O Duplo Conceito do Bem e do Mal

Este artigo O Duplo Conceito do Bem e do Mal é continuação do artigo A Verdade que Liberta

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O duplo conceito do bem e o mal é uma ideia falsa: fazer o que é certo considera-se agir no bem, enquanto errar é visto como agir no mal. Consequentemente, cada falha cometida pela pessoa acompanha uma auto condenação, como se cometesse um ato maligno. Na realidade, é natural cometer erros ao realizarmos qualquer atividade que ainda não dominamos em nossas vidas; isso não é maldade, mas simplesmente um erro.

Assim, através dessa mentalidade falsa, a pessoa acredita que é melhor evitar os erros. Mas como pode evitar erros? “Faça o que estou mandando” é o falam tanto os líderes religiosos quanto os acadêmicos, que exigem obediência cega. Na academia, frequentemente se ouve: “Faça o que estou dizendo.” “Você é incapaz, eu sei o que é melhor!” “Aprenda comigo e repita minhas palavras!” (HETERONOMIA). Porém, decorar e impor não leva ao aprendizado, pois cada indivíduo tem sua própria maneira de aprender, de compreender; uns mais rápidos, outros menos; as habilidades diferem de indivíduo para indivíduo; quem disse haver apenas uma maneira certa?

O verdadeiro progresso reside em cada um compreender as razões pelas quais as coisas não funcionam. Logo, é impossível alcançar algo sem tentar. Infelizmente, nós nos condicionamos a temer o erro como um pecado, paralisando as pessoas, impedindo-as de tentar e, consequentemente, de evoluir. Essa noção é absurda; é uma falsa ideia!

Allan Kardec estabeleceu que o Espiritismo é uma Ciência Filosófica, uma classificação na Academia do século XIX. Naquela época, as Ciências dividiam-se entre Ciências Naturais e Ciências Filosóficas, estas últimas incluía os espiritualistas. Nessa época, discutia-se todas essas ideias filosóficas. Surpreendentemente, ao revisitar os textos acadêmicos daquele século, descobrimos o espiritualismo científico, que, junto ao Espiritismo, tem o potencial de construir um novo mundo.

No livro “O Céu e o Inferno”, o Espiritismo explica que o duplo conceito do bem e do mal não estão personificados em Deus e no Diabo, nem se resumem à exclusiva divisão entre os salvos e os condenados. Todavia, essa falsa dicotomia desvia a humanidade do caminho correto.

Não há uma batalha entre o bem e o mal; qualquer afirmação contrária é enganosa, pois o Mal é uma ilusão que se dissipa quando compreendido(AUTONOMIA). A compreensão é a ferramenta do Bem.

Toda a criação existe em função da lei divina, os ministros de Deus organizam os mundos, a vida e as humanidades segundo o caminho do bem. Mas o espírito humano precisa agir no bem pela compreensão da verdade, de forma livre e desinteressada, ou seja, precisa superar a falsa ideia por seu esforço, conquistando a fé sustentada pela razão: a fé racional!

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Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.




A Verdade que Liberta

Continuação do artigo O Domínio pela Mentira e Violência

Jesus veio nos trazer a verdade que nos liberta! Ele mencionou o diabo na Bíblia, mas será que ele acreditava na existência literal do diabo? A palavra “Diabo” está escrita na Bíblia, mas seu significado vai além do literal.

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Na verdade, tudo se resume à interpretação. Deus e Diabo são representações do Bem e do Mal, respectivamente. No entanto, encarar o Diabo como puramente malévolo é uma concepção equivocada. O Diabo não é uma entidade; ele reside naqueles que abraçam essa falsa ideia. A Mal não tem forma, não é uma entidade real. Ninguém é inerentemente mal. Existe alguém verdadeiramente maligno neste mundo? Não, porque o mal é uma concepção falsa que sustenta um hábito. Quando alguém muda sua mentalidade, ela deixa de agir no mal, mas superar o hábito é um processo demorado. No entanto, nunca se supera se a mentalidade não mudar.

O que realmente transformará o mundo é a educação genuína – não aquela que apenas perpetua ideias falsas, que decora ensinamentos, mas sim aquela que compreendida, que liberta. As armas do bem são a compreensão e a explicação. Como posso fazer você entender que o futuro do mundo está na cooperação? Simplesmente explicando e cooperando incessantemente, sem se preocupar com os resultados.

Estamos introduzindo um novo hábito no mundo. Ao vencermos a falsa ideia do mal, veremos uma renovação global, oferecendo novas oportunidades para todos. Não há Espírito que não vá, mais cedo ou mais tarde, optar pelo caminho do bem. No entanto, o bem não é imposto; cada um deve alcançá-lo com seu próprio esforço.

O verdadeiro entendimento nos libertará dessa falsa dicotomia entre bem e mal, levando-nos a uma vida de cooperação e harmonia. A passagem a seguir de Jesus é reveladora:

42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso pai, amar-me-íeis. Eu vim de Deus e vou [para Deus]. Pois não vim por mim mesmo, mas foi Ele que me enviou. “


Bíblia – Volume I: Novo testamento – Os quatro evangelhos – Evangelho de João (pp. 470-471). Companhia das Letras. Edição do Kindle. Trad. Frederico Lourenço

Jesus disse que foi enviado por Deus e não por meios próprios. Ele veio para ensinar a Lei da Deus.

43 Por que razão não percebeis o meu discurso? Porque não conseguis ouvir a minha palavra.

Idem

A ciência avança principalmente pela mudança de paradigma, isto é, a mudança de ideias. ((Paradigma procede do grego “paradigma”, que significa “exemplo” ou “modelo”. Inicialmente, era aplicado na gramática (para definir o seu uso num determinado contexto) e na retórica (para se referir a uma parábola ou a uma fábula). A partir da década de 60, começou a ser empregue para definir um modelo ou um padrão em qualquer disciplina científica ou contexto epistemológico. fonte: clique aqui)) . Temos que compreender como é a nova ideia. Assim, depois que ela faz sentido, nós a testamos e quando verificamos sua coerência, nós a adotamos. A chave é compartilhar a nova ideia.
Mas isso não significa que todos se tornarão superiores, esse não é a ideia do mundo. As crianças não precisam estudar na escola apenas para obter as melhores notas, gerando competição entre elas. Cada uma deve buscar aprender mais do que sabia antes, pois somos todos espíritos em estágios diferentes de evolução. Há espíritos muito inteligentes no nosso mundo porque já passaram mais tempo experimentando os mundo. No entanto, os inteligentes não são superiores aos simples, pois em outras existências já foram simples como eles. Eles vieram para nosso mundo porque se sentiram mais preparados lá. Os espíritos inteligentes não são malévolos ou demoníacos; no entanto, devem cultivar a simplicidade para servir e contribuir, não para serem servidos. Este é o grande lema do mundo.

Para avançarmos em direção à felicidade neste mundo, precisamos ajudar a remover as vendas dos olhos daqueles que estão cegos pela falsa ideia. No entanto, eles não aceitarão facilmente agir por todos. Assim, alguns partem para outro mundo, onde podem progredir ajudar os outros muitos a progredirem tecnologicamente mais rapidamente e ter uma nova oportunidade de repensar suas escolhas. Não é um castigo ou punição ser enviado para outro mundo; é simplesmente uma consequência de uma escolha que não os permitiu evoluir. Se eles reconsiderarem suas atitudes no outro mundo, renovados, poderão retornar aqui.

