíritos, quando Kardec, em 16 de setembro de 1862, questiona a respeito desse senhor, que desejava que Kardec fosse até sua casa, ao invés de visitar os espíritas operários:

Não, em geral, ele passa por um entusiasta, exaltado, querendo se impor.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Nem Céu, Nem Inferno: as leis da alma segundo o Espiritismo. Editora FEAL, 2020.

3. A nova edição de O Céu e o Inferno

Logo após a morte de Kardec, surge uma nova edição de O Céu e o Inferno, contendo, dentre tantas alterações terríveis:

  • A remoção do prefácio da obra, onde Kardec expõe justamente o método científico necessário para a Doutrina Espírita;
  • A alteração completa do capítulo VIII, tornando-se VII, com a criação do subtítulo “Código Penal da Vida Futura”, um título absurdo, nele inserindo o item 10, onde se diz que todas as vicissitudes que aqui sofremos seriam resultados de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, nesta ou em outras vidas. O efeito dessa ideia é, por força de lógica, admitir que todas as dificuldades que passamos seriam fruto de imperfeições adquiridas, como espécie de castigo, levando à ideia de que só encarnariam aqui Espíritos imperfeitos, necessitando de correção — o mesmo dogma de Roustaing, extenuadamente combatido por Kardec e pelos Espíritos.
  • A perda da correspondência entre os 25 itens do capítulo VIII com o restante do livro.

4. A nova edição de A Gênese

Em 1872, surge a nova edição de A Gênese, onde constam adulterações muito importantes:

Removido o item 2 do capítulo IV, onde Kardec fala justamente sobre os princípios de fé cega e obediência passiva: “A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame”.

  • Sobre a desaparição do corpo de Jesus, foi removido o item 67, em que Kardec trata da questão do desaparecimento do corpo de Jesus, afirmando que a questão ainda não havia sido completamente solucionada pela ciência espírita: “Ora, até o presente, nenhuma das [opiniões pessoais] que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle”. Lembre-se: Roustaing admitia o dogma de que Jesus estava entre nós apenas em materialização do corpo fluídico, e odiava o método do duplo controle ((“Esse duplo controle é basilar e obrigatório para a aceitação de qualquer novo conceito fundamental da doutrina espírita por Kardec. Enquanto isso não tenha ocorrido, será considerada simples opinião, quer tenha vindo de um homem, quer de um Espírito” — FIGUEIREDO, 2021)).
  • No capítulo XVIII, item 20, foi removido todo o trecho em que Kardec diz: “Longe de substituir um exclusivismo por outro, o Espiritismo se apresenta como campeão absoluto da liberdade de consciência”.
  • No item 24 do mesmo capítulo, foi removido todo o item 24, em que Kardec faz grave observação acerca dos inimigos do progresso moral (grifos nossos):

Dizer que a humanidade está madura para a regeneração não significa que todos os indivíduos estejam no mesmo degrau, mas muitos têm, por intuição, o germe das ideias novas que as circunstâncias farão desabrochar. Então, eles se mostrarão mais avançados do que se possa supor e seguirão com empenho a iniciativa da maioria.

Há, entretanto, os que são essencialmente refratários a essas ideias, mesmo entre os mais inteligentes, e que certamente não as aceitarão, pelo menos nesta existência; em alguns casos, de boa-fé, por convicção; outros por interesse. São aqueles cujos interesses materiais estão ligados à atual conjuntura e que não estão adiantados o suficiente para deles abrir mão, pois o bem geral importa menos que seu bem pessoal — ficam apreensivos ao menor movimento reformador. A verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade para certas pessoas está inteiramente naquilo que não lhes causa nenhum transtorno. Todas as ideias progressivas são, de seu ponto de vista, ideias subversivas, e por isso dedicam a elas um ódio implacável e lhe fazem uma guerra obstinada. São inteligentes o suficiente para ver no Espiritismo um auxiliar das ideias progressistas e dos elementos da transformação que temem e, por não se sentirem à sua altura, eles se esforçam por destruí-lo. Caso o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Nós já o dissemos em outro lugar: “Quanto mais uma ideia é grandiosa, mais encontra adversários, e pode-se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais seja objeto”.

5. Adulteração publicada em Obras Póstumas

Na publicação de Obras Póstumas, por Pierre Gaetan Leymarrie, o autor insere uma psicografia adulterada, na qual Kardec está solicitando conselhos sobre a nova edição de A Gênese, que ele estava, sim, elaborando:

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrinatudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa psicografia clicando aqui.

Leymarie, buscando reforçar a ideia de que a quinta edição de A Gênese (já colocada sob questionamento desde aquela época) teria sido produzida pelas mãos de Kardec, utiliza apenas o trecho final desse diálogo, descartando o início dele e inserindo um trecho que não existia, no começo:

22 de fevereiro de 1868.
(Comunicação particular — Médium: Sr. D…)
A gênese

Em seguida a uma comunicação em que o Dr. Demeure me deu conselhos muito sábios sobre modificações a serem feitas no livro A gênese, para a sua reimpressão, da qual ele me concitava a cuidar sem demora, eu lhe disse:

— A venda, até aqui tão rápida, sem dúvida esfriará; foi um efeito do primeiro momento. Creio bem que a quarta e a quinta edições custarão mais a esgotar-se. Todavia, como é preciso certo tempo para a revisão e a reimpressão, cumpre que eu não esteja desprevenido. Poderias dizer-me de quanto tempo, mais ou menos, disponho para tratar disso?

Resposta — É um trabalho sério essa revisão e eu te aconselho que não tardes muito a começá-lo. Será melhor que o tenhas pronto antecipadamente, do que ficarem à tua espera. Contudo, não te apresses demais. Sem embargo da aparente contradição das minhas palavras, tu de certo me compreendes. Põe-te desde já a trabalhar, porém, não lhe consagres excessivo tempo. Faze-o com o devido vagar; as ideias se te apresentarão mais claras e o teu corpo lucrará, fatigando-se menos.