Isso ocorreu em nosso mundo; os simples estavam na Terra quando chegaram os exilados. Eles receberam uma segunda chance ao virem para cá, mas agora precisam contribuir de forma útil para o avanço deste mundo. Infelizmente, muitos caíram na falsa ideia de que devem ser servidos, criando assim todas as ideias equivocadas que permeiam o mundo. Mas, sempre que tentamos explicar a verdade, por ser uma ideia falsa, eles resistem.

Esta é a última oportunidade tanto para mudar de mentalidade quanto para participar plenamente deste mundo. Aqueles que se recusam a cooperar não compreenderão a verdade através da força, da memorização de ordens ou da obediência cega. Somente através de esforço pessoal é que alguém poderá compreender.

44 Vós sois [filhos] do diabo, vosso pai; e quereis pôr em prática as vontades do vosso pai. Ele é homicida desde o princípio e não esteve nem está na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere a mentira, profere-a a partir dos seus; pois é mentiroso e é pai [da mentira]. 45 Eu porque digo a verdade não acreditais em mim. 46 Quem de vós me condena a respeito do erro? Se eu falo a verdade, por que razão não acreditais em mim? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. É por isto que vós não me ouvis: porque não sois de Deus”.

Idem

Esta parte do Evangelho de João está apontando que o “diabo” está na falsa ideia de superioridade e pureza. Ao nos considerarmos puros e superiores, tendemos a julgar e condenar os outros que consideramos simples e inferiores. No entanto, o ato de julgar é, em si mesmo, uma falsa ideia: quando apontamos o erro em outra pessoa, na verdade estamos cometendo um equívoco, pois estamos julgando a pessoa em vez de seu comportamento específico. Isso equivale a considerar a pessoa como “o mal” e condená-la injustamente. Ninguém tem o direito de agir assim. Nem mesmo os espíritos benevolentes condenam os outros dessa maneira.

O mal se revela na distorção da lei divina, quando buscamos satisfazer nossos interesses pessoais à custa da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, devemos rejeitar a noção de superioridade devido ao nosso conhecimento.

Nesse contexto, nossa responsabilidade se torna ainda mais crucial! Aqueles que possuem conhecimento têm o dever não apenas de ajudar os menos instruídos, mas também de servir.

Devemos dedicar nossos esforços a disseminar o conhecimento e garantir que muitos o compreendam. O futuro do mundo está na cooperação, não na competição. Qualquer novo valor deve ser compartilhado globalmente para que todos possam se beneficiar.

48 Os judeus responderam e disseram-lhe: “Não dizemos bem que és samaritano e tens um demônio?”. 49 Respondeu-lhes Jesus: “Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai e vós me desonrais. 50 Eu não procuro a minha glória. Existe aquele que procura e julga. 51 Amém amém vos digo: se alguém observar a minha palavra, não verá a morte até a eternidade”.

Ibidem

Nesta parte, está expressado: “Você está contaminado pelo mal! E tem um diabo!” Se alguém já julga o outro um diabo, parece não haver solução. Quem é egoísta e arrogante rotula os outros como inferiores, sempre vendo o mal nos outros. Os fanáticos religiosos veem os diferentes como inferiores. Os materialistas julgam aqueles que pensam de forma diferente como inferiores. O cerne do problema é quando um indivíduo acredita ser superior e é teimoso em não mudar de ideia, mesmo quando confrontado com a verdade. A verdade o confronta, questionando sua autoimagem elevada.

Agora, se alguém se considera superior, só reconhecerá seu erro quando chegar a essa conclusão por conta própria. Muitas vezes, essa pessoa, no fundo, não acredita realmente em sua superioridade, por isso sente a necessidade de afirmá-la tão veementemente.

O único fator que nos torna iguais é nossa individualidade. Somos Espíritos únicos, cada um com diferentes experiências para desenvolver e compreender. No entanto, ter mais conhecimento não nos torna superiores aos outros. O que verdadeiramente define a evolução de um Espírito não é sua inteligência ou experiência, mas sua capacidade de compreender a lei de Deus. O objetivo do Espírito é dar o melhor de si mesmo.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

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O Domínio pela Mentira e Violência

Aquele que erra conscientemente usa da violência e da mentira para dominar e agir em benefício próprio.

Continuação do artigo A Verdade sobre o Mal e o Castigo.

Para alcançar o domínio sobre os outros, muitas vezes emprega-se a estratégia de fazer com que eles acreditem que o erro ou a falha reside em não obedecer, merecendo, por isso, punição. Ao mesmo tempo, é propagada a ilusão de que obedecer trará recompensas. Essa é a armadilha da maldade, conhecida como heteronomia. Aqueles que se submetem são então controlados por meio de condicionamentos, e é aí que reside a verdadeira violência do mal.

A maldade age por meio da violência e da mentira. Ela proclama: “Você deve obedecer! Se não obedecer, receberá punição!” Em seguida, ela afirma: “Essa é a única maneira de lidar com aqueles que se recusam a obedecer.” Isso é uma inversão de valores.

O mal se manifesta na falsa ideia que distorce a lei divina, buscando a satisfação dos interesses e da alegria pessoal às custas da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, não devemos nos deixar enganar pelo pensamento de que somos superiores por termos conhecimento. E sabe o erro daquele que sabe? A indiferença! Ter valores e não usar os valores para o bem.

Nesse sentido, o nosso dever que já sabe se intensifica! A responsabilidade daqueles que possuem conhecimento vai além de simplesmente ajudar os menos instruídos; eles devem também servir. Reflita: O dever de quem sabe é servir aos mais simples!

Não devemos pensar em tirar proveito de nosso conhecimento, mas sim em cooperar. Devemos empregar nossos esforços para disseminar este conhecimento e fazer com que muitos o compreendam. O futuro do mundo reside na cooperação, não na competição.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

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A Verdade sobre o Mal e o Castigo

O que é o mal e o castigo Verdadeiramente?

Continuação do artigo Obediência Passiva e Fé Cega — Os dois Princípios da Falsa Ideia

O mal não é errar, depois pedir perdão e ser obediente ao bem.

Deus castiga? Não! O que é o castigo?

Esse conceito não é totalmente diferente do que aprendemos? O castigo é algo que acontece no mundo? Não, o castigo é o sofrimento moral da pessoa e, se ela não mudar, não encontrará a felicidade.

Nenhuma pessoa egoísta é feliz, pois ela sabe, intimamente, que não está fazendo o bem. Mas por que alguém seria egoísta, sabendo que está errado, sofrendo por isso e ainda assim continuando na mesma conduta egoísta?

Por meio do Espiritismo, desvendamos as raízes do egoísmo e do orgulho. O Espiritismo não confronta pessoas ou ideias; ele enfrenta o egoísmo e o orgulho como conceitos que prejudicam o progresso espiritual.

O Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual em razão do grau de suas imperfeições, sendo-lhe então concedida a vida corporal como meio de reparação. É por isso que o Espírito nela reencontra, ou as pessoas que ofendeu, ou situações semelhantes àquelas em que praticou o mal, ou ainda situações opostas às que viveu, por exemplo, enfrentando a miséria se foi um rico mau, ou uma condição humilhante se foi orgulhoso. Não se trata de um duplo castigo, mas o mesmo a que se dá sequência na Terra, como complemento, com vistas a facilitar seu adiantamento para um trabalho efetivo. Do próprio Espírito depende fazê-lo proveitoso. Não lhe vale mais voltar à Terra, com a possibilidade de ganhar o Céu, do que ser condenado sem remissão ao deixá-la? Essa liberdade que lhe é concedida é uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça de Deus, que deseja que o homem deva tudo aos próprios esforços, sendo assim o artífice de seu futuro. Se é infeliz, se o é por um tempo maior ou menor, que não se queixe senão a si mesmo – o caminho do progresso lhe está sempre aberto.

Allan Kardec. O Céu e o Inferno: Ou a justiça divina segundo o Espiritismo, editora Feal (p. 78). Edição do Kindle.

No entanto, é crucial entender completamente o que o egoísmo implica para poder combatê-lo efetivamente. Reconhecer os próprios erros e sentir a consciência pesada é o primeiro passo para a mudança. Caso contrário, o indivíduo continuará a sofrer.

A falsa ideia de que Deus é o causador do nosso sofrimento está equivocada. Na verdade, somos juízes e prisioneiros de nós mesmos e nossos próprios pensamentos. O Espiritismo nos ensina isso. Sabendo disso, você optará por permanecer preso ou se libertar? Ser escravo ou livre? A escolha é sua.

Ninguém é obrigado a agir para o bem. A liberdade é fundamental para o agir no bem. Deus não coloca ninguém para vigiar ninguém. Quando você fizer o bem, você o fará com todo o seu esforço. No momento em que você age com o pensamento íntegro, os outros espíritos se aproximam para fazer o mesmo: a rede de bondade é criada.

Se você está agindo com segundas intenções, os outros espíritos percebem e você se isola por escolha própria. Esse é o mecanismo!

Alguém realmente está nos vigiando no mundo espiritual? Não! Há algum lugar circunscrito para ser castigado? Não! Isso é falso! Emmanuel menciona o umbral? Sim, ele menciona, mas são espíritos iludidos que lá se reúnem. Os espíritos bons veem os maus espíritos como doentes a serem curados e não como adversários a serem combatidos. A luta entre bem e mal é uma falsa ideia!

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Obediência Passiva e Fé Cega — Os dois Princípios da Falsa Ideia

Continuação do artigo A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia.

Várias vezes em suas obras, Kardec cita A obediência passiva e a fé cega. Agora reflitamos por qual motivo eles são os princípios da Falsa Ideia.

Os falsos profetas, para conquistar pela obediência passiva, precisavam impedir que as massas aprendessem pelo próprio esforço sem a experiência de erro e acerto para aprender. Eles, os profetas falsos, condenavam o erro, como se o erro fosse a causa do mal do mundo.

Porém, todos sabemos que só é possível aprender quando se tenta. Da tentativa, produz-se erro e acerto. A partir daí, avaliamos e percebemos a melhor maneira de agir. E Deus não condena o erro, pois o erro faz parte do aprender. Pense bem: muito diferente errar inconscientemente do que persistir no erro conscientemente.

“Para elevar-se, deve o homem ser provado. Impedir sua ação e pôr um entrave em seu livre-arbítrio seria ir contra Deus e neste caso as provas tornar-se-iam inúteis, porque os Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante. Para chegar às esferas felizes, é necessário que ele progrida e que se eleve em conhecimento e sabedoria, e é somente na adversidade que ele adquire um coração elevado e melhor compreende a grandeza de Deus.”

Allan Kardec. Revista Espírita — Jornal de Estudos Psicológicos — 1858 – Novembro

Ao mesmo tempo, quando alguém faz algo, seja no trabalho ou no cotidiano, tem que saber o que está fazendo e quais são os resultados do que está fazendo. Então, esse alguém pode estar fazendo o mal sem saber ou mesmo participando do mal sem consciência do mal. Portanto, o ideal seria nunca realizar uma atividade sem entender.

A falsa ideia, através dos dois princípios de obediência passiva e fé cega, leva a crer que o erro é o mal. Consequentemente, o erro gera medo. Será melhor obedecer sem entender e ter fé?

Desde tempos remotos, os sacerdotes que determinam o comportamento das pessoas, pois eles mesmos afirmam que Deus os escolheu para determinar Sua Lei. Os sacerdotes criaram o falso ensinamento de que o acerto está em obedecer a Deus para receber as recompensas divinas e se salvar. Eles propagam também que o erro representa o agir inspirado pelo diabo, que atenta o homem para se apossar dele. Kardec mostra este entendimento em A Genese:

A religião era, nesse tempo, um freio poderoso para governar. Os povos se curvavam voluntariamente diante dos poderes invisíveis, em nome dos quais eram subjugados e cujos governantes diziam possuir seu domínio, quando não se faziam passar por equivalentes a esses poderes. Para dar mais força à religião, era necessário apresentá-la como absoluta, infalível e imutável, sem os quais ela teria perdido a ascendência sobre esses seres quase primitivos, apenas iniciados para a racionalidade. Ela não poderia ser discutida, assim como as ordens de um soberano. Disso resultou o princípio da fé cega e da obediência passiva, que tinha, na origem, sua razão de ser e sua utilidade. A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame65.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (Portuguese Edition) . cap IV, item 2. Edição do Kindle.((A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo: https://amzn.to/3RM91hF ))

Quem desobedece ou não se arrepende, será entregue ao diabo, sofrendo castigos, vicissitudes, dores. Por meio dessa ideia falsa, os sacerdotes condicionaram as massas a acreditar sem raciocinar — Fé Cega — alegando que a razão não compreende a vontade divina. Obedecendo sem compreender — Obediência Passiva.

Em qualquer área de atuação acontece a fé cega e a obediência passiva: ciência, filosofia, religião, no trabalho, no lar, nos relacionamentos. Na idade média, usava-se o dogma religioso para balizar as ações. Hoje se usa o dogma materialista. Dessa forma, é como se fosse a idade média da ciência!

Se a pessoa acredita que o seu trabalho não é nem pode ser espiritualizado, é excluído do meio. A exclusão é o mesmo instrumento que a igreja fazia, com condenação, excomunhão, perseguição, etc. Está certo que a condenação da igreja levava a morte, mas hoje a exclusão pela sociedade é praticamente morrer, ficando marginalizado. Existem os graduados no ensino superior( ou mesmo no ensino técnico) que tendem a acreditar no materialismo; os outros são os excluídos. E acontece a luta do superior contra inferior. O Espiritualismo é o diabo da ciência! E o Materialismo é o deus da ciência!

Por fim, atualmente, pela falsa ideia, os que pensam diferente, sejam de outros países ou outras religiões, são inimigos, são controlados pelo diabo, e devem ser combatidos e destruídos. Os que obedecem são protegidos pelo deus bom. Assim, criam o exclusivismo e a guerra. É um exclusivismo MATERIALISTA!

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A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia

Continuação do artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus. Vamos entender melhor as diferenças entre a verdadeira mentalidade e a falsa ideia?

Ao longo do tempo, a mentalidade verdadeira e falsa ideia enraizaram-se nas tradições do mundo de várias maneiras. As religiões sempre embutiram em seus ensinamentos a competição, a disputa, a lei do mais forte.

Mudar de mentalidade
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A tradição do cristianismo considera que Jesus foi anunciado por João Batista prenunciado pelo arrependimento: “arrependei-vos, pois ficou próximo o reino dos céus”. Com esse pensamento, tínhamos que nos arrepender dos pecados, do erro cometido. Essa educação nos deixa cheio de culpas, pois se errei, eu preciso de perdão para ser salvo.

As religiões utilizaram-se dessa ideia para dizer que somente o perdão de Deus salva aquele que erra, e o que desobedece, eternamente castigado, entregue ao diabo. Este pensamento não se implantou somente pelas religiões: no trabalho, se errar é despedido, na família, se errar é preterido, e assim acontece em inúmeras situações. Na vida toda, não se pode errar! As pessoas usam de fingimento, de esconder, de camuflar os erros, de falsidade, pois se lembre: errar é Pecado. Isso desencadeia várias consequências, entre elas que as pessoas não são como verdadeiramente são, nem se sentem incluídas, perdidas, sem rumo.

Por isso temos que entender a mensagem do Espiritismo de pertencimento, de fazer parte, de colaboração. Temos de buscar esse entendimento. Temos de deixar de lado a ideia de que o mais forte salvará o simples, o ignorante, que os fortes e destacados são maiores e melhores.

Para fazer valer a verdade, tem que fazer o Bem! Mas é necessário reformar a forma de fazer esses ensinamentos, mudando como e o que se ensina para as crianças, com mudanças estruturais nas escolas. A competição não pode ser o estímulo para o aprendizado. Ensinam-se as falsas ideias quando se diz a criança que a luta serve para destacar, ser superior, ser o melhor que o outro, estar “entre os superiores”, para não ser renegado pela sociedade. Essa mentalidade é falsa!

No entanto, os mais recentes trabalhos de tradução dos evangelhos, esclarecem que o verbo grego metanoéô, ligado ao substantivo metánoia, tem o sentido de “mudar de mentalidade”. Frederico Lourenço explica: “No cerne da palavra está o vocábulo nous (“mente”): daí o fato de a essência da ideia estar ancorada na mudança mental (de que o arrependimento é sintoma)” (Novo Testamento).

O versículo 14 do cap. 1, de Marcos, fica assim:

14 Depois de João [Batista] ter sido traído, Jesus foi para a Galileia proclamar a boa-nova de Deus, 15 dizendo: “Completou-se o tempo e ficou próximo o reino de Deus. Mudai de mentalidade e acreditai na boa-nova”.

Marcos: 1,14-15

Com essa simples passagem da Bíblia, transformamos completamente o entendimento do sentido de Arrepender-se: há necessidade de mudar de mentalidade para superar uma mentalidade falsa! Não é arrepender do erro, mas mudar a forma de entendimento, Mudar de Mentalidade.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

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O Espiritismo: A Ideia de Jesus

Continuação do artigo Profecia do Espírito da Verdade. O Espiritismo desenvolve a Ideia de Jesus.

Espiritismo desenvolveu o ensinamento de Jesus
Ego Sum Via Veritas et Vita (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida) pixabay – didgeman

Por um tempo, desprezaram a mensagem de Kardec trazendo ideias falsas para dentro de sua doutrina. Suas obras conclusivas tiveram suas melhores ideias adulteradas. Uma divulgação persistente dos falsos princípios por refratários (( “22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome, não são menos refratários ao Espiritismo: são os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dos prazeres. Temem encontrar a condenação de sua ambição, de seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Lamentá-los é tudo o que se pode fazer. ” A. Kardec, O livros dos Mediuns, Noções Preliminares, cap. III Método )), implantou a mentira entre muitos espíritas, causando divisão.

No entanto, numa sequência crescente, os documentos, fatos e ideias originais de Allan Kardec retornaram à luz. Suas obras foram recuperadas, como as obras O Céu e o Inferno de 1865 e A Genese de 1868 em suas traduções de suas versões originais. Os conteúdos apresentados são de extrema importancia, pois são ideias muito mais aprofundadas por Kardec.

Os novos tempos já se anunciam, as ideias reformadoras se espalham pelo mundo. É interessante notar como pelo estudo iluminado pela dedicação sincera e desinteressada, a mensagem espírita, que é a de Jesus, vai chegar a todos. E o
Espiritismo será a alavanca da revolução moral, que vai regenerar a humanidade, abrindo caminho para o mundo feliz.

O mal no mundo representa a mentalidade falsa, que divide o mundo visando justificar o orgulho e egoísmo dos que se consideram superiores e privilegiados. Desta forma, eles conseguem dominar e, ainda pior, abusar das massas. Eles a consideram inferiores e impuras.
O bem, a boa nova ou mentalidade verdadeira visa despertar o dever pela razão e liberdade, elegendo a solidariedade pela cooperação e apoio mútuo, visando a felicidade de toda a humanidade, em todos os seus níveis. Pela orientação e direção dos bons espíritos, que são ministros de Deus. Todos percorrem o caminho do bem que leva a Deus.
O Espiritismo, enfim, explica e desenvolve a ideia de Jesus, mentalidade verdadeira ou boa nova. Como todas as revelações, enfrenta a oposição dos orgulhosos e egoístas que defendem a mentalidade falsa.

Qual é a ideia da mentalidade falsa? Difundir falsamente que temos 2 Deuses no mundo, Deus e o Diabo; espalhar a ideia que o mundo espiritual está divido em 2 partes, céu e inferno; que as pessoas são dividas em puras e impuras, superiores e inferiores, etc. Esta é a FALSA IDEIA.

Para que nós consigamos superar a falsa ideia, não podemos usar as “mesmas armas” da falsa ideia. Ela usa da imposição, da violência, da divisão, da mentira, dos escolhidos que entendem dos ensinamentos como superioridade intelectual inexistente: diz que se não entendeu é inferior, só superior compreende

A VERDADEIRA IDEIA depende do esforço de cada um! Cada um de nós precisa entender a ideia verdadeira!!

Basta voce ser indiferente que voce ajude a manter Falsa Ideia.!

Há um artigo muito interessante de 1859 que vamos destacar alguns pontos referente a essa ideia de Jesus descrita também pelo Espiritismo:

“Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são compatíveis com o Cristianismo, porque o Cristianismo é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreender o Espiritismo em sua verdadeira essência.

A. Kardec, Revista Espirita, 1859 – Refutação de um artigo de “L ‘Univers” (( https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/893/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1859/4547/maio/refutacao-de-um-artigo-de-l-univers ))

O Espiritismo não é, pois, uma religião. (…) o Espiritismo ocupa-se da observação dos fatos e não das particularidades desta ou daquela crença; da pesquisa das causas; da explicação que os fatos podem dar dos fenômenos conhecidos, tanto na ordem moral quanto na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, do mesmo modo que a Astronomia não impõe o culto aos astros, nem a Pirotecnia o culto ao fogo. (…)

Hoje, graças às luzes do Cristianismo, podemos julgá-lo com mais segurança. Ele nos põe em guarda contra os sistemas errados, frutos da ignorância. E a própria religião pode haurir nele a prova palpável de muitas verdades contestadas por certas opiniões. Eis porque, contrariando a maior parte das ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às ideias religiosas aqueles que se tresmalharam num cepticismo exagerado.

Idem

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes Continua em A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia




Profecia do Espírito da Verdade

A Profecia do Espírito da Verdade aconteceu.