Deves, entretanto, contar com um esgotamento rápido dos volumes. Quando nós te dizíamos que esse livro seria um grande êxito entre os que tens tido, referíamo-nos simultaneamente a êxito filosófico e material. Como vês, eram justas as nossas previsões. Importa estejas pronto para qualquer momento; as coisas se passarão com maior rapidez do que supões.

6. O fato jurídico insuperável

São fatos jurídicos incontestes as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal — assim afirmam ao menos quatro operadores jurídicos especializados: Simoni PrivatoJúlio NogueiraLucas Sampaio e Marcelo Henrique. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra. Infelizmente, leigos em matéria de direito autoral têm encontrado ressonância em alguns indivíduos e, também, na Federação Espírita Brasileira, trabalhando por manter uma tese negacionista e contrariando a lei.

7. Late como cão, abana o rabo como cão, tem forma de cão, mas é um pássaro?

Tendo chegado aqui, tendo dado a devida atenção aos fatos, verificáveis na bibliografia indicada, o prezado leitor, além de tudo agindo de maneira racional e lógica (e respeitando a lei) não poderá ter nenhuma dúvida sobre os fatos das adulterações. Dizer em contrário seria contraria a lei e renegar aquilo que é transparente. Afinal, se late como cão, abana o rabo como cão, tem forma de cão, definitivamente é um cão, e não um pássaro — mas “alguns” querem que seja.

Ora, prezado leitor, para dar azo à tese negacionista desses senhores, tentando sustentar que não foram adulterações, mas sim modificações feitas pelas mãos de Kardec:

  • seria, em primeiro lugar, necessário contrariar a lei;
  • seria necessário ignorar, voluntariamente, que Roustaing odiava a ciência espírita e que queria tomar o lugar de Kardec;
  • seria necessário ignorar, voluntariamente, que Guerin, influente e rico seguidor de Roustaing, ofereceu sua influência ao redor dos novos presidentes da Sociedade Anônima;
  • seria necessário admitir que Kardec, sem nenhuma explicação possível, removeu trechos tão importantes justamente nos pontos de maior choque com as teses roustainguistas ou seu modus operandi;
  • seria necessário admitir que Kardec contrariou a ciência espírita, para dizer, na adulteração de O Céu e o Inferno, que todas as vicissitudes que aqui sofremos seriam resultados de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, nesta ou em outras vidas. O efeito dessa ideia é, por força de lógica, admitir que todas as dificuldades que passamos seriam fruto de imperfeições adquiridas, como espécie de castigo, levando à ideia de que só encarnariam aqui Espíritos imperfeitos, necessitando de correção — exatamente a tese roustainguista, “por acaso”. Isso é falso e, aliás, é desmentido inclusive na Gênese adulterada, na análise da passagem do Cego de Nascença: “Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso”.
  • seria, necessário ignorar voluntariamente que Leymarie, para dar suporte à tese de que a 5⁠ª edição de A Gênese teria sido produzida por Kardec, publicou uma psicografia adulterada, cortando a parte que toca na importância de NÃO REMOVER NENHUMA IDEIA DOUTRINÁRIA, coisa feita na adulteração.
  • seria necessário aposentar a racionalidade frente a coisas tão óbvias, deixando de lado a orientação tão importante de Erasto: “Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa” (item 230 de O Livro dos Médiuns).

8. Conclusão

Não estamos aqui para tentar forçar o entendimento de quem não quer entender e, por desejar admitir sofismas, dá azo à fascinação — como Roustaing fez, frente a ideias tão absurdas como aquelas. Para quem quer entender, está claro como água. Que cada um cuide de investigar melhor para chegar às suas próprias conclusões — após ter investigado tudo, e não antes.

9. Bibliografia




Projeto Semear — Formação de Grupos de Estudos

Boas-vindas

Bem-vindos a esta jornada, amigos de Kardec! Que satisfação vê-los aqui, almas queridas, buscando o aprendizado tão importante e do qual os espíritas se desviaram, há muito….

Atentem para a formação deste grupo ou dos demais. A iniciativa é seria e o assunto é grave. Os inimigos da doutrina novamente se agitam, pois que ela volta, agora, com toda a força, para cumprir aquilo que se propôs, há mais de um século. A humanidade grita: meu Deus, onde as respostas? Não encontrando a felicidade almejada, dia após dia, sem conseguir respostas satisfatórias, lançam-se às penúrias do materialismo desenfreado, do sensualismo, dos vícios e, muitos, não suportando ou não tendo maiores perspectivas, terminam por tirar a própria vida, para descobrir, afinal, que de nada isso adiantou.

O assunto, veem, é grave, e grave é a responsabilidade de todos os que se retiram do estudo, por orgulho e vaidade, para dar aos outros o lúgubre aspecto das opiniões construídas sobre distorções e adulterações.

É chegada a hora, meus amigos, de restabelecer aquilo que ficou para trás. É chegada a hora de multiplicar esforços e de semear, por toda a parte. Mas, atenção, pois os inimigos do bem, tristes indivíduos que ainda não conseguiram perceber o buraco que cavam para eles mesmos caírem, tentarão se estabelecer entre vocês. Mantenham-se em guarda, portanto, e não se esquivem da responsabilidade de manter a harmonia no grupo, abordando cada um que traga desarmonia ou desordem.

Confiem neste grupo, O Legado de Allan Kardec, que tem a particularidade de ser um raro grupo, neste planeta, formado com tanta identidade, tanta harmonia, tantos propósitos sérios, estabelecidos no passado, de trabalhar pela recuperação dessa Doutrina esquecida.

Sejam preces ambulantes, por suas disposições internas e pela aplicação dos princípios aprendidos às suas próprias vidas, e manterão, junto a vocês, a companhia de bons Espíritos, encarnados ou desencarnados. Não esqueçam: os bons Espíritos, seus anjos guardiões ou Espíritos protetores, abençoam esta empreitada e estarão junto a cada um de vocês, inspirando-os e intuindo-os.

União, fé, amor e caridade: este, o lema que cada indivíduo deve carregar no peito, aplicado em todo o seu entendimento e em toda a sua extensão, a si e no contato com os demais.

União: a unidade garantida pelos propósitos legítimos e pelo entendimento adequado do Espiritismo

Fé: a fé raciocinada, tão esquecida pelo Movimento Espírita, construída do entendimento racional, sem dúvidas possíveis, dos princípios da Doutrina Espírita.

Amor: o amor ao próximo, como a si mesmo. É necessário paciência e perseverança consigo mesmo, além de reconhecimento dos passos já dados, do caminho já percorrido. O mesmo deve ser aplicado aos demais.

Caridade: a caridade verdadeira é o dever moral, cumprido sem esperança de premiação ou reconhecimento. É o compartilhar, o aprender e o ensinar. Esse é o bem, a felicidade, e é por retirar-se desse papel que o indivíduo se lança nos despenhadeiros do personalismo, do egoísmo, do orgulho.

A partir de agora, esqueça os romances, esqueça o que aprendeu no Movimento Espírita ou no Centro Espírita. A partir de agora você está começando do zero e vai aprender o Espiritismo da maneira certa!

Orientações gerais

  1. A ideia é auxiliar na formação de um novo grupo ou mais, onde os participantes cuidarão de se organizarem a esse respeito. Nós daremos toda a orientação e o suporte necessários. Precisamos que uma ou mais pessoas se apresentem como iniciadores do núcleo central do grupo, de maneira pró-ativa.
  2. A proposta é que vocês criem um ou mais grupos, organizando-se entre vocês. Estaremos, junto ao meu grupo, no papel de apoiadores e orientadores.
  3. Pontualmente, poderemos elaborar estudos especiais, com a participação do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec, ou de vocês conosco.
  4. Comecem estudando “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo” e “Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal”, de Paulo Henrique de Figueiredo. Alternativamente, assistam aos vídeos destacados no tópico Materiais para estudos.
  5. Estimulamos que vocês comecem necessariamente pelo estudo da Revista Espírita. Após o estudo dos dois primeiros anos, enquanto continuam esse estudo, poderão ver a necessidade de criar um novo horário para estudar O Livro dos Médiuns. Nesse ponto, vocês estarão muito mais maduros para esse estudo.
  6. O estudo deve ser ao-vivo, por vídeo ou pessoalmente. WhatsApp é ferramenta de apoio.
  7. Não devem existir professores. Todos devem se colocar na condição de estudante que não conhece nada do Espiritismo. Foi assim que começamos.
  8. Sugestão:

    • Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo.
    • Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo.
    • No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim o grupo sai da leitura maçante.
    • Quem não fizer o estudo antes acabará tendo a possibilidade de não entender adequadamente o conteúdo. Isso é um estímulo ao estudo.
    • Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos.
    • As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, poderão ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições;

  9. Criem regras. Vejam as nossas sugestões no tópico seguinte, Sugestão de regras.
  10. Aprendam a não sistematizar conclusões sobre os artigos da Revista Espírita. Kardec deixa bem claro quando um estudo qualquer está devidamente concluído, ao menos de momento. Muitos artigos são apresentados como hipóteses, apenas.
  11. Criem documentos no Google Drive com o conteúdo de cada estudo, e façam um estudo prévio, fazendo anotações e comentários nesse documento. Isso ajuda a enriquecer o aprendizado.
  12. Não visem números. Prefiram qualidade. Estudem em pequenos grupos, coesos, harmoniosos, e não tenham medo de chamar a atenção, com firmeza e caridade, daqueles que eventualmente destoem das regras e da harmonia do grupo.
  13. Deixem os romances mediúnicos e demais obras de lado. O estudo das obras de contextualização e das obras de Kardec já lhes tomará bons anos.
  14. Não busquem Espiritismo prático (reuniões mediúnicas), de início. Se houverem médiuns entre vocês, sobretudo com a mediunidade muito aflorada, é importante formar um grupo à parte, ainda mais coeso e harmonioso. Muitos cuidados serão necessários. Nesse caso, não deixem de buscar apoio em nós.
  15. Sobretudo, não se esqueçam de manter contato conosco. Cuidaremos de registrar sua(s) iniciativa(s) em nosso site e ficaremos muito felizes de podermos trocar experiências e aprendizados com vocês.
  16. Evitem apenas produzir longos vídeos para o Youtube. Foquem, principalmente, conforme o aprendizado for se estabelecendo, em produzir vídeos curtos e, principalmente, textos em blogs, de maneira colaborativa (textos em blogs são facilmente encontrados em pesquisas do Google).
  17. À medida do possível, envolvam também os jovens nesse trabalho de aprendizado, seja nos seus próprios grupos, seja incentivando-os a formarem novos grupos. Espalhem esse propósito.

Sugestão de regras

Estudos da Revista Espírita, em grupo

OBJETIVO DO GRUPO

  • O nosso principal objetivo é conhecer o Espiritismo em sua essência e aplicar esse conhecimento em nossas próprias vidas. Ao mesmo tempo, porém, desejamos fazer isso de uma forma simples, clara e amistosa, de modo que nossos estudos sejam facilmente entendidos pelo público, razão pela qual realizamos um estudo prévio e a elaboração de um conteúdo, de forma que possamos extrair o melhor de cada assunto.
  • Após cada estudo, visamos produzir artigos, neste site, que complementem e formalizem o estudo, mas que também permitam a inclusão de deficientes auditivos. É por isso, principalmente, que os estudos precisam ser simples e, em simultâneo, profundos como possível.
  • Diferentemente de outros estudos do Espiritismo, que partem de obras conclusivas, nós estamos partindo de um periódico que demonstra o método de exploração, de raciocínio e de dedução de Allan Kardec, na construção do Espiritismo (aqui entendido na parte humana dessa ciência). Existe um enorme ganho em fazer assim, mas não estamos desatentos aos assuntos que precisam ser complementados com conclusões posteriores, de modo a não ficarem “capengas”, como é o caso da teoria dos fluidos, abandonada por Kardec em sua obra final, A Gênese.
  • A Revista Espírita, diferentemente de outras obras, é um periódico que combina:

    • assuntos e “causos” da época — que, longe de serem desinteressantes, serviam para dar suporte à Doutrina, baseado no cotidiano dos fatos espíritas vivenciados dentre a população mundial, mas que, do ponto de vista atual, muitas vezes não tem muita relevância para o nosso estudo
    • escritos muito mais densos e bem elaborados por Kardec, com extrema perspicácia, que pouco a pouco, e de forma muito organizada, vão construindo toda essa ciência que é o Espiritismo — ciência desconhecida e esquecida atualmente.