Quando a elaboração da doutrina espírita pelo diálogo com os espíritos ainda estava por começar, Allan Kardec em 1856 conversou com o Espírito da Verdade, que lhe apresentou a seguinte Profecia para o Espiritismo:

Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa.
Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo.
(Obras póstumas, pag. 344)

De 1858 ate 1869, período em que Kardec publicou seu livros e a Revista Espírita difundindo o Espiritismo, ocorreram ofensas, calúnias e difamações. Ele defendeu suas ideias e dos Espiritos com unhas e dentes. Depois de sua morte em 1869, houve uma série de adulterações em suas obras, . Além disso, inúmeras falsas ideias foram espalhadas sobre a doutrina. Leia o artigo Nossa Posição onde explanamos nossa conclusões.

Infelizmente, as grandes revelações sempre enfrentam essas caracteristicas como consequências: ódio, traição, desprezo e falsas ideias. Se o Espiritismo tem uma grande importância, é natural que ocorra com ele.

As outras revelações, como a de Moisés e de Cristo tiveram as mesmas resistências que o Espírito da Verdade mencionou.

Superando a falsa ideia dos egípcios, Moisés levou ao povo que o seguiu a ideia do Deus único, e do destino solidário da humanidade. Moisés não falou só para o povo hebreu: ele chamou as pessoas de todas as classes do Egito. E é isso que fez com que os sacerdotes egípcios se incomodassem: era o perigo eminente de uma revolução social. O ódio e as traições começaram.

E os judeus, que estavam entre os que adotaram seu pensamento, desviaram da proposta da harmonia universal. Eles elaboraram as crenças e práticas exclusivistas, separando puros e impuros, os que seriam de Deus e os dominados pelo diabo. eram as falsas ideias que estavam bem longe do proposto por Moisés. A ideia de Deus, diabo, céu e inferno, puros e impuros, não faz parte desta revelação.. E foi isso que Jesus veio fazer ao colocar as coisas em seu caminho.

Jesus veio entre os judeus para trazer a mentalidade verdadeira e denunciar a falsa ideia. Sua boa nova representou a chegada da lei divina plena para a humanidade. Jesus previu que suas ideias seriam deturpadas. Se Jesus previu isso com seu próprio ensinamento, por que não ocorreria com a Revelação Espírita?

26.​Entretanto, Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não podeis compreender, e muitas outras teria de dizer, mas não compreenderias; por isso vos falo por parábolas; todavia, mais tarde eu vos enviarei o Consolador, o Espírito Verdade que restabelecerá todas as coisas e a todas explicará.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

Se Jesus anunciou que seria preciso restituir os ensinamentos perdidos, claramente deduzimos que algo ficou abandonado, tanto nos ensinamentos de Moisés, nos de Jesus e do Espiritismo.

E Kardec empreendeu uma luta que realmente acabou tirando dele a saúde, como foi a profecia do Espírito da Verdade. Pelos estudos sabemos que as melhores instruções da Doutrina Espírita foram desprezadas em muitos casos, e pior, falseadas em outras. Precisamos recuperar esses ensinamentos perdidos! (( texto elaborado a partir da palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo, clique aqui para mais detalhes ))

Abaixo, a comunicação completa do Espírito da Verdade de 1856:

12 de junho de 1856 (Em casa do Sr. C…; médium: Srta. Aline C…)
MINHA MISSÃO

Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram.
Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?
R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios. Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.
Espírito da Verdade

Eu — Espírito da Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Obras Póstumas, pag. 343-5

Em Obras Póstumas, segue uma nota interessante feita por Allan Kardec mais de 10 anos depois:

NOTA — Escrevo esta nota a 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e atesto que ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as vicissitudes que me foram preditas. Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.
Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude,
tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou. Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa!
Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobrelevaram de muito o mal. Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram.

Obras póstumas, pag 345-6

Continua no artigo O Espiritismo: A Ideia de Jesus




Será o Pintor Famoso?

Em um dos últimos estudos semanais da Revista Espirita de 1859, estudamos esta comunicação atribuída a Rembrandt Harmenszoon van Rijn (quer saber mais sobre este pintor famoso? clique aqui). Ele viveu na Holanda no século XVII.

Eis a comunicação:

Comunicações externas, lidas na Sociedade

A bondade do Senhor é eterna. Ele não quer a morte de seus filhos queridos. Mas, ó homens! Pensai que depende de vós apressar o Reino de Deus na Terra, bem como afastá-lo; que sois responsáveis uns pelos outros; que, melhorando-vos, trabalhais pela regeneração da Humanidade. A tarefa é grande; a responsabilidade pesa sobre cada um e ninguém pode escusar-se. Abraçai com fervor a gloriosa tarefa que o Senhor vos impõe, mas pedi-lhe que envie trabalhadores para os seus campos, porque, como vos disse o Cristo, a seara é grande e os trabalhadores pouco numerosos.

Mas eis que somos enviados como trabalhadores dos vossos corações. Nele semeamos o bom grão. Tende cuidado de não abafá-lo. Regai-o com as lágrimas do arrependimento e da alegria. Do arrependimento, por terdes vivido tanto tempo numa terra amaldiçoada pelos pecados do gênero humano, afastados do único Deus verdadeiro, adorando os falsos prazeres do mundo, que não deixam no fundo da taça senão desgostos e tristezas. Da alegria porque o Senhor vos concedeu graça; porque ele quer apressar a vinda dos filhos bem amados ao seio paternal; porque ele quer que todos vós sejais revestidos da inocência dos anjos, como se jamais dele vos tivésseis afastado.

O único que vos mostrou o caminho pelo qual remontareis a esta glória primitiva; o único ao qual não podeis censurar, porque nunca se enganou em seu ensino; o único justo perante Deus; o único, enfim, que vós deveríeis seguir a fim de serdes agradáveis a Deus, é o Cristo. Sim, o Cristo, vosso divino mestre, que esquecestes e desprezastes durante séculos. Amai-o, porque ele pede incessantemente por vós. Ele quer vir em vosso socorro. Como? A incredulidade ainda resiste! As maravilhas do Cristo não podem abatê-la! As maravilhas de toda a Criação ficam impotentes diante desses Espíritos zombadores; sobre esta poeira que não pode prolongar de um só minuto a sua miserável existência! Esses sábios que pensam ser os únicos a possuir todos os segredos da Criação não sabem de onde vêm; não sabem para onde irão e no entanto tudo negam e tudo desafiam. Porque conhecem algumas das leis mais vulgares do mundo material, pensam que podem julgar o mundo imaterial, ou antes, dizem que nada existe de imaterial; que tudo deve obedecer a essas mesmas leis materiais que chegaram a descobrir.

Mas vós, cristãos! sabeis que não podeis negar a nossa intervenção sem que, ao mesmo tempo, negueis o Cristo; sem que negueis toda a Bíblia, pois não há uma única página em que não encontreis traços do mundo visível em relação com o mundo invisível. Então! Dizei! Sois ou não sois cristãos?

REMBRAND

Obtida pelo Sr. Péc…

Como muitas das comunicações da Revista Espírita, a comunicação é simples, curta e repleta de instruções construtivas para nosso aprendizado.
Nós não podemos afirmar que é realmente de Rembrant, pois não temos elementos suficientes para saber. Porém, o que mais nos interessa é seu conteúdo que corresponde aos ensinamentos da moral Espírita.