  • A importância da Revista Espírita não é apenas moral, mas também prática. Ao estudá-la, vemos uma constante construção de conhecimentos, ao mesmo tempo em que constantemente vemos uma desconstrução de falsos conceitos atuais, como você precisa entender no artigo “O que é a Revista Espírita e como estudá-la?. Eis mais um motivo para o formato do nosso estudo, pois os falsos conceitos não se quebram aos golpes.
  • O Espiritismo precisa ser resgatado e conhecido em sua essência, tanto moral como prática, de modo que possamos retomar os estudos dessa Doutrina, junto aos Espíritos. Esse estudo tem um importantíssimo papel nesse sentido.
  • Hoje sabemos, afinal, que essa ciência não andava sozinha: muito longe disso, ela era um desenvolvimento do Espiritualismo Racional e uma “irmã gêmea”, como disse Kardec, do Magnetismo. É por isso que, oportunamente, abordamos esses conhecimentos, de forma simples, prática e pontual, já que, para se aprofundar sobre esses dois temas, recomendamos sempre a leitura das obras Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo e Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal, ambas de Paulo Henrique de Figueiredo, dentre outras (veja nossa lista de obras recomendadas).

Premissas

  • Neste grupo, partimos da conclusão que as duas últimas obras de Kardec, O Céu e o Inferno e A Gênese, foram adulteradas. Podemos indicar o porque de termos chegado a essa conclusão, mas não discutiremos sobre isso, posto que os fatos estão aí para cada um verificar.
  • Neste grupo, estuda-se o Espiritismo com base nas obras de Kardec, necessariamente. Isso não quer dizer que outras obras e outros autores não possam ser tratados, mas isso se fará desde que o que se busque seja a busca pela compreensão e pela aproximação, baseando-se no Espiritismo, e não para mero confronto.
  • A premissa mais básica de todas é o estudo. Ter lido aleatoriamente O Livro dos Espíritos ou O Evangelho Segundo o Espiritismo não é estudo. Estamos longe de ter abarcado o entendimento da doutrina por completo, mas existem pontos fundamentais que carecem de dedicação para serem compreendidos. Conte com o grupo para indicar e sugerir caminhos e conteúdos de importância.

REGRAS TÉCNICAS

  1. Entre nos nossos grupos do WhatsApp e do Telegram. É por eles que manteremos a comunicação direta com os demais integrantes. Se tiver os dois, entre nos dois.
  2. Não será dado a ninguém o direito de dar palavras finais sobre aquilo que não está devidamente estabelecido na Doutrina. Será, contudo, tomado o cuidado de, para cumprir essa regra, não recair em falta às regras n. 4, 5 e 6.
  3. Assim como Kardec tratava as opiniões de Espíritos desencarnados, tratamos as opiniões das almas encarnadas, isto é, aquilo que é apenas uma opinião, será tratado apenas como uma simples opinião e dela não faremos sistemas.
  4. Devemos evitar que qualquer tema que fuja daquele principal ou qualquer ponto de discórdia seja extenuadamente abordado durante o estudo, para não haver desvios e monopólio de palavras ou opiniões. O que fazer, nesses casos: buscar estudar, em Kardec, o assunto em questão e apresentar, em nova oportunidade, os resultados encontrados. O desrespeito a essa regra de bom-tom será prontamente interrompido por intercessão dos administradores.
  5. Todos têm a liberdade de chegar às suas próprias conclusões, levados pela própria razão, resguardados os objetivos do estudo e a base doutrinária. Por exemplo, o tema sobre a existência de colônias espirituais não está devidamente consolidado, mas a questão da reencarnação está. Se aquilo que está consolidado, na Doutrina, não foi aceito pela razão de determinada pessoa, ela com certeza se sentirá inclinada a deixar os estudos, já que não lhe falam à razão. O que não será aceito será a sistematização de opiniões pessoais no Grupo, conforme exposto acima.
  6. Não serão abordados temas políticos e religiosos (este, no sentido em que possa trazer qualquer inquietação ou humilhação. Lembramos que o Espiritismo está aberto a pessoas de todas as crenças). Aqui, parafraseamos Kardec, em Viagem Espírita em 1862:

[…] deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, certamente, melindraria certas consciências, ao passo que as questões de moral são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro, sobre o qual todas as opiniões religiosas podem encontrar-se e se dar as mãos. Ora, a desunião poderia nascer da controvérsia. Não vos esqueçais de que a desunião é um dos meios pelos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo; é com esse objetivo que muitas vezes eles induzem certos grupos a se ocuparem de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto especioso de que não se deve colocar a luz sob o alqueire. Não vos deixeis prender nessa armadilha, e que os dirigentes de grupos sejam firmes para repelirem todas as sugestões deste gênero, se não quiserem passar por cúmplices dessas maquinações”.