Explorando a Teoria do Duplo Material no Mundo dos Espíritos com Allan Kardec

As manifestações espiritas sempre foram um ponto nevrálgico na Doutrina Espirita. Foi através dessas manifestações e sua melhor compreensão que Kardec conseguiu estabelecer a sua filosofia moral. Assim, destacamos esse estudo de 1859 exposto na Revista Espirita de agosto de 1859.

Segue.

Extraímos a passagem seguinte de uma carta que uma correspondente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas nos enviou do departamento do Jura:

“…Como vos disse, senhor, os Espíritos gostavam da nossa velha habitação. Em outubro último (1858), a senhora Condessa de C…, amiga íntima de minha filha, veio com seu filhinho de 8 anos passar uns dias em nossa mansão. A criança dormia no mesmo quarto que sua mãe, e a porta de comunicação para o quarto de minha filha ficava aberta, a fim de prolongar as horas do dia e da conversa. O menino não dormia e dizia à mãe: ‘Que é que a senhora vai fazer com esse homem que está sentado junto à sua cama? Ele está fumando um grande cachimbo. Veja como enche o quarto de fumaça! Mande-o embora, pois está sacudindo as cortinas.’
“Essa visão durou a noite toda. A mãe não conseguiu que a criança se calasse, e ninguém conseguiu fechar os olhos. Esta circunstância não espantou nem a mim, nem à minha filha, pois sabemos que há manifestações espíritas. A mãe, entretanto, acreditava que a criança estivesse sonhando acordada ou se divertindo.

RE 1859

Observação: A visão era mediúnica por isso só a criança via.

“Eis outro fato que testemunhei pessoalmente e que me aconteceu no mesmo aposento, em maio de 1858. É o caso da aparição do Espírito de uma pessoa viva, que ficou muito admirado por ter vindo visitar-me. Eis as circunstâncias: Eu estava muito doente e há tempos não dormia, quando vi, às dez horas da noite, um amigo de minha família sentado junto à minha cama. Manifestei-lhe minha surpresa por sua visita àquela hora. Ele me disse: “Não faleis, pois venho velar-vos; não faleis, pois é preciso que durmais”, e estendeu a mão sobre minha cabeça. Várias vezes abri os olhos para ver se ainda lá estava, e a cada vez ele me fazia sinal para fechá-los e calar-me. Rodava a tabaqueira entre os dedos, e de vez em quando tomava uma pitada, como era seu costume. Por fim adormeci, e quando despertei a visão tinha desaparecido.

Idem

OBSERVAÇÃO: Kardec faz uma breve citação das explicações sobre os fatos de aparições de encarnados e de Espíritos (condensação do perispírito ou modificação molecular).

Ele segue:

Opera-se na sua contextura uma modificação molecular, que o torna visível e mesmo tangível, e que lhe pode dar, até certo ponto, as propriedades dos corpos sólidos. Sabemos que corpos perfeitamente transparentes se tornam opacos pela simples mudança na posição das moléculas ou pela adição de outro corpo, igualmente transparente. Não sabemos bem como fazem os Espíritos para tornar visível o seu corpo etéreo. A maior parte deles não chega mesmo a se dar conta disso, mas, pelos exemplos que temos citado, compreendemos a sua possibilidade física, o que é bastante para tirar do fenômeno aquilo que, à primeira vista, poderia parecer sobrenatural. Pode, pois, o Espírito fazê-lo, quer por simples modificação íntima, quer assimilando uma porção de fluido estranho que altera momentaneamente o aspecto de seu perispírito. É, na verdade, esta última hipótese que ressalta das explicações que nos têm sido dadas, e que relatamos ao tratar do assunto (maio, junho e dezembro).

Até aqui nenhuma dificuldade no que concerne à personalidade do Espírito. Sabemos, porém, que se apresentam com roupagens cujo aspecto mudam à vontade; por vezes mesmo têm certos acessórios de toalete, joias, etc. Nas duas aparições citadas no começo, uma tinha um cachimbo e produzia fumaça; a outra, uma tabaqueira e tomava pitadas. Note-se, entretanto, o fato de que este Espírito era de uma pessoa viva e que sua tabaqueira era em tudo semelhante à de que se servia habitualmente, e que tinha ficado em casa. Que significam, então, essa tabaqueira, esse cachimbo, essas roupas e essas joias? Os objetos materiais que existem na Terra teriam uma representação etérea no mundo invisível? A matéria condensada que forma tais objetos teria uma parte quintessenciada, que escapa aos nossos sentidos?

OBSERVAÇÃO: Posição do verdadeiro cientista, em busca da verdade, sem nada descartar.

Eis um imenso problema, cuja solução pode dar a chave de uma porção de coisas até aqui não explicadas. Foi essa tabaqueira que nos pôs no caminho, não apenas do fato, mas do fenômeno mais extraordinário do Espiritismo: o fenômeno da pneumatografia ou escrita direta, de que falaremos a seguir.

Todas as teorias que apresentamos, relativas ao Espiritismo, nos foram fornecidas pelos Espíritos, que muitas vezes contraditaram as nossas próprias ideias, como aconteceu no caso presente, provando que as respostas não eram reflexo do nosso pensamento. Mas a maneira de se obter uma solução não é coisa sem importância. 

Sabemos por experiência própria que não basta pedir bruscamente uma coisa para a obtermos. Nem sempre as respostas são bastante explícitas; é necessário desenvolver o assunto com certas precauções; chegar ao objetivo progressivamente e por um encadeamento de deduções que requerem um trabalho prévio. Em princípio, a maneira de formular as questões, a ordem, o método e a clareza são coisas que não podem ser negligenciadas e que agradam aos Espíritos sérios, porque veem nisso um objetivo sério.

OBSERVAÇÃO: Isto significa que, é claro, o pesquisador pode ter uma ideia prévia, mas que, agindo de boa-fé, não pode se apegar a ela. E também, claro, que a intenção da pergunta é tão importante quanto.

Eis a conversa que tivemos com o Espírito de São Luís, a propósito da tabaqueira, visando a solução do problema da produção de certos objetos no mundo invisível. (Sociedade, 24 de junho de 1859).

1. ─ No relato da senhora R…, trata-se de uma criança que viu perto do leito da mãe um homem fumando um grande cachimbo. Compreende-se que esse Espírito tenha podido tomar a aparência de um fumante; parece, entretanto, que fumava realmente, pois o menino via o quarto cheio de fumaça. O que era essa fumaça?

─ Uma aparência produzida para o menino.

2. ─ A senhora R… também cita o caso de uma aparição, vista por ela, do Espírito de uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira e tomava rapé. Poderia ele experimentar a sensação que a gente tem ao tomar uma pitada?

─ Não.

3. ─ Essa tabaqueira tinha a forma daquela que ele usa habitualmente, e que estava em sua casa. O que era essa tabaqueira entre as mãos do Espírito?

─ Sempre aparência. Era para que as circunstâncias fossem notadas, como o foram, e para que a aparição não fosse tomada por uma alucinação produzida pelo estado de saúde da vidente. O Espírito queria que essa senhora acreditasse na realidade de sua presença e tomou todas as aparências da realidade.

4.1 ─ Dizeis que é uma aparência, mas uma aparência nada tem de real; é como uma ilusão de óptica. Eu gostaria de saber se essa tabaqueira não era senão uma imagem irreal, como, por exemplo, a de um objeto que se reflete num espelho.