  1. O grupo não visa, atualmente, realizar qualquer tipo de “trabalho mediúnico”, o que, se um dia acontecer, demandará a criação de reuniões particulares e com os devidos cuidados para tanto.
  2. Pelo mesmo motivo acima, não vemos necessidade de sermos tão restritivos quanto às novas adesões, isto é, os novos aderentes não carecem de serem versados em Espiritismo, mas devem, de sua própria parte, fazerem estudos basilares necessários, quando não conhecerem a essência da Doutrina Espírita (que não é aquela adquirida pela leitura de romances). Recomendamos, para esse fim, ao menos a leitura das brochuras O que é o Espiritismo e Espiritismo em sua expressão mais simples.
  3. Nossas reuniões de estudo são transmitidas ao vivo no Youtube, ou são gravadas para posterior publicação nessa plataforma e em outras. Todo aquele que participar dos estudos deve estar ciente e de acordo com esse ponto fundamental.
  4. O Grupo faz uso do site https://www.geolegadodeallankardec.com.br e das plataformas virtuais diversas para divulgar o Espiritismo. Quem se sentir interessado em fazer parte disso, criando textos que possam auxiliar, devem contatar os administradores do Grupo.
  5. Todas as mídias digitais contam com outros colaboradores, igualmente colocados em função de administração, que possam cuidar do prosseguimento na eventual ausência, por tempo limitado ou indefinida, de minha parte.
  6. Tomaremos a liberdade de interromper qualquer áudio ou câmera que esteja atrapalhando a reunião.
  7. Ao participar da sala de reunião do Zoom, você está ciente que terá seu áudio e/ou vídeo compartilhados publicamente através da Internet (mais informações no formulário de inscrição, abaixo).
  8. O horário oficial de início dos estudos, com a transmissão via YouTube, é as 19:25.
  9. O período permitido para a entrada de participantes, na sala de espera (onde aprovaremos ou não sua entrada, segundo o preenchimento ou não do formulário abaixo) vai das 19:10 às 19:25. Depois disso, a permissão de entrada ficará exclusivamente sob critério dos anfitriões do grupo.
  10. A previsão de término da reunião é por volta de 20:40, às vezes se estendendo um pouquinho a mais.
  11. Antes de entrar, certifique-se de estar em ambiente favorável à participação, tanto visualmente quanto sonoramente, além de estar vestido adequadamente.
  12. De preferência, use um computador para a participação, onde será mais fácil interagir pelo chat do grupo.
  13. Por questões de organização, a reunião no Zoom e seus conteúdos didáticos são conduzidos por um integrante, que coordenará as participações de um e outro que desejem se expressar.
  14. Ao tomar a palavra, cuide para não estender demais o assunto para áreas que fujam do tema principal. Lembre-se: são 11 anos de Revista a abordar, dentre artigos acessórios e artigos fundamentais, muitas vezes com conteúdos intrinsecamente ligados entre edições diferentes, e, ainda por cima, junto aos conteúdos doutrinários complementares, tanto de Kardec, como de outros autores. Não queremos correr, mas não podemos perder tempo.
  15. Todos aqueles que desejem participar ativamente, questionando ou opinando sobre os artigos em pauta, devem observar a seguinte organização:

Fazer a leitura dos artigos relacionados ao tema ANTES da reunião de estudos. Isso permitirá que você sempre esteja a par dos assuntos, à medida que puderem ser abordados conforme o tempo disponível e a extensão de cada assunto. Reiteramos: a Revista Espírita, para estudos em grupo, não é algo que possa ser lido linha-a-linha, sem uma leitura prévia, já que muitos assuntos apresentam uma extensão formidável.

Sugestão:

  1. Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo. 
  2. Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo. 
  3. No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim a gente sai da leitura maçante
  4. Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos, como foi o caso do remorso e como poderá ser o caso, talvez, da frenologia (RE60/jun)
  5. As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, cremos que devem ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições.

22. Não se desmotive caso precise se afastar por algum tempo ou caso não possa estar sempre presente. Isso acontece com todos. Continue os estudos de sua parte e volte assim que possível.

23. Reitero, por fim, o nosso objetivo de construção sobre o diálogo. Assim, nos ajude a estabelecer esse diálogo, utilizando as redes sociais para isso também.

Preencha o formulário seguinte com os dados necessários para sua admissão na reunião. Não aceitaremos entradas de pessoas não registradas.

Materiais para estudos

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Dezembro > Organização do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Dezembro > Constituição transitória do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Plano de campanha – Era nova – Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Os Espiões

O que é a Revista Espírita e como estudá-la? – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Obras Recomendadas – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

Andragogia

AUTONOMIA – A HISTÓRIA JAMAIS CONTADA DO ESPIRITISMO – Paulo Henrique de Figueiredo

Seminário: “Magnetismo” com Paulo Henrique Figueiredo

O Bem e o Mal, Castigos e Recompensas, Sombra e Luz – Paulo Henrique de Figueiredo – 1a Parte

Link para download de todos os PDFs das obras de Kardec:

Allan Kardec Brasil

Como pesquisar nos PDFs: https://www.youtube.com/watch?v=kgjdgIiHLJk

Contato (Paulo): Clique aqui.

Foto de Greta Hoffman : https://www.pexels.com/pt-br/foto/jardim-fazenda-sitio-chacara-7728883/




O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.

No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:

“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”

Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:

Conselhos sobre A Gênese

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.

Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?

Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.

Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:

Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:

Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:

– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:

– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.

Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.

Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/03/alteracoes-ocorridas-no-cap-1-da-5-ed.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/05/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5_15.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/02/comentarios-sobre-as-alteracoes-do-cap.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5a.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/01/natureza-e-materia-nao-sao-sinonimos.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/09/comentarios-sobre-o-capitulo-xv-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/11/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/12/inconsistencias-doutrinarias-da-5.html

Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.

Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição

Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.

Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).

Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições




Nosso Lar e a Doutrina Espírita

Como pode Nosso Lar? Como seria possível, frente ao conhecimento doutrinário trazidos à luz com tanto cuidado, com metodologia adequada, colhido sobre o estudo de uma multidão de Espíritos, de todos os graus evolutivos, a se comunicarem por toda a parte? Não faz sentido.

Segundo diz o Espírito de André Luiz, o próprio Governador da “cidade astral” assevera:

Somos, em “Nosso Lar”, mais de um milhão de criaturas devotadas aos desígnios superiores e ao melhoramento moral de nós mesmos.

Como conciliar, porém, a ideia de milhões de “criaturas”, devotadas aos desígnios superiores, mas ainda tão absurdamente apegadas ao materialismo terrestre? Não faz sentido. Não objetamos a ideia de que os Espíritos inferiores, apegados ao materialismo, ao deixarem o corpo, mantenham-se apegados a falsas necessidades e a falsas ideias da personalidade terrestre. Na verdade, isso está fartamente demonstrado pela Doutrina Espírita. Aqui, porém — em tese — falamos de Espíritos devotados os desígnios superiores.

Pergunto: como podemos admitir uma organização hierárquica de Espíritos supostamente superiores devotando-se à sistematização e ao cultivo das falsas ideias? Bônus-hora? Afinal, a Doutrina Espírita não nos ensina que a caridade é um dever moral, que se pratica sem aguardar retorno? Em Nosso Lar, pelo que conta André Luiz, o Espírito de Narcisa trabalhava por obrigação, para conquistar o direito de reencarnar:

Preciso encontrar alguns espíritos amados, na Terra, para serviços de elevação em conjunto. Por muito
tempo, em razão de meus desvios passados, roguei, em vão, a possibilidade necessária aos meus fins. Vivia perturbada, aflita. Aconselharam-me, porém, recorrer à Ministra Veneranda, e nossa benfeitora da Regeneração
prometeu que endossaria meus propósitos no Ministério do Auxílio, mas exigiu dez anos consecutivos de trabalho aqui, para que eu possa corrigir certos desequilíbrios do sentimento. No primeiro instante, quis recusar, considerando demasiada a exigência; depois, reconheci que ela estava com a razão. Afinal, o conselho não visava interesses dela e sim o meu próprio benefício. E ganhei muito aceitando-lhe o parecer . Sinto-me mais equilibrada e mais humana e creio viverei com dignidade espiritual minha futura experiência na Terra.

Ora, além de um Espírito superior se interpondo ao livre-arbítrio desse Espírito, exigiu, contra a vontade deste, o cumprimento de uma “sentença”, para que depois ela pudesse reencarnar. Fico me perguntando onde estaria Nosso Lar ou qualquer outra colônia espiritual, que não se interpôs à escolha de Espíritos como o do Assassino Lemaire (Revista Espírita, março de 1858) que julgou ser forte o suficiente para se desafiar em um gênero de provas ante à qual sucumbiu. E quanto ao Espírito de Charles Dupont (O Espírito de Castelnaudary, RE60), que, tendo vivido anteriormente entre selvagens, em outro mundo, escolheu encarnar na Terra, onde, sem ter domínio ainda sobre seus instintos e suas emoções, acabou por matar seu irmão e sua esposa?

Não, não é possível. Nosso Lar, com suas grandes muralhas, reproduz fielmente as falsas ideias terrenas, onde os não “eleitos” são mantidos para fora dos muros. Nosso Lar, com sua plêiade de milhões de Espíritos “devotados aos desígnios superiores”, seria o retrato do egoísmo distraído pelo materialismo pujante.

Quanta diferença com as comunicações frequentemente apresentadas por Kardec de Espíritos superiores! Não há apego à materialidade em suas descrições: suas ocupações são trabalhar pelo Espaço infinito, atuando na Criação:

O que são os vossos palácios e os vossos salões dourados ante as moradas aéreas, o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?

Como os vossos concertos mais melodiosos são tristes e ruidosos, ante esta harmonia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras da alma? Como as vossas grandes alegrias são tristes e insípidas ante a inefável sensação de felicidade que incessantemente satura o nosso ser à maneira de um eflúvio benfazejo, sem nenhuma mescla de inquietação, nenhuma preocupação, nenhum sofrimento! Aqui tudo respira amor e confiança e sinceridade. Por toda parte corações amantes, por toda parte vemos amigos, nada de invejosos e ciumentos. Esse é o mundo em que me encontro, meu amigo, e todos vós o atingireis infalivelmente seguindo o caminho certo.

Entretanto, uma felicidade uniforme logo aborreceria. Não penses que a nossa felicidade esteja livre de vicissitudes. Não se trata de um concerto perpétuo, nem de uma festa sem fim, nem de beatífica contemplação através da eternidade. Não. É o movimento, a vida, a atividade. As ocupações, embora isentas de fadigas, apresentam incessante variedade de aspectos e de emoções, pelos mil incidentes que as continham. Cada qual tem a sua missão a cumprir, seus protegidos a assistir, amigos da Terra a visitar, processos da Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar. Há um vaivém, não de uma rua para outra, mas de um mundo para outro. As criaturas se reúnem, se separam para novamente se juntarem; encontram-se aqui e ali, conversam sobre o que fazem, felicitam-se pelos sucessos obtidos; entendem-se, assistem-se mutuamente nos casos difíceis. Enfim, asseguro-te que ninguém dispõe de um segundo de tempo para se enfadar.

Espírito de Condessa Paula, O Céu e o Inferno

Basta a leitura atenta para perceber que esse Espírito usa figurativamente o termo “moradas aéreas”. Que beleza, que cenário completamente diferente daquele mundo de apego material e falsas necessidades fisiológicas apresentados por André Luiz em sua primeira obra, cuja disparidade lógica com a Doutrina e o bom-senso não podemos explicar até que a metodologia de Kardec, com o uso das evocações, seja recuperada.

Pela mudança de mentalidade, deixaremos o apego ao materialismo para sermos úteis, atuando, conforme nossas possibilidades, no Bem, na Criação Divina. Podemos aprender e ensinar, sempre. Desapegados, no mundo dos Espíritos, não nos ligamos a coisas, nem a formas. Basta-nos a própria criação divina universal: os Universos a percorrer, os processos da Natureza a participar, os planetas a visitar, as almas a socorrer e as com quem aprender. Mas a ideia de Nosso Lar é de um local em que precisamos trabalhar para ganhar “dinheiro espiritual” para, então, podermos comprar uma casinha, onde poderemos ter “utilidades”, como uma cama confortável, uma bonita mesa com cadeiras de mogno espiritual, onde poderemos nos sentar confortavelmente para tomar uma sopinha fluídica (sic). Desculpem o sarcasmo.

Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por nós mesmos, a custa de esforço e dedicação.

Nosso Lar

Ora, para que uma moradia, se o Espaço infinito nos serve de Lar? Para que uma casa, se o Espírito não sente nenhuma necessidade material? Para que proteção, se não sente medo, nem dor? Para que sopinha ou água, se o Espírito não sente sede? Pra quê “aeróbus“, oh, meu Deus, se o Espírito se transporta pelo pensamento — mesmo os menos elevados?

Não, os Espíritos não precisam de nada disso, e apenas os Espíritos ainda muito perturbados, muito apegados às ideias terrenas, confundem-se ao corpo que deixaram e creem necessitar de descanso, repasto, proteção, etc.

39. Poderíeis dizer-nos quais são as vossas ocupações?

– R. Tenho-as como vós; trato primeiro de me instruir e, por isso, misturo-me às sociedades melhores do que eu; como lazer faço o bem, e minha vida se passa na esperança de alcançar maior felicidade. Não temos nenhuma necessidade material a satisfazer e, por conseguinte, toda a nossa atividade se dirige para o nosso progresso moral.

Espírito da Sra Reynaud, RE59

Há sensações que têm por fonte o próprio estado dos nossos órgãos. Ora, as necessidades inerentes ao corpo não se podem verificar desde que não exista mais corpo. Assim, pois, o Espírito não experimenta fadiga, nem necessidade de repouso ou de alimentação, porque não tem nenhuma perda a reparar. Ele não é acometido por nenhuma de nossas enfermidades. As necessidades do corpo determinam necessidades sociais, que para eles não existem. Assim não mais existem as preocupações dos negócios, as discórdias, as mil e umas tribulações do mundo e os tormentos a que nos entregamos para suprirmos as nossas necessidades ou as superfluidades da vida. Eles têm pena do esforço que fazemos por causa de futilidades. Entretanto, quanto mais felizes são os Espíritos elevados, tanto mais sofrem os inferiores, mas esses sofrimentos se constituem principalmente de angústias que embora nada tenham de físico, nem por isso são menos pungentes.

KARDEC, ibidem.

O caso aqui não é de acusar Chico de falta de cuidado. Chico era a ferramenta de comunicação, como um lápis na mão de um escritor. Não, haveríamos de ter questionado o Espírito que se comunicava, de posse do conhecimento de todos os problemas e todos os cuidados que giram ao redor da mediunidade e da comunicação dos Espíritos. Não foi o que fizemos: simplesmente aceitando, colocando na conta de Chico Xavier o peso da responsabilidade por comunicações que nós deveríamos ter avaliado.




Espiritismo no Brasil e a crítica aos espíritas

Muito temos falado sobre a grande distância entre o Espiritismo, ou a ciência espírita, e aquilo que aprende e divulga o Movimento Espírita no Brasil, cada dia mais contaminado por distorções e misticismo. Não creio necessário repetir os fatos a esse respeito. Limitamo-nos a recomendar o leitor aos artigos A distância entre o Espiritismo e o Movimento Espírita, Profecia do Espírito da Verdade, O Canal Espírita e o Espiritismo, O rapaz e o oásis: uma fábula de esperança, Um diálogo interessante, Um convite à autocrítica do Movimento Espírita, dentre outros.

Podemos, porém, acrescentar o pensamento de Kardec, em O Livro dos Médiuns:

Há, por fim, os espíritas exaltados. A espécie humana seria perfeita, se preferisse sempre o lado bom das coisas. O exagero é prejudicial em tudo. No Espiritismo ele produz uma confiança cega e frequentemente pueril nas manifestações do mundo invisível, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos capazes de convencer, porque se desconfia com razão do seu julgamento. São enganados facilmente por Espíritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorar a sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as consequências o mal seria menor, mas o pior é que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer a fundo aquilo de que falam.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Lake, 23a Edição. Grifos nossos.

É evidente seu posicionamento: os descuidados que, com entusiasmo (e vaidade) acreditam em tudo cegamente, promovem mais mal do que bem à Doutrina.

Exageros, dizem alguns

É da opinião de alguns, que temos exagerado. Segundo eles, devemos “respeitar” a fé de cada um, limitando-nos a realizar o nosso trabalho. Em primeiro lugar, precisamos demonstrar que não existe desrespeito à fé de ninguém. Cada um tem o livre-arbítrio e o direito de acreditar no que quiser, racionalmente ou não. Mas, aqui, tratamos da ciência espírita, e aqui nasce o maior problema da ideia dessas pessoas: o não conhecimento dessa ciência. Basta ler a Revista Espírita e as demais obras de Kardec e verá não apenas ele, mas também os bons Espíritos, frequentemente destacando a necessidade de se expor os erros e, sobretudo, os charlatães e os inimigos da Doutrina Espírita que, vestindo suas ideias sob a roupagem do Espiritismo, voluntariamente ou não promovem o erro que alimenta o descrédito geral no Espiritismo, tal como se fosse mais uma religião nascida das ideias de alguém. Já demonstramos suficientemente o porquê o Espiritismo é uma ciência, e não uma religião.

O Espiritismo chegou distorcido ao Brasil

O fato é que o Espiritismo já se instalou no Brasil adulterado pelo Movimento Espírita iniciante ((fatos fartamente apresentados em Ponto Final, de Wilson Garcia)) e, na FEB (Federação Espírita Brasileira), autodenominada “casa mater” do Espiritismo brasileiro, longe de encontrar terreno para sua restauração, foi substituído pela doutrina de Roustaing, totalmente fundamentada nos velhos dogmas religiosos. Essa instituição, que acabou ditando os rumos do Espiritismo brasileiro por muito tempo, nunca se dedicou a recuperar a ciência espírita e o método necessário para a continuidade da Doutrina, sendo que as evocações particulares (e mesmo nos centros espíritas), ferramenta imprescindível para o estudo científico, foram abandonadas. Sem o método de Kardec, e pelo interesse na impressão e na venda de obras mediúnicas, qualquer ideia vinda de qualquer Espírito passou a ser veiculada e, assim, formou lentamente a crença geral do Movimento Espírita, hoje completamente perdido em ideias que, na verdade, são fundamentalmente antidoutrinárias.