NOTA de A.K.:Um dos membros da Sociedade, o Sr. Sanson, faz observar que na imagem reproduzida pelo espelho há qualquer coisa de real. Se a imagem não fica no espelho, é que nada a fixa, mas se for projetada sobre uma chapa do daguerreótipo, deixa uma impressão, prova evidente de que é produzida por uma substância qualquer e que não é apenas uma ilusão de óptica.

4.2 – A observação do Sr. Sanson é perfeitamente justa. Teríeis a bondade de nos dizer se existe alguma analogia com a tabaqueira, isto é, se existe algo de material nessa tabaqueira?

─ Certamente. É com o auxílio desse princípio material que o perispírito toma a aparência de vestimenta semelhante às que o Espírito usava quando vivo. 

NOTA de A.K.: Evidentemente o vocábulo aparência deve aqui ser tomado no sentido de imagem, de imitação. A tabaqueira real lá não estava. A que o Espírito tinha era apenas uma reprodução. Comparada à original, era apenas uma aparência, conquanto formada por um princípio material.
A experiência nos ensina que não devemos tomar ao pé da letra certas expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as segundo as nossas ideias, expomo-nos a grandes equívocos, por isso devemos aprofundar o sentido de suas palavras, sempre que existe uma ambiguidade mínima. Eis uma recomendação feita constantemente pelos Espíritos. Sem a explicação que provocamos, o vocábulo aparência, repetido continuamente em casos análogos, poderia dar lugar a uma falsa interpretação.

OBSERVAÇÃO: Sabemos, hoje, o princípio da imagem refletida em um espelho e sua fixação em uma fotografia: o comportamento de ondas. A luz, como energia eletromagnética, reflete no espelho e impressiona o dispositivo de fotografia, seja ele qual for. Parece que é a esse mesmo princípio (de onda) que o Espírito se refere.

5. ─ Haveria um desdobramento da matéria inerte? Haveria, no mundo invisível, uma matéria essencial, revestindo a forma dos objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no mundo invisível, como os homens aí são representados em Espírito?

NOTA de A.K.: Eis uma teoria como qualquer outra, e que era pensamento nosso. O Espírito, no entanto, não a levou em consideração, o que absolutamente não nos humilhou, porque sua explicação nos pareceu muito lógica e porque ela repousa sobre um princípio mais geral, do qual encontramos muitas explicações.
─ Isto não se passa dessa maneira. O Espírito tem sobre os elementos materiais disseminados em todo o espaço, na nossa atmosfera, um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode, à vontade, concentrar esses elementos e lhes dar uma forma aparente, adequada a seus projetos.

6. ─ Faço novamente a pergunta de maneira categórica, a fim de evitar qualquer equívoco. As roupas com que se cobrem os Espíritos são alguma coisa?

─ Parece que a minha resposta anterior resolve a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é alguma coisa?

7. ─ Resulta desta explicação que os Espíritos fazem a matéria eterizada sofrer transformações à sua vontade e que, assim, no caso da tabaqueira, o Espírito não a encontrou perfeitamente acabada; ele mesmo a fez no momento em que dela necessitava, e depois a desfez. O mesmo deve acontecer com todos os outros objetos, tais como vestimentas, joias, etc.

─ Mas é evidente.

8. ─ Essa tabaqueira foi tão perfeitamente visível para a senhora R… a ponto de iludi-la. Poderia o Espírito tê-la tornado tangível?

─ Poderia.

9. ─ Nesse caso, a senhora R… poderia tê-la tomado nas mãos, julgando pegar uma autêntica tabaqueira?

─ Sim.

10. ─ Se a tivesse aberto teria provavelmente encontrado rapé. Se o tivesse tomado, ele a teria feito espirrar?

─ Sim.

11. ─ Pode então o Espírito dar não somente a forma, mas até propriedades especiais?

─ Se o quiser; é em virtude deste princípio que respondi afirmativamente às questões precedentes. Tereis provas da poderosa ação que o Espírito exerce sobre a matéria e que, como já vos disse, estais longe de suspeitar.

OBSERVAÇÃO: Kardec nunca foi tão claro em suas indagações no transcorrer desse 1 ano e meio de Revista Espirita. Evidentemente ele está elaborando tanto a nova edição aumentada de O livro dos Espiritos e depois o que seria O Livro dos Mediuns, publicado alguns anos depois.

12. ─ Suponhamos então que ele tivesse querido fazer uma substância venenosa e que uma pessoa a tivesse tomado. Esta teria sido envenenada?

─ Poderia, mas não teria feito, porque não teria tido permissão para fazê-lo.

OBSERVAÇÃO: Sabemos, hoje, que a Criação está longe de ser um “cada um por si”, e que, na verdade, é um “um por todos e todos por um”, sendo que aqueles mais inferiores são sempre “conduzidos” pelos mais elevados. Os pensamentos do espíritos mais elevados serem irresistíveis aos menos elevados. Tendemos a nos julgar abandonados à própria sorte, mas, cada vez mais, entendo que isso não é verdade. Os Espíritos superiores nos “conduzem” para o bem, isto é, oferecem uma atração irresistível, através do pensamento. É possível compreender o motivo de os Espíritos imperfeitos, inclinados ao mal, não conseguirem romperem essa Lei para fazer o mal.

“Tudo se encadeia no Universo”

13. ─ Teria podido fazer uma substância salutar e própria para curar, em caso de moléstias? Já houve esse caso?

─ Sim; muitas vezes.

14. ─ Assim também poderia ele fazer uma substância alimentar; suponhamos que tivesse feito um fruto ou um petisco qualquer. Poderia alguém comê-lo e sentir-se alimentado?
─ Sim, sim. Mas não procureis tanto para encontrar aquilo que é fácil de compreender. Basta um raio de sol para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço em cujo meio viveis. Não sabeis que o ar contém vapor d’água? Condensai-o e o levareis ao estado normal. Privai-o do calor e eis que suas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão corpo sólido e muito sólido. Outras matérias existem que levarão os químicos a vos apresentar maravilhas ainda mais assombrosas. Só o Espírito possui instrumentos mais perfeitos que os vossos: a sua própria vontade e a permissão de Deus.

OBSERVAÇÃO de A.K.: A questão da saciedade é aqui muito importante. Como uma substância que tem apenas existência e propriedades temporárias e, de certo modo, convencionais, pode produzir a saciedade? Por seu contato com o estômago, essa substância produz a sensação de saciedade, mas não a saciedade resultante da plenitude. Se tal substância pode agir sobre a economia orgânica e modificar um estado mórbido, também pode agir sobre o estômago e produzir a sensação da saciedade. Contudo, pedimos aos senhores farmacêuticos e donos de restaurantes que não tenham ciúmes, nem pensem que os Espíritos lhes venham fazer concorrência. Esses casos são raros e excepcionais e jamais dependem da vontade. Do contrário, a alimentação e a cura seriam muito baratas.

15. ─ Do mesmo modo poderia o Espírito fabricar moedas?

─ Pela mesma razão.

16. ─ Desde que tornados tangíveis pela vontade do Espírito, poderiam esses objetos ter um caráter de permanência e de estabilidade?

─ Poderiam, mas isto não se faz. Está fora das leis.

17. ─ Todos os Espíritos têm esse mesmo grau de poder?

─ Não, não.

18. ─ Quais os que têm mais particularmente esse poder?─ Aqueles a quem Deus o concede, quando isto é útil.