Precisamos reconhecer, é claro, que parte dessas ideias fundamentou-se antes mesmo da vinda do Espiritismo ao Brasil, com a adulteração das obras O Céu e o Inferno (principalmente) e a A Gênese, após a morte de Kardec. Infelizmente, a FEB é a primeira a defender a ideia de que essas obras não tenham sido adulteradas, fato que, principalmente com relação à O Céu e o Inferno, é suficientemente evidenciado e irrefutável.

Falar em adulteração é criar descrença?

Aqui, enfim, chegamos a outra crítica de certas pessoas: “dizer que houve adulteração seria jogar lama em Kardec, suscitar descrença no Espiritismo”. “Aliás”, dizem elas, “que Doutrina é essa que os Espíritos permitem tal coisa, sem aviso?”. É um pensamento completamente ilógico.

Começamos lembrando que as palavras do próprio Cristo foram adulteradas e distorcidas em favor dos dogmas religiosos, e esse fato foi justamente o que levou à descrença de incontável número de pessoas no cristianismo. Voltaire foi um dos mais evidentes expoentes dessa descrença, que ainda hoje prevalece. Perguntamos: seria “lançar lama” em Jesus destacar as adulterações? Seria “suscitar descrença” no cristianismo, destacar as distorções, ao mesmo tempo em que se demonstra as ideias originais? Evidente que não. Se o problema aconteceu, precisamos encará-lo de frente (uma atitude científica e verdadeiramente kardeciana), e não varrê-lo para baixo do tapete, enquanto perduram seus efeitos avassaladores.

À ideia de que “os Espíritos não teriam permitido as adulterações”, opomos a forte recomendação de estudo da Doutrina, o que evidentemente não foi realizado por essas pessoas. Os Espíritos alertaram várias vezes sobre as tramas dos inimigos da Doutrina, como demonstramos em Profecia do Espírito da Verdade. Baseado nos alertas e nas evidências, Kardec também previa o futuro do Espiritismo, conforme destacou na Revista Espírita de dezembro de 1863, no artigo “Período de Lutas”:

A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e levará ao quarto período, que será o período religioso. Depois virá o quinto, o período intermediário, consequência natural do precedente e que, mais tarde, receberá sua denominação característica. O sexto e último período será o da renovação social, que abrirá a era do século vinte. Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas desejadas por Deus para a transformação da Terra terão desaparecido. A geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que deve inaugurar a vitória definitiva da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica.

KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1863.

Infelizmente, a previsão do sexto período está atrasada em mais de um século, por diversos fatos imprevisíveis àquela época, quais o abandono do Espiritualismo Racional e da Ciência Espírita, além da adulteração das obras citadas. Depois, as guerras, o esquecimento da Doutrina na França e na Europa e sua instalação no Brasil, completamente distorcido.

Os Espíritos não impedem o livre-arbítrio humano

Lembramos, para terminar, que o cerne da Doutrina Espírita, sempre demonstrado pelos Espíritos, é o livre-arbítrio, ao qual os Espíritos não podem se interpor. Podem aconselhar, mas não podem tolher a vontade humana. Assim fizeram: aconselharam largamente sobre a necessidade de cuidado que, infelizmente, faltou àqueles que deveriam cuidar do legado do mestre. Parece que o Movimento Espírita francês ficou muito confortável com o direcionamento de Kardec e, quando isso deveria mudar, a partir de meados de 1869 (conforme exposto na Revista Espírita de dezembro de 1868, “Constituição transitória do Espiritismo”) Kardec morreu, e todos ficaram sem rumo. Assumindo Leymarie a direção da Sociedade Espírita, desvirtuou o propósito da Revista Espírita, admitindo a doutrina roustainguista a troco de dinheiro, e o resto o leitor pode conhecer através da leitura das obras O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato, Nem Céu, Nem Inferno, de Paulo Henrique de Figueiredo e Ponto Final, de Wilson Garcia.

O bem em meio aos enganos

Muitos dizem: “o Movimento Espirita, em meio a muitos enganos, ainda assim produz um bem. Não é de todo errado”. Não poderíamos discordar disso. Não dizemos que há erro ou engano em tudo e que nenhum bem se produz. Um romance mediúnico, por mais que seja repleto de ideias erradas, pode ser a porta de entrada para o indivíduo questionador ir atrás de mais informações, terminando por conhecer as obras de Kardec, enfim. Mas, perguntamos: não seria melhor que o Espiritismo fosse apresentado como ele é, simples e racional, sem os absurdos que produzem tantos contratempos e que muito frequentemente conduzem à descrença? Não podemos deixar de destacar que, quando se abre espaço para um engano, dentro de uma ciência, e esse engano não é remediado pela teoria e pelos fatos doutrinários, ele dá margem a muitos outros. É o que tem acontecido.

Restauração

É chegada a hora de restaurar o Espiritismo, o que já começou no Brasil e se espalhará pelo mundo. O primeiro passo é aprender o Espiritismo como ele verdadeiramente é, afastando-se dos erros. Aqueles que, ditos “espíritas”, não desejarem fazer assim, integrarão uma nova religião, se o quiserem, tão dogmática quanto as demais. Deixemos que o tempo se encarregue deles, mas nem por isso deixemos de fazer a nossa parte, apresentando os erros, frente à Doutrina Espírita, sem personalismo. Depois, virá o tempo da restauração do método de Kardec. Esses dois passos darão a possibilidade do sexto período previsto por Kardec: o da renovação social.

Não podemos deixar de recomendar como leitura essencial a obra Autonomia – A História Jamais Contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo.

Faça parte dessa jornada, que é coletiva e somente se dará pela colaboração de muitos.