19. ─ A elevação de um Espírito influi nesse caso?

─ É certo que quanto mais elevado o Espírito, mais facilmente obtém esse poder. Isto, porém, depende das circunstâncias. Espíritos inferiores também podem obtê-lo.

OBSERVAÇÃO: E, nesse caso, são supridos pela assistência de Espíritos superiores, muitas vezes sem nem saberem disso. Ver O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo V — Das manifestações físicas espontâneas > Arremesso de objetos.

20. ─ A produção dos objetos semimateriais resulta sempre de um ato da vontade do Espírito, ou por vezes ele exerce esse poder malgrado seu?

─ Isso frequentemente acontece malgrado seu.

21. ─ Seria então esse poder um dos atributos, uma das faculdades inerentes à própria natureza do Espírito? Seria, de algum modo, uma das propriedades, como a de ver e ouvir?─ Certamente. Mas por vezes ele mesmo o ignora. Então outro o exerce por ele, malgrado seu, quando as circunstâncias o exigem. O alfaiate do zuavo era justamente o Espírito de que acabo de falar e ao qual ele fazia alusão na sua linguagem chistosa

OBSERVAÇÃO: Encontramos um exemplo dessa faculdade em certos animais, como, por exemplo, no peixe-elétrico, que irradia eletricidade sem saber o que faz, nem como, e que nem ao menos conhece o mecanismo que a produz. Nós mesmos por vezes não produzimos certos efeitos por atos espontâneos dos quais não nos damos conta? Assim, pois, parece-nos muito natural que o Espírito opere nessa circunstância por uma espécie de instinto. Ele opera por sua vontade, sem saber como, assim como nós andamos sem calcular as forças que colocamos em jogo.

22. ─ Compreendemos que nos dois casos citados pela Senhora R.., um dos Espíritos quisesse ter um cachimbo e o outro uma tabaqueira para impressionar a visão de uma pessoa viva. Pergunto, porém, se caso não tivesse chegado a fazê-la ver, poderia o Espírito pensar que tinha esses objetos, criando para si mesmo uma ilusão?

─ Não, se ele tiver uma certa superioridade, porque terá perfeita consciência de sua condição. Já o mesmo não se dá com os Espíritos inferiores. 

OBSERVAÇÃO de A. K. : Esse era, por exemplo, o caso da rainha de Oude, cuja evocação consta do nosso número de março de 1858, que ainda se julgava coberta de diamantes. (Clique aqui para o artigo sobre Rainha de Oude)

23. ─ Dois Espíritos podem reconhecer-se mutuamente pela aparência material que tinham em vida?

─ Não é por esse meio que eles se reconhecem, pois não tomarão essa aparência um para o outro. Se, porém, em certas circunstâncias, se acham em presença um do outro, revestidos dessa aparência, por que não se haveriam de reconhecer?

OBSERVAÇÃO: sto aqui é importante! Nos romances mediúnicos, o mundo fantástico criado é todo material ou materialista, e a forma, nesses contos, é fundamental. Aqui, temos novamente a confirmação já feita antes que a forma não é importante para os Espíritos em geral, embora seja predominante para os Espíritos ainda muito presos à matéria (ou seja, de pensamento muito apegado). Decorre daí que faria sentido um Espírito em perturbação “se ver” numa condição como aquela do umbral de André Luiz, mas o mesmo não poderia se dar quando já desapegado dessas ideias, o que não parece ser algo tão distante, conforme o relato de vários Espíritos, dados a Kardec.

24. ─ Como podem os Espíritos reconhecer-se no meio da multidão de outros Espíritos, e sobretudo como podem fazê-lo quando um deles vai procurar em lugar distante e muitas vezes em outros mundos, aqueles que chamamos?

─ Isto é uma pergunta cuja resposta levaria muito longe. É necessário esperar.Não estais suficientemente adiantados. No momento contentai-vos com a certeza de que assim é, pois disso tendes provas suficientes.

PARA PENSAR: Entendo que ele quis dizer, ao final: “como um Espírito pode reconhecer o outro que assume outra aparência, ao visitar outros mundos?”. SE bem que nós sempre esquecemos que nosso mundo, onde vivemos agora, é material e precisa de olhos e luz para ver. na espiritualidade não tem necessidade de aparencia muito menos os espíritos tem olhos para ver. Será que é isso?

25. ─ Se o Espírito pode tirar do elemento universal os materiais para fazer todas essas coisas e dar a elas uma realidade temporária, com suas propriedades, também pode tirar dali o necessário para escrever. Consequentemente, isto nos dá a chave do fenômeno da (( escrita direta *Esclarecimento: A escrita direta acontece quando um Espírito, pela vontade e com a utilidade em fazê-lo, faz aparecer, sobre um papel, uma escrita real, ora em grafite, ora em tinta, ora em formato de impressão. Recomendamos a leitura do artigo seguinte, “Pneumatografia ou escrita direta”, assim como do artigo de mesmo título, em maio de 1860, e também do Capítulo XII de O Livro dos Médiuns  — “Da pneumatografia ou escrita direta”.  Pneuma: entre os antigos pensadores gregos, sobretudo os estoicos, designativo do espírito, sopro animador ou força criadora, usada pela razão divina para vivificar e dirigir todas as coisas. )) .

─ Finalmente o compreendeis.

26. ─ Se a matéria de que se serve o Espírito não é permanente, como não desaparecem os traços da escrita direta?

─ Não julgueis pelas palavras. Desde o início eu nunca disse jamais. Nos casos estudados, tratava-se de objetos materiais volumosos; aqui se trata de sinais que convém conservar e são conservados.

PARA PENSAR: Isto aqui envolve uma questão profunda. Kardec havia entendido que a matéria fluídica de que servem os Espíritos é sempre impermanente, posto que, nos casos citados, ela sempre se desfaz. Contudo, os casos de escrita direta não se desfazem. Como poderia ser isso?

*Esclarecimento: A escrita direta acontece quando um Espírito, pela vontade e com a utilidade em fazê-lo, faz aparecer, sobre um papel, uma escrita real, ora em grafite, ora em tinta, ora em formato de impressão. Recomendamos a leitura do artigo seguinte, “Pneumatografia ou escrita direta”, assim como do artigo de mesmo título, em maio de 1860, e também do Capítulo XII de O Livro dos Médiuns  — “Da pneumatografia ou escrita direta”.  Pneuma: entre os antigos pensadores gregos, sobretudo os estoicos, designativo do espírito, sopro animador ou força criadora, usada pela razão divina para vivificar e dirigir todas as coisas.

A teoria acima pode resumir-se assim: O Espírito age sobre a matéria; tira da matéria primitiva universal os elementos necessários para, à vontade, formar objetos com a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Também pode operar sobre a matéria elementar, por sua vontade, uma transformação íntima que lhe dá determinadas propriedades. Essa faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce, quando necessário, como um ato instintivo, que não chega a perceber.

Os objetos formados pelos Espíritos têm uma existência temporária, subordinada à sua vontade ou à necessidade. Ele pode fazê-los e desfazê-los à vontade. Em certos casos, aos olhos das pessoas vivas, esses objetos podem ter todas as aparências da realidade, isto é, tornar-se momentaneamente visíveis e até tangíveis. Há formação, mas não criação, visto que o Espírito nada pode tirar do nada. ( LM 130 e 131)